"Agora, só me apetecia que o Vasco Graça Moura também aderisse à moda dos "blogs", e assim as minhas noites blogistas ficariam mesmo completas." diz hoje Isabel Coutinho no Mil Folhas, depois de recomendar uma visita ao blog do José Pacheco Pereira, Abrupto.
Não sei se Vasco Graça Moura é de modas, mas bem podia entrar nesta blogesfera.
Não faço a mínima ideia qual seria o título do seu "blog". Agora quanto ao conteúdo, não é muito difícil adivinhar. Certamente ( ?) iria projectar toda a sua erudição, de mão dadas com a ironia; iria alternar um post em francês, outro em inglês, um italiano, outro em português.....,bem logo que não dissertasse durante dias porquê é que não gosta do Fernando Pessoa, nem do Samuel Beckett e que escrevesse sobre a "música" de Thomas Bernhard (porque é um escritor de que gosto mesmo mesmo muito), que colocasse poemas ecfrásticos,bons poemas traduzidos do italiano pra português, poemas e etc e etc, assim as minhas noites blogistas não ficariam mesmo completas, mas certamente muito mais completas.
Pra mim, noites blogistas mesmo completas, vejo com "blogs" do José Gil, Maria Filomena Molder, João Miguel Fernandes Jorge (neste teria que ter muitas imagens, quadros, fotografias, etc), João Barrento,.............
E se todos tivessem a mesma postura que José Pacheco Pereira está a ter no seu "blog", seria então excelente.
Já agora, deixo a pergunta: Quem é que gostariam que aderisse(m) à moda do "blog"?
Tenho para ler (de borla, directamente da Biblioteca Almeida Garrett) o delicioso, e já meio lido, “A teoria e o cão / Os caminhos que tomamos” de O. Henry (mais um gato maltês da Assírio & Alvim) e “O Complexo de Portnoy”, de Philip Roth (da Bertrand).
O olho responde ao ataque da luz.
O olho responde à cor planificada.
O olho responde ao ataque do olho.
O olho agride com luvas.
O olho irresponde à bomba atômica.
O olho, alavanca do quadro.
O olho responde à língua, ao ouvido.
O olho não tateia: vai ao núcleo.
O olho constrói no futuro.
O olho dispara a câmara lenta, a câmara veloz.
O olho espicaça meu poder de construção; por isto sofri
de pintura informal como do duodeno.
O olho amarelo expulsa o olhar azul.
O olho do pintor resfolega.
Créé en 1981, L’Orchestre de contrebasses réunit six contrebassistes français qui se sont unis pour faire oublier au public toutes les idées reçues et les poncifs concernant leur instrument. Les musiciens explorent toutes les façons de faire sonner une contrebasse, se dégageant complètement de toutes les conventions et de tous les académismes. Les formes les plus diverses de musique sont tout à tour convoquées sur scène pour le plaisir des spectateurs: classique, jazz, hip hop, musique contemporaine…
Le travail sur les rythmes et les sons se concrétise également dans la partie visuelle du spectacle: l’orchestre de contrebasses n’est pas un ensemble statique à écouter les yeux fermés. Les musiciens se font aussi acteurs et parfois même marionnettistes, utilisant leurs instruments comme des personnages avec lesquels ils font corps.
Les six musiciens qui composent l’orchestre de contrebasse sont Christian Gentet, Jean-Philippe Viret, Yves Torchinsky, Olivier Moret, Etienne Roumanet et Xavier Lugué. Ils interprètent: Un petit air de la musique de l’air, Cardamome, L’Effet sonore, Tabasse ta basse, Pause, Kora Song, Heureuse qui comme Ellis, Not Portninwak, Week-end à Deauville, La Plume, Celtic Dream, Dors Adèle, Father moqueur, Bass, bass, bass, bass, bass and bass, Tango et Noire est la nuit.
Concert (2002, 91’) enregistré à la Base sous-marine (Bordeaux), réalisation : Laurent Lespéron. Coproduction France 3, les films JackFébus, Angle Productions et Mezzo.
Algumas proposições com pássaros e árvores que o poeta remata com uma referência ao coração
Os pássaros nascem na ponta das árvores
As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra
quando o outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada e não se dá bem na poesia
não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração
Que objectos é que estão em vias de desaparecimento?, pergunta o Abrupto
Em primeiro lugar, coloco o ferro de passar. Ainda não é uma constatação mas um desejo. É um objecto que me faz ranger os dentes, vivo à espera do anúncio da sua morte e creio que não deve ser difícil criar fibras orgânicas geneticamente modificadas para não encorrilhar. Não é politicamente correcto mas é o que eu espero: camisas de algodão ou linho, sempre prontas a vestir. Aliás, há-de surgir roupa tecnológica, com controlo de temperatura, roupa que massage e amacie a pele, roupa com perfume (esta decerto com uma vertente especial - extra - para intelectuais).
Continuando na lida da casa, será que o passe-vite resistirá? O tanque de lavar roupa felizmente já quase não se vê. E o sabonete está a ser substituido por cremes.
Creio que as disquetes, zips, cds e outros suportes de armazenamento de dados também não vão resistir muito. Serão desnecessários quando pudermos enviar informação a alto débito por fios ou, melhor ainda, sem fios.
O rato do computador também deverá desaparecer. O “Minority Report” já lançou pistas para uma relação com o computador muito mais interessante e corporal e há muita gente a tentar pôr o computador a ouvir e perceber o que nós dizemos.
A televisão vai ser engolida por um super computador dedicado ao lazer e comércio (e disposto a engolir-nos a nós em seguida).
Tudo o que é impresso - livros, revistas, jornais, painéis e folhetos publicitários - também tem os seus dias contados. Vão ser muito chorados (principalmente os livros), mas francamente a indústria de pré-impressão e impressão são extremamente poluentes e devem ser substituídas. Quando encontrarem o suporte certo para as palavras gráficas suspeito que os livros de papel transformar-se-ão em objectos caros e raros, de colecção.
Os atacadores dos sapatos também poderão desaparecer, à semelhança do que aconteceu com colchetes, fitas e brocados e tudo aquilo que se encontra nas retrosarias, lojas completamente anacrónicas. E aquelas revistas com esquemas para fazer crochet, será que ainda existem?
Os ábacos (que ainda há pouco eram os instrumentos utilizados nas lojas dos países de leste, num exemplo de perfeito dessincronismo) já desapareceram há muito, substituídos por máquinas de calcular.
As máquinas de escrever também estão a desaparecer, assim como desapareceu o enfadonho e barulhento telex. Os telefones largam os fios e ganham memória e olhos. O mata borrão e papel químico são difíceis de encontrar e parece que já não existe o odioso e burocrático papel azul de 25 linhas.
Os manguitos verdadeiros, de pano, e que serviam aos escrivãos do princípio do século XX, mas também ao meu merceeiro, já não os vejo há muito.
Os fósforos estão em vias de desaparecer e desta vez nenhuma lei os poderá proteger.
Mas há um objecto que vai ainda durar muito tempo: a caneta. A imagem que me ocorre é do “2001 - Odisseia no espaço”: Heywood Floyd adormece e uma caneta escapa dos seus dedos e fica a pairar no espaço.
p.s. Em 97, a revista Wired comparou os objectos inventados (em 1968) para o "2001- Odisseia no espaço" com a realidade: uns acertaram, outros ficaram pelo caminho e há ainda os que estão a milhas
É possível ler o artigo nos arquivos
" Na cena portuense, Nuno Cardoso tem sido revelação fulgurante. E em Lisboa, aonde chega hoje a sua encenação da peça de Marius von Mayenburg Parasitas (Ao Cabo Teatro) _ D. Maria II/Estúdio até 15 de Junho _, tem-se acedido, desde 2002, às criações deste biénio do também director artístico do Carlos Alberto (ANCA) _ que reabre em Setembro, enquanto ele prepara A Morte de Danton de Büchner, para o São João, sem deixar a «produtiva experiência» com o Ao Cabo Teatro.
Parasitas (estreia do Porto no DN, 10 de Abril) sucede à sua encenação de textos de autores capitais, como Sarah Kane (Purificados/D. Maria II) e DeLillo (Valparaíso/Culturgest). Poesia negra, abjeccionista, como a do dramaturgo-residente da Schaubühne de Berlim (João Barrento traduziu). Dois casais incomunicantes guerreiam, destroem, parasitam, e autodestroem-se: Petrik (Nuno M. Cardoso) prefere a sua cobra à mulher, Friederike (Cátia Pinheiro). Ela recusa a gravidez e tenta matar-se. Do hospital sai para casa da irmã (Catarina Requeijo), já a braços com um paralítico (Tónan Quito), atropelado pelo velho Multsher (António Fonseca) que os parasita com seus remorsos.
Nuno Cardoso vê fechar aí um ciclo: «Depois da Oresteia (encenada com presos de Paços de Ferreira/Porto 2001 e filmada por Saguenail/Regina Guimarães), não se consegue olhar as coisas da mesma maneira. Abria o dia na cadeia, três horas depois ia à vida... As pessoas tentam disfarçar, mas as coisas ficam no fundo a levedar. Estas peças são sobre o amor, ou a falta dele. Só quando o tempo acaba, na morte, temos consciência do que há para fazer, mas a sociedade convive mal com isso, pedala em falso. A vida não é só isto mas, se não prestarmos atenção, qualquer dia é só isto...» "
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em um cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
En exclusivité sur ARTE, le nouveau film de Patrice Chéreau, primé au Festival de Berlin 2003. Dans cette fiction hyperréaliste, le cinéaste décrit la complexité et la richesse des rapports fraternels, et montre crûment les bouleversements causés par une maladie du sang.
Un soir, Thomas débarque chez son frère Luc. Ils ont été longtemps sans nouvelles l’un de l’autre. Thomas apprend à son frère qu’il est atteint d’une maladie du sang. Le nombre de ses plaquettes est en chute libre, il risque l’hémorragie à tout moment. Paniqué, il demande à Luc de l’accompagner à l’hôpital où il doit retourner le lendemain, après y avoir séjourné trois mois. Hospitalisé sur-le-champ, Thomas enjoint Luc de rester pour l’aider à traverser les affres de cette maladie. Dans ces moments douloureux, les deux frères se redécouvrent, franchissent des barrières qui les séparaient depuis l’enfance : l’homosexualité de Luc et la préférence de leur père pour l’aîné, Thomas. “Pourquoi c’est pas Luc qui l’a attrapée, cette saloperie?”, laisse éclater le père, alors que la maladie déchire les uns et rapproche les autres…
Knitting on the Roof (1999) é uma versão muito invulgar da banda sonora de Fiddler on the Roof (1964/1971). O cd é cheio de graça, mas ouvir The Residents em Matchmaker é verdadeiramente jubiloso.
Eu sei que futebol é assim
mesmo, um dia a gente
ganha, outro dia a gente
perde, mas por que é que,
quando a gente ganha,
ninguém se lembra de que
futebol é assim mesmo?
COLECIONE SELOS e viaje neles
por Luxemburgos, Índias, Quênia-Ugandas.
Com Pedr'Alvares CAbral e Wandenkolk,
aprenda História do Brasil, Colecione.
Mas sem dinheiro?
Devaste os envelopes da família.
Remexa nas gavetas. Há barbosas
efígies imperiais à sua espera.
Mortiças cartas guardam peças raras.
Tudo vasculhe. Um dia
arregalado à sua frente há de luzir
em arabescado fundo negro
o diamante, o sonho, a maravilha
chamada olho-de-boi 60.
Troque. Vá trocando, Passe a perna,
se possível. Senão, seja enganado
mas acrescente sua coleção
de postas magiares, moçambiques,
osterreiches, japões, e seu prestígio
há de aumentar : o baita
colecionador da rua principal.
E brigue, boca e braço,
ao lhe negarem esta condição.
Até que chegue o tédio de possuir,
a tentação do fósforo e do vento
o gosto de perder a coleção
para outra vez, daqui a um mês,
recomeçar, humílimo, menor
colecionador da rua principal.
Carlos Drummond de Andrade , Menino Antigo (Boitempo II) (1973).
Apesar da internet e da utilização massificada de telemóveis ter quase acabado com a escrita e envio de cartas, a nossa caixa de correio não vai desaparecer tão cedo e não é por causa das facturas. A verdadeira razão são as encomendas.
Já se tornou habitual ir aos correios despachar envelopes almofadados com cds, livros, fotografias ou filmes. Nem sempre conheço pessoalmente os destinatários e isso ainda torna mais interessante o envio.
No domingo, em casa de um amigo, fiquei a saber que uma encomenda demora apenas dois dias a chegar à Dinamarca e, para além dos objectos mais triviais, pode também levar, escondidas, umas nésperas mediterrânicas
É tão fácil (e tão importante) trocar objectos, por certo Mercúrio está de olho em nós e disposto a alargar as suas competências à net.
Mas onde quero chegar é aqui: hoje recebi as fotocópias do Woyzeck (mais uma vez obrigado Francisco). Não sabia da existência deste programa mas mesmo que soubesse não me passaria pela cabeça a hipótese de o encontrar. O certo, porém, é que, graças a uma simples troca de palavras, tenho na minha frente o melhor programa de teatro que há! Vou escolher uma cartolina cinzenta, bonita, para fazer uma capa, e vai ficar perfeito. Mas para já, vou ler…
Recebemos um convite para visitar a Linha dos Nodos , um weblog criado por David Luz. O seu nome vem do termo de astronomia que designa a intersecção entre o plano de uma órbita e um plano de referência unindo dois pontos opostos da órbita, o nodo ascendente e o nodo descendente.
Gostei muito deste blog e posso dar provas: uma bela tradução de um tradicional japonês … Mesmo os tesouros e as pedras preciosas embaciam se não forem polidos. / Eu passo por este mundo transitório polindo o meu espírito noite e dia….; uma notícia que dá conta que nem todo o gelo flutua; e esta citação de Feynman: … What is the pattern, or the meaning, or the why? It does not do harm to the mystery to know a little about it. For far more marvelous is the truth than any artists of the past imagined! Why do the poets of the present not speak of it? What men are poets who can speak of Jupiter if he were like a man, but if he is an immense spinning sphere of methane and ammonia must be silent?
É um blog que nos vai pôr a olhar para as verdadeiras estrelas. Parabéns David!
Au printemps de 1747, Jean-Sébastien Bach (1685-1750) se rend à Postdam pour répondre à l’invitation du roi Frédéric II de Prusse, auprès de qui réside et travaille depuis sept ans, Carl Philipp Emanuel. Le récit de ce séjour est bien connu; l’on sait notamment que le roi fit essayer au «vieux Bach» ses clavecins favoris et les instruments nouveaux de sa collection dont un pianoforte construit par le célèbre facteur d’orgues Gottfried Silbermann.
Durant cette visite, le roi soumis un thème à Jean-Sébastien Bach et l’invita à le développer, ce que le musicien fit en improvisant une longue fugue à trois voix. De retour à Leipzig, Bach continua à développer l’exploitation musicale du thème soumis par Frédéric II et composa un ensemble d’œuvres qu’il fit parvenir au roi sous le titre de L’Offrande musicale (BWV 1079) assorti de cette dédicace: «Très gracieux Roi, je présente à Votre Majesté une Offrande Musicale dont la partie la plus noble est de la main de Votre Majesté. Je me souviens aujourd’hui encore de la grâce royale toute particulière qu’il y a quelque temps Votre Majesté me voulut bien faire en daignant me jouer un thème de fugue et en me demandant très gracieusement de le traiter. Je décidais de traiter de manière plus achevée ce thème vraiment royal et de le faire connaître au monde».
L’Offrande musicale se compose de diverses pièces dont Bach n’a pas précisé l’instrumentation. Ce sont, dans l’ordre où elle sont ici interprétées, le «Ricercare a 3 voci», les «6 Canones diversi Super Thema Regium», le «Canon perpetuus Super Thema Regium» et un autre «Canon perpetuus», le «Canon a 2 Quaerendo invenientis», le «Canon a 4», la «Sonata Sopr’il Soggetto Reale» et le «Ricercare a 6».
Pour cette interprétation, l’ensemble Musica Antiqua Köln a choisi une instrumentation variable faisant intervenir entre 1 et 5 musiciens et faisant appel à un clavecin, une flûte, deux violons et un violoncelle.
Concert (1984, 47’) avec le Musica Antiqua Köln, réalisation: Mike Newman > 19h45 no Mezzo
posted by Anónimo on 16:17
'Sitting on a wine barrel, facing the sea,
in the far south, I make notes in an
authentic moleskine, a museum piece which
Bruce gave me especially for this trip...' Luis Sepúlveda
Ontem recebi uma prenda muito especial. Um moleskine. (o clássico, sem linhas, como eu gosto).
É simplesmente bonito! Pra mim, é perfeito!
É mais um lance de dados mallarmeano..........
'My sketch-book shows that
I try to catch things in the act.' Vincent Van Gogh
Obrigatória, a crónica de António Barreto sobre jacarandás (publicada pelo Público e descoberta na Montanha Mágica)
Foram semanas de inquietação. A incerteza, uma estação das chuvas que nunca mais acabava... Às vezes, temos de parar o vento para que as ondas se tornem mais suaves. Finalmente, nesta sexta-feira de manhã, em Belém, perto do Tejo, o azul do infinito anunciou o seu regresso a mostrar como o efémero pode ser eterno. Em apenas três árvores, quase imperceptíveis, as primeiras flores de jacarandá mostraram a sua cor. Há quem prefira as palmeiras bravas, mas a serenidade deste azul desafia as paixões. Dentro de poucas semanas, Lisboa será diferente. Pode o défice crescer, os estudantes fazerem greve e o parlamento falhar a sua própria reforma. Podem as gerações mais velhas gemer com a perda de valores e os autarcas lisboetas jubilar com o absurdo da construção de um casino. Pode a União Europeia fingir que não tem problemas de maior. Podem as Mães de Bragança declarar a sua impotência perante maridos libidinosos. E bem podem queixar-se, nas ruas onde abundam estas flores, os que vêm os seus carros estragados pelas "resinas" que, durante a floração, escorrem das árvores. Pode tudo isso acontecer, que nada nos fará perder a beleza estonteante dos jacarandás em flor.
...
Está calor e, apesar de o verão ainda estar a um mês, dei por mim a inaugurá-lo. O primeiro passo é arregaçar as mangas. Segue-se uma boa esplanada – e vamos fazer aqui na Janela um levantamento das que gostamos mais, não é Marta? – e depois é inevitável: um mergulho na água.
Apesar da degradação da nossa costa e da invasão turística, há ainda belas praias e é dessas que vamos falar. Algumas até são bastante literárias, assim sem rede, lembro-me de um pôr do sol em Espinho do Ruy Belo, da bela praia de Carreço do Ruben A., Afife de António Pedro, Porto Pym do Tabucchi.
Há também as praias dos filmes: bela e perturbante na “Morte em Veneza”, hilariante nas “Férias do sr. Hulot” ou romântica nos “Conto de Verão” do Eric Rohmer.
E as nossas preferidas? Eu escolho duas: uma de areia cor-de-rosa e outra, sem areal, encravada nas rochas, ambas na Graciosa.
E as vossas praias?
«– Ele que foi aquilo, Adelaide? – disse da sua alcova a Maria Sancha, anciã entrevada, suspendendo nos dedos esguios, que vão tecendo a morte, o corrupio das contas do rosário gastado do uso.
– Que é que havia de ser? O capador. Ou por aí algum amola-tesouras que chegou ao povo – tornou-lhe da cozinha a filha, que também ouvira e se maravilhara. Foi ver, para se certificar e também porque era amiga de novidades, e anunciou para dentro: – É o amolador, é. Pousou agora mesmo a tenda ali no largo.
– Abençoado homem, que assim toca de bem! – diz consigo a velha, e passa em falso duas contas do rosário, distraída a cismar coisas que a música despertaria nela. E alto, para a filha: – Tu não tens que lhe dar a amolar, Adelaide? A tesoura da costura já não anda a cortar lá muito bem... E sempre há-de haver por aí alguma faca a precisar duma afiadela...
– Olha o que está de consumida com as facas! Descanse, minha mãe, que o homem não se vai embora tão cedo. Chegou agora mesmo, ainda mal pousaria os pertences. Já lá vou, em tendo uma aberta. Ou julga que estou aqui de perna à vela?
A Maria Sancha calou-se. Para quê repontar? Só se por rabugice de velha, porque sabia bem que a filha, lidadeira e governada, não ia desaproveitar a passagem do amolador pela aldeia. Ninguém desaproveitava. Facas e tesouras e outras ferramentas de corte não levam vida fácil em Bragado, e o fio vai-se-lhes embotando, enchendo de bocas, há que rectificá-lo. Alguns têm, é certo, uma pedra de amolar na cozinha ou à entrada da porta, e nela se entretêm, num aperto, a refazer os gumes. Mas isso é num aperto. Porque não há nada que chegue ao esmeril do amolador, impulsionado ao ritmo certeiro e calmo do pedal, para deixar de novo apta para o corte, acerada como navalhas de barba, a cutelaria velha.
Que admira pois que já as donas revolvessem gavetas, à cata de facas para amolar? Algumas iam de passagem pondo olho em pote ou caçarola precisados de um pingo de solda, não calhasse por aí ser o amolador artista de amba-las-artes, como tanta vez sucedia. Havia três anos que esperavam a chegada do amolador, embora sem saberem quem nem quando havia de vir. Mas algum tinha de vir, porque as necessidades elementares da aldeia incham e crescem, tomam voz e clamam por satisfação, e ouvem-se-lhe os gritos nos povos em redor. Um dia, algum amolador ouviria o apelo e viria, com o seu dedo hábil e o seu esmeril, dar alma nova – fio novo – às facas cansadas. Certo como as aves-frias no Inverno.»
...
Voltou a enterrá-la. Durante 15 anos manteve-se calado. "Senão, linchavam-me vivo. Só falei com Raed, porque me disse que tinha visto os autocarros ao levar comida ao irmão. Nunca mais falámos sobre isto. Esta é a primeira vez que falo. Agora já não tenho medo."
Lou Reed is a bit of a hero of mine. When I was nine, Walk On The Wild Side was number 10 in the charts, and there had never been a record so languid and funky and cool and sexy. Doo de doo de doo de doo... So many of us wanted to be Lou with his shades and leathers, making out with the he's-that-were-she's and the she's-that-were-he's in the happening New York. A few years earlier, as the boss man in the Velvet Underground, he became the godfather of punk. Some songs, like Heroin, screeched with feedback, talked about the desire to nullify life and struck a chord with so many young people. Others, such as Sunday Morning and Pale Blue Eyes, were so tender, so ethereal, they barely existed.
Simon Hattenstone não é um jornalista especificamente musical mas é, ou era, um fã do Lou Reed. Uma entrevista difícil, para ler no The Guardian
A Antena 2 tinha um Fórum de discussão na internet que resolveu fechar sem anúncio prévio nem justificação, dizem apenas que está em remodelação. As pessoas que por lá passavam (músicos, compositores – Eurico Carrapatoso, Sérgio Azevedo, Alexandre Delgado, etc –, público, ouvintes, pessoas que gostam de música, etc...) frequentam agora um outro fórum, enquanto esperam que o da antena seja posto de novo no ar.
Não consigo perceber exactamente o que é que se passa, sei que toda a RDP está em remodelação, mudança de grelhas, mudanças de trabalhadores, sinergias e mais não sei quantas palavras, com significados, muitas vezes, duplos e triplos e que me escapam.
É natural que também o site seja remodelado, é possível que reapareça em breve. É possível sim, repito, mas o mais provável é isso não acontecer porque os orçamentos das instituições culturais (quase todas ligadas ao estado) estão a ser drasticamente reduzidos e os gastos com a internet são os primeiros a sofrer restrições.
Compreendo que um fórum deste tipo tem um outro estatuto (pelo menos facilita a entrada de novos e interessantes participantes), se estiver ligado a uma instituição ou empresa cultural mas penso que é altura das pessoas começarem a mexerem-se e a tratar daquilo que gostam por sua própria iniciativa e a net é o espaço por excelência para essas manifestações. Por isso, em vez de lamentar a morte do fórum da antena 2, dou os parabéns por terem encontrado uma alternativa para falarem sobre música clássica. Aqui fica o endereço e o desejo que consigam manter discussões estimulantes.
Quem nos enviou a notícia foi O Crítico , um blog criado recentemente e que se dedica à crítica musical, critica à critica e crítica em geral. Fui espreitar e gostei das intenções (mas vejam lá não abusem da parte crítica aos críticos, senão perde-se a música). Já agora, e para evitar um equívoco, eu não percebo quase nada de música clássica, as abordagens feitas aqui na janela são sempre muito impressionistas, muito pouco explicáveis (claro que não sou a minha homónima do Público).
Não durmo. Acontece a quem toma chá de tília ao fim da tarde e lhe soma umas sete ou oito chávenas de darjeeling depois da meia-noite. Fumo. Tento dormir. Desisto. Ouço música. Leio. Começo a ouvir os pássaros (pássaros, deveras, nada de cantos insanos resultantes da insónia) por volta das quatro e meia da manhã, chinfrim habitual nas árvores da vizinhança. Quando se faz dia, arranjo-me e saio o mais depressa que consigo, isto é, lentamente, já que o cansaço me entorpece os gestos. Trago o Aurora: uma aurora, ainda que nietzscheana - sobretudo, por vezes, se nietzscheana - é sempre uma aurora, uma forma natural de amanhecer. Desço a rua e a meio compreendo que sussurro continuamente algo que depois reconheço como parte de A Tune a Day, de Preisner – esta peça lembra-me o crescendo de calor (fresquinho, quente, muito quente) das manhãs de Verão e ficava bem num certo cd indiscreto, se não no início, pelo menos na manhã do cd. Abro o Público. Se alguém tiver o exemplar em papel, leia por favor a legenda da fotografia da página 29, a do vírus: ‘vírus da sida apanhado no momento em que sai de um linfócito para infectar outras células’. Apanhado? No momento? Por quem? Pelo fotógrafo enviado especialmente para o esperar à saída do linfócito? Estas pequenas e inesperadas delícias da eloquente arte de legendar imagens científicas alegram uma manhã :)
Diz Nietzsche:
«Modificação do sentimento do espaço – O que é que mais contribui para a felicidade do homem? As coisas verdadeiras ou as coisas imaginárias? É certo que a distância entre extrema felicidade e a infelicidade mais profunda somente assume toda a sua amplitude em favor das coisas imaginadas. Esta espécie de sentimento do espaço reduz-se constantemente sob a acção da ciência: da mesma maneira mostrou-nos e mostra-nos ainda que a terra é pequena e que o próprio sistema solar é simplesmente um ponto.»
Hoje à tarde, em casa de um amigo, ao passar os olhos por uma “Visão” (de 8 de Maio), encontrei uma Crónica do António Mega Ferreira sobre Blaise Cendrars que me fez recuar uns anos. Já não me lembro muito bem como é que cheguei aos livros dele, só sei que foi na adolescência e que gostei logo dele (do seu ar aventureiro e intrépido). Fui catando os livros de Cendrars nos alfarrabistas e lia-os com um arrebatamento próprio da idade.
O que ele queria era viver e bem se pode dizer que poucos poetas cumpriram com tanta vitalidade e empenho o seu programa: foi voluntário na primeira Guerra e perdeu o braço direito; andou pelos confins da Sibéria e explorou, rendido e deslumbrado, as intimidades do Brasil; escreveu sobre a América e sobre as Ilhas do Pacífico, que, aliás, nunca visitou. Tinha uma enciclopédia na cabeça e, quando a cabeça lhe faltava, mergulhava as mãos generosa e depudoramente na prosa dos outros para alimentar o Moloch da escrita, que o consumia impiedosamente. Era um mitómano, um inventor de fábulas, um criador de monstros; quando morreu, em 1961, aos 74 anos, continuava a anunciar 33 obras em preparação, embora esse número não tivesse variado desde o fim dos anos quarenta.
Muitos acharam que foi um aldrabão; muitos mais tomaram-no por génio. Foi um contrabandista da palavra, transportando-a de uma língua para outra (falava quatro ou cinco, entre as quais o russo, na perfeição), de livro para livro, de aventura em aventura. Há lugares que se repetem, ideias que surgem, repisadas, em diferentes testos, ficções extraordinárias que ele apresenta como a mais casual das realidades. Para ele, a História era o que as palavras fossem capazes de dizer sobre ele. Era um poeta, claro. E está por (re)descobrir.
O António Mega Ferreira acabou uma tradução de “O Ouro” que irá ser editado no Outono. Aqui em casa tenho a edição já muito antiga da Miniatura; “Rum” da colecção Unibolso; o esotérico “O eubage” editado pela & etc; “Poesia em Viagem”, da Assírio & Alvim; e o delirante Moravagine, traduzido pelo Ruy Belo – o meu ainda é uma edição da Ulisseia mas há uma reedição da Cotovia que, diz António Mega Ferreira, está com 50% de desconto na livraria da editora à Misericórdia (em Lisboa).
Há ainda um poema na revista “Portugal Futurista”, mais alguns traduzidos pelo Pedro Silveira e que estão agora no livro “Mesa de Amigos”, da Assírio & Alvim; algumas traduções de Aníbal Fernandes espalhadas por diversas revistas e “Brasil, Vieram os Homens” da & etc. E talvez haja mais… a (re)descobrir!
Só ontem é que dei conta que José Pacheco Pereira escrevera- pra o meu espanto-no seu blog sobre filatelia, referindo-a como um anacronismo. Ou seja: É uma cousa passada. Pois, é mais fácil imaginar um coleccionador de selos no tempo do Balzac, do que agora, no tempo da teletecnologia. É mais fácil ainda imaginar selos num museu. Mas a verdade é que os coleccionadores com os seus álbuns e simultaneamente o interesse, a paciência, o método deles mesmos garantem a sobrevivência do mundo dos selos, isto é , pequenos (ou grandes, mais no caso do selos norte-americanos) papéis, de forma, a maior parte das vezes rectângular, com valores e imagens. Agora, os selos não são meros papéis. E, para além dos seus valores, há uma história do selo, uma estética do selo e um trabalho, muita vezes solitário, de um desenhador. E também há a ciência do selo, por mais incrível que seja. Pode-se ficar indiferente à carimbos, à denteados, agora à beleza das imagens, não. Pequenos papéis que representaram e representam a história (através de retratos de reis, de políticos, de artistas, etc; através de acontecimentos políticos, etc.), a arte (muitos quadros são reproduzidos no espaço de um quadrado. Vi o quadro "Vida" de Picasso num selo francês, que passou a ser um dos meus favoritos de sempre.), a literatura, a flora, a fauna, a geografia (houve edições de selos que provocaram questões entre países), etc. Na verdade, no início, o selo ultrapassara o seu destino que era o da franquia e passara a ser uma janela pequena, um veículo cultural, educativo,pra muitas pessoas................... Em suma: não sei porquê é que estou aqui a gastar o meu latim a falar do mundo da filatelia, porque sei que é um coleccionador de selos. Ou seja: um anacronista, palavras suas.
Deixo ainda as palavras do Walter Benjamin sobre o comércio dos selos, aqui.
Comércio de selos
Para quem examina montes de velhos selos coleccionados, às vezes um selo já há muito fora de circulação, sobre um frágil sobrescrito diz-lhe mais que a leitura de dúzias de cartas. Por vezes, encontramo-los sobre postais ilustrados e já não sabemos que fazer: deveremos descolá-los ou guardar o postal tal como está, tal como a folha de um mestre antigo que tem na parte de frente e de trás dois desenhos do mesmo valor? (...) As cartas que permaneceram por muito tempo sem ser abertas adquirem algo de brutal; são deserdados que perfidamente, em silêncio, forjam a sua vingança dos longos dias de sofrimento. Muitas delas expõem mais tarde, nas vitrinas dos comerciantes de filatelia, os sobrescritos intactos repletos das marcas de fogo dos carimbos. (...)
Os selos estão pejados de numerozinhos, letras minúsculas e olhinhos. São tecidos celulares gráficos. tudo isto fervilha misturado e como os animais mais simples, continua vivo mesmo que feito em pedaços. Por isso é que, de bocadinhos de selos que se colam uns aos outros, se fazem imagens tão impressionantes. Mas nelas a vida tem sempre o cunho da decomposição, como sinal de que é composta do que já está morto. Os seus retratos e grupos obscenos repletos de ossadas e inumeráveis vermes. (...)
Selos de sobretaxa, são os espíritos entre os selos. Não se alteram. a mudança de monarcas e formas de governo passa por eles como por espíritos, sem deixar vestígios. (...)
A criança olha a distante Libéria através de uns binóculos de ópera colocados ao contrário: ali está elá, por detrás da sua réstia de mar, com as palmeiras exactamente como os selos a mostram. Com Vasco da Gama, veleja em torno de uma triângulo, que é equilátero como a esperança, e cujas cores se alteram com as mudanças de tempo. Prospecto de viagem de cabo da Boa Esperança. Quando vê cisne nos selos australianos então, mesmo sobre os valores azuis, verdes e castanhos, ele é cisne preto que só surge na Austrália e que , aqui, desliza sobre as águas de um lago, como sobre o mais tranquilo dos oceanos. (...)
É sabido que existe uma linguagem filatélica que está para a linguagem das flores como a alfabeto Morse para o alfabeto escrito. Mas por quanto tempo viverá ainda a profusão de flores entre os postes telegráficos? Não serão os grandes selos artísticos do pós-guerra, com a sua riqueza de colorido, já as sécias e dálias outonais desta flora? Stephan, um alemão, não apenas por acaso um contemporâneo de Jean-Paul, plantou, na metade estival do século XIX, esta semente. Ela não sobreviverá ao século XX.
Walter Benjamin , Rua de Sentido Único e Infância em Berlim por volta de 1900, Relógio d' Água.
Já agora, José Pacheco Pereira, diga-me se não gostaria de encontrar um certo selo das Guianas Britânicas, que em 1856 valia um centavo e agora o seu preço é incalculável.
Francis Bacon (Triptych Inspired by T.S. Eliot's poem "Sweeney Agonistes", 1967 )
''The host with someone indistinct
Converses at the door apart,
The nightingales are singing near
The Convent of the Sacred Heart,
And sang within the bloody wood
When Agamemnon cried aloud
And let their liquid siftings fall
To stain the stiff dishonoured shroud''
We are the hollow men
We are the stuffed men
Leaning together
Headpiece filled with straw. Alas!
Our dried voices, when
We whisper together
Are quiet and meaningless
As wind in dry grass
Or rats' feet over broken glass
In our dry cellar
Shape without form, shade without colour,
Paralysed force, gesture without motion;
Those who have crossed
With direct eyes, to death's other Kingdom
Remember us – if at all – not as lost
Violent souls, but only
As the hollow men
The stuffed men.
II
Eyes I dare not meet in dreams
In death's dream kingdom
These do not appear:
There, the eyes are
Sunlight on a broken column
There, is a tree swinging
And voices are
In the wind's singing
More distant and more solemn
Than a fading star.
Let me be no nearer
In death's dream kingdom
Let me also wear
Such deliberate disguises
Rat's coat, crowskin, crossed staves
In a field
Behaving as the wind behaves
No nearer --
Not that final meeting
In the twilight kingdom
III
This is the dead land
This is cactus land
Here the stone images
Are raised, here they receive
The supplication of a dead man's hand
Under the twinkle of a fading star.
Is it like this
In death's other kingdom
Waking alone
At the hour when we are
Trembling with tenderness
Lips that would kiss
Form prayers to broken stone.
IV
The eyes are not here
There are no eyes here
In this valley of dying stars
In this hollow valley
This broken jaw of our lost kingdoms
In this last of meeting places
We grope together
And avoid speech
Gathered on this beach of the tumid river
Sightless, unless
The eyes reappear
As the perpetual star
Multifoliate rose
Of death's twilight kingdom
The hope only
Of empty men.
V
Here we go round the prickly pear
Prickly pear prickly pear
Here we go round the prickly pear
At five o'clock in the morning.
Between the idea
And the reality
Between the motion
And the act
Falls the Shadow
For Thine is the Kingdom
Between the conception
And the creation
Between the emotion
And the response
Falls the Shadow
Life is very long
Between the desire
And the spasm
Between the potency
And the existence
Between the essence
And the descent
Falls the Shadow
For Thine is the Kingdom
For Thine is
Life is
For Thine is the
This is the way the world ends
This is the way the world ends
This is the way the world ends
Not with a bang but a whimper.
"Millhouse" é um documentário de contornos inesperados. O autor, Emile De Antonio, é um dos nomes malditos do cinema americano. Artista radical com ligações a Warhol, Johns, Stella e Rauschenberg, De, como ficou conhecido pelas pessoas do meio, começou por atrair a atenção das autoridades americanas com "Point of Order", de 1963.
Aí, trabalhando com material de arquivo respeitante aos interrogatórios do senador Mcarthy, produziu um violento libelo contra a caça às bruxas e, a partir de então, ficou sob a vigilância do FBI.
Os filmes que se seguiram, nomeadamente "In the Year of the Pig", de 1969, um ensaio sobre a guerra do Vietname, ajudaram a consolidar a sua reputação de cineasta radical. Mas foi com "Millhouse", de 1971, que Emile De Antonio, fez o pleno da contestação por parte da América conservadora. O objecto do filme é o ex-presidente dos Estados Unidos, Richard Milhous Nixon. Trabalhando, uma vez mais, sobre materiais de arquivo, muitos deles obtidos, aliás, de forma rocambolesca para escapar à vigilância policial, o realizador optou por um registo satírico que faz de "Millhouse" um dos raros documentários políticos estruturados em termos de comédia.
Daí também, a sua eficácia e o sucesso que então obteve. Emile De António negou sempre qualquer espécie de reserva pessoal para com Richard Nixon, argumentando que o que estava em causa era, fundamentalmente, o sistema político americano. Mas, a verdade é que "Millhouse", pelo retrato que faz do carácter de Nixon, foi um filme premonitório: o mundo saberia do escândalo de Watergate dois anos mais tarde.
Não li a notícia do Expresso sobre os blogs mas não gostei da frase citada na A Coluna Infame Blog de Esquerda, Blogue dos Marretas e O País Relativo: «O que nenhum "blogueiro" escreveu foi que a escrita, as ideias e a cultura de José Pacheco Pereira vêm reforçar qualitativamente uma "blogosfera" de expressão portuguesa onde a imensa maioria do que se publica não ultrapassa a fasquia da inutilidade».
Para além de não ser verdade o tom é presunçoso. Se a blogosesfera estivesse realmente nesse grau tão baixo e inútil o que é que o José Pacheco Pereira viria aqui fazer? Porque o que tenho gostado de ver no Abrupto é o diálogo que tem mantido com outros blogs, por exemplo, a conversa estabelecida com A Montanha Mágica é extremamente estimulante, e se um jornalista não consegue ver isso, é porque não quer.
Não vale a pena dizer mais nada, subscrevo a resposta dos quatro blogs.