A primeira vez que vi fotografias de Martin Parr foi num livro chamado The Last Resort: Photographs of New Brighton, que mostra fotografias de uma praia suja com pessoas e lixo amontoados, além de fotografias que correm os hábitos de lazer desses veraneantes. Passei horas a ver esse livro. Quando algum tempo depois de me ligar à internet a Magnum inaugurou o novo site, com fotografias em tamanho decente, a galeria de Martin Parr foi uma das primeiras que visitei. Capitulei num instantinho: isto não é um flash usado à toa. É um flash usado para impor as imagens ao ponto de não conseguirmos nem fugir-lhes nem vê-las com a relativa indiferença conciliadora que é, por exemplo, a do preto-e-branco mais convencional. O preto-e-branco e a cor com luz natural ou flash dissimulado, não conseguem o mesmo efeito, não geram repulsa.
Martin Parr trouxe à fotografia duas grandes novidades; aliás, três: primeira, a forma de fotografar; segunda, os conteúdos fotografados; terceira, essencial, uma brilhante aliança entre forma de fotografar e conteúdos fotografados. Não se trata só do abuso do flash; trata-se também e fundamentalmente do olhar dirigido àquilo que normalmente o repele. Aqui não há guerra, nem doença, nem coisas tristes. Martin Parr é o senhor do vulgar, cansativo, grotesco, vazio e enfadonho quotidiano, que nas suas fotografias nos entra pelos olhos. Sempre com humor. Embora por vezes arraste a asa a alguma poesia. Ninguém pode ser sempreperfeito.
Assim vai fazendo Martin Parr um dos mais exaustivos e realistas trabalhos de documentação fotográfica sobre este mundo. Sem fugir. E sem nos permitir a nós virar a cara.