Sobre o artigo de Luís Miguel Queirós, que a Cristina deixou, e OS LIVROS
O objecto-livro é uma genial invenção humana. É portátil, é leve mesmo quando é pesado, usa-se bem pois está perfeitamente feito para a mão humana, pode guardar os mais diversificados conteúdos e, muito importante quando comparado com as novas tecnologias, não está dependente da electricidade. Além disso, é um objecto resistente. É preciso muito para destruir um livro. A chuva, o vento, o passar do tempo num qualquer sótão inabitável, em suma, as condições mais adversas todas juntas apenas o estragam muitíssimo, deixando-o, a maioria das vezes, ainda que feio, amarelo, com as folhas enroladas, legível. A menos que as coisas que o pretendem substituir consigam este grau de resistência e de adaptabilidade, o livro continuará. É um objecto muito prático. Para ser ultrapassado, o que vier terá de ter tudo o que o livro tem e mais qualquer coisa. Não sei se os rivais do livro nos podem dar, para já, o que o livro dá. Nós só não nos damos conta da genialidade da invenção do livro porque, como todos os objectos bem conseguidos, se diluiu. Mas, enquanto objecto, é só uma extensão do corpo humano... fica ali, mesmo depois do pulso, numa mão - o seu funcionamento está dependente, apenas, dos simples e básicos movimentos do corpo humano. E não se pensa muito nisso, porque as grandes invenções são precisamente essas: as que não chateiam porque funcionam na perfeição. Não é nada fácil ultrapassar isto.