1. Mas não esqueço o riso do Francisco ao descobrir que "cenoura albina" pode ser "pastinaga". O que ria ele e o Miguel Borges ao encontrarem "procrastinar". O que a Luiza Neto Jorge ria, no café da Mata da Caparica, anotando o seu Verlaine inicialmente publicado na &etc. e agora na Assírio ("Hombres"), o que ela ria com as maroteiras com que torneava as dificuldades da linguagem pornográfica do Virgem Doida. O que ríamos com as descobertas que fez na "Salada Cómica" de Karl Valentin. O que ainda ri o Vítor Palla ao falar-me ao telefone da sua espantosa tradução do Damon Runyon: "Isso foi uma paródia de amigos." O que ainda ri o Artur Ramos ao lembrar-se de como o José Palla e Carmo lhe traduziu o "Tango des Abattoirs" de Boris Vian: "Já estou tão farto de beijos / de desejos/ de despejos / passa a aguardente / já estou farto de ser hetero/ com mulheres/ a quilo/ a metro /passa a aguardente."
2. Se há um livro de filosofia acessível ao grande público que vale a pena ler e reler e discutir, é este (How Are We to Live? Ethics in an Age of Self-Interest, de Peter Singer). Publicar inanidades como "Mais Platão, Menos Prozac" e não publicar este livro é um crime cultural.