Há muito tempo que queria ver o documentário do Chris Marker “Une journée d’Andrei Arsenevitch”. Ontem consegui, é um belo filme mas muito triste porque acompanha os últimos dias do Tarkovski, a progressão da doença e a inevitabilidade do fim.
Estou profundamente grata a Tarkovski, cada um dos seus filmes (e são tão poucos) é uma revelação, um estudo sobre os homens e sobre a fé.
São sete apenas, mas tão densos, tão profundos e tão belos que posso andar anos e anos a revê-los. Claro que tenho pena porque nunca verei a adaptação de “O Idiota”, nem os outros, todos os que ele não fez, mas entre primeiro plano da “Infância de Ivan” e o último do “Sacríficio”, entre dois rapazes e duas árvores há um mundo enorme, há o mar de "Solaris", há a zona de "Stalker", há o milagre final, há todos os espelhos, toda a pintura e toda a música.
Há tudo nos seus filmes.
Cada momento passado juntos
Era uma celebração, uma Epifânia,
Nós os dois sózinhos no mundo.
Tu, tão audaz, mais leve que uma asa,
Descias numa vertigem a escada
A dois e dois, arrastando-me
Através de húmidos lilases, aos teus domínios
Do outro lado, passando o espelho.
1. Mas não esqueço o riso do Francisco ao descobrir que "cenoura albina" pode ser "pastinaga". O que ria ele e o Miguel Borges ao encontrarem "procrastinar". O que a Luiza Neto Jorge ria, no café da Mata da Caparica, anotando o seu Verlaine inicialmente publicado na &etc. e agora na Assírio ("Hombres"), o que ela ria com as maroteiras com que torneava as dificuldades da linguagem pornográfica do Virgem Doida. O que ríamos com as descobertas que fez na "Salada Cómica" de Karl Valentin. O que ainda ri o Vítor Palla ao falar-me ao telefone da sua espantosa tradução do Damon Runyon: "Isso foi uma paródia de amigos." O que ainda ri o Artur Ramos ao lembrar-se de como o José Palla e Carmo lhe traduziu o "Tango des Abattoirs" de Boris Vian: "Já estou tão farto de beijos / de desejos/ de despejos / passa a aguardente / já estou farto de ser hetero/ com mulheres/ a quilo/ a metro /passa a aguardente."
2. Se há um livro de filosofia acessível ao grande público que vale a pena ler e reler e discutir, é este (How Are We to Live? Ethics in an Age of Self-Interest, de Peter Singer). Publicar inanidades como "Mais Platão, Menos Prozac" e não publicar este livro é um crime cultural.
Podem ser tristes os europeus mas esta dança não o é, digamos que Jouissez Sans Entraves é o mote certo. São corpos que se movem com uma graça e elasticidade vibrantes, ao som das concertinas dos Danças Ocultas.
O coreógrafo Paulo Ribeiro também dança e às vezes pára para explicar o que é um solo minimal, o que poderão ser as danças do mundo ou até o que não deverá ser a dança contemporânea. Parece um maestro de corpos, um domador de leões com um pózinho dos Monthy Python.
É um espectáculo muito divertido que lembra o circo e também o cinema mudo.
Os músicos – Artur Fernandes, Filipe Cal, Filipe Ricardo e Francisco Miguel – são excelentes, a iluminação é bonita e, é isto que mais interessa num espectáculo de dança: os bailarinos são muito bons.
Gostei particularmente da Leonor Keil e dos seus movimentos desconexos. Ela é belíssima!
À saída alguém dizia “Foi bestial!”. Pois foi e mais não digo, porque não percebo nada de dança.
Logo à noite, no Teatro S. João, terceiro e último espectáculo.
Ainda não conseguimos pôr música no blog mas podemos contornar a dificuldade e indicar caminhos para a ouvir. Se seguirem por aqui podem ouvir excertos das Folk Songs, de Luciano Berio.
Azerbaijani love song (Folk song arranged for Cathy Berberian (1928-1983), from Folk Songs, no. 11.)
Love is like an oven.
Once it's on it makes any kind of food.
But when the flame goes out
Nothing happens any more
"Ever since I was a child I’ve been an extremely vivid dreamer. I remember dreams for years; some of the strongest dreams I’ve ever had were when I was a child and those were some of the worst, most horrible nightmares I’ve ever had, and I still remember them very vividly. Even more than the visual aspects of the dreams, I remember the emotion."
Integrity. "Seasons in the Size of Days" CD. 1997.
"I am very conscious of the balance of nature, the way things really are or the way they can be if you look at them from a certain perspective. As children or adults we all have perspectives we like to see from - you have a certain seat at the table, you know what I mean? You choose a certain seat because you like that perspective. I guess my paintings come out a certain way because, whether consciously or unconsciously, I have chosen a certain perspective - or a certain seat at the table."
Everything. Oil on canvas, 48" x 48", 1999 - 2000.
As feiras do livro estão cada vez melhor, em termos de eventos (já de organização...). Fiquei cheia de inveja quando vi o post das "Afinidades Electivas". Mas também temos por estes lados umas coisas giras!
A partir de hoje, todos os dias, às 17h30, os Artistas Unidos lerão um conto por dia. Autores como Gogol, José Gomes Ferreira, Régio, Brecht, Beckett, Miguéis, Mário Dionísio, Katherine Mansfield ou Salinger serão lidos por actores como Joana Bárcia, José Airosa, Miguel Borges, Jorge Silva Melo, Rita Durão, Isabel Muñoz Cardoso, Pedro Carraca, João Meireles, António Simão.
Esta é uma notícia caseira: amanhã vai realizar-se o segundo encontro parcelar da Janela Indiscreta. Desta vez é no Porto, por isso já estou a planear visitas a esplanadas e miradouros, ao Georg Baselitz (quase em frente à livraria da Assírio), às esculturas da Cordoaria, à Lello, ao Centro de Fotografia...
E que tal irmos a um restaurante que se chama boogie (sim, o mesmo boogie woogie de Mondrian)? Eheheeh, existe mesmo um restaurante assim e fica perto do Palácio.
Programa cultural arranca hoje com ciclo de colóquios duplos
Na lenta atmosfera deste tempo invisível/ uma corda de espanto estende-se precisa/ de uma varanda à outra como da melancolia/ o canto não se ouve porque tudo é silêncio/ e nem a água corre do leito sempre seco."
Caberá à poesia abrir o ciclo de colóquios "Afinidades electivas", inserido no programa cultural da 73ª edição da Feira do Livro , que decorre até 15 de Junho, no Pavilhão Rosa Mota, no Porto.
Bernardo Pinto de Almeida, autor de "Hotel Spleen" e do excerto acima citado, senta-se hoje, às 18.30 horas, no Café Literário da Feira, com o eurodeputado Vasco Graça Moura. Os dois autores deverão conversar sobre as suas obras mais recentes, ambas publicadas pela Quetzal Editores, seguindo-se uma conversa com o público. "O enigma de Zulmira" é o último romance de Graça Moura sobre os meandros da PIDE e da luta clandestina do Partido Comunista nos anos 50.
O segundo round da iniciativa acontece a três vozes, no mesmo local, pouco depois, às 21.30 horas.
Composto por fotografias do autor captadas em oito cidades da Europa e da América (Madrid, Paris, Londres, Amesterdão, Praga, Budapeste, Nova Iorque e Salvador), "Oito cidades e uma carta de amor" é o conjunto de relatos que confrontará Manuel Jorge Marmelo com Pedro Rosa Mendes, autor de "Atlântico - Romance fotográfico". Este livro-puzzle, com montagem fotográfica de João Francisco Vilhena, convoca cinema, teatro, poesia, epístolas, música, pintura e jornalismo . As viagens monopolizarão a conversa dos autores.
As borboletas-monarca protagonizam um dos grandes mistérios da biologia: todos os anos fazem uma migração de 3600 quilómetros do Canadá até ao México. O segredo para não se perderem durante tão longa jornada é um sofisticado relógio biológico que funciona tendo em conta a posição do Sol no céu.
Although you sit in a room that is gray,
Except for the silver
Of the straw-paper,
And pick
At your pale white gown;
Or lift one of the green beads
Of your necklace,
To let it fall;
Or gaze at your green fan
Printed with the red branches of a red willow;
Or, with one finger,
Move the leaf in the bowl--
The leaf that has fallen from the branches of the forsythia
Beside you...
What is all this?
I know how furiously your heart is beating.
A primeira vez que vi fotografias de Martin Parr foi num livro chamado The Last Resort: Photographs of New Brighton, que mostra fotografias de uma praia suja com pessoas e lixo amontoados, além de fotografias que correm os hábitos de lazer desses veraneantes. Passei horas a ver esse livro. Quando algum tempo depois de me ligar à internet a Magnum inaugurou o novo site, com fotografias em tamanho decente, a galeria de Martin Parr foi uma das primeiras que visitei. Capitulei num instantinho: isto não é um flash usado à toa. É um flash usado para impor as imagens ao ponto de não conseguirmos nem fugir-lhes nem vê-las com a relativa indiferença conciliadora que é, por exemplo, a do preto-e-branco mais convencional. O preto-e-branco e a cor com luz natural ou flash dissimulado, não conseguem o mesmo efeito, não geram repulsa.
Martin Parr trouxe à fotografia duas grandes novidades; aliás, três: primeira, a forma de fotografar; segunda, os conteúdos fotografados; terceira, essencial, uma brilhante aliança entre forma de fotografar e conteúdos fotografados. Não se trata só do abuso do flash; trata-se também e fundamentalmente do olhar dirigido àquilo que normalmente o repele. Aqui não há guerra, nem doença, nem coisas tristes. Martin Parr é o senhor do vulgar, cansativo, grotesco, vazio e enfadonho quotidiano, que nas suas fotografias nos entra pelos olhos. Sempre com humor. Embora por vezes arraste a asa a alguma poesia. Ninguém pode ser sempreperfeito.
Assim vai fazendo Martin Parr um dos mais exaustivos e realistas trabalhos de documentação fotográfica sobre este mundo. Sem fugir. E sem nos permitir a nós virar a cara.
Um dos compositores mais prolíficos e marcantes do século XX, Luciano Berio foi uma das grandes figuras da vanguarda musical e um dos criadores cuja mensagem chegou a um público mais amplo, graças à extraordinária força comunicativa da sua obra. Podem ler a notícia aqui e ainda os depoimentos dos compositores João Madureira e João Pedro Oliveira e de Carlos de Pontes Leça, director-adjunto do Serviço de Música da Gulbenkian.
Ontem à noite fui à feira do Livro (no Palácio de Cristal). A tenda está mais fresca, graças a um ventilador potente, mas a temperatura no pavilhão, mesmo à noite, é insuportável. Há muitos livros infantis, muitos livros técnicos, muitos livros esotéricos, encadernações douradas, edições camarárias,… há de tudo, até uns computadores a piscarem o olho para os novos suportes. O meu interesse, como é hábito, recai em apenas meia dúzia de stands.
O café literário ainda não estava montado, mas prevejo que as “Afinidades Electivas” vão ser muito suadas, era preferível fazer esses encontros nos jardins.
A música de fundo continua igual e desconfio que a voz que anuncia as atracções, será a mesma.
Não encontrei nada que me surpreendesse. Aproveitei para comprar umas pechinchas: “O tempo aprazado” por três euros, e “A lavoura arcaica” por cinco e os olhos, gulosos, ficaram com o Edward Gorey, que está no pior lugar da feira, num vão de escadas, juntamente com outros pequenos editores.
No stand da Antígona encontrei um senhor a comprar o Manifesto contra o trabalho e dois Cosserys. Apesar do ar pacato, deve ser um terrorrista mandrião em formação.
No stand da D. Quixote perguntei por um livro, recomendado em tempos pelo Rui Amaral, com poemas do Montale, expliquei que não me lembrava bem do nome mas de certeza que era uma antologia de poetas italianos e o nome da colecção tinha a palavra “Aprendiz”. O senhor da editora olhou para mim com ar incrédulo, perguntou a uma colega que respondeu muito peremptoriamente que não era deles, ainda insisti, a minha memória é boa, de certeza que é da D. Quixote, mas não, a cara dele já reprovava o meu comportamento. Em casa, fui consultar os meus papéis e percebi, o livro é de 1992, já está morto.
Hoje o boletim metereológico anuncia a chuva habitual, não há surpresas…
Escuta-me, os poetas laureados
circulam apenas entre plantas
de nomes pouco usados: buxeiros alienas ou acantos.
Eu, por mim, prefiro os caminhos que levam às valas
cheias de mato onde em lamaçais
já meio secos meninos apanham
alguma esquálida enguia:
as trilhas que bordejam os taludes descem por entre os tufos de caniços
e se metem nas hortas, entre os pés de limão.
Tanto melhor se a algazarra dos pássaros
se dissipa engolida pelo azul:
mais claro se escuta o sussurro
dos galhos amigos no ar que mal se move,
e as sensações deste cheiro
que não se larga da terra
e faz chover no peito uma doçura inquieta.
Aqui se cala por milagre
a guerra das desencontradas paixões,
aqui até a nós, os pobres, toca uma parcela de riqueza
e é o cheiro dos limões.
Vê, neste silêncio no qual as coisas
se entregam e parecem prestes
a trair o seu último segredo,
às vezes esperamos
descobrir um defeito da Natureza,
o ponto morto do mundo, o elo que não prende,
o fio a desenredar que enfim nos leve
ao centro de uma verdade.
O olhar perscruta em volta,
a mente indaga concerta desune
em meio ao perfume que se espalha
enquanto o dia enlanguesce.
São os silêncios em que se vê
em cada sombra humana que se afasta
alguma Divindade surpreendida.
Mas a ilusão se desfaz e o tempo nos devolve
à cidade ruidosa onde o azul mostra-se
apenas por retalhos, no alto, entre as cimalhas.
Castiga a chuva a terra, então; se espessa
o tédio do inverno sobre as casas,
a luz torna-se avara — a alma, amarga.
Quando um dia de um portão malfechado
entre as árvores de um pátio
nos surge o amarelo dos limões;
e no coração o gelo se dissolve,
e no peito estalam
suas canções
as trombetas de ouro da solaridade.
Eugénio Montale (tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti)
Carreço: uma esplanada uma praia e um poema - tudo no mesmo post
Apetecia-me estar numa esplanada na Praça da República, em Viana do Castelo, a beber limonada (é deliciosa essa limonada) e a fazer planos para amanhã ir a Carreço…
Vivera onde as rosas-do-japão chegam
até ao rio. Que me lembre,
olhei pelo buraco da fechadura p’la primeira
vez na vida; por todo o lado hortências,
novelos lilás, rosa, branco e
havia o cão, o cão branco
e os sinos de Carreço o mar de Carreço o
farol no cimo da noite.
Estive a ver atentamente uma das exposições online de Martin Parr. Aquilo a que ele chama, com óbvia ironia, Common Sense reúne imagens de hábitos, paranóias e objectos comuns urbano-depressivos que a mim, desde sempre, me cansam e aborrecem visualmente, ao ponto de ficar enjoada. Mais uma vez, as cores intensificadas pelo branco do flash e o reflexo óbvio deste, muitíssimo bem usado (mas alguém antes de Martin Parr tinha compreendido as potencialidades de utilização do flash na criação da náusea visual? É uma pergunta que me coloco sempre que vejo coisas dele...), fazem as fotografias respirar. Martin Parr é mesmo especial. Até entre diferentes destoa.
Não gosto de caracóis, mas gosto de ver as esplanadas de bairro repletas de comensais zelosos e ocupados, porque isso só acontece na Primavera e no Verão. Um pouco antes da hora do jantar, um cheiro a grelhados e a colónia rasca de turista acabadinho de lavar, invade certas zonas da cidade... esses dois cheiros costumam chegar juntos. Antes, há a indolência de fim de tarde e um bafo pesado que nos espera à saída dos edifícios, a avisar que a noite será quente e com ela chegará um silêncio quieto e insondável. Esta é aquela estação em que o som dos matrecos não se contém dentro dos sítios e vem ter connosco ao meio da rua.
Repesquei mais duas notícias no Público: György Ligeti faz hoje 80 anos e António Franco Alexandre recebeu o Prémio D. Diniz: Não há maneira de voltar a ser/ feliz, nem mesmo de palavras feito,/ ou com santa prosódia conseguir/ que alguém, do outro lado, me responda.
E uma no Guardian: Whistler's been dead for 100 years. But his mother lives on - thanks to Barbie, Bullwinkle and Mr Bean. Martha Tedeschi on the making of an icon.
Sobre o artigo de Luís Miguel Queirós, que a Cristina deixou, e OS LIVROS
O objecto-livro é uma genial invenção humana. É portátil, é leve mesmo quando é pesado, usa-se bem pois está perfeitamente feito para a mão humana, pode guardar os mais diversificados conteúdos e, muito importante quando comparado com as novas tecnologias, não está dependente da electricidade. Além disso, é um objecto resistente. É preciso muito para destruir um livro. A chuva, o vento, o passar do tempo num qualquer sótão inabitável, em suma, as condições mais adversas todas juntas apenas o estragam muitíssimo, deixando-o, a maioria das vezes, ainda que feio, amarelo, com as folhas enroladas, legível. A menos que as coisas que o pretendem substituir consigam este grau de resistência e de adaptabilidade, o livro continuará. É um objecto muito prático. Para ser ultrapassado, o que vier terá de ter tudo o que o livro tem e mais qualquer coisa. Não sei se os rivais do livro nos podem dar, para já, o que o livro dá. Nós só não nos damos conta da genialidade da invenção do livro porque, como todos os objectos bem conseguidos, se diluiu. Mas, enquanto objecto, é só uma extensão do corpo humano... fica ali, mesmo depois do pulso, numa mão - o seu funcionamento está dependente, apenas, dos simples e básicos movimentos do corpo humano. E não se pensa muito nisso, porque as grandes invenções são precisamente essas: as que não chateiam porque funcionam na perfeição. Não é nada fácil ultrapassar isto.
La Lune, qui est le caprice même, regarda par la fenêtre pendant que tu dormais dans ton berceau, et se dit:«Cette enfant me plaît.»
Et elle descendit moelleusement son escalier de nuages et passa sans bruit à travers les vitres. Puis elle s'étendit sur toi avec la tendresse souple d'une mère, et elle déposa ses couleurs sur ta face. Tes prunelles en sont restées vertes, et tes joues extraordinairement pâles. C'est en contemplant cette visiteuse que tes yeux se sont si bizarrement agrandis; et elle t'a si tendrement serrée à la gorge que tu en as gardé pour toujours l'envie de pleurer.
Cependant, dans l'expansion de sa joie, la Lune remplissait toute la chambre comme une atmosphère phosphorique, comme un poison lumineux; et toute cette lumière vivante pensait et disait: «Tu subiras éternellement l'influence de mon baiser. Tu seras belle à ma manière. Tu aimeras ce que j'aime et ce qui m'aime: l'eau, les nuages, le silence et la nuit; la mer immense et verte; l'eau informe et multiforme; le lieu où tu ne seras pas; l'amant que tu ne connaîtras pas; les fleurs monstrueuses; les parfums qui font délirer; les chats qui se pâment sur les pianos, et qui gémissent comme les femmes, d'une voix rauque et douce!
«Et tu seras aimée de mes amants, courtisée par mes courtisans. Tu seras la reine des hommes aux yeux verts dont j'ai serré aussi la gorge dans mes caresses nocturnes; de ceux-là qui aiment la mer, la mer immense, tumultueuse et verte, l'eau informe et multiforme, le lieu où ils ne sont pas, la femme qu'ils ne connaissent pas, les fleurs sinistres qui ressemblent aux encensoirs d'une religion inconnue, les parfums qui troublent la volonté, et les animaux sauvages et voluptueux qui sont les emblèmes de leur folie.»
Et c'est pour cela, maudite chère enfant gâtée, que je suis maintenant couché à tes pieds, cherchant dans toute ta personne le reflet de la redoutable Divinité, de la fatidique marraine, de la nourrice empoisonneuse de tous les lunatiques.
Este fim-de-semana falou-se nisto a propósito das aventuras d’Os Cinco, de Enid Blyton - durante a leitura dos 21 volumes dessa colecção, as casas onde vivíamos na infância pareciam destituídas de qualquer encanto: não tinham painéis, não tinham pedras ocas a esconder escadas em espiral, não tinham qualquer via oculta. Enfim, mesmo as casas dos avós eram demasiado despidas de mistérios enquanto se lia aquilo. A internet, de certa forma, para quem leu esses ou outros livros do género, é uma tardia mas muito agradável vingança. Não é difícil visualizá-la enquanto espaço: imaginar-lhe corredores, salas, mansões, espirais, torres, florestas negras, lagos silenciosos etc. Feito isto (e isto faz-se quase sem querer), nunca se sabe o que vai exactamente acontecer. Onde nos levam os sucessivos e intermináveis links? Esta pergunta traduz um dos grandes encantos da net. Agora mesmo, enquanto procurava a letra de Good morning, Good morning, dos Beatles, entrei numa enciclopédia aberta, coisa que só compreendi quando, depois do link com o título da canção, em vez de me darem a letra, a pediram. Tendo-a encontrado, pouco depois, noutro sítio, deixei-a imediatamente lá, mas parece-me que ocorreu um problema qualquer pois não consegui fazer linhas... segundo compreendi, qualquer pessoa pode lá ir e editar a minha entrada, por isso não deve haver crise.
Gosto muito da última página do Local Porto do jornal Público. É pena os textos não estarem online, bem mereciam porque geralmente são muito mais do que notícias. Por exemplo, hoje, para além do texto de Óscar Faria sobre a exposição proustiana de Adriana Molder, temos o prazer de ler “Os mistérios dos livros”, de Luís Miguel Queirós. Como resistir a ir à Feira do Livro e como resistir ao segundo parágrafo, que apetece pôr em bold...
Os mistérios dos livros
Dizem-nos que vivemos hoje numa civilização da imagem, dominada pela televisão e restantes meios audiovisuais. Houve mesmo quem anunciasse a morte do livro, que tenderia a ser substituído pela internet como ferramenta de aquisição de saber, e destronado pelos filmes e jogos de computador enquanto fonte de prazer estético ou objecto de entretenimento. Não só são francamente razoáveis os argumentos em que se funda uma tal previsão, como há que reconhecer que os potenciais “sucessores” dos livros estão todos em franca expansão. E talvez seja ainda demasiado cedo para avaliar como o livro virá a aguentar-se perante a concorrência destes novos rivais. Mas parece difícil negar que está a resistir melhor do que se previa. Particularmente significativo é o facto da literatura infantil e juvenil ser hoje um sector em franca ascensão, vendendo como nunca. A ideia de que só na geração mais velha, formada nos livros, teria dificuldade em aceitar o seu desaparecimento, caiu por terra.
Por mim, suspeito que a explicação é genética, que algures no ADN da espécie está inscrita a palavra livro, a par de outras semelhantes, essas poucas das quais é difícil saber se os homens as inventaram ou foram inventadas por elas, como deus e o amor. Se é que não foram também os livros que as inventaram, como provavelmente nos inventaram a nós.
Hoje, pelas 18h30, abre mais uma Feira do Livro do porto, que este ano decorrerá sob a palavra de ordem “Alegria de Ler”. Se o leitor for um comprador regular de livros, desses que não dispensam pelo menos uma ronda semanal pelas livrarias, dificilmente o desconto da feira e a apresentação de um punhado de novidades editoriais lhe parecerão argumentos muito sedutores. No entanto, suspeito de que o vou ver por lá, quanto mais não seja para se extasiar com aqueles milhares de capas ordenadamente dispostas nas bancas dos sucessivos pavilhões. E há sempre um livro que nos escapou, tanto mais que as livrarias os devolvem às distribuidoras com uma rapidez inquietante. Começa a ser como os filmes que saem de cartaz ao fim de três ou quatro dias. Além de um programa cultural aliciante e de uma justíssima homenagem a Agustina Bessa-Luís, esta feira assinala ainda a reconciliação entre as das associações do sector, com benefícios óbvios para o visitante. A única má notícia é o desaparecimento definitivo do último alfarrabista que nela ainda sobrevivia: a Livraria Moreira da Costa. Porque os bons livros, como os bons vinhos, têm essa virtude: envelhecem com dignidade.
terça-feira, maio 27, 2003
Une journée d’Andrei Arsenevitch
Descobri agora mesmo e ainda estou surpreendida: o documentário que Chris Marker fez sobre Tarkovsky vai passar na próxima sexta-feira dia 30, às 22h15 no canal arte. Marquem na agenda, ponham um post it na televisão mas não percam este encontro!
Une évocation magistrale de la vie et de l’œuvre d’Andrei Tarkovski, disparu en 1986. Andrei Tarkovski, déjà très malade, commente dans son Journal de 1986 les images prises lors de l’arrivée à Paris de son fils, Andrioucha, qui enfin avait eu le droit de quitter la Russie pour le rejoindre en France. À partir de cette journée très russe qu’avait filmée Chris Marker viennent se greffer les évocations, les citations, les mises en perspective de ce qui constitue le langage d’un des plus grands stylistes du cinéma de tous les temps.
Poétique de l’image
Invitation à explorer l’une des écritures cinématographiques les plus singulières, ce film évoque les grands thèmes tarkovskiens à travers des extraits de l’Enfance d’Ivan, Solaris, Andreï Roublev, Nostalghia, mais aussi son premier travail d’école à Moscou et un Boris Godounov presque inconnu qu’il a mis en scène à Covent Garden en 1983. Ce film s’appuie sur deux autres documents vidéo: celui d’une visite sur le tournage du Sacrifice, à Gotland, et celui qu’il avait souhaité comme témoignage de son travail, le montrant en train de diriger le montage du fond de son lit…
Joel Sternfeld é um fotógrafo norte-americano que adquiriu projecção internacional em 1987 com a publicação do livro American Prospects: um rigoroso estudo sobre a presença de sinais da ordem social na paisagem norte-americana. Numa fotografia que reclama o legado do estilo documental de Walker Evans e o registo desolado e melancólico de Robert Frank, as imagens de Sternfeld definem um complexo campo de reflexividade teórica.
Mais recentemente, o fotógrafo publicou a série Stranger Passing, um fascinante inventário da diversidade de arquétipos sociais da sociedade americana.
Numa clara referência aos retratos que August Sander realizou na Alemanha durante a década de 20 e 30, este trabalho de Sternfeld questiona a validade do retrato convencional como prática documental, na medida em que o autor parece duvidar de qualquer discernimento identitário mais imediato.
De 29-5 a 29-6, na Cordoaria Nacional (Torreão Nascente) - Av. da India, Lisboa.
12:00-20:00 | Encerra à segunda | Tel. 213637635
Bilhete - 1,5€ | Autocarros - 14,28,32,43,51 | Eléctrico - 15
A fechar o ciclo dos independentes americanos, a Zero em Comportamento vai exibir The Book of Life, de Hal Hartley, inédito no nosso país. Há muitas razões para o ir ver: reencontrar Martin Donovan, ver a P.J. Harvey a fazer de Maria Madalena, uma banda sonora que promete...
No dia 31 de Dezembro de 1999, Jesus Cristo (Martin Donovan) desembarca no aeroporto JFK, em Nova Iorque, com sua bela e intrigante assistente Magdalena (P.J. Harvey): regressou à Terra para o dia do juízo final! Este Messias-versão-homem-de-negócios foi enviado pelo Pai com a missão de avaliar se o mundo deve ou não acabar. Na sua pasta de executivo, traz as gravações do Livro da Vida, devidamente transferidas para um disco rígido.
Durante esse dia, luta pelas almas humanas contra o Demónio, enfrenta a cólera de Deus e a expulsão do paraíso. Mas a batalha mais difícil é interior: descobrir se vale ou não a pena salvar estas almas!
EUA, 1998, Cor, 63’
Versão Original em Inglês
Com: Martin Donovan, P.J. Harvey, Thomas Jay Ryan, Dave Simonds, Miho Nikaido, D.J. Mendel, Katreen Hardt, James Urbaniak
Argumento: Hal Hartley; Fotografia: Jim Denault; Montagem: Steve Hamilton; Música: P.J. Harvey, P. Comelade, David Byrne, Ben Watt, Yo La Tiengo; Produtor: Simon Arnal, Caroline Benjo, Jerome Brownstein, Thierry Cagianut, Pierre Chevalier, Chelsea Fuhrer, Matthew Myers, Carole Scotta ; Produção: La Sept Arte, Haut Et Court, True Fiction Pictures
Cine-estúdio 222 > 29 e 30 de Maio >17h00, 19h15, 21h45
segunda-feira, maio 26, 2003 Mangelos, Manifest de la relation, Acryl on globe, 37 x 26 cm
manifesto sobre os livros
os livros enormes com milhares de palavras
desnecessárias
que se vão diversificando em inúmeras nuances
tem carácter divertido
mais do que
informativo
os livros formidáveis são uma expressão típica
do nível ingénuo do pensamento
o pensamento funcional
nos livros
é reduzido à informação
na forma mais breve possível
Mangelos, 1978
- numa parede de Serralves perto de si.
O Tomás Carneiro encontrou este manifesto em serralves e resolveu encostar-nos à parede:
Que leitura fazem deste manifesto? Quanto a mim, o que Mangelos pretende dizer é que os livros conseguem resistir à mudança que actualmente se verifica de uma organização emocional ("ingénua") da sociedade, do pensamento, etc., para uma organização funcional (inteligente, tecnológica, etc.) dos mesmos.
Penso que Mangelos vê os livros como "os últimos Moycanos" das emoções."
Pode ser Tomás, pode ser, mas o texto dele é demasiado “duro”. O que é que ele quer dizer com livros formidáveis? Isto ou é ironia, ou é má tradução, ou ignorância minha. Tenho de ir ver a exposição para descobrir o que é que ele quer dizer… (se conseguir, eheheh porque reconheço já, o meu pensamento é basicamente do nível ingénuo, logo, pouco funcional)
Dimitrije Mangelos no Museu Serralves , de 10 de Maio a 31 de Agosto de 2003
Ainda a respeito da escolha da fotografia da capa do Público (que foi feita ontem), e depois de uma discussão cá em casa, fui procurar um texto sobre a teoria de montagem de Kuleshov. Claro que um jornal não faz cinema, não tem um plano a seguir ao outro mas tem o contexto que cria uma sequência.
Não gosto desta capa!
...
Entretanto, na Rússia, um outro teórico do cinema (Kuleshov) faz descobertas de outra índole. A sua experiência mais célebre é clarificadora: Kuleshov montou um grande plano expressivo do rosto do actor Mosjoukine (tirado de um velho filme de Geo Bauer) com outro mostrando um prato de sopa: depois montou o mesmo plano do rosto do actor com um outro mostrando um caixão de criança; ainda uma terceira vez montou o mesmo plano com um de uma mulher seminua em pose provocante. Depois projectou o total perante uma audiência. Foi unânime a opinião de que Mosjoukine era um óptimo actor dado que expressava de um modo magífico sentimentos de fome (primeiro), dor (a seguir) e desejo (por fim). Kuleshov demonstrava assim que a significação de uma sequência pode depender exclusivamente do relacionamento subjectivo que o espectador faz de planos diversos que, separadamente, a não possuem nem sequer parcelarmente.
A propósito da fotografia enviada por Raquel Crato, trocámos alguns mails indiscretos e descobrimos um site perdido, onde é possível ver imagens da noite e do dia na Terra. A actualização é permanente. E, como diz o Luís, a coisa vicia. Neste momento, cá deste lado, assim se vê a Terra.
1 Vi há bocado o Público e fiquei admirada com a imagem que eles escolheram para a capa (está aqui, na última hora )
2 "Os "blogs" têm tido sucesso curiosamente quando estão a ser repensados os modelos de negócio para a Web. Apesar de as "dot-com" estarem em baixa desde há quase três anos, é precisamente desde essa altura que a adesão aos "blogs" tem vindo a intensificar-se. E há mesmo desempregados que se levantam só para "blogar" - lembrou o escritor e, como todos os oradores, "blogger" David Weinberger.
No suplemento Computadores há um artigo sobre blogs – mais precisamente sobre o blogtalk, o primeiro encontro europeu sobre weblogs que decorreu na sexta e sábados passados em Viena, Áustria – e duas caixas: uma analisa o fenómeno em alguns países como a Polónia, Irão e Espanha; a outra conclui que a blogosfesra cresce mas não rebenta, estamos salvos.
Na edição impressa há ainda as ilustrações do André Ruivo, para quem se quiser rever nos bonecos
Every Night & every Morn
Some to Misery are Born.
Every Night & every Morn
Some are Born to sweet delight.
Some are Born to sweet delight,
Some are Born to Endless Night.
We are led to Believe a Lie
When we see not Thro' the Eye,
Which was Born in a Night, to perish in a Night,
When the Soul Slept in Beams of Light.
God Appears & God is Light
To those poor Souls who dwell in Night,
But does a Human Form Display
To those who Dwell in Realms of Day.
Através de sofisticados sistemas de escuta, o perito em vigilância Harry Caul e os seus colaboradores, gravam à distância a conversa, aparentemente inocente, de um casal numa praça pública de S. Francisco. Harry fica intrigado com uma frase que deixa perceber que o casal está sob qualquer ameaça. Recusa-se a entregar as gravações ao assistente do director da empresa que contratou os seus serviços e após uma noite de copos com um colega, Harry, descobre que as suas gravações foram roubadas. Suspeitando que estas podem estar na origem de um assassínio, Harry, tenta perceber o que está por detrás deste caso. Há, de facto, um assassínio, mas não como Harry pensava, e agora, é ele o alvo de vigilância.
Francis Ford Coppola realizou “O Vigilante” entre os “Padrinhos I e II”, dois estrondosos sucessos mundiais que remeteram aquele thriller de rara subtileza e inteligência para um injusto esquecimento. Trata-se de um espantoso estudo psicológico sobre um homem solitário, obsessivo e rigoroso que se dedica por profissão e convicção a violar a privacidade alheia, até que decide interferir num caso que se deveria limitar a escutar e acaba ele próprio por ser vítima de apertada vigilância. De forma surpreendente, Coppola, constrói um filme tão irónico quanto perturbador, dominado por uma subtil atmosfera de suspense e mistério, onde Gene Hackman é admirável no principal papel. Uma alucinante história de obsessões e paranoias, dominada pela “teoria da conspiração” que se situa, algures, entre Watergate e Kafka.
2 livros da secção infantil (ou talvez não) que apetece ler
O Dia em Que Troquei o Meu Pai por Dois Peixinhos Vermelhos, de Neil Gaiman e Dave McKean (Devir Livraria, Lda 1ª Edição de 2002)
A Caça ao Snark, de Lewis Carroll.
Mais um volume da belíssima colecção Assirinha, da Assírio & Alvim (é a mesma tradução - de Manuel Resende - já editada pela Afrontamento em 1985)
São oito cantos ou "ataques" (desembarque, o discurso do sineiro, a história do padeiro, a caçada, a lição do castor, o sonho do advogado, o fado do banqueiro e o desaparecimento) e uma personagem estranha. Afinal o que é um Snark?
– Receio bastante que não queira dizer nada, que não passe de coisa sem sentido! No entanto, sabem?, as palavras querem dizer mais do que nós queremos dizer quando as usamos, por isso, um livro inteiro haverá de querer dizer mais do que o autor quis dizer –, assim explicou Lewis Carroll o seu Snark.
Volto ainda aos objectos, mas noutra perspectiva, não tentando adivinhar os que estão a desaparecer e as suas causas sociais (a transformação da família, a mudança do papel social da mulher,o enriquecimento da classe média, a luta contra a burocracia, o louvor da rapidez em detrimento de tudo o que é lento,…), mas tentando perceber a nossa ligação afectiva aos objectos.
Pensar neles não apenas como coisas utéis ou inutéis, mas como uma espécie de extensões de nós próprios, das nossas memórias e sentimentos.
Quando viajamos levamos connosco uma fotografia, um lápis, uns sapatos especiais, um frasco de perfume, um caderno, o que seja, porque sem eles somos muito menos que nós próprios.
Os sem abrigo que dormem por aí na rua, trazem consigo um saco com as suas coisas, objectos que não valem quase nada, jornais velhos (ah sim, servem para aquecer) e sacos e outros papéis e sabe-se lá mais o quê. Quais serão os seus tesouros?
Uma das imagens mais penosas que conheço (e tantas vezes vista em filmes) é a entrega dos objectos pessoais que os presos são obrigados a fazer antes de passar para o isolamento da cela, é aí que começa a punição.
Um dia, em Peniche, dei-me conta da imensa tristeza que existe nas celas despidas e da necessidade que os presos têm de criar novos objectos e, através deles, comunicarem.
Essa separação pode tomar proporções enormes. Lembro-me de uma passagem impressionante do livro “Se isto é um homem”, de Primo Levi em que ele conta o modo como os prisioneiros do campo de concentração eram despojados dos seus objectos e assim despojados da sua humanidade.
Então pela primeira vez nos apercebemos de que a nossa língua carece de palavras para exprimir esta ofensa, a destruição de um homem. Num ápice, com uma intuição quase profética, a realidade revelou-se-nos: chegámos ao fundo. Mais para baixo do que isto, não se pode ir: não há nem se pode imaginar condição humana mais miserável. Já nada nos pertence: tiraram-nos a roupa, os sapatos, até os cabelos; se falarmos, não nos escutarão, e se nos escutassem, não nos perceberiam. Tirar-nos-ão também o nome: se quisermos conservá-lo, teremos de encontrar dentro de nós a força para o fazer, fazer com que, por trás do nome, algo de nós, de nós tal como éramos, ainda sobreviva.
Sabemos que, quanto a isto, dificilmente nos compreenderão, e é bom que assim seja. Mas considere cada um quanto valor, quanto significado está contido mesmo nos nossos mais pequenos hábitos quotidianos, nos nossos mil objectos que até o mendigo mais humilde possui: um lenço, uma velha carta, a fotografia de uma pessoa amada. Estas coisas fazem parte de nós, quase como se fossem membros do nosso corpo; não podemos sequer pensar em sermos privados delas, no nosso mundo, pois imediatamente encontraríamos outras para substituir as velhas, outros objectos que são nossos porquanto guardam e suscitam memórias nossas.
Imagine-se agora um homem ao qual, juntamente com as pessoas amadas, tiram a casa, os habitos, a roupa, enfim, tudo, literalmente tudo quanto possui: será um homem vazio, reduzido ao sofrimento e à carência, esquecido da dignidade e bom senso, pois acontece facilmente, a quem tudo perdeu, perder-se a si próprio; reduzido a tal ponto que outros poderão sem problemas de consciência decidir da sua vida ou da sua morte para além de qualquer sentido de afinidade humana; no caso mais optimista, na base de uma mera avaliação de utilidade. Compreender-se-á então o duplo significado da expressão «Campo de Extermínio», e será claro que o tentemos exprimir com esta frase: jazer no fundo.
Mas agora, numa certa noite, um ano depois de tudo começar, pusemo-nos de novo com ideias, com hesitações, com arrojos, com manias, com perguntas. O que mais interessa para a revista (ou seja, para nós)? Que Nobel vamos convidar? Que caminhos vamos trilhar? Que entrevistas? Que reportagens? O que queremos dizer com «Periférica»? Que dia é hoje? Vai haver mais cronistas? Vamos ter ensaios? E teatro? E cinema? Que prosadores vamos ter? Que poetas? Vamos ter um manifesto? Que manifesto? Ainda há whisky? Que horas são?
Apesar dum ligeiro atraso, a versão reduzida da Periférica nº 5 já está online. Quem gostar e quiser ler tudo tem de comprar em papel e pode-o fazer já a partir do dia 27. Mas, se gostar mesmo dos moços de Vilarelho, o melhor é aparecer no próprio dia 27 (que é a próxima terça-feira), no café da Fnac Chiado pelas 18h30, para cantar os parabéns à revista que completa o seu primeiro ano, conhecer as caras de quem a faz e, quem sabe, beber e trincar qualquer coisita...
Neste número a Periférica entrevista Ian Jack, editor da ‘Granta’ (que colabora ainda com uma crónica: Rituais de Primavera) e Valter Hugo Mãe e Jorge Reis-Sá, os editores da Quasi que confessam que oferecem os seus serviços editoriais a troco de propostas indecentes. Há um encontro com o Luiz Pacheco. Há fotografias do holandês Erwin Olaf, cartoons e ilustrações, poemas, ficção curta, crítica e até a verdadeira lista de Marcelo Rebelo de Sousa, o cânone dos cânomes…
What's Opera, Doc? é uma animação de 7 minutos onde Bugs Bunny e Elmer Fudd medem forças numa ópera com contornos wagnerianos. Aqui fica o guião, para aguçar o apetite. (Não esquecer que o Elmer não diz os r's! Logo, onde se lê rabbit, leia-se wabbit.)
[Cartoon opens, scenes of Elmer directing a storm] - The Flying Dutchman overture
Elmer - Be very quiet / I'm hunting rabbits - general opera recitative-style music
- Ride of the Valkyries from The Valkyries:
Elmer - Rabbit tracks!!! / Kill the rabbit, kill the rabbit, kill the rabbit / Yo ho to oh! Yo ho to oh! Yo ho...
- Siegfried's Horn Call from The Ring Cycle:
Bugs - O mighty warrior of great fighting stock / Might I enquire to ask, eh, what's up doc??
Elmer - I'm going to kill the rabbit!! - Ride of the Valkyries Bugs - Oh mighty warrior t'will be quite a task / How will you do it, might I enquire to ask?? - Siegfried's Horn Call
- General recit. music:
Elmer - I will do it with my spear and magic helmet!
Bugs - Your spear and magic helmet?
Elmer - Spear & magic helmet!
Bugs - Magic helmet?
Elmer - Magic helmet!
Bugs - Magic helmet
Elmer - Yes, magic helmet and I'll give you a sample
[Elmer gives a sample of his power] - Flying Dutchman overture
Bugs - Bye
Elmer - (that was the rabbit)
[Chase scene] - general chase music
- Overture to Tannhauser:
[Bugs appears, dressed as Brunhilde, riding on a white horse. Elmer is stupefied.]
Elmer - Oh Brunhilde, you're so lovely
Bugs - Yes I know it I can't help it
Elmer - Oh Brunhilde, be my love
[Ballet scene] - Bachanal from Tannhauser
- Tannhauser Overture:
Elmer - Return my love, a longing burns deep inside me
Bugs - Return my love, I want you always beside me
Elmer - A love like ours must be
Bugs - Made for you and for me
Bugs & Elmer - Return, won't you return my love, for my love is yours
- Ride of the Valkyries:
Elmer - I'll kill the rabbit / Arise storms / North winds blow, south winds blow / Typhoons, hurricanes, earthquakes. . . SMOG! / Flash lightning! Strike the rabbit!
- Tannhauser overture:
Elmer - What have I done?? I've killed the rabbit... / Poor little bunny, poor little rabbit...
[Elmer walks away carrying Bugs in his arms] - Tannhauser overture Bugs - (well what did you expect in an opera, a happy ending???)
Acabou hoje o Ciclo Grandes Orquestras Mundiais (Gulbenkian). Sinceramente, depois de ouvir Mendelssohn e Chostakovitch pela Orquestra Filarmónica de Berlim, não ia com grandes expectativas. Se a 1ª parte (Marcha Eslava e Moscovo, Tchaikovsky) deu razão à minha falta de entusiasmo, a 2ª (diversas partes do Príncipe Igor, Alexander Borodin) foi uma forte bofetada. Shame on me!
É indescritível a sensação da música que se entranha, que nos obriga a movimentar cabeça e mãos ao seu ritmo, que nos faz ficar com pele de galinha no auge daqueles andamentos rápidos (não sei o termo...). Estes são, sem dúvida, os meus momentos preferidos. Um crescendo de intensidade, onde todos os instrumentos participam, que culmina numa forte explosão musical! Desconfio que não sou só eu a sentir isto: no instante imediatamente a seguir ao final da explosão, muita gente se levanta, num ímpeto, a bater palmas furiosamente.
Conseguem-se distinguir perfeitamente as pessoas que gostaram do concerto. São as histéricas que gritam Bravo! ao mesmo tempo que aplaudem com a força necessária para pôr as mãos dormentes ao fim de alguns minutos (e isto não é em tom pejorativo - incluo-me nesta categoria!). As que não gostaram são as que correm para o parque de estacionamento assim que os aplausos começam, podendo ou não ainda bater umas palmitas pelo caminho. Deduzo que tenham detestado de tal forma que nem ficam para ver o ar emocionado do maestro ao verificar que o público não vai arredar pé (nem parar de fazer barulho) durante os próximos 15 minutos.
Não me vou alargar em relação às tosses que invadem a sala, uma vez que o José Mário Silva já expôs todas as minhas dúvidas e opiniões acerca do assunto. Haverá tanta gente com problemas de garganta? E se sim, será juntarem-se em dia de concerto e tossir entre andamentos alguma forma de tratamento?
Para acabar, um conselho àqueles que batem palmas fora de tempo: aprendam a linguagem corporal dos maestros. Um truque desenvolvido na minha infância mas que ainda hoje utilizo quando não conheço a peça. Em caso de dúvida, batam palmas só quando o maestro se virar! :)
posted by picatostes on 02:00
sábado, maio 24, 2003
Venham mais cinco!
"Agora, só me apetecia que o Vasco Graça Moura também aderisse à moda dos "blogs", e assim as minhas noites blogistas ficariam mesmo completas." diz hoje Isabel Coutinho no Mil Folhas, depois de recomendar uma visita ao blog do José Pacheco Pereira, Abrupto.
Não sei se Vasco Graça Moura é de modas, mas bem podia entrar nesta blogesfera.
Não faço a mínima ideia qual seria o título do seu "blog". Agora quanto ao conteúdo, não é muito difícil adivinhar. Certamente ( ?) iria projectar toda a sua erudição, de mão dadas com a ironia; iria alternar um post em francês, outro em inglês, um italiano, outro em português.....,bem logo que não dissertasse durante dias porquê é que não gosta do Fernando Pessoa, nem do Samuel Beckett e que escrevesse sobre a "música" de Thomas Bernhard (porque é um escritor de que gosto mesmo mesmo muito), que colocasse poemas ecfrásticos,bons poemas traduzidos do italiano pra português, poemas e etc e etc, assim as minhas noites blogistas não ficariam mesmo completas, mas certamente muito mais completas.
Pra mim, noites blogistas mesmo completas, vejo com "blogs" do José Gil, Maria Filomena Molder, João Miguel Fernandes Jorge (neste teria que ter muitas imagens, quadros, fotografias, etc), João Barrento,.............
E se todos tivessem a mesma postura que José Pacheco Pereira está a ter no seu "blog", seria então excelente.
Já agora, deixo a pergunta: Quem é que gostariam que aderisse(m) à moda do "blog"?
Tenho para ler (de borla, directamente da Biblioteca Almeida Garrett) o delicioso, e já meio lido, “A teoria e o cão / Os caminhos que tomamos” de O. Henry (mais um gato maltês da Assírio & Alvim) e “O Complexo de Portnoy”, de Philip Roth (da Bertrand).
O olho responde ao ataque da luz.
O olho responde à cor planificada.
O olho responde ao ataque do olho.
O olho agride com luvas.
O olho irresponde à bomba atômica.
O olho, alavanca do quadro.
O olho responde à língua, ao ouvido.
O olho não tateia: vai ao núcleo.
O olho constrói no futuro.
O olho dispara a câmara lenta, a câmara veloz.
O olho espicaça meu poder de construção; por isto sofri
de pintura informal como do duodeno.
O olho amarelo expulsa o olhar azul.
O olho do pintor resfolega.
Créé en 1981, L’Orchestre de contrebasses réunit six contrebassistes français qui se sont unis pour faire oublier au public toutes les idées reçues et les poncifs concernant leur instrument. Les musiciens explorent toutes les façons de faire sonner une contrebasse, se dégageant complètement de toutes les conventions et de tous les académismes. Les formes les plus diverses de musique sont tout à tour convoquées sur scène pour le plaisir des spectateurs: classique, jazz, hip hop, musique contemporaine…
Le travail sur les rythmes et les sons se concrétise également dans la partie visuelle du spectacle: l’orchestre de contrebasses n’est pas un ensemble statique à écouter les yeux fermés. Les musiciens se font aussi acteurs et parfois même marionnettistes, utilisant leurs instruments comme des personnages avec lesquels ils font corps.
Les six musiciens qui composent l’orchestre de contrebasse sont Christian Gentet, Jean-Philippe Viret, Yves Torchinsky, Olivier Moret, Etienne Roumanet et Xavier Lugué. Ils interprètent: Un petit air de la musique de l’air, Cardamome, L’Effet sonore, Tabasse ta basse, Pause, Kora Song, Heureuse qui comme Ellis, Not Portninwak, Week-end à Deauville, La Plume, Celtic Dream, Dors Adèle, Father moqueur, Bass, bass, bass, bass, bass and bass, Tango et Noire est la nuit.
Concert (2002, 91’) enregistré à la Base sous-marine (Bordeaux), réalisation : Laurent Lespéron. Coproduction France 3, les films JackFébus, Angle Productions et Mezzo.
Algumas proposições com pássaros e árvores que o poeta remata com uma referência ao coração
Os pássaros nascem na ponta das árvores
As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra
quando o outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada e não se dá bem na poesia
não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração
Que objectos é que estão em vias de desaparecimento?, pergunta o Abrupto
Em primeiro lugar, coloco o ferro de passar. Ainda não é uma constatação mas um desejo. É um objecto que me faz ranger os dentes, vivo à espera do anúncio da sua morte e creio que não deve ser difícil criar fibras orgânicas geneticamente modificadas para não encorrilhar. Não é politicamente correcto mas é o que eu espero: camisas de algodão ou linho, sempre prontas a vestir. Aliás, há-de surgir roupa tecnológica, com controlo de temperatura, roupa que massage e amacie a pele, roupa com perfume (esta decerto com uma vertente especial - extra - para intelectuais).
Continuando na lida da casa, será que o passe-vite resistirá? O tanque de lavar roupa felizmente já quase não se vê. E o sabonete está a ser substituido por cremes.
Creio que as disquetes, zips, cds e outros suportes de armazenamento de dados também não vão resistir muito. Serão desnecessários quando pudermos enviar informação a alto débito por fios ou, melhor ainda, sem fios.
O rato do computador também deverá desaparecer. O “Minority Report” já lançou pistas para uma relação com o computador muito mais interessante e corporal e há muita gente a tentar pôr o computador a ouvir e perceber o que nós dizemos.
A televisão vai ser engolida por um super computador dedicado ao lazer e comércio (e disposto a engolir-nos a nós em seguida).
Tudo o que é impresso - livros, revistas, jornais, painéis e folhetos publicitários - também tem os seus dias contados. Vão ser muito chorados (principalmente os livros), mas francamente a indústria de pré-impressão e impressão são extremamente poluentes e devem ser substituídas. Quando encontrarem o suporte certo para as palavras gráficas suspeito que os livros de papel transformar-se-ão em objectos caros e raros, de colecção.
Os atacadores dos sapatos também poderão desaparecer, à semelhança do que aconteceu com colchetes, fitas e brocados e tudo aquilo que se encontra nas retrosarias, lojas completamente anacrónicas. E aquelas revistas com esquemas para fazer crochet, será que ainda existem?
Os ábacos (que ainda há pouco eram os instrumentos utilizados nas lojas dos países de leste, num exemplo de perfeito dessincronismo) já desapareceram há muito, substituídos por máquinas de calcular.
As máquinas de escrever também estão a desaparecer, assim como desapareceu o enfadonho e barulhento telex. Os telefones largam os fios e ganham memória e olhos. O mata borrão e papel químico são difíceis de encontrar e parece que já não existe o odioso e burocrático papel azul de 25 linhas.
Os manguitos verdadeiros, de pano, e que serviam aos escrivãos do princípio do século XX, mas também ao meu merceeiro, já não os vejo há muito.
Os fósforos estão em vias de desaparecer e desta vez nenhuma lei os poderá proteger.
Mas há um objecto que vai ainda durar muito tempo: a caneta. A imagem que me ocorre é do “2001 - Odisseia no espaço”: Heywood Floyd adormece e uma caneta escapa dos seus dedos e fica a pairar no espaço.
p.s. Em 97, a revista Wired comparou os objectos inventados (em 1968) para o "2001- Odisseia no espaço" com a realidade: uns acertaram, outros ficaram pelo caminho e há ainda os que estão a milhas
É possível ler o artigo nos arquivos
" Na cena portuense, Nuno Cardoso tem sido revelação fulgurante. E em Lisboa, aonde chega hoje a sua encenação da peça de Marius von Mayenburg Parasitas (Ao Cabo Teatro) _ D. Maria II/Estúdio até 15 de Junho _, tem-se acedido, desde 2002, às criações deste biénio do também director artístico do Carlos Alberto (ANCA) _ que reabre em Setembro, enquanto ele prepara A Morte de Danton de Büchner, para o São João, sem deixar a «produtiva experiência» com o Ao Cabo Teatro.
Parasitas (estreia do Porto no DN, 10 de Abril) sucede à sua encenação de textos de autores capitais, como Sarah Kane (Purificados/D. Maria II) e DeLillo (Valparaíso/Culturgest). Poesia negra, abjeccionista, como a do dramaturgo-residente da Schaubühne de Berlim (João Barrento traduziu). Dois casais incomunicantes guerreiam, destroem, parasitam, e autodestroem-se: Petrik (Nuno M. Cardoso) prefere a sua cobra à mulher, Friederike (Cátia Pinheiro). Ela recusa a gravidez e tenta matar-se. Do hospital sai para casa da irmã (Catarina Requeijo), já a braços com um paralítico (Tónan Quito), atropelado pelo velho Multsher (António Fonseca) que os parasita com seus remorsos.
Nuno Cardoso vê fechar aí um ciclo: «Depois da Oresteia (encenada com presos de Paços de Ferreira/Porto 2001 e filmada por Saguenail/Regina Guimarães), não se consegue olhar as coisas da mesma maneira. Abria o dia na cadeia, três horas depois ia à vida... As pessoas tentam disfarçar, mas as coisas ficam no fundo a levedar. Estas peças são sobre o amor, ou a falta dele. Só quando o tempo acaba, na morte, temos consciência do que há para fazer, mas a sociedade convive mal com isso, pedala em falso. A vida não é só isto mas, se não prestarmos atenção, qualquer dia é só isto...» "
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em um cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
En exclusivité sur ARTE, le nouveau film de Patrice Chéreau, primé au Festival de Berlin 2003. Dans cette fiction hyperréaliste, le cinéaste décrit la complexité et la richesse des rapports fraternels, et montre crûment les bouleversements causés par une maladie du sang.
Un soir, Thomas débarque chez son frère Luc. Ils ont été longtemps sans nouvelles l’un de l’autre. Thomas apprend à son frère qu’il est atteint d’une maladie du sang. Le nombre de ses plaquettes est en chute libre, il risque l’hémorragie à tout moment. Paniqué, il demande à Luc de l’accompagner à l’hôpital où il doit retourner le lendemain, après y avoir séjourné trois mois. Hospitalisé sur-le-champ, Thomas enjoint Luc de rester pour l’aider à traverser les affres de cette maladie. Dans ces moments douloureux, les deux frères se redécouvrent, franchissent des barrières qui les séparaient depuis l’enfance : l’homosexualité de Luc et la préférence de leur père pour l’aîné, Thomas. “Pourquoi c’est pas Luc qui l’a attrapée, cette saloperie?”, laisse éclater le père, alors que la maladie déchire les uns et rapproche les autres…
Knitting on the Roof (1999) é uma versão muito invulgar da banda sonora de Fiddler on the Roof (1964/1971). O cd é cheio de graça, mas ouvir The Residents em Matchmaker é verdadeiramente jubiloso.
Eu sei que futebol é assim
mesmo, um dia a gente
ganha, outro dia a gente
perde, mas por que é que,
quando a gente ganha,
ninguém se lembra de que
futebol é assim mesmo?
COLECIONE SELOS e viaje neles
por Luxemburgos, Índias, Quênia-Ugandas.
Com Pedr'Alvares CAbral e Wandenkolk,
aprenda História do Brasil, Colecione.
Mas sem dinheiro?
Devaste os envelopes da família.
Remexa nas gavetas. Há barbosas
efígies imperiais à sua espera.
Mortiças cartas guardam peças raras.
Tudo vasculhe. Um dia
arregalado à sua frente há de luzir
em arabescado fundo negro
o diamante, o sonho, a maravilha
chamada olho-de-boi 60.
Troque. Vá trocando, Passe a perna,
se possível. Senão, seja enganado
mas acrescente sua coleção
de postas magiares, moçambiques,
osterreiches, japões, e seu prestígio
há de aumentar : o baita
colecionador da rua principal.
E brigue, boca e braço,
ao lhe negarem esta condição.
Até que chegue o tédio de possuir,
a tentação do fósforo e do vento
o gosto de perder a coleção
para outra vez, daqui a um mês,
recomeçar, humílimo, menor
colecionador da rua principal.
Carlos Drummond de Andrade , Menino Antigo (Boitempo II) (1973).
Apesar da internet e da utilização massificada de telemóveis ter quase acabado com a escrita e envio de cartas, a nossa caixa de correio não vai desaparecer tão cedo e não é por causa das facturas. A verdadeira razão são as encomendas.
Já se tornou habitual ir aos correios despachar envelopes almofadados com cds, livros, fotografias ou filmes. Nem sempre conheço pessoalmente os destinatários e isso ainda torna mais interessante o envio.
No domingo, em casa de um amigo, fiquei a saber que uma encomenda demora apenas dois dias a chegar à Dinamarca e, para além dos objectos mais triviais, pode também levar, escondidas, umas nésperas mediterrânicas
É tão fácil (e tão importante) trocar objectos, por certo Mercúrio está de olho em nós e disposto a alargar as suas competências à net.
Mas onde quero chegar é aqui: hoje recebi as fotocópias do Woyzeck (mais uma vez obrigado Francisco). Não sabia da existência deste programa mas mesmo que soubesse não me passaria pela cabeça a hipótese de o encontrar. O certo, porém, é que, graças a uma simples troca de palavras, tenho na minha frente o melhor programa de teatro que há! Vou escolher uma cartolina cinzenta, bonita, para fazer uma capa, e vai ficar perfeito. Mas para já, vou ler…
Recebemos um convite para visitar a Linha dos Nodos , um weblog criado por David Luz. O seu nome vem do termo de astronomia que designa a intersecção entre o plano de uma órbita e um plano de referência unindo dois pontos opostos da órbita, o nodo ascendente e o nodo descendente.
Gostei muito deste blog e posso dar provas: uma bela tradução de um tradicional japonês … Mesmo os tesouros e as pedras preciosas embaciam se não forem polidos. / Eu passo por este mundo transitório polindo o meu espírito noite e dia….; uma notícia que dá conta que nem todo o gelo flutua; e esta citação de Feynman: … What is the pattern, or the meaning, or the why? It does not do harm to the mystery to know a little about it. For far more marvelous is the truth than any artists of the past imagined! Why do the poets of the present not speak of it? What men are poets who can speak of Jupiter if he were like a man, but if he is an immense spinning sphere of methane and ammonia must be silent?
É um blog que nos vai pôr a olhar para as verdadeiras estrelas. Parabéns David!
Au printemps de 1747, Jean-Sébastien Bach (1685-1750) se rend à Postdam pour répondre à l’invitation du roi Frédéric II de Prusse, auprès de qui réside et travaille depuis sept ans, Carl Philipp Emanuel. Le récit de ce séjour est bien connu; l’on sait notamment que le roi fit essayer au «vieux Bach» ses clavecins favoris et les instruments nouveaux de sa collection dont un pianoforte construit par le célèbre facteur d’orgues Gottfried Silbermann.
Durant cette visite, le roi soumis un thème à Jean-Sébastien Bach et l’invita à le développer, ce que le musicien fit en improvisant une longue fugue à trois voix. De retour à Leipzig, Bach continua à développer l’exploitation musicale du thème soumis par Frédéric II et composa un ensemble d’œuvres qu’il fit parvenir au roi sous le titre de L’Offrande musicale (BWV 1079) assorti de cette dédicace: «Très gracieux Roi, je présente à Votre Majesté une Offrande Musicale dont la partie la plus noble est de la main de Votre Majesté. Je me souviens aujourd’hui encore de la grâce royale toute particulière qu’il y a quelque temps Votre Majesté me voulut bien faire en daignant me jouer un thème de fugue et en me demandant très gracieusement de le traiter. Je décidais de traiter de manière plus achevée ce thème vraiment royal et de le faire connaître au monde».
L’Offrande musicale se compose de diverses pièces dont Bach n’a pas précisé l’instrumentation. Ce sont, dans l’ordre où elle sont ici interprétées, le «Ricercare a 3 voci», les «6 Canones diversi Super Thema Regium», le «Canon perpetuus Super Thema Regium» et un autre «Canon perpetuus», le «Canon a 2 Quaerendo invenientis», le «Canon a 4», la «Sonata Sopr’il Soggetto Reale» et le «Ricercare a 6».
Pour cette interprétation, l’ensemble Musica Antiqua Köln a choisi une instrumentation variable faisant intervenir entre 1 et 5 musiciens et faisant appel à un clavecin, une flûte, deux violons et un violoncelle.
Concert (1984, 47’) avec le Musica Antiqua Köln, réalisation: Mike Newman > 19h45 no Mezzo
posted by Anónimo on 16:17
'Sitting on a wine barrel, facing the sea,
in the far south, I make notes in an
authentic moleskine, a museum piece which
Bruce gave me especially for this trip...' Luis Sepúlveda
Ontem recebi uma prenda muito especial. Um moleskine. (o clássico, sem linhas, como eu gosto).
É simplesmente bonito! Pra mim, é perfeito!
É mais um lance de dados mallarmeano..........
'My sketch-book shows that
I try to catch things in the act.' Vincent Van Gogh