segunda-feira, maio 26, 2003
Ainda a respeito da escolha da fotografia da capa do Público (que foi feita ontem), e depois de uma discussão cá em casa, fui procurar um texto sobre a teoria de montagem de Kuleshov. Claro que um jornal não faz cinema, não tem um plano a seguir ao outro mas tem o contexto que cria uma sequência.
Não gosto desta capa!
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Entretanto, na Rússia, um outro teórico do cinema (Kuleshov) faz descobertas de outra índole. A sua experiência mais célebre é clarificadora: Kuleshov montou um grande plano expressivo do rosto do actor Mosjoukine (tirado de um velho filme de Geo Bauer) com outro mostrando um prato de sopa: depois montou o mesmo plano do rosto do actor com um outro mostrando um caixão de criança; ainda uma terceira vez montou o mesmo plano com um de uma mulher seminua em pose provocante. Depois projectou o total perante uma audiência. Foi unânime a opinião de que Mosjoukine era um óptimo actor dado que expressava de um modo magífico sentimentos de fome (primeiro), dor (a seguir) e desejo (por fim). Kuleshov demonstrava assim que a significação de uma sequência pode depender exclusivamente do relacionamento subjectivo que o espectador faz de planos diversos que, separadamente, a não possuem nem sequer parcelarmente.