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Janela Indiscreta
 
quarta-feira, novembro 19, 2003  
“With a simple transistor set you can be in the eternal snow and right in
the middle of society all at the same time .” Thomas Bernhard



Photo © Sepp Dreissinger 1988

Confesso, há elogios que me ficam a bailar nos olhos. Apetece-me logo retribuir, enviar prendas, por isso aqui vão, dois poemas de Thomas Bernhard, do livro “Na terra e no Inferno” (traduzido por José A. Palma Caetano para a Assírio & Alvim), para o Crítico.

Que farei…

Que farei
quando já nenhum palheiro mendigar para a minha existência,
quando o feno arder em aldeias húmidas,
sem coroar a minha vida?
Que farei
quando a floresta crescer apenas na minha fantasia,
quando os regatos só já forem artérias vazias e lavadas?

Que farei
quando já das ervas não vier qualquer mensagem?
Que farei
quando estiver esquecido por todos, por todos…?


Cansado

Estou cansado...
Com as árvores entabulei conversas.
Com as ovelhas sofri o horror da seca.
Com os pássaros cantei nas florestas.
Amei as raparigas da aldeia.
Ergui os olhos para o Sol.
Vi o mar.
Trabalhei com o oleiro.
Engoli o pó da estrada.
Vi as flores da melancolia no campo do meu pai.
Vi a morte nos olhos do meu amigo.
Estendi a mão para as almas dos afogados.
Estou cansado...

posted by Anónimo on 22:16


 
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