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domingo, novembro 30, 2003  

Encontramo-nos por aí?

Era de esperar. A Zero em Comportamento cansou-se: dos humores do público, da chuva, do frio, do calor, dos jogos de futebol na televisão, das estreias do cinema comercial ou dos ciclos de outros cinemas; dos humores da crítica e do espaço disponível nos jornais, nas rádios ou nas televisões;da falta de condições do Cine-Estúdio 222 e da inércia dos donos da sala; da falta de apoios (estamos cansados e desmotivados por, há que tempos, ouvirmos a Câmara Municipal de Lisboa ou o ICAM dizerem que, de facto, o nosso projecto é fantástico, maravilhoso, único, que merece de ser apoiado, mas até hoje não terem contribuido com nada de concreto!).

Conclusão: até melhores dias o projecto fica congelado.
É mais uma vitima deste "inverno" que nos roi os ossos.
Sempre apreciei o trabalho deles à distância e até com uma certa inveja. Não fossem os trezentos quilómetros eu estaria nas sessões, mesmo com o cheiro a mofo da sala e o frio, estaria lá.
A programação acaba agora em meados de Dezembro. Há apenas três filmes programados e um apelo. Aqui fica o registo, em discurso directo:

...
Gostaríamos de vos fazer um apelo para algo que poderia servir para alguma coisa, e que foi aquilo de que sempre necessitámos: Vejam os filmes que vos propomos para este mês de Dezembro! São só três filmes... São três filmes diferentes uns dos outros mas absolutamente fantásticos (é a chamada programação para todos os gostos....).

Aquilo de que sempre precisámos ao longo deste tempo todo foi de público... nunca gostámos de estar dependentes de subsídios ou apoios. A nossa existência justifica-se pelo público que temos a ver os filmes que apresentamos. Não fazemos o que fazemos para termos subsídios. Fazêmo-lo porque achamos que há muitos filmes fantásticos por esse mundo fora que nunca chegarão cá e porque sabemos que existe em Lisboa muita gente interessada em vê-los. Só precisam de vencer a preguiça e deslocar-se ao cine-estúdio 222!


1, 2 e 3 de Dezembro > Laberinto de Pasiones, de Pedro Almodóvar


4, 5, 8 e 9 de Dezembro > All about Lily Chou Chou, de Shunji Iwai


10, 11 e 12 de Dezembro > Hukkle, de György Pálfi


posted by Anónimo on 20:30


 
ON > Migala > Gurb Song



I wanted someone to enter my life like a bird that comes into a kitchen
And starts breaking things and crashes with doors and windows
Leaving chaos and destruction.
...


© Acuarela

posted by Anónimo on 14:43


 
Lucet margaritum in sordibus
et fulgor gemmae purissimae etiam in luto radiat*



Francis Bacon, Head I, 1949
Oil and tempera on board, 103 x 75cm. Collection of Richard S, Zeisler, New York)

”I’m an independent judge of despair,
which I know that life is, from birth to death.”
Francis Bacon (1909-1992)
Dono de si mesmo e tanto lhe bastou


Variação II sobre o tema “Agora é assim!”

Com três palavras, há uma interjeição moderna que reza o seguinte: “Agora é assim!”. O pior é que nunca “é assim”. Há porém uma arrogância sadia em tal brado, semelhante ao grito de guerra do patrão de hoje que passa aos súbditos aquele antegosto da vitória numa estratégia macroeconómica qualquer. Confesso não ter a energia e tempo necessários para lançar em lugar público os vocábulos mágicos dos que querem mandar. No quê? Ignoro. A que preço? Todos sabem. Por isso é grave o risco de quem vive na ignorância da indisciplina da gramática do triunfo. Que triunfo? Também não sei. Talvez por informação genética, sempre preferi a fidelidade ao caos aparente da intuição sensível, à precaução de quem a oculta nos relicários das perfídias diárias. É certo que o “homem prático” sempre teve aposentos apadrinhados. O fenómeno não é novo. Mas volteia agora no ar uma peçonha por estudar, mais letal que a arma química. É cinzenta, como a estupidez cromática. Mas como poucos sabem da alquimia das cores, o virús anda por aí a saltarinhar sem que se ouçam o rebate dos carrilhões ancestrais. Tudo pândega. E contudo “fumar mata”. E depois? os lerdos também matam, sem que haja campanha preventiva. Amnésia fatal, mais fatal que alcatrão e nicotina.
“Agora é assim!”. Que uma vez ao menos tal exclamação se cumpra. Aqui. Finis. Quanto aos outros, os que se entretêm no faz-de-conta da distração diária, bem hajam. A sério. (Por acaso não sei se é a sério.) Não há pessimismo em tudo isto. Se assim fosse, existiria algures um optimismo opcional, que só a cegueira dos asnos de profissão teima em afiançar. Há lucidez e ponto parágrafo. Como disse o mesmo Bacon acima citado: – “I’m an optimist; I’m an optimist about nothing”.
Em hora canalha, a minha gratidão para o meu filho João Miguel (que sempre esteve a meu lado) e para a minha família que teve a infinita paciência de me aturar oito anos, sem férias, fins-de-semana, feriados e demais ócios do calendário. (Não é uma confidência romântica; – é um testemunho amorosamente barroco). Reconhecimento ainda para quantos seguiram e apoiaram a fátua paixão que hoje se apaga. Finis.

Jorge Gil (1943- não sei)
29 de Novembro 2003
Texto publicado no programa de "L'appuntamento amoroso", último concerto Em Órbita

*Resplandece a pérola na imundície,
e o fulgor da gema puríssima brilha mesmo no lodo

posted by Anónimo on 13:19


sábado, novembro 29, 2003  


Encontrei-o a semana passada, hoje voltei a ele e não tenho dúvidas: é um dos livros mais bonitos que está na fnac. Chama-se “Bibliotheca” e é de Rosângela Rennó, a fotografa que não fotografa.

O álbum é feito de fotografias vulgares, sem enquadramentos especiais, riscadas, com as cores mal reveladas. Mostra-nos pessoas que sorriem para o fotógrafo, sentadas ou à beira da praia, no Brasil ou na Rússia, paisagens captadas por acaso, com negligência. Ainda não sei o que me atrái nestas imagens mas hei-de descobrir.

Se pudesse viajar no tempo, recuava até Fevereiro e ia ao Museu de Arte da Pampulha, Avenida Otacílio Negrão de Lima, 16.585, Belo Horizonte, Minas Gerais. faz quase verão, não é?

posted by Anónimo on 15:33


 
Bilhete Interblogs (ida e volta) com florista a bordo

Releio a “Câmara Clara” com a Deda; revejo “Mãe e filho” com o Mário; visito a casa nova do BdE; descubro uma mulher de pé, no jardim; meto conversa com Michael Lonsdale, o vice-cônsul de Lahore; lamento a saída do Nuno; desejo que o Francisco regresse a casa no natal; conto as riquezas de Jean Genet:sete livros, um despertador, um casaco de couro, três camisas, um fato e uma mala; recolho dálias e rosas em Belo Horizonte; troco girassóis por gatos, aqui ao lado.


Dá-me lírios, lírios
E rosas também.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também,
Crisântemos, dálias,
Violetas, e os girassóis
Acima de todas as flores…

Álvaro de Campos

posted by Anónimo on 15:07


 
A propósito do livro “Albas”, recentemente editado pela Quasi e que reune uma colecção póstuma de escritos (poemas, frases, apontamentos) de Sebastião Alba, o Miguel enviou-nos alguns poemas e uma carta (que vou entregar ao Bartleby, para a sua colecção). Obrigada Miguel, passo-te a palavra:

o sorriso que deixa a vida irrecuperável

O Sebastião Alba foi, como outros grandes poetas do tempo português do estertor do império, um poeta de dois mundos, reclamado pelas histórias da literatura dos dois países onde viveu: Portugal e Moçambique. Em África, como o provam ensaios e colectâneas, o Sebastião Alba é considerado um dos nomes importantes das décadas de 60 e 70, que aliava o lirismo europeu à consciência nacionalista africana. Depois do regresso a Portugal, o Sebastião Alba fez a opção radical de viver à margem, acabando os seus dias de vagabundagem num estúpido mas quase adivinhado acidente.
Para além de “Albas”, tem publicados 3 livros de poemas, cada um deles refazendo os anteriores e acrescentando-lhes novos livros: “O Ritmo do Presságio” (edições 70), “A Noite Dividida” (Assírio & Alvim) e “Uma Pedra do Lado da Evidência” (Campo das Letras).


CIDADE BAIXA

Nas manhãs em que o mar se recusa
mesmo do último andar do edifício
e o aroma do café
sai de chávenas conjugais nas outras flats
confidencio-me:
Passa à escolha doutro dia
este é como uma sombra
de pé, na cidade
e a cidade é o mundo.
Peço então ajuda
aos amigos mais desencontrados:
Socorro, Eugénio! Socorro, Fernando!
Carlos (Drummond), socorro!
E o meu grito é um cicio fixo
no pesadelo em que nada transcorre.
Mas os seus rostos
rodeiam-me a cabeceira
e eu aprendo neles devagarinho
o sorriso que deixa
a vida irrecuperável.


REINALDO FERREIRA

Antes de mim, já outros o fizeram.
Dominadores de mundos circunscritos,
só se submetem aos que consideram
ser do domínio fulvo dos seus mitos.

Se vivem, é para o desnudamento
da íntima direcção que em si arrua
os gelos vindos de um cabo do alento
duma promessa a uma verdade sua.

Antes de mim, já outros o fizeram.
Com o cinzeiro cheio, amanheceram
ante a escarpa do olhar dentro de si.

Na mesa do café, tardando à mesa,
à curva do seu fardo de beleza,
como à do meu destino, obedeci.


MAIS DO QUE DO OUTRO

Mais do que do outro o meu reino é deste mundo
mundo de desencontros marcados «slogans» que violam
os espaços aéreos de países castos
e se dissipam além dos limites naturais
um laivo incendiando as espirais do rasto
Mais do que do outro o meu reino é deste mundo
mas de uma província de incerta geologia
com uma história sem crónicas ou reis absolutos
a única a que a constituição se refere numa clave de sol
onde os cidadãos de todos os burgos
pulam à rua das mãos estendidas de deus
dessa nenhuma anexação polui a virgindade civil.

posted by Anónimo on 14:41


 
Obituário

Logo à noite é o último concerto: "L' Appuntamento Amoroso", de Handel. Se o arquitecto Jorge Gil soubesse que era o último talvez tivesse escolhido um Requiem, escreve a Cristina Fernandes no Público. Assim, vai ser como a última refeição, o último beijo. No fim da última nota ficamos de luto e sei que à saída do Rivoli vai chover.

Cada dia que passa a lista aumenta: acabam os concertos, fecham as salas de cinema, normalizam-se as rádios,... um obituário sem fim. O que é que vem depois das lágrimas?

posted by Anónimo on 14:26


 
A Avó

Tinha ao colo o gato velho
cansadamente passando
a sua branca mão pelo
pêlo dele preto e brando

Sentada ao pé da janela
olhando a rua ou sonhando-a
todo o passado passando
a passos lentos por ela

Dormiam ambos enquanto
a tarde se ia acabando
o gato dormindo por fora
a avó dormindo por dentro


Manuel António Pina, "Os Livros"
© Assírio & Alvim


posted by Anónimo on 13:59


quinta-feira, novembro 27, 2003  

Como circunscrever o Inverno.

Porque circunscrever o Inverno é essencial como circunscrever os incêndios e todas as coisas que queremos breves: primeiro, é necessário saber quando começa, isto é, quando acaba. Será útil referir que, ao contrário do que dizem as lendas, o Inverno - que não é o frio, mas a ausência do Sol - já começou e acabará depois da noite mais longa do ano. Dito isto, dois poemas fazem o resto.

Winter Trees

All the complicated details
of the attiring and
the disattiring are completed!
A liquid moon
moves gently among
the long branches.
Thus having prepared their buds
against a sure winter
the wise trees
stand sleeping in the cold.

William Carlos Williams

O Inverno é a estação que fica entre o último verso de Winter Trees, de William Carlos Williams, e o primeiro verso de The Trees, de Philip Larkin. Mas como não há folhas novas sem água - razão pela qual a chuva, também ao contrário do que dizem as lendas, não faz o Inverno - e sem Sol, deve considerar-se findo o Inverno a partir do momento em que estão reunidas as condições para que as folhas novas comecem a formar-se.

The Trees

The trees are coming into leaf
Like something almost being said;
The recent buds relax and spread,
Their greenness is a kind of grief.

Is it that they are born again
And we grow old? No, they die too,
Their yearly trick of looking new
Is written down in rings of grain.

Yet still the unresting castles thresh
In fullgrown thickness every May.
Last year is dead, they seem to say,
Begin afresh, afresh, afresh.

Philip Larkin

É por isto que o Alexandre tem tanta razão. Seria mais fácil contar os dias se nos dessem poemas ao pequeno-almoço. Mas, enfim, pouca gente se preocupa com estas coisas assim, verdadeiramente práticas e relevantes, como dar conta do tempo que passa.

posted by camponesa pragmática on 11:31


 
« Qual É, Afinal, o 'Público da Cultura'?

Na cultura, há públicos "circunstanciais", "relativos", e "habituais", há os "irregulares", os "retraídos" e os "cultivados", e ainda os públicos "displicentes". Definir quem enche - ou não - as salas de espectáculos, museus e outros espaços culturais em Portugal não é fácil. Mas foi isso que um grupo de quase 20 académicos tentou fazer.

"O público não existe; cria-se", começou por dizer José Manuel Paquete de Oliveira, professor do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), no primeiro dia do encontro "Públicos da Cultura", organizado pelo Observatório das Actividades Culturais (OAC), no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, na segunda-feira.

Ao usar um aforismo bastante conhecido, Paquete de Oliveira diz que um público é uma legitimação para a oferta. Muitos dos públicos existentes foram criados, nomeadamente por instituições, e por isso a existência de alguns públicos está directamente ligada a um espaço físico.

Na Expo 98 integrou-se numa política cultural assente em eventos, como forma de dinamização da cultura que visava formar novos públicos. O problema é que, muitas vezes, esses públicos são apenas circunstanciais.

Rui Telmo Gomes, investigador do Observatório das Actividades Culturais, num estudo feito a propósito da Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura (também assente numa "política cultural de eventos"), chegou à conclusão que existe um tipo de "públicos da cultura" que, apesar de ter sido cativado pelo evento (pelo seu carácter excepcional e festivo), deixou, a seguir, de frequentar actividades culturais. Esses são, concluiu Telmo Gomes, os "públicos displicentes", pessoas que, apesar de terem recursos económicos elevados, não frequentam actividades culturais com regularidade.

Mais de dez tipos de públicos

Os públicos da cultura serão, antes de mais, grupos diferenciados num grupo homogéneo da sociedade portuguesa.

Mas a tipologia inclui muitas outras categorias, como os "públicos cultivados" e os "públicos relativos". Os primeiros são "mais diferenciados" e é onde é "mais clara a regularidade das práticas culturais", diz Telmo Gomes. E estes são os chamados "breves consumidores culturais" - os que vão primeiro.

Os segundos, os chamados "públicos relativos", têm recursos reduzidos e "práticas culturais frágeis". Além disso, há ainda pelo menos mais três grupos, defendeu João Miguel Teixeira Lopes, professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto: os habituais, os irregulares e os retraídos. Os "públicos habituais" são compostos por um pequeno círculo minoritário, com alto nível escolar e padrões de gosto eclécticos (aqui estão incluídas as pessoas do mundo artístico). Para estes, a recepção cultural é feita com conhecimento dos códigos, das correntes e da história da arte.

Os "públicos irregulares", como o nome indica, não frequentam de forma regular o mundo da cultura e o seu modo de relacionamento com a arte é "espontâneo", com apelo à sua experiência pessoal. No grupo dos "retraídos" estão os públicos sob influência mediática, com uma recepção "distraída e incompetente dos eventos culturais", disse Teixeira Lopes.

O sociólogo José Madureira Pinto, docente da Faculdade de Economia do Porto, diz que "o universo dos praticantes culturais é restrito", sendo que "a relação dos públicos com a cultura não é independente dos lugares" - a sua relação com a cultura varia conforme o local onde se experiencia determinado acontecimento cultural. Os públicos parecem, assim, fazer-se na sua relação com os eventos culturais, isto é, do lado da recepção.

Os públicos mais fidelizados são aqueles que têm regularidade nas práticas culturais, os que frequentam regularmente eventos ou espaços culturais. O seu alargamento faz-se pelo recrutamento de novos públicos através de familiares e amigos. Além disso, sempre que surgem "novos media", surgem "novos públicos" (novos media dinamizam uma nova cultura - a "cultura mediática") cujo melhor exemplo são os "media electrónicos", nomeadamente a internet. Neste sentido, Paquete de Oliveira diz que "a internet é uma nova forma de cultura introduzida na vida 'off-line'". Mas a mediatização da cultura veio também facilitar a inteligibilidade da arte e aumentar os potenciais públicos da cultura.

A definição de "público" não é fácil mas a de "cultura" também não. Dentro deste conceito está a "nova atitude pós-moderna" que José Machado Pais, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, chamou de "cultura das boas festas" e que, actualmente, passa muito pelos novos media electrónicos. Trata-se de uma cultura efémera e fragmentada que, uma vez por ano, convoca os seus públicos: à já existente "cultura do consumismo", própria do Natal, agora há a figura do próprio Pai Natal com uma "identidade fragmentada" que surge por todo o lado a incentivar o consumismo - à porta das lojas, em anúncios de seguros e cartões de crédito, e na internet.

José Paquete de Oliveira nota que o conceito de "público" é um "dos mais difusos pela diversidade dos seus usos e descrições" e que a democratização da arte não veio facilitar a sua definição, hoje distante da ideia de um grupo de pessoas com interesses comuns por oposição à "massa". »
NYARA FIGUEIREDO © PÚBLICO.PT

posted by camponesa pragmática on 11:05


quarta-feira, novembro 26, 2003  

Café do Molhe

Perguntavas-me
(ou talvez não tenhas sido
tu, mas só a ti
naquele tempo eu ouvia)

porquê a poesia,
e não outra coisa qualquer:
a filosofia, o futebol, alguma mulher?
Eu não sabia

que a resposta estava
numa certa estrofe de
um certo poema de
Frei Luis de Léon que Poe

(acho que era Poe)
conhecia de cor,
em castelhano e tudo.
Porém se o soubesse

de pouco me teria
então servido, ou de nada.
Porque estavas inclinada
de um modo tão perfeito

sobre a mesa

e o meu coração batia
tão infundadamente no teu peito
sob a tua blusa acesa

que tudo o que soubesse não o saberia.
Hoje sei: escrevo
contra aquilo de que me lembro,
essa tarde, por exemplo.


Café Orfeu

Nunca tinha caído
de tamanha altura em mim
antes de ter subido
às alturas do teu sorriso.
Regressava do teu sorriso
como de uma súbita ausência
ou como se tivesse lá ficado
e outro é que tivesse regressado.
Fora do teu sorriso
a minha vida parecia
a vida de outra pessoa
que fora de mim a vivia.
E a que eu regressava lentamente
como se antes do teu sorriso
alguém(eu provavelmente)
nunca tivesse existido.


Manuel António Pina


posted by Anónimo on 13:42


 
Tous les matins du monde sont sans retour



O filme de Alain Corneau passa amanhã, quinta-feira às 19h45 no arte. Mais pormenores aqui e excertos da banda sonora em baixo:

J. B. Lully, march
M. Marais, muzettes I, II
S. Colombe, gavotte
M. Marais, la reveuse
F. Couperin, troisieme
M. Marais, le badinage
J. Savall, le badinage

posted by Anónimo on 13:29


 
O odor da hortelã

Miguel Frasconi, Desert Melody
© New Albion

O Jardim, como todos os jardins de Aïn Krorfa, era na verdade um pomar. Debaixo das laranjeiras havia pequenos canais que corriam de uma fonte construída numa das extremidades de um planalto artificial. As palmeiras mais altas ficavam na extremidade oposta, perto do muro que bordejava o leito do rio; debaixo de uma delas estava estendido um grande tapete de lã, vermelho e branco. Sentaram-se aí, enquanto um criado trazia lume e uma maquineta para fazer chá. O ar estava pesado do odor da hortelã que crescia junto dos canais.

Paul Bowles, "O céu que nos protege"
© Assírio & Alvim

posted by Anónimo on 13:11


 
The Europeans - Henri Cartier-Bresson

Se alguém for à Grécia até 11 de Janeiro, a exposição está .






posted by camponesa pragmática on 12:23


terça-feira, novembro 25, 2003  

Crescent Earth at Midnight © GOES Project, GSFC, NASA

Só hoje, ao escrever o post sobre os pinheiros, compreendi que falta menos de um mês para o Solstício de Inverno (22 de Dezembro, este ano). Novembro parece-me sempre demorar um século - este ano, quando dou por isso, está quase no fim. Falta pouco, muito pouco, para a Primavera, que sempre começa a regressar após a noite mais longa do ano. É um regresso quase imperceptível, feito de coisas mínimas, como ilhas no meio do frio e da noite - os segundos que alargam as tardes, os dias soalheiros de Janeiro, os malmequeres brancos que nascem e cobrem os campos, os botões das folhas que surgem nas árvores despidas, a luz mais intensa - mas nota-se bem, é crescente e certo. Tudo porque os dias começam a crescer e há mais sol. E está quase, está quase.

posted by camponesa pragmática on 16:34


 
Bad News

Dezembro será o último mês da Zero em Comportamento no 222. Li isto há meia-hora no fórum Cinema do Citador. Não se sabe ainda o que acontecerá à associação e aos ciclos.

posted by camponesa pragmática on 13:44


 


Hee Jin Kang, Parting, 2002

© Shine Gallery

posted by Anónimo on 13:32


 
Simplicidade e Bom Senso

Cuidado, andam por aí os radicais pela ética. Praticam a Simplicidade e Bom Senso e propõem-se agir de acordo com os seus princípios éticos básicos: um kit em dezanove artigos que se podem ou não misturar uns nos outros e permitem um convívio saudável entre primatas, dizem eles.

posted by Anónimo on 13:30


 


Li o apelo no 100nada (pt), remeto e subscrevo. Também porque o hábito de arrancar e/ou estropiar pinheiros para celebrar o Natal é uma enorme incoerência. Li, já não sei onde nem quando, ser a Árvore de Natal um símbolo pagão - representação da adoração da árvore - ligado às celebrações do Solstício de Inverno; sendo o pinheiro uma árvore de folha perene, seria essa árvore a confirmação do renascimento da natureza. É uma bela ideia, cheia de sentido. Quase tão bela como a sombra e o cheiro dos pinheiros.

posted by camponesa pragmática on 13:29


segunda-feira, novembro 24, 2003  


Eu o que vejo é sobretudo o movimento deles. Sou dos que gostam do movimento, do movimento que rompe a inércia, que enreda as linhas, desfaz os alinhamentos, me livra das construções. Do movimento como desobediência, como novo arranjo.

Henri Michaux, “O retiro pelo risco”
© Fenda

posted by Anónimo on 20:42


 
Este poema fica em casa, dedicado à Marta. E se pudesse escolher uma forma para ele, seria esta:



Os livros podem ser bonitos, não podem? Assim

Número Pi

Surpreendente número Pi
três vírgula um quatro um
Todos os seus restantes algarismos também são iniciais,
cinco nove dois pois ele nunca tem fim.
Não se deixa abarcar seis cinco três cinco com o olhar,
oito nove com o cálculo
sete nove com a imaginação
nem três dois três oito por uma ironia, isto é, por comparação
quatro seis com seja o que for
dois seis quatro três no mundo.
A maior serpente da terra não vai muito além dos dez metros.
Pouco mais longe irão as serpentes fabulosas.
A procissão de algarismos que há no número Pi
não se detém na margem de uma página,
consegue estender-se pela mesa, pelo ar,
paredes, folhas, ninhos de aves, nuvens, céu afora,
por todo o céu de sopros e de trevas.
Curta como um ratito é a cauda dos cometas!
Débil o clarão de uma estrela arqueando-se a cada passo!
E aqui dois três quinze trezentos e dezanove
o meu número de telefone e o teu número de camisa
ano de mil novecentos e setenta e três sexto andar
número de moradores sessenta e cinco vinténs
o perímetro das ancas dois dedos
charada e cifra,
no qual voa e canta passarinho meu
e se ainda pede que mantenham a calma
e também terra e céu acabam
mas não o número Pi, ora pois não
ele tem ainda os seus bons cinco
não uns quaisquer oito
nem finalmente sete
apressando apressando a indolente eternidade
para que perdure.

Wislawa Szymborska, "Paisagem com grão de areia"
© Relógio d'Água

posted by Anónimo on 19:49


 
Presque tout l'art de la peinture consiste à éclairer et foncer les tons sans les décolore.
Pierre Bonnard



posted by Anónimo on 18:43


 
sob escuta:



Edito este post para acrescentar as linhas seguintes (ontem muito cansaço, não fui capaz): isto não é um daqueles cds para relaxar à venda em lojas místicas embora o tenha encontrado, não me lembro em que site, catalogado como música zen ou algo assim. Este cd não tem música. As faixas são longas, muito bem gravadas e guardam os sons em título: 1. Amazon Nights (12:04) 2. Desert Solitudes (10:56) 3. Gift from the Sea (12:16) 4. Whales, Wolves, and Eagles of Glacier Bay (10:39) 5. Gorillas in the Mist (11:00) 6. Green Meadow Stream (10:36).

A faixa do mar (3.) começa com a rebentação e os gritos das gaivotas...

posted by camponesa pragmática on 16:06


 
La buena fama durmiendo

Eu até gosto muito da Antígona. Do empenho, dos autores, das traduções. Mas não lhes perdoo o que fizeram à bela fotografia de Manuel Alvarez Bravo na capa do romance de Anatole France “Thaïs”.


La buena fama durmiendo, 1938

posted by Anónimo on 13:22


 


Prefiro as viagens assim. Decididas por um plano de um filme, sem mais e basta.

posted by Anónimo on 13:16


domingo, novembro 23, 2003  
Call me Ishmael

Há uns tempos, falava com a Ana sobre começos de livros - aquele princípio que nos agarra imediatamente. Ela levanta-se da "nossa" usual mesinha chá/conversa para voltar com o Ana Karenine: As famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são-no cada uma à sua maneira.

Transcrevo a primeira frase de um conto que encontrei na revista Ficções de Humor - A festa-surpresa de Léobille, de Boris Vian (traduzido por Daniel Siniavski) - o mais bonito início que encontrei até agora:

As pálpebras de Folubert Sansonnet, batidas directamente pelo raio de Sol ondulado que atravessava a grelha das persianas, tinham do interior uma linda cor vermelha-alaranjada, e Folubert sorria no sono.

posted by picatostes on 23:30


 

sob escuta

Dimitri Shostakovich:
Chamber Symphony for Strings, Op. 110a-Allegro Molto (attacca)
Chamber Symphony for Strings, Op. 110a-Largo

© New Albion


posted by Anónimo on 16:59


sábado, novembro 22, 2003  
Aviso de última hora



Desculpem interromper o romance epistolar do Escrivão Bartleby (hummm, não sabia que ele era dado a estas actividades, deve ter sido influência do Réporter...a averiguar mais tarde o que se passa), mas o mundo está prestes a ser invadido pelos marcianos.
Ouvi há pouco a confirmação: vai ser transmitida na íntegra (e pela primeira vez) a versão radiofónica de "A guerra dos Mundos" de H. G. Wells.
No estúdio (da antena 2): Francisco Sena Santos, Luís Caetano e claro a espantosa e impressionante voz de Orson Welles.

Nos últimos anos do século XIX, ninguém teria acreditado que este mundo estava a ser aguda e estreitamente observado por seres mais inteligentes do que o homem e, no entanto, tão mortais como ele; que, enquanto se ocupavam com os seus múltiplos problemas, os homens eram examinados tão pormenorizadamente como o são, sob a lente do microscópio, as criaturas efémeras que abundam e se multiplicam numa gota de água. Com uma complacência infinita, os homens moviam-se de um lado para o outro do seu globo, tratando dos seus pequenos negócios, serenamente, na certeza do seu poder sobre a matéria.
...


posted by Anónimo on 16:05


sexta-feira, novembro 21, 2003  
"ce n'était pas la peine"

Les Enfants é um filme delicioso que conta a história de Ernesto, um miúdo de sete anos apenas mas “imenso”, que um dia resolve que não quer ir à escola porque lá lhe ensinam coisas que ele não sabe. A frase deixa a sociedade perplexa, primeiro os pais, depois o professor e por fim o incrédulo jornalista.
Pouco a pouco os pais vão comprendendo o significado desta atitude, ou melhor, a mãe compreende, como ela diz “compreendo em silêncio”.
Os pais são as minhas personagens preferidas. Ele veio do Vale do Pó, onde se plantam as vinhas e ela do Cáucaso. Têm sete filhos, vivem de subsídios e abonos e comem batatas, principalmente salteadas com cebola. Batatas roubadas na vizinhança.
Também o professor se rende aos encantos filosóficos do rapaz que, lentamente, vai descobrindo tudo o que há a descobrir e, para além disso, que “não vale a pena”. Começamos por saber um bocado, depois mais um bocado e de repente tudo, explica Ernesto no seu modo desarmante. A química, a filosofia, todas as disciplinas e apesar disso “não vale a pena”.
A câmara perde-se em planos longos, devaneia pelo jardim, grava os pássaros e a bela música de Carlos d’Alessio, uma e outra vez.
Os actores são excelentes: Axel Bougousslavski (Ernesto), Daniel Gélin e Tatiana Moukhine (os pais), André Dussollier (o professor apalermado), Pierre Arditi (o jornalista céptico) e Martine Chevallier (a irmã Jeanne). São todos adultos e representam como quem faz uma festa, às vezes riem-se a meio das cenas porque os diálogos são de facto hilariantes e nós rimos com eles. Eu rio porque este não é de modo nenhum um filme vulgar, talvez desconcertante, cómico, belo, profundo. Sobre o quê? O amor, as palavras, o conhecimento, o silêncio. "Il se tait", diz a mãe.

A não perder, no domingo, no cinema King, em Lisboa.


Nota complementar – a ler: ”Chuva de Verão”, edição Livros do Brasil; a ver: "EN RACHÂCHANT”, dos Straub (se não me engano passou no circuito comercial junto com o Sicília)

posted by Anónimo on 13:28


 
Nota despeitada sobre um homem mais livre que eu

O velho alfarrabista, meu vizinho, que nos últimos dias surgiu com chapéu de bombazina cor de tijolo de largas abas, abotoa o casaco de aviador de napa castanha e sobe para a bicicleta. A rafeira castanha, que nunca o larga, fica nervosa. Também quer subir. Tenta galgar o ar até ao selim. Não consegue. Começa a descrever círculos em torno da bicicleta, o que obriga o alfarrabista a avançar em ziguezague para não a magoar. Desaparecem os dois dentro da garagem. Daí a minutos, o alfarrabista sai na Diane, a bicicleta no tejadilho, a cadela no banco ao lado, orelhas coladas à nuca, orgulhosa, focinho à janela, tremente, a inquirir o vento. Do banco de trás nem sinal, que o zorro encheu toda a parte traseira do carro com mais um carregamento de livros.

Que acontecerá aos livros não sei, mas este alfarrabista tem pinta de distribuidor, de outra forma só receberia, mas é frequente evaporar-se durante horas com o carrinho cheio de livros, a cadela e a bicicleta. Suspeito que sim, que é dealer, que sob este ar de velhinho enxuto e lúcido se esconde uma alma ignóbil responsável pela falência de tantas pessoas sem focinho para inquirir o vento, condenadas a procurar respostas na literatura, e que no regresso, depois de entregues os livros numa qualquer loja, este alfarrabista, que vive numa garagem sem o menor conforto, faz um desvio, pára o carro num lugar ermo, onde o som do trânsito é vago e distante, um lugar alto onde o céu é o mundo quase todo e onde em Janeiro crescerão azedas, e passeia de bicicleta, enquanto a cadela, com uma orelha sintonizada na bicicleta e a outra no motor da Diane, conversa com as ervas e fareja as nuvens.


© Georges G.-Guilermas

posted by camponesa pragmática on 13:00


 
O que é que se esconde no lixo?



Daido Moriyama, Untitled (Trash Cans)

as nossas vidas em sacos separados

posted by Anónimo on 12:30


 
É uma flor? É uma flor!



Daido Moriyama, Untitled (Cabbage), 1980

posted by Anónimo on 12:27


 
O reverso do rosto, o que é?



Daido Moriyama, Tokyo, 1981


posted by Anónimo on 12:09


 
sob escuta



Songs are perhaps our most basic musical expression. Though I have worked widely in the fields of opera and music theater, I had not until this last year worked with the song form as such. Writing the song cycle Songs from Liquid Days became for me truly a voyage of discovery.

Philip Glass

Forgetting (Lyrics by Laurie Anderson)

A man wakes up to the sound of rain
From a dream about his lovers
Who pass through his room.

They brush lightly by, these lovers.
They pass. Never touching.
These passing lovers move through his room.

The man is awake now
He can't get to sleep again.
So he repeats these words
Over and over again:
Bravery. Kindness. Clarity.
Honesty. Compassion. Generosity.
Bravery. Honesty. Dignity.
Clarity. Kindness. Compassion.

posted by Anónimo on 12:08


 
«Península de Letras»

Hoje | 18:30
Leitura poética por José Bento e Francisco Brines.
Auditório do Instituto Cervantes.
Rua de Santa Marta, n.º 43 F, R/C, Lisboa.

posted by camponesa pragmática on 11:49


 

© Martine Franck

posted by camponesa pragmática on 10:40


 
o tempo parece escoar-se. O mundo acontece, prolonga-se numa sucessão de momentos e nós detemo-nos a olhar uma aranha espalmada contra a sua teia...

The body artist, read by Laurie Anderson. Para o Luís.


posted by Anónimo on 08:56


 
3 poemas de Eugénio Montale



Talvez uma manhã andando num ar de vidro,
voltando-me, verei cumprir-se o milagre:
o nada às minhas costas, detrás de mim
o vazio, com um terror de bêbedo.

Depois como numa tela, acamparão de um jato
árvores casas colinas para a ilusão costumeira.
Mas será tarde – e eu partirei calado
entre os homens que não se voltam, com o meu segredo.


Madrigais privados

Deste meu nome a uma árvore? Não é pouca coisa;
embora não me resigne a ficar apenas sombra, ou tronco,
abandonado num subúrbio. Eu o teu
dei a um rio, a um longo incêndio, à minha sorte
cruel, à confiança
sobre-humana com que falaste ao sapo
que saiu do esgoto, sem horror ou pena
ou exaltação, ao alento daquele poderoso
e suave lábio teu que consegue,
nomeando, criar: sapo flores relva rocha —
carvalho pronto a desfraldar-se sobre nós
quando a chuva dispersa o pólen das carnosas
pétalas de trevo e a chama se levanta.


O Sabiá

O sabiá canta na terra, não sobre as árvores,
assim disse uma vez um poeta sem asas,
e antecipou o fim de toda vida vegetal.
Existe além disso quem não canta nem sobre nem sob
e ignoro se é pássaro ou homem ou outro animal.
Existe, ou existia talvez, hoje está reduzido
a nada ou quase nada. E já é muito pelo que vale.

Tradução: Geraldo Holanda Cavalcanti
© Vasco Cavalcante

posted by Anónimo on 08:03


 
Fall Milky Way


© 2003 Jerry Lodriguss


posted by camponesa pragmática on 04:19


 
Mirror


© Jerry Lodriguss

I am silver and exact. I have no preconceptions.
Whatever I see I swallow immediately
Just as it is, unmisted by love or dislike.
I am not cruel, only truthful
The eye of a little god, four-cornered.
Most of the time I meditate on the opposite wall.
It is pink, with speckles. I have looked at it so long
I think it is a part of my heart. But it flickers.
Faces and darkness separate us over and over.

Now I am a lake. A woman bends over me,
Searching my reaches for what she really is.
Then she turns to those liars, the candles or the moon.
I see her back, and reflect it faithfully.
She rewards me with tears and an agitation of hands.
I am important to her. She comes and goes.
Each morning it is her face that replaces the darkness.
In me she has drowned a young girl, and in me an old
woman Rises toward her day after day, like a terrible fish.

Sylvia Plath

posted by camponesa pragmática on 04:06


 
sob escuta:



posted by camponesa pragmática on 00:57


quinta-feira, novembro 20, 2003  

A primeira vez que vi a Imaculada Concepção de Zurbaran, eu, que não sou uma pessoa religiosa, nunca mais a esqueci e passei a localizá-la num espaço só meu, interior e único. Espantou-me encontrá-la no Prado. Reconheci-a duas salas antes, os olhos muito mais rápidos que qualquer constatação racional, e voei. Afinal existia, concreta, num suporte material, emoldurada, protegida, vulnerável. E tantas outras pessoas podiam vê-la… e podem vê-la. Fere-me sempre a promiscuidade da arte que amo.


Francisco de Zurbaran | Imaculada Concepção | 1630-35 | 139 x 104 cm | Prado - Madrid


posted by camponesa pragmática on 19:43


 
Mini-post molhado

A água também se ouve.

A chuva. Seja o som forte de uma furiosa chuvada ou o de um calmo chuvisco, a vontade é abrir a janela mais próxima e escutar a água que cai.

O mar. Não, não é o barulho das ondas - igualmente bonito. O rugido do mar. À noite, ouvimo-lo, nítido, enquanto ficamos com pele de galinha.

Ribeiros. É indescritível o som de um ribeiro. Pu-lo 'sob escuta' porque não consigo encontrar as palavras.

Nas margens. O som hipnótico das pequenas ondulações. Na orla de um rio ou de um lago, há alguém que não sinta vontade de se sentar e deliciar-se?


posted by picatostes on 16:46


 
Rui Chafes

1.
Abro o jornal pelo fim, passo algumas páginas e fico com uma vontade danada de ir ao Norte, à Dinamarca, a Esbjerg, ver as flores de cinza .

2.

...estabelecer uma estratégia da lentidão contra uma estratégia da aceleração, uma estratégia do peso contra uma estratégia da leveza.

...É curioso, porque o mundo que me interessa não tem a ver com o clima português – e quando digo clima não estou só a falar do clima, falo de temperatura, de vibração. Paradoxalmente, só consigo trabalhar no meu atelier, que acontece ser ao pé do Guincho, com uma luz especial que não é escandinava nem alemã, é uma luz ao pé do Guincho. É o meu atelier. Tem as janelas cheias de limalha de ferrugem, o chão coberto de cimento todo partido, restos de lixo... Estive dois anos na Alemanha e não fiz uma única escultura – a minha escultura foi uma tradução de Novalis. Isto quer dizer que se calhar é mais produtivo as pessoas estarem num sítio a sonhar outro do que se estiverem no sítio com o qual sonham. Trabalhar é só sonhar. Aliás, como diz o Art Reiner, trabalho na arte não é trabalho, é outra coisa. De facto, um artista não trabalha, o artista vai construindo um sonho que abre portas a sair para outros sonhos, eventualmente sonhos para outras pessoas.


3.
É uma história de amor. “Durante o fim”, de João Trabulo. Três anos de filmagens, na floresta de Sinta, atrás dos rastos deTilman Riemenschneider em igrejas, em frente a “Heinrich" e a "Andreï Rublyov".

posted by Anónimo on 13:51


quarta-feira, novembro 19, 2003  
ondas curtas

1. Marte ataca no sábado
Se eu ouvi bem hoje de tarde no meu pequeno rádio, a próxima emissão de “A força das coisas”, de Luís Caetano (sábados, das 16hoo às 18h00, na antena 2) vai fazer o mundo tremer a sério com a invasão dos marcianos. Anuncia-se "A Guerra dos Mundos", de H.G. Welles, pela voz magnífica de Orson Welles. Quero assustar-me com o poder da rádio.

2. et toi qui me dit tout
Sofia, a “India Song” não está esquecida. Estamos à espera que chegue cá...
A primeira coisa que montei foi a música, o som chegou depois, por isso o filme foi musical antes de ser falado, o que nunca acontece porque a música é a última coisa a ser colada. O filme é logo no início um moderato cantabile, sem jogos de palavras, e depois um vivace no meio e no fim um andante interminável. Para mim, há três partes que se separam musicalmente.
Marguerite Duras

3. Que livros é que não devolveste, Alexandra?
Conheci a Alexandra quando falamos sobre As Ondas na biblioteca mas só conheci a Seta Despedida na semana passada. É um belíssimo blog a merecer visita assídua. Comprovem.

4. No ringue
combates que valem a pena: Em torno das árvores e em dois rounds. Podes continuar no ringue Rui.

5. Chá
Termino com chá. Que me desculpe o Luís mas o que se bebe deste lado é preto e cheira a bergamota e Lídia, também não há samovar por aqui, um termos apenas…


© Robert Welsh

posted by Anónimo on 23:21


 
Molder na Galeria Pedro Oliveira

Revelada em Paris entre finais de 2001 e princípios de 2002, a série "Em 1ª Mão", de Jorge Molder (Lisboa, 1947), constitui uma poderosa reflexão acerca da dor e da morte. Ao longo das salas da Galeria Pedro Oliveira, onde agora se mostra, o espectador é confrontado com uma sucessão imagens que representam manifestações físicas do irreparável. Os gestos são congelados no seu próprio estertor, como se fossem, cada um, o último sopro de uma vida - talvez não faça sentido falar aqui de movimentos gestuais, mas antes de uma asfixia, de uma convulsão incorpórea, fantasmática.

A exposição é assim formada por imagens de mãos, mais precisamente de uma mão que, ao longo de 40 polaroids a cores (1999/2000), sofre um processo de desfiguração até se tornar, em si, um instante de morte. Por momentos, sente-se que aquele corpo perde ar, fica roxo, pálido, distante de nós. Noutros, a fisicalidade adquire propriedades estranhas, porventura só explicáveis a partir dos processos químicos próprios à fotografia - neste caso, estamos muito perto da cegueira, do fim.
...


O artigo é de Óscar Faria, saiu no Mil | Folhas de sábado e, por enquanto, pode ser lido na íntegra aqui.

posted by Anónimo on 22:34


 
“With a simple transistor set you can be in the eternal snow and right in
the middle of society all at the same time .” Thomas Bernhard



Photo © Sepp Dreissinger 1988

Confesso, há elogios que me ficam a bailar nos olhos. Apetece-me logo retribuir, enviar prendas, por isso aqui vão, dois poemas de Thomas Bernhard, do livro “Na terra e no Inferno” (traduzido por José A. Palma Caetano para a Assírio & Alvim), para o Crítico.

Que farei…

Que farei
quando já nenhum palheiro mendigar para a minha existência,
quando o feno arder em aldeias húmidas,
sem coroar a minha vida?
Que farei
quando a floresta crescer apenas na minha fantasia,
quando os regatos só já forem artérias vazias e lavadas?

Que farei
quando já das ervas não vier qualquer mensagem?
Que farei
quando estiver esquecido por todos, por todos…?


Cansado

Estou cansado...
Com as árvores entabulei conversas.
Com as ovelhas sofri o horror da seca.
Com os pássaros cantei nas florestas.
Amei as raparigas da aldeia.
Ergui os olhos para o Sol.
Vi o mar.
Trabalhei com o oleiro.
Engoli o pó da estrada.
Vi as flores da melancolia no campo do meu pai.
Vi a morte nos olhos do meu amigo.
Estendi a mão para as almas dos afogados.
Estou cansado...

posted by Anónimo on 22:16


 
The past is always new, the future is always nostalgic*



Gostava de ir à Fundação Cartier descobrir os negros, negros desejos de Daido Moriyama. Não posso, tenho de esquecer, como? Talvez por aqui, virando depois à esquerda na Galeria, atravessar as ruas esconsas e escuras de Paris. Vielas, tunéis e pontes. Paris sem turistas, a preto & branco. Ficar no Hotel du Nord e folhear os livros do Moriyama, com o gato ao colo.

*Livro de ensaios e conversas entre Daido Moriyama e Takuma Nakahira

posted by Anónimo on 21:54


terça-feira, novembro 18, 2003  

Gueto

«[...]Após alguma reflexão, eis a conclusão a que cheguei. Enquanto os filhos dos pobres são metidos em salas de aula onde se discute o que levou Tomé a expulsar a Maria de casa, os meninos privilegiados entretêm-se a ler poetas simbolistas. A inclusão do Big Brother nos manuais escolares é a via escondida para a exclusão social. Em suma, os novos programas servem para proteger os meninos que frequentam as escolas privadas dos "bárbaros" que subitamente invadiram os liceus do Estado.[...]»

Neste artigo - Maria Filomena Mónica: O Big Brother na Sala de Aula (3) - não há uma letra irrelevante.


posted by camponesa pragmática on 16:44


 
"[Elliott Erwitt] has pursued his art, or "amateur standing," which he says means taking "pictures of whatever interests me." He has little patience for elaborate aesthetic theories. "Photographers as a group are pompous asses," he says. "Photography is so simple that very often they need to use big words to justify what they do." (Adriana Leshko - Smithsonian Magazine)



© Elliott Erwitt

posted by camponesa pragmática on 12:19


 
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