Que objectos é que estão em vias de desaparecimento?, pergunta o Abrupto
Em primeiro lugar, coloco o ferro de passar. Ainda não é uma constatação mas um desejo. É um objecto que me faz ranger os dentes, vivo à espera do anúncio da sua morte e creio que não deve ser difícil criar fibras orgânicas geneticamente modificadas para não encorrilhar. Não é politicamente correcto mas é o que eu espero: camisas de algodão ou linho, sempre prontas a vestir. Aliás, há-de surgir roupa tecnológica, com controlo de temperatura, roupa que massage e amacie a pele, roupa com perfume (esta decerto com uma vertente especial - extra - para intelectuais).
Continuando na lida da casa, será que o passe-vite resistirá? O tanque de lavar roupa felizmente já quase não se vê. E o sabonete está a ser substituido por cremes.
Creio que as disquetes, zips, cds e outros suportes de armazenamento de dados também não vão resistir muito. Serão desnecessários quando pudermos enviar informação a alto débito por fios ou, melhor ainda, sem fios.
O rato do computador também deverá desaparecer. O “Minority Report” já lançou pistas para uma relação com o computador muito mais interessante e corporal e há muita gente a tentar pôr o computador a ouvir e perceber o que nós dizemos.
A televisão vai ser engolida por um super computador dedicado ao lazer e comércio (e disposto a engolir-nos a nós em seguida).
Tudo o que é impresso - livros, revistas, jornais, painéis e folhetos publicitários - também tem os seus dias contados. Vão ser muito chorados (principalmente os livros), mas francamente a indústria de pré-impressão e impressão são extremamente poluentes e devem ser substituídas. Quando encontrarem o suporte certo para as palavras gráficas suspeito que os livros de papel transformar-se-ão em objectos caros e raros, de colecção.
Os atacadores dos sapatos também poderão desaparecer, à semelhança do que aconteceu com colchetes, fitas e brocados e tudo aquilo que se encontra nas retrosarias, lojas completamente anacrónicas. E aquelas revistas com esquemas para fazer crochet, será que ainda existem?
Os ábacos (que ainda há pouco eram os instrumentos utilizados nas lojas dos países de leste, num exemplo de perfeito dessincronismo) já desapareceram há muito, substituídos por máquinas de calcular.
As máquinas de escrever também estão a desaparecer, assim como desapareceu o enfadonho e barulhento telex. Os telefones largam os fios e ganham memória e olhos. O mata borrão e papel químico são difíceis de encontrar e parece que já não existe o odioso e burocrático papel azul de 25 linhas.
Os manguitos verdadeiros, de pano, e que serviam aos escrivãos do princípio do século XX, mas também ao meu merceeiro, já não os vejo há muito.
Os fósforos estão em vias de desaparecer e desta vez nenhuma lei os poderá proteger.
Mas há um objecto que vai ainda durar muito tempo: a caneta. A imagem que me ocorre é do “2001 - Odisseia no espaço”: Heywood Floyd adormece e uma caneta escapa dos seus dedos e fica a pairar no espaço.
p.s. Em 97, a revista Wired comparou os objectos inventados (em 1968) para o "2001- Odisseia no espaço" com a realidade: uns acertaram, outros ficaram pelo caminho e há ainda os que estão a milhas
É possível ler o artigo nos arquivos