Constói o teu filme sobre o branco, sobre o silêncio e a imobilidade.
*
O silêncio é necessário à música, mas não faz parte da música. Ela apoia-se nele.
*
Só há pouco tempo e a pouco e pouco é que suprimi a música e me servi do silêncio como elemento de composição e como meio de emoção. Dizê-lo, sob pena de seres desonesto.
[...]
Em certos momentos, Notas sobre o Cinematógrafo parece um diário; noutros, a exposição de um credo estético; noutros ainda, poema em prosa. Mas sempre o mesmo despojamento, próprios de um homem que, ao mesmo tempo, sabe para onde vai e se deixa surpreender pelo que encontra no caminho. Seria possível escolher um fotograma para cada aforismo bressoniano (e poucas obras como as suas se decompõem tão transparentemente em fotogramas), mostrando assim que há uma continuidade absoluta entre obra escrita e filmada, e fazendo mesmo um paralelo com Cocteau, que dividia a sua obra em «poesia cinematográfica», «poesia dramatúrgica», «poesia romanesca», e por aí adiante. Também em Bresson não há verdadeira separação entre as duas facetas, e estas Notas são, certamente, parte importante da obra do cineasta. Nenhuma tentativa de justificação, nenhuma vaidade, apenas por vezes a atitude de quem sabe que está a criar uma obra que importa, e que, por isso , não se preocupa com falsas modéstias nem com agradar a todos. Porque a continuidade entre os filmes e este livro prolonga-se na continuidade entre obra e artista, ou melhor, entre a obra e o homem. Se a arte de Bresson é, no sentido mais nobre, arte religiosa, ela não pretende reverter ao anonimato do construtor de catedrais. É uma obra posterior à noção do sujeito, ao estatuto de artista. É, por isso, uma obra espantosamnte individual, mesmo na sua universalidade.
Bresson não foi um pioneiro nem um discípulo, mas um artista do visível que não se contentava com o visível. Estilo pensado, ideias claras, exigência ao serviço de uma verdade, subtileza, abertura ao mistério, verdade interior e não aparente: eis o seu modo único de estar nessa arte do século que foi o cinema. Não só nos filmes, mas também nestas imprescindíveis Notas sobre o Cinematógrafo
Carta de Mozart, acerca de alguns dos seus próprios concertos (K. 413, 414, 415): «Eles estão no justo meio entre o demasiado difícil e o demasiado fácil. São brilhantes..., mas falta-lhes pobreza.»
*
Montaigne: Os movimentos da alma nascem com a mesma progressão que os do corpo.
*
Aproximação inabitual dos corpos.
À espreita dos movimentos mais insensíveis, mais interiores.
*
Não filmar para ilustrar uma tese, ou para mostrar homens e mulheres apenas no seu aspecto exterior, mas para descobrir a matéria de que são feitos. Atingir esse «coração do coração» que não se deixa captar nem pela poesia, nem pela filosofia, nem pela dramaturgia.
*
Imagens e sons como pessoas que travam conhecimento no caminho e já não podem separar-se.
Je me suis permir de le tripatouiller parce que ce n’est pas une chose parfaite, comme ses grands romans. Je ne serais jamais permis de toucher aux “Possédes”, aux “Karamazov”, à “L’Idiot”. Cette nouvelle a été écrite trop rapidement. Elle est très embrouillée et je me suis permis de m’en servir. J’ai fait une adaptation en quelques jours. (…) Dostoievski, c’est un peintre du dedans. Il découvre sans expliquer. L’ennui avec les écrivains psychologiques, c’est qu’ils expliquent ce qu’ils découvrent. (…)
On m’a assez reproché de ne pas m’expliquer. Mais est-ce qu’on explique des choses dans la vie? Dans la vie, les gens ne s’expliquent pas eux-mêmes.
Je crois que nous, réalisateus, nous ne réalisons rien du tout. Nous prenons du réel tel qu’il est, nous n’avons pas à démontrer quelque chose, mais à essayer de trouver, d’aller au fond des êtres, jusqu’à l’âme de l’âme d’un être humain, ce qui ni la poésie, ni la dramaturgie, ni la peinture, ne rien ne sont encore parvenus à rendre. Je crois que cette caméra, que ce magnétophonne sont des instruments en profundeurs, et que c’est cela leur destin, et pas du tout d’aller prendre des acteurs, les faire jouer la comédie et les photographier.
Robert Bresson, Cannes 1971, Amis du film et de la télévision nº 185, octobre 1971
Também tenho sob escuta os cds com os vencedores do Festival da Canção de 1964 a 1993 cuja capa, infelizmente, não encontrei; todavia, encontrei uma página fantástica cheia de imagens nostálgicas e outra página onde poderão ouvir esse clássico da canção ligeira desse grande nome da música nacional António Calvário: mocidade, mocidade (porque fugiste de mim?). A minha primeira ideia foi trazer para soar aqui na Janela, mas, mal tentei sacar o url, disseram-me: "Compra o cd nas lojas !"; é a vida.
posted by camponesa pragmática on 17:04
Na manhã seguinte Cesare Pavese não pediu o pequeno almoço
Na manhã seguinte Cesare Pavese não pediu o pequeno almoço
Logo que desceu do comboio,
só, atravessou a cidade deserta,
entrou sozinho no desocupado hotel,
franqueou a porta do quarto individual,
e escutou com assombro o silêncio.
Dizem que levantou o auscultador
para chamar a alguém
mas é falso, completamente falso.
Como se houvesse alguém a quem chamar -
ninguém vivia na cidade, ninguém no mundo.
Ingeriu a água, as pequenas drageias,
e esperou a chegada do sono.
Com um certo receio pela sua saúde -
tinha pela primeira vez firmado a sua existência -
talvez curioso, com amolecidos gestos,
sentiu chegar o peso das pálpebras.
Horas depois - um enigmático sorriso
desenhava-lhe os lábios -
a si mesmo anunciou, convictamente,
a única certeza que no fim tinha adquirido:
jamais voltaria a dormir só num quarto de hotel.
Juan Luis Panero
Nota: Lídia, tenho saudades do Juan Luis Panero. Leva-o logo, por favor.
Há sete pessoas n’ A Montanha: três num plano aproximado; três num plano intermédio; e a última quase fora de campo. Sempre que olho para este quadro tenho a impressão que vemos o sonho dela. Mas não consigo perceber o que me atrai mais: a evidência da luz e do gesto ou a sombra?
Fui tomar café muito rapidamente a meio da tarde. Pequeno café tinha televisor ligado num canal português. Fiquei agarrada assim que olhei. Era um programa de entretenimento, daqueles que passam a meio da tarde, e uma mulher cantava. Cantava coisa nenhuma. Havia uma melodiazeca e um acompanhamento frouxo, aquele tipo de som que não é nada e que por isso espanta, irrita, assusta e é incompreensível, e a voz dela também não era nada, nem estridente, nem grave, era um som de garganta atrás de algo vagamente melódico que, como eu já disse, embora na forma aparentasse ser música, também não era. Havia palavras mas não diziam nada.
Mas pior foi a seguir eu perceber que havia um público e julgo que dois apresentadores. Estas pessoas, enquanto a mulher cantava coisa nenhuma, batiam palmas. Batiam palmas a um ritmo muito, muito lento. Como o das leituras rítmicas na primeira semana de aulas. Estas palmas eram perfeitamente uniformes. As pessoas estavam sentadas perfeitamente quietas. Mexiam os braços para bater palmas. Pulsos imóveis. Todas iguais. A mulher não cantava coisa nenhuma.
Eu já não vejo televisão há muito tempo mas o meu parâmetro de horror era o da programação entre as 19 e as 22 ou 23 horas. A meio da tarde não sabia que era isto. Isto que eu vi nem era pimba, nem era horrível, nem era a adaptação televisiva de um romance de ficção científica, era o que eu imaginava depois disso no futuro, mas hoje, foi hoje, e era só vazio. Vazio verdadeiro.
Começou antes do tempo dos piores livros. Por isso coloquei e tirei aspas, fiz e desfiz os itálicos na frase de Walter Tevis e acabei por deixá-la assim, por me parecerem mais necessárias as aspas e os itálicos no livro, mais irreal e mais longínquo que este dia.
Alguém me diga, por favor, que isto que eu vi foi uma partida de 1 de Abril.
Eu não compreendo isto, muito honestamente. Que seja possível não sentir algum pânico com estas coisas. E que se deixem continuar, que sejam consideradas normais, que se possa acreditar que daqui vem bem estar para quem quer que seja. Não é o direito ao mau gosto, é o vazio, e o vazio é vazio, isto é, coisa nenhuma, a desumanização total.
Um dia destes eu deixo de pagar impostos. Pena é não haver prisão e eu não poder depois dizer, como David Thoreau dizia sobre a escravatura, que num Estado que permite a desumanização o único lugar decente para pessoas com consciência é a prisão.
Mohammad Haghighat: With regards to your method of working, at which stage did you discover its form?
Mohsen Makhmalbaf: This film is like a travel guide. Its form came to me whilst writing the screenplay and evolved whilst filming. For example, the wedding scene was made up on the spot. When you look at these women wrapped in their burkas, there is an esthetic harmony on the outside, but on the inside, under every burka, there is suffocation. It’s a strange contradiction. As they do not have the right to show their physical beauty they use the beauty of their clothing.
At times the sound and even the directing, towards the end of the film, remind us of certain works by Pasolini …
Those murmured songs, which to us seem strange songs for a wedding ceremony.
I had never before heard such sad songs to celebrate a marriage.
[...]
— Já não sou daqui.
Foi o que disse Bartleby, como se fosse Scapolo, aquele ser estranho, metade Kafka e metade Bartleby que anda por aí com o casaco todo abotoado, as mãos nos bolsos, que lhe ficam altos, os cotovelos salientes. O chapéu enterrado até aos olhos, um sorriso falso, já inato, que deve proteger a sua boca, como as lentes protegem os seus olhos; as calças são mais estreitas do que convém esteticamente a umas pernas delgadas. Mas toda a gente sabe o que se passa com ele: podem enumerar-se todos os seus sofrimentos.
— Já não sou daqui — sussurrou Bartleby com a voz trémula de Heinrich von Kleist diante do túmulo da amada.
E foi embora.
E tudo isto que em cima escrevi é pura verdade e foi copiada (por descanso de alma), palavra por palavra de um minucioso estudo sobre o princípio malígno de Bartleby. Talvez seja ridículo dizer que continuamos a gostar do Bartleby, que o receberemos sempre e que prometemos escrever-lhe cartas de amor. Mesmo que ele prefira que não o fizéssemos. Estamos tristes e nada mais temos a acrescentar.
And storms are formed behind the storm we feel:
The hemlock shakes in the rafter, the oak in the driving keel.
[...] Ora eu entendo que a criança pertence ao Estado, como expressão jurídica da Nação. Todos, desde que nascem, pertencem, evidentemente, mais ao Estado, que personifica a origem comum, do que a si mesmos, e nem pode uma mãi dar à luz um filho para destino mais nobre e mais elevado do que vê-lo morrer pela sua Pátria.
A criança pertence à Nação, inclusive, para, quando homem, morrer por ela.
Mas se assim penso, do mesmo modo entendo que, se o Estado tem interesse directo na educação da criança como germe de um futuro valor nacional, deve entregar a sua educação à família. Essa educação, de índole essencialmente maternal, deve também ter um ambiente maternal, e esse ambiente só a família o pode proporcionar.
Tenho, pois, de concordar absolutamente com que se entregue a educação pre-escolar da criança à família. É ela, evidentemente, o melhor meio de a educar. Mas para isso temos, indeclinàvelmente, de procurar melhorar as condições morais da família em Portugal.
Isto não quere dizer que o modo de ser das famílias em Portugal constitua um motivo para nos sentirmos alarmados. Pelo contrário, no edifício que erguemos, e em que a família, como agregado social, é a pedra angular, podemos sentir-nos tranquilos com o que ela nos oferece no tocante à sua moral.
O que precisamos de combater na família portuguesa é o seu obscurantismo, a sua ignorância, o seu espírito retrógrado. Caso contrário, não conseguiremos que Portugal progrida como é necessário.
É claro que na base do problema da elevação moral da família está o combate a dar a certos usos e costumes que, talvez por serem considerados elegantes, têm conseguido introduzir-se lamentavelmente entre nós como cousa corrente. Com efeito, para que o ambiente familiar melhore, ou pelo menos não sofra prejuízos importantes, não seria desacertado que o Estado interviesse para corrigir certas usanças actuais. Na verdade não faz sentido que a família seja o agregado social em que o Estado se baseia e que, ao mesmo tempo, nas praias elegantes se exiba o nudismo e que nas pastelarias, casas de chá e um pouco por toda a parte se exibam donzelas e mais de família a fumar como fragateiros.
Isto, se não são invenções comunistas, são hábitos comunizantes, que não deixarão ir muito longe a moral da família, por maiores esforços que façamos para a elevar.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem![...]
1938-03-30
posted by camponesa pragmática on 18:33
Excerto parlamentar
[entre os meus fetiches conta-se este de ler debates parlamentares]
O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, antes de darmos início aos nossos trabalhos, eu desejava dar-vos uma informação. Pelo muito respeito que tenho por todos vós, per esta Assembleia, por este órgão de soberania, não podia deixar de vos fazer esta comunicação.
No último número do jornal Expresso, sob o título «Tito de Morais clandestino» e referindo que se trata do Presidente da Assembleia da República, vem uma notícia dizendo que eu sou veraneante das casas clandestinas da ria de Faro.
E evidente tratar-se de uma afirmação ofensiva para esta Assembleia, já que pessoalmente tanto me faz que os jornais digam que frequento esta ou aquela casa, esta ou aqueloutra região. Mas é tanto mais ofensiva quanto eu nem sequer conheço a ria de Faro. Não tenho lá casa nenhuma, nem alugada nem nada. Eu nunca fui lá.
Trata-se, portanto, de uma intenção que, creio, não me é permitido deixar em claro e que de resto se vem juntar às outras do mesmo estilo.
Com a intenção de acabar com as notícias desta natureza, que, penso, nada têm a ver com a liberdade de informação, antes pelo contrário ...
Vozes do PS: - Muito bem!
O Sr. Presidente: - ..., eu entreguei o problema ao Sr. Procurador-Geral da República para os efeitos que julgue convenientes.
Era, pois, esta a informação que vos queria dar. Muito obrigado pela vossa atenção.
Aplausos gerais.
Sr. Deputado Narana Coissoró, poderá informar a Mesa se pediu a palavra? É que não temos a certeza ...
O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Sr. Presidente, de facto, eu pretendo usar da palavra logo que V.Exa. dê início formal aos trabalhos desta Assembleia.
O Sr. Presidente:- Se é essa a sua pretensão, tem V.Exa. a palavra, pois eu já declarei aberta a sessão.
O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Sr. Presidente, o meu partido, no início dos trabalhos desta Câmara, respeitosamente pede a V.Exa. que nos informe do seguinte: os deputados receberam um telegrama convocando-os para a sessão de hoje, com início às 15 horas, e indicando a ordem dos trabalhos. Eu queria, Sr. Presidente, que nos dissesse em que disposição regimental se baseou V.Exa. para mandar este telegrama e qual a interpretação que lhe dá para que os trabalhos possam ser iniciados com base num telegrama.
Afinal há Mattotti a cores em português: Doutor Jekyll & Mister Hyde, de Mattotti & Kramsky, Witloof edições, 2002.
[...]
Todas as artes têm as suas fórmulas, e um desenhador experimentado sabe sempre como abordar uma determinada cena, com jogos de planos gerais e grandes planos, campos e contracampos. Em Mattotti, vivemos numa espécie de sobressalto permanente, porque nunca sabemos o que pode acontecer na próxima vinheta: uma sombra contra uma parede?, um olho ao virar de uma esquina?, metade do arco-íris numa calçada? É a imaginação à solta.
Em Doutor Jekyll & Mister Hyde, Mattotti está no seu meio. Numa história que assenta como uma luva ao expressionismo alemão dos anos 20, com o doutor Jekyll a desdobrar a sua personalidade e a acabar refém da metade maligna que há em si, onde Bacon é uma referência evidente, o autor italiano aproveita para explorar a esquizofrenia através da magia dos seus quadros-vinhetas. A um passo da pintura, a um dedo da BD.
Mil coisas estranhas se passam em Paris. As aventuras de Adèle Blanc-Sec, pela Witloof:
"Adèle est la cousine de Brindavoine, c'est le même genre de personnage au féminin. Mais là où Brindavoine subissait, Adèle provoque les événements, et elle contrôle mieux la situation."
Propos de Tardi (sources non définies)
"On m'a souvent interrogé sur son caractère. Mais je suis incapable de le définir. Elle n'a certainement pas la mentalité de l'époque et je n'ai jamais cherché à coller à cette mentalité-là. Elle n'a pas très bon caractère. Elle exerce le même métier que moi: elle écrit des feuilletons parce que je l'imaginais mal pratiquer une profession que je n'aurais pas connue. Je pense qu'elle va à ces rendez-vous pour que j'ai quelque chose à raconter."
Propos de Tardi recueillis par Benoît Mouchart pour Auracan N°10, Mai-Juin 1995
"Adèle est une petite nana normale, ni belle, ni laide. C'est le contrepoint au héros masculin musclé, au menton carré et qui saiqui-sait-tout-faire! Je n'aime pas le principe du héros. "
Propos de Tardi recueillis par J.P. Quenez pour Le Matin de Paris du 14 juillet 1977
"— Adèle, c'est vous?
— Certainement. Elle fait le même métier que moi."
Propos de Tardi recueillis par B. Lu pour Morfo N°34, juin 95
Al llegar a la casa vi un tigre que se paseaba despacio y luminoso por el salón, entre los cristales de Bohemia y las cajas de porcelana Ming: - No es un tigre - se apresuró a decirme el mayordomo -. No lo mire, es sólo una metáfora, y los ojos de las metáforas contagian falsas emociones poéticas!
first i learned to crawl and then some other strokes
i can never remember any real good jokes
do you feel like swimming
do you feel like swimming
yes right now
i know a way to swim all the way down town
i know a way to swim all the way down town
it's a lot like swimming first time over your head
it gets easier when you move your arms and legs
and for air you lift your head, why don't we try right now
yes right now
yes right now
well
i know a way to swim all the way down town
i know a way to swim all the way down town well
i know a way to swim all the way down town
i know a way to swim all the way down town
we'll go by way of the garden, fat with tomatoes and leaves on the vine
sweet like the way it was
like swimming for the very first time
do you feel like swimming
do you feel like swimming
well
Wislawa Szymborska, entrevistada em castelhano por Felix Romeo:
FELIX ROMEO — ¿Tiene alguna fórmula mágica para escribir?
WISLAWA SZYMBORSKA — Sé lo que quiero escribir, pero no siempre me sale. Trabajo constantemente en los poemas. Hay algunos poemas que surgen de forma espontánea... (Es mi secreto: no voy a decir nunca cuáles sales con facilidad y cuáles salen con esfuerzo.) Pero no siempre salen de forma espontánea.
FR — ¿Y cómo es la Szymborska que narra sus poemas?
WS — Creo que cada poema lo escriben dos personas. Hay una persona que es la que siente las cosas, la que las experimenta, la que piensa. Y otra persona, que está detrás de mí y dice: "¿no estarás exagerando?, ¿qué va a entender el lector de lo que estás escribiendo?, y, además, ¿para qué le sirve?". Ese yo irónico está siempre, pero si desaparece escribiré muy malos poemas... ¡Y si desaparezco yo, también serán malos! [risas].
FR — Utiliza un lenguaje muy especial.
WS — Mi lengua es una lengua viva. Utilizo frases hechas, lengua coloquial, juegos de palabras, que no necesariamente funciona en otras lenguas... La suerte de los poetas en el exterior depende de los traductores. En otra lengua el traductor es fundamental. Si el traductor no capta los matices, el poeta no existe... Fuera de Polonia estoy en manos de los traductores. Ellos tienen el mérito o la culpa.
FR — ¿Hablamos de los temas de su poesía?
WS — Todos mis poemas nacen del amor. Diría incluso que todos los poemas nacen del amor, incluso aquellos que transmiten el mal tienen en el fondo una forma de amor hacia el mundo. Estoy totalmente convencida de que es así... Y si no es así, lo siento por esos poetas.
FR — ¿Y el odio?
WS — Tengo un poema sobre el odio, que es verdaderamente un sentimiento del siglo XX, el más fuerte, el que encuentra más seguidores. Y eso es algo horrible. Quizá en algún momento fue necesario, cuando se reaccionaba a lo extraño, pero ahora el odio es un sentimiento horrible. Aunque parece más fácil que un loco propague sus ideas con los nuevos medios. Antes, alguien llegaba y se subía a un cajón en una plaza y se ponía a hablar con un megáfono a la gente... Todo era más pequeño. En esta misma ciudad hubo una fuerte experiencia de odio. Incluso ahora se oyen los gritos en el barrio judío de Cracovia. No podría vivir allí. No se puede vivir allí. En Cracovia vivían ortodoxos, católicos y judíos. Había una especial convivencia que Filipovich, un fabuloso escritor, muy universal, que supera la prueba del tiempo, retrató muy bien en unos relatos de infancia... Pero ese clima cambió.
FR — En sus poemas aparecen muchos animales. [Se levanta y coge una pequeña Arca de Noé. Se la acaba de regalar su amigo el escritor Slawomir Mrozek, autor de Juego de azar y de La vida difícil, que también vive en Cracovia].
WS — No imagino la poesía sin los seres que nos acompañan en la vida: los animales, las plantas... e incluso las piedras. Mi animal preferido es el mono. [Señala uno que estira las patas hacia el mar en la borda del Arca]. Me encantó un libro de Jane Goodall, A través de la ventana: treinta años estudiando a los chimpancés, en el que cuenta su investigación en Tanzania con los primates y con los chimpancés. No los estudió como un grupo, sino que los estudió como individuos. Estuvo años siguiéndolos de uno en uno, investigando cada animal en concreto y descubrió que uno era individualista, otra era una mala madre, otra era muy cariñosa, otro era muy travieso... Se trataba de una forma de estudiar a los animales desde una perspectiva totalmente diferente. No me imagino otro enfoque distinto al del análisis individual. Todos somos un poco diferentes. El hombre se somete a diversas ideas de grupo y no siempre es bueno. Porque a veces el hombre no es siempre una individualidad sino que es una especie. El hombre tiene rasgos de especie...
FR — En sus poemas aparecen muchos sueños.
WS — Escribo de la realidad y los sueños también son una parte de la realidad. Creo que lo dijo Goethe: todo poeta sabe qué quiere escribir pero no se da cuenta de lo que ha escrito.
FR — Además de escribir poemas, está haciendo collages.
WS — Mis collages son un juego. Hoy veo muy clara la diferencia entre la forma de hacer literatura y la forma de hacer arte. La escritura requiere soledad, aislamiento, trabajo y cansancio. Pero he visto a pintores trabajando mientras hablaban, riéndose, rodeados de gente, y eso es absolutamente imposible para un escritor. Necesito tiempo y que nadie me moleste. Mis collages son un juego, para que la gente los disfrute. Son mi forma de descansar. Me canso mucho escribiendo.
FR — Pero sigue escribiendo sin parar.
WS — Aún estoy viva, para extrañeza de algunos y también para la mía. Y soy escéptica ante la poesía, incluso ante la mía.
FR — Por eso utiliza tanto el humor.
WS — Mi poesía, como la vida, es una moneda: tiene una parte trágica y una parte cómica.
FR — Y también una parte cósmica.
WS — Recuerdo una anécdota de Filipovich: Cuando el hombre llegó a la luna (fecha importantísima para mí), mucha gente estaba en Cracovia asombrada. Filipovich estaba pescando y trataba de ver el acontecimiento con prismáticos [risas]. Una vez, caminando por los alrededores de Cracovia con Filipovich, nos paramos a identificar estrellas: esa es Marte, esa es la Osa Mayor, esa es Casiopea... y cuando nos dimos la vuelta había un enorme grupo de gente a nuestro alrededor; tanta, que al día siguiente la prensa publicó que se había producido el avistamiento de un ovni en Cracovia. Una información que nunca fue desmentida. Espero que eso hiciera feliz a alguien. Escribí un poema en el que decía que no hay que mandar bromistas al Cosmos.
FR — Le fascina el espacio, pero realmente se ha movido muy poco.
WS — No sé si es por mi signo zodiacal, soy cáncer, pero no me gusta viajar. Nací un día después (y muchos años después) que Marcel Proust, que escribió doscientas páginas para decir cómo se preparaba para ir a la playa. No me gusta viajar, pero me gusta mucho volver. Hace unas semanas estuve en Italia. Todo estaba lleno. No se podía visitar nada. En el Vaticano, en la Capilla Sixtina no se puede sentir nada... pero me lo pasé muy bien mirando las caras de la gente. Si me pregunta mi opinión mi respuesta es clara: ¡vivan las reproducciones!
FR — ¿Es cierto que estudió español?
WS — Hace mucho tiempo iba a unas clases de español. No me acuerdo de nada, pero la estructura de la lengua todavía la controlo. Leíamos fragmentos de El Quijote. No me acuerdo cómo surgió lo de aprender español. Eran los años 60, antes del boom latinoamericano. Nos daba clase un profesor que no sé si se enteraba mucho, porque se preparaba la clase el día anterior... pero tenía unos cuantos discos maravillosos con música española: canciones populares estupendas. Soy admiradora del Goya luminoso, el de los retratos, el de los tapices, el de las escenas costumbristas y el de las majas. Y he corregido a Velázquez en uno de mis collages: he sacado a una de las meninas al aire libre.
Wislawa Szymborska enciende un pall mall extralight. Antes fumaba sport, que era un tabaco muy popular. En Polonia hay un marcaje férreo sobre los fumadores. Dice que comenzó "a fumar durante la guerra por las preocupaciones y por otros muchos motivos".
FR — Hablaba antes del amor, ¿le puedo preguntar algo de los suyos?
WS — Le contaré algunas historias de mi infancia. Se dice que la infancia es maravillosa, pero está llena de sufrimientos. Cuando te enamoras, cuando quieres que te hagan caso... Cuando tenía doce años me enamoré perdidamente del novio de mi hermana que no me hacía ningún caso. Un día me vendé la cabeza y él dijo "¿qué le ha pasado a eso?". Años más tarde lo volví a ver y me pregunté cómo podía haberme enamorado. No era nada interesante. Nunca le dije nada. También había otro chico. Cuando iba a la escuela antes de la guerra, siempre iba por el mismo camino, había un chico que me seguía... Era tan tímido que no me dirigía la palabra. Me escribía cartas, en una de ellas, donde me arreglaba toda la vida -"por ti surcaré los mares, subiré a la cumbre más alta..."-decía al final: "estaré mañana bajo tu ventana si no llueve". [risas]. Estoy a favor de que todos nos mezclemos con todos. Es algo buenísimo para todo. No hay nada peor que las razas puras.
FR — Leer también es una forma de acabar con las formas puras.
WS — Leo todo el tiempo. Muchos libros de divulgación científica y de antropología, de zoología. Leo a Brodsky, con el que tenía mucha afinidad. Pero como no quiero olvidarme de nadie sólo voy a decir que leo a Rilke, con él comenzó mi fascinación por la poesía.
Via-te do outro lado
como se de um abrigo subterrâneo
saísses: cauteloso e espantado
com a luz que brilhava sobre os telhados
ainda trazias o casaco comprido de inverno
podia ter feito um sinal
podia-te ter feito perguntas
havia entre nós a rua como água
atrás de mim estavam mães sentadas no parque
em redor do museu, os filhos
levavam bofetadas até chorarem
a mim salvou-me o tempo,
a distância, este poema
Mas é verdade Alexandra, falta “coerência à narração” do Pântano. No entanto o filme está “suficientemente construído”. A lógica desse raciocínio está errada. Passo a argumentar: a história,... mas, há história no filme? Tudo nos prepara para algo que vai acontecer e quando acontece o filme acaba. Há história no filme? Uma história geralmente divide-se em partes, mais ou menos claras, e no fim podemos tirar conclusões. D’ O Pântano nada podemos concluir. Como a nossa vida, é fragmentado e inconclusivo. A montagem e os movimentos de câmara reforçam esse sentimento precário. Ninguém consegue evitar o acidente porque ninguém sabe o que vai acontecer (talvez, como tu dizes, se ouvissem os sons pudessem prever) e no entanto logo no início do filme há duas pistas: Mecha cai e Luciano corta-se, ambos vão ao hospital. É essa a história? A queda? Em vários actos? Até à queda fortuita que é o verdadeiro pântano. Mais do que a velhice ou o álcool, o racismo ou a incompreensão.
Como a vaca que se afunda nas areias, não há retorno. Como é que poderia haver coerência no relato da morte de uma criança?
No fim até a santa do reservatório de água se recusa a Momi.
Lucretia Martel aprendeu bem as histórias da avó, sabe filmar o medo, a fragilidade e a morte: Os contos negros marcaram a minha infância. A minha avó contava-me as história de Horacio Quroga como se fossem histórias que ela inventava. São contos muito mórbidos. Quroga é muito popular na Argentina. Durante toda a minha infância não tinha bem a certeza se estas histórias eram ou não da minha família. E, verdade seja dita, olhando para a minha família não era de todo impossível. A presença ameaçadora dos animais no meu filme vem daí. O filme enraíza-se nos meus medos de infância.
Ainda ouço a mosca, uma mosca que volta e meia aparece no filme, mais do que as unhas do cão no chão. Esqueci o medo do cão mas não esqueci o zumbido da mosca.