[...] Ora eu entendo que a criança pertence ao Estado, como expressão jurídica da Nação. Todos, desde que nascem, pertencem, evidentemente, mais ao Estado, que personifica a origem comum, do que a si mesmos, e nem pode uma mãi dar à luz um filho para destino mais nobre e mais elevado do que vê-lo morrer pela sua Pátria.
A criança pertence à Nação, inclusive, para, quando homem, morrer por ela.
Mas se assim penso, do mesmo modo entendo que, se o Estado tem interesse directo na educação da criança como germe de um futuro valor nacional, deve entregar a sua educação à família. Essa educação, de índole essencialmente maternal, deve também ter um ambiente maternal, e esse ambiente só a família o pode proporcionar.
Tenho, pois, de concordar absolutamente com que se entregue a educação pre-escolar da criança à família. É ela, evidentemente, o melhor meio de a educar. Mas para isso temos, indeclinàvelmente, de procurar melhorar as condições morais da família em Portugal.
Isto não quere dizer que o modo de ser das famílias em Portugal constitua um motivo para nos sentirmos alarmados. Pelo contrário, no edifício que erguemos, e em que a família, como agregado social, é a pedra angular, podemos sentir-nos tranquilos com o que ela nos oferece no tocante à sua moral.
O que precisamos de combater na família portuguesa é o seu obscurantismo, a sua ignorância, o seu espírito retrógrado. Caso contrário, não conseguiremos que Portugal progrida como é necessário.
É claro que na base do problema da elevação moral da família está o combate a dar a certos usos e costumes que, talvez por serem considerados elegantes, têm conseguido introduzir-se lamentavelmente entre nós como cousa corrente. Com efeito, para que o ambiente familiar melhore, ou pelo menos não sofra prejuízos importantes, não seria desacertado que o Estado interviesse para corrigir certas usanças actuais. Na verdade não faz sentido que a família seja o agregado social em que o Estado se baseia e que, ao mesmo tempo, nas praias elegantes se exiba o nudismo e que nas pastelarias, casas de chá e um pouco por toda a parte se exibam donzelas e mais de família a fumar como fragateiros.
Isto, se não são invenções comunistas, são hábitos comunizantes, que não deixarão ir muito longe a moral da família, por maiores esforços que façamos para a elevar.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem![...]
1938-03-30
posted by camponesa pragmática on 18:33