" Na cena portuense, Nuno Cardoso tem sido revelação fulgurante. E em Lisboa, aonde chega hoje a sua encenação da peça de Marius von Mayenburg Parasitas (Ao Cabo Teatro) _ D. Maria II/Estúdio até 15 de Junho _, tem-se acedido, desde 2002, às criações deste biénio do também director artístico do Carlos Alberto (ANCA) _ que reabre em Setembro, enquanto ele prepara A Morte de Danton de Büchner, para o São João, sem deixar a «produtiva experiência» com o Ao Cabo Teatro.
Parasitas (estreia do Porto no DN, 10 de Abril) sucede à sua encenação de textos de autores capitais, como Sarah Kane (Purificados/D. Maria II) e DeLillo (Valparaíso/Culturgest). Poesia negra, abjeccionista, como a do dramaturgo-residente da Schaubühne de Berlim (João Barrento traduziu). Dois casais incomunicantes guerreiam, destroem, parasitam, e autodestroem-se: Petrik (Nuno M. Cardoso) prefere a sua cobra à mulher, Friederike (Cátia Pinheiro). Ela recusa a gravidez e tenta matar-se. Do hospital sai para casa da irmã (Catarina Requeijo), já a braços com um paralítico (Tónan Quito), atropelado pelo velho Multsher (António Fonseca) que os parasita com seus remorsos.
Nuno Cardoso vê fechar aí um ciclo: «Depois da Oresteia (encenada com presos de Paços de Ferreira/Porto 2001 e filmada por Saguenail/Regina Guimarães), não se consegue olhar as coisas da mesma maneira. Abria o dia na cadeia, três horas depois ia à vida... As pessoas tentam disfarçar, mas as coisas ficam no fundo a levedar. Estas peças são sobre o amor, ou a falta dele. Só quando o tempo acaba, na morte, temos consciência do que há para fazer, mas a sociedade convive mal com isso, pedala em falso. A vida não é só isto mas, se não prestarmos atenção, qualquer dia é só isto...» "