Continuando com as dedicatórias, esta fica em casa: é para a Marta que me levou a comprar “As praias de Portugal”, de Ramalho Ortigão (da frenesi, conforme a 1ª edição de 1876). Uma verdadeira viagem no tempo, quando Porto Brandão podia ser considerada uma praia obscura.
A paisagem é de uma grande melancolia simpática, de um encanto profundamente penetrante. E a Foz tinha duas hospedarias: a do Julião, defronte do Castelo, e a do Silvestre, ao fundo da Rua Direita. Em qualquer delas, o preço, com almoço de bifes e ovos, jantar e ceia, com lautas sobremesas de pudim de pão com passas, muita fruta e vinho à descrição, era de um pinto por dia. Porque tudo quanto era bom e caro, custava nesse tempo – um pinto.
Mas há uma praia que não mudou muito:
São Pedro de Moel, na orla do Pinhal de Leiria. Pequena povoação, exclusivamente de banhistas, abandonada no inverno, habitada durante a estação de banhos por pessoas da Marinha Grande ou de Leiria. Vizinhança magnífica: o pinhal, que é a primeira floresta portuguesa
Aqui a vida é uma poeira arrastando.
As lanças deixam ficar por toda a parte
alguma coisa do seu calor
mesmo se o nevoeiro envolve o corpo.
Suporto o sol a trajectória do tiro
o agasalho farrapo onde embalo a noite
do acampamento
é o próprio frio desdobrando a mesquinha
morte. Morte chega aos olhos a tua cor
e apaga-os.
Os ratos. Os ratos brancos e cegos de
Mafra estão aqui nestes corredores e
nestas pedras. Carregado de poeira
aqui a vida todos a trazem à altura do
coração e a perdem nos caminhos e dizem
aos vossos destinos
mas o destino aqui não se lê nem escreve.
Histórias de coragem e expiação
contadas almas que cumpriram o tempo do
medo comum a paz impraticável ou o verso.
João Miguel Fernandes Jorge, À beira do mar de Junho
O meu computador ficou paralítico nos últimos dias e eu impossibilitada de abrir esta janela. Confesso que já andava com saudades de andar por aqui e por aí blogmente. Quando fechei a Janela na última vez, falava-se da generosidade, da generosidade da indiscreta Cristina, no Blog de Esquerda. Também quero falar nela-dela.Não vou fazer nenhuma ode à Cristina. Só quero sublinhar,de novo, mais uma vez, e nunca é de mais. Também sou uma vítima da generosidade dela (ehehe). Há dois anos, salvo erro, andava quase-desesperada à procura da Persona de Ingmar Bergman e como não sabia por onde virar, lembrei-me de ir a um fórum de cinema. Pessimistamente lá deixei o post. Cristina apareceu logo e na terceira mensagem lá disse "tenho o filme gravado e posso emprestá-lo". Fiquei banzada porque não contava com nada daquilo. Deu-se ao trabalho de fazer uma cópia do filme pra mim. Ela é mesmo de uma grande generosidade. Quando a conheci, pensava que já não existiam mais pessoas como ela. (Preciso de trazer pra aqui o ensaio sobre o individualismo contemporâneo, a indiferença, o narcisismo de que nos fala Gilles Lipovetsky). Por agora não quero dizer mais nada. Também não quero tornar isto um diário sentimental. Mas já que falamos tanto dos outros, porque também não falarmos das pessoas que fazem este blog. Já agora, Cristina, eu vou voltar. E também ao Baudelaire...... :)
Quero agradecer o e-mail do Rui Amaral que veio a acrescentar mais algumas informações sobre a obra de Hermann Broch. Já agora, se quiser escrever algum texto sobre o escritor, nós o colocaremos aqui, com todo o gosto. Hermann Broch é também um escritor que me interessa. Recomendo vivamente uma leitura da sua obra-prima "A Morte de Vergílio" (editados pela Relógio d'Água), "uma obra de uma paciência admirável, moral e politicamente informada, que põe à prova os limites da linguagem, a incapacidade da linguagem, ainda que ao mais alto nível de inspiração, no que se refere ao alívio do sofrimento humano. Num sentido quase wittgensteiniano, o Virgílio de Broch acaba por realizar por apreender existencialmente, que o essencial, a revelação da morte, reside precisamente do outro lado da palavra. Acresce que só a acção, e não as palavras, pode dar à morte um sentido humano" (George Steiner, Gramáticas da Criação).
Já agora:
Não é que o Vaco Graça Moura "panteramente" apareceu no Abrupto. Adorei!........
Gostei de ver tanto Lorca. Obrigado, indiscreta Ana!:)
As fotografias dos belos Jacarandás lisboetas da Ana são lindas! E com versos do Daniel Faria mais bonito ficou. Muito obrigado!
Cristina, libertaste hoje o livro de ilusões do Paul Auster? Diz que não. Porque se é sim, eu inscrevo-me logo.
Também já tenho o programa Cinema fora do Sítio (grande iniciativa). E vou ver “Os respigadores e a respigadora”, tenho de rever um dos meus filmes favoritos “Disponível para amar”. Este filme é mesmo imperdível. E o “Mulholland drive” é outro A não perder mesmo!
Hoje de manhã fui trocar livros à Biblioteca Almeida Garrett e aproveitei para ler a revista Actual, do Expresso. No meio das críticas aos livros, discos, filmes e fotografia encontrei um belíssimo artigo de Joao Miguel Fernandes Jorge sobre Francis Bacon. Saquei de uma papelinho da carteira a tirei notas.
Este post é, claro, dedicado à Zazie.
Nesse obscuro horror reside a existência
Estudo de um Cão (1952), Três Estudos para Figuras na Base de uma Crucificação (1944), Figura Sentada (1961), Estudo para Retrato em Cama Articulada (1963), Retrato de Isabel Rawsthorne (1966), Tríptico de Agosto de 1972.
Todas estas obras estão numa sala que a Tate Britain dedica ao pintor irlandês. É uma sala acerca do tempo e do corpo do tempo, dentro e fora do homem. Guarda nas suas paredes a brutalidade do facto de se existir e que é, também, uma filosofia do corpo.
…
Quando, em boa verdade, todos nós lá estamos retratados nessa figura de cão esmagado sobre o próprio sofrimento: planificada esfera de fezes verdes, atenta ao olhar misterioso dos mortos. A língua, à míngua de sede raspa um chão castanho, emoldurado a vermelho, raspa uma terra queimada eliotiana (The Waste Land é inegavelmente umas das mais fortes marcas culturais da pintura do autor).
…
Já ouvi chamar a Francis Bacon um psico-terrrorista do corpo humano. Ele seria aquele que transportaria para a pintura o semelhante às atrocidade infligidas ao homem no século XX. E em Londres, no final da Segunda Guerra Mundial, este tríptico pintado em 1944 acabaria por ser visto como um momento definidor na História da Arte Inglesa.
Ésquilo e Oresteia são elementos centrais para a pintura e para o pensamento da pintura de Bacon. As pessoas do drama da sua pintura parecem estar sempre a prolongar o grito de Cassandra em Agamémnon: “matadouro de homens, chão coberto de sangue”. Mas também Sófocles, com Édipo Rei, traz consigo um grito terrível por destino a par da figura do enigma. O carácter de Édipo inspira actos de mutilação. E muitos dos seus “estudos” transportam para a pintura um sentido de terror, isto é, a imagem de alguém que não é capaz de ver nem o objecto do seu movimento nem, tão pouco, de reconhecer o som da sua própria voz. Nesse obscuro horror reside a existência (veja-se “Édipo e a Esfinge Segundo Ingres”, 1983, Sintra, Museu de Arte Moderna / colecção Berardo).
Hoje vou fazer uma espécie de discos pedidos e dedicados, só que não são discos - são posts - e não foram pedidos são apenas dedicados.
Para começar: um irónico Elogio aos Críticos, que dedico, claro, ao Crítico .
Além disso, este post tem música, em deferido, é certo, mas ouve-se
Elogio dos Críticos
Não escolhi este tema por acaso, escolhi-o por me sentir reconhecido. Porque estou, de facto, tão reconhecido como reconhecível.
O ano passado fiz várias conferências sobre «A Inteligência e a Musicalidade nos Animais».
Hoje vou falar-vos «Da inteligência e da Musicalidade nos Críticos». O tema é quase o mesmo mas com modificações, bem entendido.
Amigos meus disseram-me que era um tema ingrato. Ingrato, porquê? Não há nele ingratidão nenhuma; pelo menos, eu não vejo onde nos agarrarmos para dizer isso. Vou pois fazer, sereno, o elogio dos críticos.
Não conhecemos suficientemente os críticos; ignoramos o que fizeram, o que são capazes de fazer. Numa palavra, são tão desconhecidos como os animais embora tenham, como eles, a sua utilidade. Sim.
Não são apenas os criadores da Arte Crítica, que é mestre de Todas as Artes, mas os primeiros pensadores do mundo, os livre pensadores mundanos se assim podemos chamar-lhes.
De resto, foi um crítico quem posou para o Pensador de Rodin. Eu soube-o há quinze dias, o máximo três semanas, por um crítico. O que me deu prazer, muito prazer. Rodin tinha um fraco, um grande fraco pelos críticos… Os seus conselhos eram-lhe caros, muito caros, demasiado caros, acima de qualquer preço.
Há três espécias de críticos: os importantes; os que são menos; os que não são nada. As duas últimas espécies não existem: são todos importantes…
Fisicamente o crítico tem um ar grave, é um tipo do género rabecão. Ele próprio é um centro, um centro de gravidade. Se ri, ri só com um olho, que pode ser o bom ou o mau. Sempre muito amável para as Senhoras, com toda a calma mantém os Senhores à distância. Para resumir, é muito agradável à vista mas bastante intimidativo. Um homem sério, tão sério como um Buda; evidentemente, um Buda-peste. Mediocridade, incapacidade, não são coisas que haja entre os críticos. Entre colegas, um crítico medíocre ou incapaz seria motivo de riso; não conseguiria exercer a sua profissão, melhor dizendo o seu sacerdócio, pois ver-se-ia obrigado a abandonar a terra, mesmo que ela lhe fosse natal; e ser-lhe-iam fechadas todas as portas, ficando a sua vida reduzida a um suplício longo e terrível de tanta monotonia.
Quanto ao Artista, não passa de um sonhador; o crítico, esse, além da sua própria consciência tem a consciência da realidade. Um artista pode ser imitado; o crítico é inimitável e impagável. Como poderia alguém imitar um crítico? Pergunto eu. Aliás, seria coisa de muito, muito reduzido interesse. Dispomos do original e basta. Quem afirmar que a crítica é ligeira não diz nada que tenha um verdadeiro interesse. Chega mesmo a ser vergonha dizê-lo: era bem feito que ela corresse atrás dele, pelo menso um quilómetro ou dois.
Homem que escreva semelhante coisa virá a arrepender-se do que disse? É possível que sim, devemos desejar que sim, é mais do que certo que sim.
sexta-feira, junho 06, 2003
«É a Cultura, Estúpido!», Parte III
Acho que não faz muito sentido sermos um dos blogs representados e não fazer um relato/comentário sobre o «É a Cultura, Estúpido!». Por isso, cá vai.
A sessão correu bem, embora, na minha opinião, não tivesse sido tão gira como as anteriores. Isto porque o formato foi deliberadamente alterado, segundo a Anabela Mota Ribeiro, para que não fosse sempre a mesma coisa. Deu-se mais tempo à conversa, em detrimento das rubricas sobre livros. Também não houve debate devido ao facto do João Pereira Coutinho não ter podido estar presente. Mas o final foi, como sempre, a cereja no topo do bolo! Os meus parabéns ao Ricardo.
Falou-se de blogs, do efeito dos blogs na vida dos seus autores, do vício que os blogs provocam, da ideologia política dos blogs. (Quando percebi que este seria o assunto de eleição, respirei de alívio.) Contudo, fiquei com a sensação que muito se falou e pouco se disse. Havia, ainda, muito a discutir sobre o fenómeno bloguístico - estas sessões só ganhariam se se pusessem de lado as preocupações com os horários. Enfim, não posso criticar muito porque fui a péssima convidada que se viu: respondi às perguntas que me foram feitas e pronto. Confesso que estava bastante nervosa e, enquanto as outras pessoas falavam, passavam-me mil coisas pela cabeça, sendo uma delas 'não posso gaguejar!'. Aqui aproveito para dizer à Papoila que não estou minimamente chateada ou ofendida com os comentários que fez. Os meus objectivos eram não dizer barbaridades e passar o máximo possível despercebida. Ao ler os relatos de vários blogs - incluindo o dela -, vi que os tinha atingido. :)
No fim, o Nuno e a Sara Costa vieram ter comigo. Gostei muito de os conhecer e espero que, para a próxima, dê para uma conversa mais longa. Também conheci o Zé Mário, o Pedro Mexia, o Crítico e os outros convidados bloguistas, se bem que tenha sido tudo um pouco à pressa...
Queria agradecer aos indiscretos Ana Alves, António Rebelo e Luís Rei, assim como aos não-bloggers Luís, Sandra e Cristina, por terem estado lá, numa mesa muito ao fundo, bem escondidos atrás do Possidónio, com as bandeirinhas e os pompons. Quanto às indiscretas Cristina Fernandes e Lídia Pereira... nós depois acertamos contas! Para a próxima (se bem que tenho a sensação que nunca mais vamos ser convidados) vão vocês!
Uma dúvida me assola: será que o Paulo Querido estava lá?
Toda a gente vos dirá que não sou músico. E é verdade.
Desde o início da minha carreira me classifiquei entre os fonometrógrafos. Os meus trabalhos são pura fonométrica. Agarre-se no Filhos das Estrelas ou nos Trechos em Forma de Pêra, no Com fato de Cavalo ou nas Sarabandas, e descobrir-se-á que nenhuma ideia musical presidiu à criação de tais obras. O que lá domina é o pensamento científico.
De resto, mais prazer sinto a medir um som do que a ouvi-lo. De fonómetro em punho, trabalho com alegria & segurança.
O que não terei já pesado e medido? Todo o Beethoven, todo o Verdi, etc. É muito curioso.
Da primeira vez que me servi de um fonoscópio, examinei um si bemol de tamanho médio. Nunca deparei, posso garantir-vos, com uma coisa mais repugnante. Até chamei o criado para ele ver.
Com o fono-pesador um fá sustenido vulgar, como tantos há, atingiu os 93 quilogramas. Saía de um muito gordo tenor que também pesei.
E sabeis, por acaso, o que é limpar os sons? É uma coisa muito porca. Fiá-los é mais limpo. E quanto a sabê-los classificar, exige minúcia e boa vista; está-se em plena fonotécnica.
No que respeita às explosões sonoras tantas vezes desagradáveis, o algodão metido nos ouvidos consegue só por si atenuá-las razoavelmente. Está-se em plena pirofonia.
Para descrever as Peças Frias, servi-me de um caleidofone-gravador. Demorei sete minutos. E até chamei o criado para as ouvir.
Julgo poder afirmar que a fonologia é superior à música. É mais variada. E dá mais rendimento pecuniário. Devo-lhe a minha fortuna.
Seja como for, é mais fácil um fonometrista mediocremente treinado registar no motodinamofone um maior número de sons do que o mais hábil músico em tempo idêntico e com idêntico esforço. Por isso mesmo eu tanto escrevi.
O futuro pertence, pois, à filofonia.
O Miguel Noronha avisou-nos que começa hoje o Festroia - Festival Internacional de Cinema.
Além da sua programação normal, que já se encontra concluída, o Festroia apresenta durante a sua 19ª edição, de 6 a 15 de Junho, um conjunto de ante-estreias, seleccionadas entre as principais películas que serão distribuídas no mercado português durante os próximos meses. São os seguintes os filmes que o Festroia revelará ao público: “Moonlight mile”, de Brad Silberling (EUA), com Dustin Hoffman e Susan Sarandon nos principais papéis; “La Virgen de la Lujuria”, de Artur Ripenstein (Espanha), extraído de um romance de Max Aub, com Ariadna Gil como protagonista; “CQ”, de Roman Coppola (EUA), filho de Francis Ford Coppola; “Il est plus facile pour un chameau”, de Valerie Bruni Tedeschi (França), que conta com a interpretação de Chiara Mastroiani; “Goodbye Lenine”, de Wofgang Becker (Alemanha), um dos filmes europeus mais nomeados do ano; e “Just Married”, de Shawn Levy (EUA).
Este ano, na programação do Festival, estão representados 44 países, alguns dos quais raramente ou nunca têm a oportunidade de apresentar em Portugal as respectivas cinematografias, como o Senegal, a Bulgária, o Peru, a Estónia, a Palestina, a Finlândia, a Coreia, Tunísia, Uruguai, Israel, Suiça, República Checa, etc.. O Brasil, que tem sido uma presença constante no Festroia, volta a estar representado, desta vez com o filme “Uma Onda no Ar”, de Helvécio Ratton, já conhecido pela sua obra “Amor e Ca.”, extraído do romance de Eça de Queiroz, “Alves e Ca.”.
Começa amanhã no canal arte a série “Jardins d’artistes”: quatro episódios inéditos que testemunham a inventividade de jardineiros e paisagistas contemporâneos.
07.06 > 19h15 > Dans la jungle de Patrick Blanc
14.06 > 19h15 > Le jardin est une scène - Vladimir Sitta
21.06 > 19h15 > Les Oasis urbaines de Topher Delaney
28.06 > 19h15 > Les jardins mobiles de l'Atelier Alias
O primeiro volume de "Em Busca do Tempo Perdido" - "Do Lado de Swann" -, do romancista francês Marcel Proust, foi ontem lançado no pequeno auditório da Culturgest, em Lisboa. É um verdadeiro acontecimento cultural: trata-se de uma das obras-primas da literatura de todos os tempos.
Como sublinhou o escritor António Mega Ferreira, na apresentação do livro, "o romance de Proust não é um romance sobre o tempo, mas o próprio Tempo". "Não é a descrição de uma catedral gótica, mas a própria construção da catedral, porque o tempo não é como as águas do rio de Heraclito, que passam uma vez e não voltam a passar". Não. "É como um rio, a escrita de Proust, mas este transborda as margens e espraia-se pelos campos em redor", sublinhou Mega Ferreira.
A Antena 1 tem uma rubrica diária sobre a net com sugestões muito interessantes. Hoje sugeriram uma visita ao site de David Crawford .
It is said that 90% of human communication is non-verbal. In these photographs, the body language of the subjects becomes the basic syntax for a series of Web-based animations exploring movement, gesture, and algorithmic montage. Many sequences document a person’s reaction to being photographed by a stranger. Some smile, others snarl, still others perform. Some pretend not to notice. Underneath all of this are assumptions and unknowns unique to each situation.
Gostei principalmente da Series 7, que nos deixa fazer uma composição com imagens de Boston, Nova Iorque, Londres e Paris. Se juntarem uma banda sonora até podem imaginar um filme.
O meu macintosh só fala inglês mas entendo-me bem com ele. Hoje, ao abrir uma disquete num PC com sistema português, fiquei admirada com o estilo da sua linguagem. Em vez da palavra circense e quase elástica “looping”, este dizia-me em tom grave: “redundância cíclica”.
Mi corazón se vuelca sobre la fuente fría.
(Manos blancas, lejanas, detened a las aguas.)
Y el agua se lo lleva cantando de alegría.
Nas páginas da biografia em que Neruda fala de Lorca refere muitas vezes a sua alegria contagiante. Não seria uma alegria muito diferente daquela que a Cristina encontrou hoje ao almoço nas ruas do Porto; também não seria diferente da alegria azul dos jacarandás que a Ana fotografou e que, mais ainda, viu; nem da alegria do Tó com o cardhu; nem da alegria da Marta com uma certa cidade que a espera e chama; nem da alegria do Luís com a música; nem da alegria da Lídia com o futebol. A alegria é sempre anterior à poesia; também é precária e fugaz, como nós.
posted by camponesa pragmática on 15:58
– Esto es mi patria – dice al fin Federico. – Oye: me siento compatriota. Estoy en mi patria. Para mí, esto, no es viajar. Te juro que en Cataluña siento más lejania de mi solar que aquí. No: puede ser que ustedes me consideren extranjero. Pero yo no puedo, no siento mi calidad de extranjero recién llegado a esta tierra que ya es mía.
Y vueve sus ojos al paisaje. Juega el campo delante del poeta. Le cambia los colores, se los contrasta con la plenitud de tormenta que danza por el horizonte del norte. Azules, negros, ocres, ¡ y los verdes! No es de referir; es de echarse a la carretera e verlos, y oerlos, y gozarlos en la multitud opulenta de sus infinitos tonos.
– ¡ Los verdes! ¿ Habéis visto los verdes?
- excerto de “Lorca en Montevideo”, de Alfredo María Ferreiro,
in “F. García Lorca, Prosa 1”, Obras VI, ed.
Miguel García-Posada, Akal bolsillo, 1994 – p. 627.
- Fotografias de Petr Václavek.
Gosto de ir à baixa passear durante a hora de almoço e não sou só eu. A Rua de Santa Catarina estava cheia de gente com t-shirts ou camisas ligeiras a aproveitar o sol, muito sorridentes. Não é fácil ver as ruas assim, cheias, nem as pessoas bem dispostas. Mas acontece.
Inscrevi-me no brookcrossing e levava uma questão para resolver na cabeça: que livro é que vou “libertar” no sábado?
Fui comprar a Periférica à Latina, trouxe o programa do Cinema fora do Sítio do Rivoli e já reservei uma ida ao Mercado do Bom Sucesso para ver “Os respigadores e a respigadora”, tenho de rever “Disponível para amar” nos jardins do Palácio e, quem sabe, mais uma vez o “Mulholland drive”, no parque de estacionamento do Via Catarina.
Comprei um pão escuro na confeitaria do Bolhão e um quilo de cerejas numa mercearia de estimação na esquina de Sta. Catarina com a Rua Firmeza.
Resolvi que, para compensar a liberdade restrita do bookcrossing (os livros afinal não são abandonados ao deus dará), vou fazer isto com um bocado de sacríficio: só abandono livros de que goste mesmo muito.
A participação da Ana (no nosso concurso “You must believe in Spring”) chegou-nos apenas esta semana mas valeu a pena a espera porque é um programa completo sobre a Primavera: fotografias dos belos Jacarandás lisboetas ( tirei as fotos este fim-de-semana pelas ruas de Lisboa, onde os jacarandás são porventura o sinal anunciado mais belo desta estação do ano.), dois poemas à volta as árvores e do azul e até um mp3 de First Rendez-Vous, de Yann Tiersen (OST do filme “Good Bye Lenin”, realizado por Wolfgang Becker).
Muito obrigado Ana, vou fazer de conta que estou em Lisboa e vou passear…
Houvesse um sinal a conduzir-nos
E unicamente ao movimento de crescer nos guiasse. Termos das árvores
A incomparável paciência de procurar o alto
A verde bondade de permanecer
E orientar os pássaros.
Daniel Faria, Explicação das Árvores e Outros Animais
Eis o outro tempo
o tempo azul
o tempo de tocar a rosa
e abraçar irmãos.
Tempo
largo e fundo.
Tempo para se ter o tempo
que nos foge.
Tempo de morrer na vertical
do corpo portentoso
do amor.
Azul será a cor.
Azul o tempo de nascer
e renascer
outra e outra vez
em busca do cristal
escondido em cada pedra.
SI MIS MANOS PUDIERAN DESHOJAR
10 de Noviembre de 1919
(Granada)
Yo pronuncio tu nombre
en las noches oscuras,
cuando vienen los astros
a beber en la luna
y duermen los ramajes
de las frondas ocultas.
Y yo me siento hueco
de pasión y de música.
Loco reloj que canta
muertas horas antiguas.
Yo pronuncio tu nombre,
en esta noche oscura,
y tu nombre me suena
más lejano que nunca.
Más lejano que todas las estrellas
y más doliente que la mansa lluvia.
¿Te querré como entonces
alguna vez? ¿Qué culpa
tiene mi corazón?
Si la niebla se esfuma,
¿qué otra pasión me espera?
¿Será tranquila y pura?
¡¡Si mis dedos pudieran
deshojar a la luna!!
CANTOS NUEVOS
Agosto de l920
(Vega de Zujaira)
Dice la tarde: "¡Tengo sed de sombra!"
Dice la luna: "¡Yo, sed de luceros!"
La fuente cristalina pide labios
y suspira el viento.
Yo tengo sed de aromas y de risas,
sed de cantares nuevos
sin lunas y sin lirios,
y sin amores muertos.
Un cantar de mañana que estremezca
a los remansos quietos
del porvenir. Y llene de esperanza
sus ondas y sus cienos.
Un cantar luminoso y reposado
pleno de pensamiento,
virginal de tristeza y de angustias
y virginal de ensueños.
Cantar sin carne lírica que llene
de risas el silencio
(una bandada de palomas ciegas
lanzadas al misterio).
Cantar que vaya al alma de las cosas
y al alma de los vientos
y que descanse al fin en la alegría
del corazón eterno.
SUEÑO
Mayo de 1919
Mi corazón reposa junto a la fuente fría.
(Llénala con tus hilos,
araña del olvido.)
El agua de la fuente su canción le decía.
(Llénala con tus hilos,
araña del olvido.)
Mi corazón despierto sus amores decía.
(Araña del silencio,
téjele tu misterio)
El agua de la fuente lo escuchaba sombría.
(Araña del silencio,
téjele tu misterio.)
Mi corazón se vuelca sobre la fuente fría.
(Manos blancas, lejanas,
detened a las aguas.)
Y el agua se lo lleva cantando de alegría.
(¡Manos blancas, lejanas,
nada queda en las aguas!)
HORA DE ESTRELLAS
1920
El silencio redondo de la noche
sobre el pentagrama
del infinito.
Yo me salgo desnudo a la calle,
maduro de versos
perdidos.
Lo negro, acribillado
por el canto del grillo,
tiene ese fuego fatuo,
muerto,
del sonido.
Esa luz musical
que percibe
el espíritu.
Los esqueletos de mil mariposas
duermen en mi recinto.
Hay una juventud de brisas locas
sobre el río.
CAMPO
1920
El cielo es de ceniza.
Los árboles son blancos,
y son negros carbones
los rastrojos quemados.
Tiene sangre reseca
la herida del Ocaso,
y el papel incoloro
del monte está arrugado.
El polvo del camino
se esconde en los barrancos,
están las fuentes turbias
y quietos los remansos.
Suena en un gris rojizo
la esquila del rebaño,
y la noria materna
acabó su rosario.
El cielo es de ceniza,
los árboles son blancos.
LA BALADA DEL AGUA DEL MAR
1919
A Emilio Prados
(cazador de nubes)
El mar
sonríe a lo lejos.
Dientes de espuma,
labios de cielo.
¿Qué vendes, oh joven turbia
con los senos al aire?
Vendo, señor, el agua
de los mares.
¿Qué llevas, oh negro joven,
mezclado con tu sangre?
Llevo, señor, el agua
de los mares.
Esas lágrimas salobres
¿de dónde vienen, madre?
Lloro, señor, el agua
de los mares.
Corazón, y esta amargura
seria, ¿de dónde nace?
¡Amarga mucho el agua
de los mares!
El mar
sonríe a lo lejos.
Dientes de espuma,
labios de cielo.
ARBOLES
1919
¡Árboles!
¿Habéis sido flechas
caídas del azul?
¿Qué terribles guerreros os lanzaron?
¿Han sido las estrellas?
Vuestras músicas vienen del alma de los pájaros,
de los ojos de Dios,
de la pasión perfecta.
¡Arboles!
¿Conocerán vuestras raíces toscas
mi corazón en tierra?
NIDO
1919
¿Qué es lo que guardo en estos
momentos de tristeza?
¡Ay, quién tala mis bosques
dorados y floridos!
¿Qué leo en el espejo
de plata conmovida
que la aurora me ofrece
sobre el agua del río?
¿Qué gran olmo de idea
se ha tronchado en mi bosque?
¿Qué lluvia de silencio
me deja estremecido?
Si a mi amor dejé muerto
en la ribera triste,
¿qué zarzales me ocultan
algo recién nacido?
Faz-me uma certa confusão a profusão de museus, centros culturais e auditórios que surgem um pouco por todo o lado com inaugurações faustosas mas que, passado o entusiasmo inicial, envelhecem prematuramente quase sem actividade que justifique a sua existência. Há um desfazamento entre a grande vontade de construir (por parte do estado e das autarquias) e a falta de vontade de programar eventos culturais.
Lembro-me que quando comecei a visitar Vila Nova de Famalicão para ver as exposições dos Encontros de Fotografia (de Braga), fiquei admirada com o número de salas existentes na cidade.
Para além da Casa de Camilo, em Ceide, existem no centro: a Biblioteca Camilo Castelo Branco, o Museu Têxtil, o Museu Bernardino Machado, o Museu do Surrealismo, a Fundação Cupertino de Miranda e a Casa das Artes. Isto tudo num perímetro reduzido. O certo é que não conseguia encontrar o Museu Bernardino Machado, ninguém sabia onde era, apontavam para a Fundação Cupertino ou então encolhiam os ombros. Depois percebi porquê: o Museu é apenas uma casa discreta e ainda mais estranho é o Museu do Surrealismo. Só com muita boa vontade e alguma cegueira é que se pode dizer que são Museus.
…e a excepção
A Casa das Artes parece ser uma boa excepção. Tem uma programação que tem vindo a crescer e divulga-a, o que é muito importante. Leio amiúde nos jornais o que se passa lá e noutro dia veio parar-me às mãos um folheto com os eventos programados para Junho. Vai haver cinema, teatro e música, como podem ver aqui.
Amanhã, por exemplo, integrado nas Noites do Cineclube passa o belíssimo Senso, de Luchino Visconti e fiquei cheia de vontade de ir a Famalicão.
Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é, sem dúvida, o livro. Os demais são extensão do seu corpo...Mas o livro é outra coisa, o livro é uma extensão da memória e da imaginação. Jorge Luís Borges
Começa às 21h10 com o documentário Borges par Borges, de Alain Jaubert.
À partir d'entretiens filmés en 1969, d'une conférence que Borges a donnée au Collège de France, d'extraits de films, de poèmes et de photographies, Alain Jaubert réalise une sorte d'autoportrait qui évolue chronologiquement par petites touches. Le poète évoque tour à tour son admiration pour son père, le rôle démesuré de sa mère, sa boulimie de livres, son goût pour les récits de voyous et pour les animaux, ses premiers poèmes, sa cécité, sa passion pour les paradoxes et la philosophie, ses relations avec les femmes, ses thèmes favoris (le miroir, la mémoire, le labyrinthe...), son amour pour Buenos Aires, son refus de l'art réaliste, sa résistance à la dictature péroniste, son peu de foi dans les croyances religieuses ou politiques de ses contemporains...
Segue-se, às 22h10, o filme Invasion Jorge Luis Borges et Hugo Santiago - ancien assistant de Robert Bresson - signent en 1969 un chef- d'œuvre du cinéma argentin, longtemps méconnu et devenu culte.
Film de Hugo Santiago (Argentine, 1969-2h08mn) - VOSTF Sujet original de Jorge Luis Borges et Adolfo Bioy Casares Scénario : Jorge Luis Borges et Hugo Santiago Avec : Lautaro Murua (Juliano Herrera), Juan Carlo Paz (Don Porfirio), Olga Zubarry (Irene), Roberto Villanueva (Silva), Martin Adjemian (Irala) Image : Ricardo Aronovitch et Adelqui Camusso Musique : Edgardo Canton, Anibal Troilo et Jorge Luis Borges Montage : Oscar Montauti Production : Filmobic Version restaurée
Aquilea, 1957. Dans cette ville imaginaire d'Amérique du Sud, une invasion se prépare. Au sud, au nord-ouest, les envahisseurs s'infiltrent par toutes les portes de la ville. Une poignée d'hommes menés par un vieil homme, Don Porfirio, tente de résister. D'embuscade en embuscade, ils essaient d'intercepter des chargements mystérieux et de retarder l'avancée de ces envahisseurs aux motivations obscures...
Sei que dia 5 de Junho é só amanhã mas iniciei as movimentações pelos livros e sites de Lorca e dedicados a Lorca há já uns dias. Reli o poema de Drummond de Andrade, as páginas da biografia de Neruda e o poema de Sophia e decidi que não os queria deixar aqui pois sublinham demasiado a morte dele e amanhã é dia de aniversário. Finalmente, ontem à tarde, reli partes do Prosa I, da Akal, de Miguel García-Posada, e nele a crónica de Alfredo María Ferreiro intitulada “Lorca en Montevideo”, de 1934; pareceu-me como sempre linda, sobretudo o grito dos verdes que amanhã deixarei aqui. Mais tarde, abri a Obra Poética Completa, da Martins Fontes, e comecei a escolher poemas. Seleccionei trinta, pequenos na escala de Lorca, para ir deixando às migalhas amanhã durante o dia. Comecei a tremer – como conseguirei passar trinta poemas? Sei que o vício do blog cresce mas, há limites! Lembrei-me da internet e hoje sempre que pude liguei-me e procurei os poemas escolhidos, um a um. Encontrei agora, do Primeras Canciones, de 1922, as CUATRO BALADAS AMARILLAS. E não resisto. Hoje é só dia 4 mas este poema é tão absolutamente belo (como é que sempre que o leio penso que nunca o li antes?) que tenho de deixá-lo imediatamente. Pela parte que me toca, qualquer dia é perfeito para celebrar Lorca. Mais ainda com poemas como este.
CUATRO BALADAS AMARILLAS
I
En lo alto de aquel monte
un arbolito verde.
Pastor que vas,
pastor que vienes.
Olivares soñolientos
bajan al llano caliente.
Pastor que vas,
pastor que vienes.
Ni ovejas blancas ni perro
ni cayado ni amor tienes.
Pastor que vas.
Como una sombra de oro,
en el trigal te disuelves.
Pastor que vienes.
II
La tierra estaba
amarilla.
Orillo, orillo,
pastorcillo.
Ni luna blanca
ni estrella lucían.
Orillo, orillo,
pastorcillo.
Vendimiadora morena
corta el llanto de la viña.
Orillo, orillo,
pastorcillo.
III
Dos bueyes rojos
en el campo de oro.
Los bueyes tienen ritmo
de campanas antiguas
y ojos de pájaro.
Son para las mañanas
de niebla, y sin embargo
horadan la naranja
del aire, en el verano.
Viejos desde que nacen
no tienen amo
y recuerdan las alas
de sus costados.
Los bueyes
siempre van suspirando
por los campos de Ruth
en busca del vado,
del eterno vado,
borrachos de luceros
a rumiarse sus llantos.
Dos bueyes rojos
en el campo de oro.
IV
Sobre el cielo
de las margaritas ando.
Yo imagino esta tarde
que soy santo.
Me pusieron la luna
en las manos.
Yo la puse otra vez
en los espacios
y el Señor me premió
con la rosa y el halo.
Sobre el cielo
de las margaritas ando.
Y ahora voy
por este campo
a librar a las niñas
de galanes malos
y dar monedas de oro
a todos los muchachos.
Um post só para dizer que alguns dos indiscretos estarão no Café no Chiado (aquele por trás do São Luiz) a partir mais ou menos das 17h. Se alguém quiser ir lá ter, à vontade. Estará em cima da mesa o livro do dia da Livros da Brasil: A Condição Humana, Malraux.
O Rui Manuel Amaral mandou-nos mais umas indicações utéis sobre Hermann Broch:
A propósito do post de Lídia Pereira dedicado a Hermann Broch, um dos autores do século XX que mais me interessa, gostaria de acrescentar mais algumas informações. Além dos romances "Os Sonâmbulos" (1932) e "A Morte de Vergílio" (1945), encontram-se traduzidos para português quatro contos, três dos quais fariam parte do volume "Contos do Zodíaco", projecto que data de 1933 e que Broch nunca chegou a concluir. São eles "Uma Ligeira Decepção", "Nuvem que Passa" e "Uma Noite de Angústia". O quarto conto intitula-se "O Regresso de Vergílio" (1937) e constitui a primeira versão de "A Morte de Vergílio". Todos estes textos, de uma qualidade absolutamente magistral, foram traduzidos por António Sousa Ribeiro e fazem parte do volume "Novas Histórias com Tempo e Lugar", editado pela Afrontamento (Porto, 1984).
Decidi enviar esta nota porque o excelente artigo de Maria João Cantinho, que Lídia Pereira recomenda, não refere o trabalho de Broch enquanto contista, cuja importância, na minha opinião, vale a pena destacar. Rui Manuel Amaral
Obrigado Rui, se calhar é por aí que vou continuar as leituras de Broch, vou procurar na Feira do Livro.
Mas, já agora, gostaria de acrescentar a essa lista um pequeno texto de Broch “A criada Zerlina”, editado pela Difel e que foi adaptado e levado à cena há uns anos atrás. Era a Eunice Munoz que fazia este monólogo que tive a sorte de ver no Teatro S. João.
Às vezes fala-se de Deus às refeições. O meu pai insiste em sublinhar aquilo a que chama evidências de perfeição da natureza. Encolho os ombros e digo que não existe tal coisa; que vivemos aqui e que, talvez por hábito do olhar, coincidimos e chamamos beleza, perfeição, whatever, às formas naturais do mundo. A discussão é sempre inconclusiva. E estas telas, pintadas por ninguém, continuam a voar por aí.
Um livro e algumas cerejas eram as condições para trocar uma tarde de estudo pela ida à Feira. “Estou pior que a mãe, eu sei”, acrescentou a J., como se o contrato fosse mesmo a sério e o papel de imperatriz lhe pudesse assentar como uma rima perfeita. Rimos as duas, cereja para mim, cereja para ela, a tarde ao encontro da feira.
Faço sempre uma lista. Com o que ficou da lista do ano passado. Com as leituras impossíveis do mesmo ano colhidas amigo aqui, blog lá, toque-na-contracapa-mas-tens-de-ficar aqui, fórum ali. Com as sempre-últimas-mas-primeiras sugestões da Ana. E com um lugar imenso, descampado, no final da folha onde cabem todos os livros.
Acabamos as cerejas já dentro da tenda, o Verão a querer dizer alguma coisa entre tanta palavra escrita. Talvez que só o sol saiba que “Quando uma abelha/se enamora,/ nasce uma flor.” (Albano Martins, Com as flores do Salgueiro).
Não encontrei tudo da lista. Pisei o descampado. Todas as manhãs do mundo, de Pascal Quignard continuam longe e a perseguir-me, sem regresso. Trouxe Vida Secreta, “Quando os amantes deixam os seus corpos nocturnos, um poisa num ramo ao longe, o outro apoia os cotovelos na janela./ O amor é a alma contra a alma.”, à procura de uma certa respiração. A minha.
Entre os livros possíveis para que se cumprisse o desmentido contrato, a J. referiu Poemas de Alberto Caeiro e o livro estava escolhido. O José Gomes Ferreira ainda foi uma alternativa à altura e assim continuará. A redondez das cerejas tem destas coisas. É tudo tão perfeito que se desfaz na boca. Quem é que se esqueceu do caroço?
No descampado, como o “Segredo” da contracapa, Minha Senhora de Mim, de Maria Teresa Horta e outra Maria, do Rosário Pedreira porque me faltava A Casa e o Cheiro dos Livros. O primeiro foi o último, “Dizem os ventos que as marés não dormem esta noite”.
A J. também escreve. Em tons de amarelo torrado porque todas as histórias de amor devem ter a importância das cores. Ou das cerejas, que são um fruto bonito, ainda que à J. só os morangos lhe façam não parar de os comer.
Entre uma série de livros para outras histórias da História, veio, como quem não quer histórias mas não faz outra coisa senão pedi-las, o Equador. A culpa é da Ana que há tempos não me deixou matar o David Crockett e me apresentou outro Miguel Sousa Tavares. A Ana gosta de me baralhar, ou não me teria aconselhado “os tártaros confundem as suas almas porque acreditam que não se podem conhecer”, Seis Falsas Novelas que começam com uma advertência anedótica do próprio Ramón Gómez de La Serna. A Ana sabe que preciso de me rir.
A J. puxa uma certa praia com muitos godos para cima dos outros livros. Eu vou lá e escondo-a. “Deve ser cá uma sensação ver um nosso livro na montra”, a J. também escreve e traz ainda nas mãos o sabor das cerejas.
A Leve Têmpera do Vento, de Carlos Oliveira, porque “Contar os grãos de areia destas dunas é o meu ofício actual”. Quase impossível escrever tão carregadas estão as sombras. Estremecessem todas as flores se te tocasse. Dos blogs, virando à esquerda de repente, Nuvens & Labirintos, de José Mário Silva. No sentido inverso, lado a lado, Eliot e Outras Observações, de Pedro Mexia.
“É aqui no Domingo?”, “Ah! Nem tinha visto...”. Parece que sim, as mesas estavam vazias e não consta que as cerejas façam parte do cardápio.
Por causa de Domingo, trouxe Um martini e o mar de João Pedro Costa e Contos Acrónicos de António Eça de Queiroz. Teatro, contos e poesia em estreia. Será que ainda faço “da maresia, a minha respiração”?
Hoje em dia, quase tudo termina com uma sms: “agora quando comer cerejas, lembrar-me-ei sempre de ti”. A J. tinha chegado a casa.
não há nada no mundo que me pague
para aqui estar. não há nada que jogue
e nada que responda ou faça blague
por eu, panteramente, estar no blog.
E não é que o Vasco Graça Moura, para além de uma première mundial (um poema seu, a pretexto da pantera, uma das peças mais célebres dos Neue Gedichte, de Rilke), pôs-se na pele dessa mesma pantera e fez um soneto para os leitores do Abrupto?!!
Este mês a Zero em Comportamento oferece-nos um ciclo de cinema dedicado às casas. No Ano Nacional da Arquitectura é uma boa ideia abrirmos os olhos para os subterrâneos, as escadas, as casas, os bairros, as ruas…
Tenho pena que não passem The Fountainhead (Vontade Indómita), de King Vidor mas a lista de filmes é óptima. O destaque vai para “A Repulsa”, onde o lugar de claustrofobia nem é a casa mas o próprio corpo e para o belíssimo Desprezo, com a Brigitte Bardot (no seu mais melhor papel), Michel Piccoli, Jack Palance e Fritz Lang (as himself).
De 2 a 30 de Junho, no CINE-ESTUDIO 222:
Underground, de Emir Kusturica; Bunker Palace Hotel, de Enki Bilal; O Desprezo, de Jean-Luc Godard; Vale Abraão, de Manoel de Oliveira; A Comunidade, de Alex de la Iglesia; Ossos, de Pedro Costa; Repulsa, de Roman Polanski; The Royal Tenenbaums, de Wes Anderson; In the Mood for Love, de Wong Kar-Wai; e L'Atalante, de Jean Vigo
Três poetas reuniram-se na Feira do Livro do Porto, no passado domingo, para conversar sobre o livro "Quatro Poetas para o Século XXI", de José Ricardo Nunes. Depois da apresentação de cada um dos poetas e dos seus livros, João Luís Barreto Guimarães, Luís Quintais e Pedro Mexia (Jorge Gomes Miranda não pode estar presente) discutiram afinidades, e o eterno problema das gerações. O Pedro Mexia garantiu que não põe "as mãos no fogo" por nenhum dos poetas portugueses revelados nos anos 90 e disse muito mais, como podem ler aqui.
Sem cair em falsas modéstias, Luis Quintais afirmou que quem escreve deve assumir "a pretensão de ter lugar ao lado de Eliot, de Herberto Helder, de Ruy Belo", mesmo sabendo que "se ficar uns furos abaixo, já não fica mal". Gostei da sinceridade e concordo com ele.
posted by Anónimo on 13:43
Discurso al Alimón* sobre Rubén Dário Por Federico García Lorca y
Pablo Neruda
Neruda: Señoras...
Lorca: y señores: Existe en la fiesta de los toros una suerte llamada "toreo al alimón" en que dos toreros hurtan su cuerpo al toro cogidos de la misma capa.
N.: Federico y yo, amarrados por un alambre eléctrico, vamos a parear y a responder esta recepción muy decisiva.
L.: Es costumbre en estas reuniones que los poetas muestren su palabra viva, plata o madera, y saluden con su voz propia a sus compañeros y amigos.
N.: Pero nosotros vamos a establecer entre vosotros un muerto, un comensal viudo, oscuro en las tinieblas de una muerte más grande que otras muertes, viudo de la vida, de quien fuera en su hora marido deslumbrante. Nos vamos a esconder bajo su sombra ardiendo, vamos a repetir su nombre hasta que su poder salte del olvido.
L.: Nosotros vamos, después de enviar nuestro abrazo con ternura de pingüino al delicado poeta Amado Villar, vamos a lanzar un gran hombre sobre el mantel, en la seguridad de que se han de romper las copas, han de saltar los tenedores, buscando el ojo que ellos ansían y un golpe de mar ha de manchar los manteles. Nosotros vamos a nombrar al poeta de América y de España: Rubén...
N.: Darío.Porque, señoras...
L.: y señores...
N.: Dónde está, en Buenos Aires, la plaza de Rubén Daríó?
L.:Dónde está la estatua de Rubén Darío?
N.: El amaba los parques. Dónde está el parque Rubén Darío?
L.: Dónde está la tienda de rosas de Rubén Darío?
N.: Dónde esta el manzano y las manzanas de Rubén Darío?
L.: Dónde está la mano cortada de Rubén Darío?
N.: Dónde está el acento la resina, el cisne de Rubén Darío?
L.: Rubén Darío duerme en su "Nicaragua natal" bajo su espantoso león de marmolina, como esos leones que los ricos ponen en los portales de sus casas.
N.: Un león de botica, a él, fundador de leones, un león sin estrellas a quien dedicaba estrellas.
L.: Dio el rumor de la selva con un adjetivo, y como fray Luis de Granada, jefe de idioma, hizo signos estelares con el limón, y la pata de ciervo, y los moluscos llenos de terror e infinito: nos puso al mar con fragatas y sombras en las niñas de nuestros ojos y construyó un enorme paseo de Gin sobre la tarde más gris que ha tenido el cielo, y saludó de tú a tú el ábrego oscuro, todo pecho, como un poeta romántico, y puso la mano sobre el capitel corintio con una duda irónica y triste, de todas las épocas.
N.: Merece su nombre rojo recordarlo en sus direcciones esenciales con sus terribles dolores del corazón, su incertidumbre incandescente, su descenso a los hospitales del infierno, su subida a los castillos de la fama, sus atributos de poeta grande, desde entonces y para siempre e imprescindible.
L.: Como poeta español enseñó en España a los viejos maestros y a los niños, con un sentido de universalidad y de generosidad que hace falta en los poetas actuales. Enseñó a Valle Inclán y a Juan Ramón Jiménez, y a los hermanos Machado, y su voz fue agua y salitre, en el surco del venerable idioma. Desde Rodrigo Caro a los Argensolas o don Juan Arguijo no había tenido el español fiestas de palabras, choques de consonantes, luces y forma como en Rubén Darío. Desde el paisaje de Velázquez y la hoguera de Goya y desde la melancolía de Quevedo al culto color manzana de las payesas mallorquinas, Daríó paseó la tierra de España como su propia tierra.
N.: Lo trajo a Chile una marea, el mar caliente del Norte, y lo dejó allí el mar, abandonado en costa dura y dentada, y el océano lo golpeaba con espumas y campanas, y el viento negro de Valparaíso lo llenaba de sal sonora. Hagamos esta noche su estatua con el aire, atravesada por el humo y la voz y por las circunstancias, y por la vida, como ésta su poética magnífica, atravesada por sueños y sonidos.
L. : Pero sobre esta estatua de aire yo quiero poner su sangre como un ramo de coral, agitado por la marea, sus nervios idénticos a la fotografía de un grupo de rayos, su cabeza de minotauro, donde la nieve gongorina es pintada por un vuelo de colibrís, sus ojos vagos y ausentes de millonario de lágrimas, y también sus defectos. Las estanterías comidas ya por los jaramagos, donde suenan vacíos de flauta, las botellas de coñac de su dramática embriaguez, y su mal gusto encantador, y sus ripios descarados que llenan de humanidad la muchedumbre de sus versos. Fuera de normas, formas y escuelas queda en pie la fecunda substancia de su gran poesía.
N.: Federico García Lorca, español, y yo, chileno, declinamos la responsabilidad de esta noche de camaradas, hacia esa gran sombra que cantó más altamente que nosotros, y saludó con voz inusitada a la tierra argentina que pisamos.
L.: Pablo Neruda, chileno, y yo, español, coincidimos en el idioma y en el gran poeta, nicaragüense, argentino, chileno y español, Rubén Darío.
N. : y L.: Por cuyo homenaje y gloria levantamos nuestro vaso.
(Publicado en El Sol, Madrid, 1934)
Poema de Rubén Darío
Lo fatal
Dichoso el árbol que es apenas sensitivo,
y más la piedra dura, porque esa ya no siente,
pues no hay dolor más grande que el dolor de ser vivo,
ni mayor pesadumbre que la vida consciente.
Ser, y no saber nada, y ser sin rumbo cierto,
y el temor de haber sido y un futuro terror…
Y el espanto seguro de estar mañana muerto,
y sufrir por la vida y por la sombra y por
lo que no conocemos y apenas sospechamos,
y la carne que tienta con sus frescos racimos
y la tumba que aguarda con sus fúnebres ramos,
!y no saber adónde vamos,
ni de dónde venimos...!
___
* «Dois toureiros podem tourear ao mesmo tempo o mesmo touro e com um único capote. Trata-se de uma das provas mais perigosas da arte tauromáquica. Por isso se vê tão poucas vezes. Não mais de duas ou três num século. E só o podem fazer dois toureiros que sejam irmãos ou que, pelo menos, tenham sangue comum. É a isto que se chama tourear al alimón. E é isso que vamos fazer num discurso.»
García Lorca citado por Pablo Neruda,
Confesso que vivi – memórias Europa-América, 2ª ed., 2ª tir., Out. 1979
– pp. 109-110.
posted by camponesa pragmática on 11:05
segunda-feira, junho 02, 2003
sob escuta
A Thanksgiving Prayer
Thanks for the wild turkey and the passenger pigeons, destined to be shit out through wholesome American guts.
Thanks for a continent to despoil and poison.
Thanks for Indians to provide a modicum of challenge and danger.
Thanks for vast herds of bison to kill and skin leaving the carcasses to rot.
Thanks for bounties on wolves and coyotes.
Thanks for the American dream, To vulgarize and to falsify until the bare lies shine through.
Thanks for the KKK.
For nigger-killin' lawmen, feelin' their notches.
For decent church-goin' women, with their mean, pinched, bitter, evil faces.
Thanks for "Kill a Queer for Christ" stickers.
Thanks for laboratory AIDS.
Thanks for Prohibition and the war against drugs.
Thanks for a country where nobody's allowed to mind the own business.
Thanks for a nation of finks.
Yes, thanks for all the memories-- all right let's see your arms!
You always were a headache and you always were a bore.
Thanks for the last and greatest betrayal of the last and greatest of human dreams.
Gostaria de chamar a atenção para o texto da Maria João Cantinho, intitulado Hermann Broch: o poeta relutante que se encontra no último número da Revista Agulha, aqui.
Dele disse Hannah Arendt ter sido um poeta “à sua própria revelia”. O facto de ter por destino ser poeta e de não querer sê-lo, transformou-se num dos conflitos centrais da sua vida, inspirando-lhe, ainda, a intriga dramática da sua obra-prima A Morte de Virgílio. Não se tratava de um conflito psicológico ou, mesmo, de uma tensão entre capacidades, pois sabemos como Broch era parente próximo do génio goethiano e a sua obra assentava sobre a tríade, constituída pelos pólos Literatura, Conhecimento e Acção. Mas a publicação da sua obra literária - no seu conjunto - coincidiu com o aparecimento dos campos de extermínio e o escritor dava primazia absoluta ao domínio da acção sobre os campos da literatura e do conhecimento. Ele jamais poria em causa, fosse qual fosse a situação, o primado absoluto e inviolável da acção. Por isso, obrigou-se a si próprio a interromper a escrita, não por razões meramente pessoais, mas para cumprir esse imperativo ético com que se deparou. Tornara-se indispensável a sua acção política, para ajudar as hordas de refugiados que, diariamente, chegavam aos Estados Unidos. Nessa época, nesse confronto entre actividade teorética e contemplativa e a acção política, suspende a sua actividade, enquanto questiona a sua função de artista no século XX, aquele que ele considerava o “da mais negra anarquia, do mais negro atavismo, da mais negra crueldade”. Todavia, essa tensão constante, entre literatura, conhecimento e acção afectavam-no de um modo permanente, no seu trabalho quotidiano. Disso nos dá testemunho a sua Autobiografia Psíquica, num retrato desenhado com as cores cruas e objectivas da realidade que viveu.
.............................
Se nós, editores de Agulha, fôssemos dirigentes públicos, promoveríamos um curso de iniciação à poesia para essa gente. Com especial atenção à poesia e à crítica de Baudelaire.
BAR A BARRACA
TEATRO CINEARTE
LARGO DE SANTOS, 2, LISBOA
« Muito papel se tem vendido sobre este caso, muita figura pública e anónima tem comentado, muitos nomes foram falados. Nós, como instituição impoluta que somos em termos de restauração, temos guardado um silêncio prudente, mas agora, que a Superliga chegou ao fim é hora de gritar bem alto: Merci, Bolöni. Au renoir. Sai um gentleman, entra o engenheiro da azia, um vencedor, um homem de poucas falas. E Camacho, esse génio da táctica, com ar de taberneiro de bodega de Guadalajara, fica ou sai? Bom, mas não é sobre isso que pretendemos falar. Pretendemos, isso sim, pedir a Jorge Sampaio, a Durão Barroso e a João Bosco Mota Amaral, verdadeira tríade da política nacional, a submersão imediata de Carlos Ribeiro, talvez nas águas do Côa, para que as gravuras tenham mais visibilidade. Em qualquer país democrático ou em qualquer ditadura a sério, no fundo em qualquer país do mundo, este senhor já teria sido agrilhoado e, numa palavra, banido da sociedade. Carlos Ribeiro, queremos a tua extinção! Daqui te dizemos terna e sonoramente: Vai vender colchões para o parlamento iraquiano e fazer directos de 15 horas para o Jardim Zoológico de Pyongyang.
Abaixo segue a programação desta semana:
[2 A 8 DE JUNHO:]
Terça-feira – 23.15h – POESIA com Changuito
O asno azul, como carinhosamente lhe chamou Marlene Dietrich, volta a atacar. Depois de um período de abstinência poética causada por uma infecção que Jorge Ritto lhe deu a conhecer, Changuito, verdadeiro Pudim Mandarim da oralidade lusa, regressa em força e já sem recorrer ao uso de canadianas. Uma orgia de sabores, uma pletora cromática, um momento sublime, a ascese em Santos, infelizmente nada disto se poderá escrever sobre a noite que o célebre caniche da restauração preparou para o público. Uma noite a temer…
Noite Night.
Quarta-feira – 23.30h – JAZZ com o Trio de António Palma
Os verdadeiros Sopranos do Jazz ibérico retornam ao nosso ao nosso palco. Tony Palma, Tony Cavalli e Tony Miguel, acompanhados de suas flautas mágicas, farão ecoar neste moderno recinto os mais belos sons alguma vez criados pelo homem. Que mais pode querer a populaça que um piano, um contrabaixo e uma bateria todos a tocar sincopadamente? Uma fervorosa homenagem ao santo que lhes deu nome: Santo António de Pádua. Atenção: este trio só toca se o público estiver em silêncio e se as raparigas exibirem um ar deslumbrado a cada acorde… Noite Platinum.
Quinta-feira – 00.20h – Canções de Music-Hall com Petra e Georgios
Maria Callas e Shegundo Gallarza, não fariam melhor. Nem nós, aliás. Petra e Georgios, que comemoram nesta data 18 anos de vida e 30 de carreira, respectivamente, aportam no nosso cais, para um sarau que mistura os ensinamentos de Moniz Pereira, a sagacidade de Graciano Saga e o ritmo de Francisco Louça. Aos pedidos de Pop/Rock da arraia miúda, eles respondem com Cole Porter; aos urros adolescentes clamando Hip-Hop, eles ripostam com Gershwin; aos gritos emocionados da esquerda do salmão do Lidl exigindo Maria Guinot, eles arremessam Rodgers and Hart. Uma noite em que Platão e Silence 4 não serão olvidados. Noite Romatic.
Domingo – 20.00h – La Milonga de Solange & Alejandro (com aula gratuita)
Solange ao Parlamento Já, ouve-se em crescendo nas ruas desse Portugal. E porquê?, perguntais com um misto de emoção e pânico nas caras. Só esta mulher poderia pôr Portugal na esteira de Malta, Estónia, Chipre e outros países obscuros e luminosos. As suas frases de pré-campanha são já gritadas baixinho pelo povo anónimo, na calada da noite. “A mulher é como se fosse o bico do compasso”, “O que é importante é as mulheres esticarem bem as pernas”, “Mulheres: Não saiam daqui sem rótulas”. Uma campanha exclusivamente virada para o eleitorado feminino? Pois bem, aí entra Alejandro, o adjunto da presidenta, um macho argentino, um intelectual que grelha picanha, um santo. Um sarau onde até Paulo Pedroso se sentiria ingénuo. Noite Espumante.
Manda já um beijinho de parabéns ao teu famoso preferido: 2 de Junho –Johnny Weissmuller,
3 de Junho – Maquiavel, Josephine Baker,
4 de Junho – Angelina Jolie
5 de Junho – Kenny G, Federico Garcia Lorca, Mark Wahlberg
6 de Junho - Diego Velazquez, , Bjorn Borg, Thomas Mann
7 de Junho – Juan Luís Guerra, Anna Kournikova, Tom Jones,
8 de Junho – Barbara Bush, Frank Lloyd Wright, Nancy Sinatra
Frase da semana: É imoral, é criminoso, é infame e é bem bom… (Herman José)
BAR A BARRACA – ADMIRÁVEL EM TERMOS DE PÉ DIREITO
Vasco e Changuito (Indiciamos qualquer figura pública em menos de um ai – Processos sem dor)
Esta mensagem segue para quem a solicitou e está coberta de razão. No entanto, as mentes perversas ou com ruindade cerebral poderão receber esta missiva como um filho não desejado. Para essas, e como prova de que não somos partidários do Spam, achamo-lo uma espécie de peste negra dos dias da cibernética, aconselhamos respostas cortantes e esclarecedoras exigindo não mais receber comunicação deste grandioso bar para o seguinte endereço: bar.a.barraca@netcabo.pt Informações sobre A BARRACA em: www.abarraca.com . »
Lido ontem no Jornal de Notícias e hoje no Crónicas da Terra - Kronos Quartet actuará em Sines, dia 26 de Julho (Sábado), no âmbito do Festival Músicas do Mundo.
1. Em suma, "do not settle for less": não se abdica de um logos, não se abandona a acção; e nunca, mas nunca, se deixa que a fúria seja mais forte do que as próprias resoluções, que foi o que perdeu Medeia. AmAtA, no Modus Vivendi (é um prazer, ler este blog!)
2. Começo. Sei que toda a gente tem um blog. Se for pecado mortal há uma mão cheia de cristãos virtuosos em muito maus lençois. A porta parece ser larga. Caberão aqui todos os livros e respectivos imbecis e seres brilhantes? Diário de um livreiro que uns acham cristão. Vincent, no Bicho Escala Estantes
While on tour I was told I had received a funny letter from someone called Edward Gorey and he tought I was the "cat's pygamas". He said he had a lot of unpublished work and in due course he sent it to me in a large cardboard box.
It was with a great sense of honour I set about turning this work into the collection of 13 songs you have before you.
He also sent me a stone in a saucer saying if stared at for long enough it would turn into a frog.
Sadly I never got to meet him, he died just before I was due to fly out for a visit but I hope I have captured something of his wonderful and unique vision of the world.
I'm still staring at the stone. Martyn Jacques (o cantor dos Tiger Lillies)
Depois de ler o artigo do Guardian e ouvir estes excertos, fiquei com uma vontade enorme de encontrar o disco…
Os animais que escrevem, é sempre interessante, fez notar
o sensível destino dos nossos chacinados
companheiros. removemos a terra
de norte a sul, à procura de maravilhosas tocas,
o mar entrava pelo quarto do segundo andar,
dormíamos dentro um do um, acordados
pela manhã tracejada de néon,
no céu e terra do soalho.
cabe-me agora a descrição cuidada
do mundo incomodado em que vivemos: secretários
sentados à secretária, ídolos
das nove às onze,
civildades de médio centro urbano, parque incluído,
a leve bomba que cai na cabeça dos outros,
e o grande buraco nocturno do mar
a sorver loas.
é um país, não há que errar, talhado
para a aventura de queimar
papéis ou gente,
tão desigual aos outros.
os primeiros autocarros passam,
a manhã levanta devagar a cabeça,
os pássaros, não esqueçamos os pássaros,
pousam, de viagem.