— Já não sou daqui.
Foi o que disse Bartleby, como se fosse Scapolo, aquele ser estranho, metade Kafka e metade Bartleby que anda por aí com o casaco todo abotoado, as mãos nos bolsos, que lhe ficam altos, os cotovelos salientes. O chapéu enterrado até aos olhos, um sorriso falso, já inato, que deve proteger a sua boca, como as lentes protegem os seus olhos; as calças são mais estreitas do que convém esteticamente a umas pernas delgadas. Mas toda a gente sabe o que se passa com ele: podem enumerar-se todos os seus sofrimentos.
— Já não sou daqui — sussurrou Bartleby com a voz trémula de Heinrich von Kleist diante do túmulo da amada.
E foi embora.
E tudo isto que em cima escrevi é pura verdade e foi copiada (por descanso de alma), palavra por palavra de um minucioso estudo sobre o princípio malígno de Bartleby. Talvez seja ridículo dizer que continuamos a gostar do Bartleby, que o receberemos sempre e que prometemos escrever-lhe cartas de amor. Mesmo que ele prefira que não o fizéssemos. Estamos tristes e nada mais temos a acrescentar.
And storms are formed behind the storm we feel:
The hemlock shakes in the rafter, the oak in the driving keel.