Há muito tempo que queria ver o documentário do Chris Marker “Une journée d’Andrei Arsenevitch”. Ontem consegui, é um belo filme mas muito triste porque acompanha os últimos dias do Tarkovski, a progressão da doença e a inevitabilidade do fim.
Estou profundamente grata a Tarkovski, cada um dos seus filmes (e são tão poucos) é uma revelação, um estudo sobre os homens e sobre a fé.
São sete apenas, mas tão densos, tão profundos e tão belos que posso andar anos e anos a revê-los. Claro que tenho pena porque nunca verei a adaptação de “O Idiota”, nem os outros, todos os que ele não fez, mas entre primeiro plano da “Infância de Ivan” e o último do “Sacríficio”, entre dois rapazes e duas árvores há um mundo enorme, há o mar de "Solaris", há a zona de "Stalker", há o milagre final, há todos os espelhos, toda a pintura e toda a música.
Há tudo nos seus filmes.
Cada momento passado juntos
Era uma celebração, uma Epifânia,
Nós os dois sózinhos no mundo.
Tu, tão audaz, mais leve que uma asa,
Descias numa vertigem a escada
A dois e dois, arrastando-me
Através de húmidos lilases, aos teus domínios
Do outro lado, passando o espelho.