É um curso livre, ministrado por João Barrento e tem como objectivos: alargar os níveis de conhecimento da comunidade sobre literatura e cultura portuguesas, e sensibilizar para temáticas culturais essenciais para a compreensão do nosso século (transcrição da fotocópia conseguida com algum esforço).
O programa divide-se em quatro partes: introdução teórica, introdução histórica, a poesia portuguesa moderna e contemporânea e sua relação com as artes visuais e alguns exemplos paradigmáticos: comentário de exemplos seleccionados
O curso vai decorrer na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, de 7 a 11 de Abril, das 17h30 às 20h30.
Para mais informações e inscrições, contactem:
Biblioteca Municipal Almeida Garrett > tel. 22 608 10 00 > Iria Marques
Chagall, le peintre à la tête renversée. Amanhã às 21h45 no mezzo. Este documentário sobre a obra do pintor russo foi realizado em 84, por Dominik Rimbault e ganhou o Prémio de melhor argumento no festival international do filme de arte de Paris (1985). Vale a pena ver. É uma boa preparação para as Litografias expostas na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva (até 13 de Abril)
É a nova colecção de preço reduzido da Deutsche Grammophon. Pretende, como todas estas edições, apresentar um repertório básico, bom, e a preço acessível. Até aí não há nada de novo mas estes discos têm uma particularidade: as capas. Em vez de capas coloridas e, muitas vezes, feias e com grande dessarranjo gráfico, a Entrée piscou o olho à música contemporânea e ao jazz e vestiu-se com fotografias a preto e branco. É uma estratégia de marketing mas gostei.
Já há 21 CDs editados. A lista pode ser consultada aqui
Depois do ciclo prometido ao Tom Waits pela Cinemateca, descobri que a zero em comportamento (associação que merece toda a nossa admiração cinéfila), vai fazer uma visita à obra de Jim Jarmush, em Maio.
Li a notícia no verso da capa do Y de ontem, um bocado à pressa. Como o artigo não está on-line e a zero em comportamento ainda não diz nada sobre a programação de Maio no site, não consigo garantir se será uma retrospectiva integral, mas espero que passem Permanent Vacation e Stranger than Paradise.
Marquem na agenda o encontro com mais um filho de Lee Marvin.
Quando chegam as primeiras nêsperas
ao lado florescem as cilindras
e as folhas de bambus amarelecem.
O mirto aguarda, entre laranjeiras
elevam-se famílias daninhas.
Há quem chame Deus às legendas
que acompanham a película da terra.
Dentro (isso é certo) nas entranhas
de tudo existe um cronómetro sádico.
António Osório
Não só as árvores
Não só as árvores detinham ruídos misteriosos.
Havia o apelo tocante do amola-tesouras;
o ronronar do fogareiro do petróleo
aquecendo a cara e a cozinha;
a buzina pedinte do carvoeiro;
o atrito da roda, húmida de lama,
as mãos ágeis, deslizantes, dos oleiros;
o estremecer da lã cardada pelo colchoeiro;
a trepidação enraivecida dos canos pelas paredes;
e a corrosão mineira do caruncho
expelindo colinas de pó e escombros.
Quando morrer voltarei para buscar
os instantes que não vivi junto do mar
Sophia de Mello Breyner Andresen
Há ainda as glícinias caídas do lado
de lá do muro
o canto dos tanques no recanto do caminho
a rede na porta
a luz do sul que se fazia a norte
há na casa um calor húmido deixado pelo frio
e há Agosto
manchas de mosto num tempo ou lugar onde
a voz de Lotte para sempre ecoaria
Maria Andresen de Sousa
Na Rua das Mónicas
Nos meus vinte anos,
almoçar em casa de Sofia
era ouvir ferver em cachão, frigir
na cozinha,arfar a cafeteira da poesia.
Era ver a ama de Sofia,
e de todos os filhos,de muitos versos,
cuidar de muitas gerações de memórias,
no lar desses versos tão caseiros.
E era beber, ali, na mesa,uma água
que, mais do que a da torneira,
concitou o mar para cada copo.
Era olhar um rosto de coral
(o que exorciza as Fúrias,na cozinha)
um rosto de mar novo, de geografia.
Era escutar as palavras da boca
do vocábulo grego para sabedoria,
o que me confirma o poder dos nomes,
ao serem Verbo,sobre os seres e as coisas.
Era sentar-me, lado a lado,
no espaço irradiante da volúvel lareira,
no Outono apagada, na Primavera acesa,
e com o fogaréu alimentado
por papéis venais de outra política
(que não a da sua humanidade),
que a prudência mandava destruir no fogo.
Era entrar e sair pela porta das Mónicas,
a das mulheres congregadas
sob invocação da mãe de Agostinho,
o que para mim celebrava também
o amor de mãe, da velha ama, da Poesia.
Nada te espera, prosa.
Levanta-te e caminha, como fez o outro.
As imagens guardam o seu tempo de exaltação.
Os sentimentos, não.
Não te preocupes com o homenzinho triste
que entrava o teu caminho, a porta não adivinhada.
O homem dos quarenta anos pede-te boleia.
Não olhes, não ligues, resiste aos seus lamentos
de cabra desgarrada em cima duma pedra.
Ele quer é seduzir-te com a infância,
essas crias medrosas que nunca soube orientar
e não sabe agora o que fazer com elas.
O teu destino é outro. Continua.
Se o homenzinho chora, atira-lhe ao olhar
toda a imensidão da relva que lhe resta.
O que ele quer é seduzir-te com amores,
as fátuas labaredas do desterro
e de vergonha.
O teu futuro és tu. Cresce e aparece.
A prosa que se preza não dá ouvidos a gente
que traz nas mãos um punhado de víboras
afinal tão amestradas.
Se o homenzinho implora, indica-lhe o lugar
a que tem direito no circo:
uma pista feita de memória
e toda uma plateia que cansada urra
e que o pateia.
Nada te espera, prosa.
Deixa o homem gritar.
O mundo das imagens é só seguir em frente
e nunca alcançar a rosa.
Armando Silva Carvalho
A POESIA VAI
A poesia vai acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não
acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
Um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei: "Que fez algum
poeta por este senhor?" E a pergunta
afligiu-me tanto por dentro e por
fora da cabeça que tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
- Como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor que chegar? -
Hoje é o Dia da Árvore e dei por mim a pensar nas árvores de que gosto.
Lembro-me de uma ameixoeira em casa da minha avó, dos limoeiros do liceu, dos plátanos do Marquês, das cameleiras espalhadas pela cidade, do jacarandá que fica ao cimo da rua da Restauração, das tílias e dos rododendros do Palácio de Cristal, das árvores de Serralves, da pitangueira que vi no Jardim Colonial em Belém, das laranjeiras das ruas de Moura ou Vila Viçosa. Das magnólias que estão a invadir o Porto (mas as mais bonitas são as duas – uma branca e outra cor-de-rosa – que florescem, desencontradas, à entrada da Casa das artes), das palmeiras que se encontram onde menos se espera, dos campos de oliveiras no alentejo,das cerejeiras de kioto (que nunca vi mas gosto na mesma), das araucárias da Graciosa,...
Mas a minha árvore preferida esconde-se no jardim da Casa das Artes. Imagino que nunca foi podada e imagino que tem muitos anos porque o seu tronco é muito largo. É a árvore mais bonita e mais “árvore” que conheço.
Esta indiscreta doente-de-fotografia agradece à indiscreta Cristina o milagre das caixas de comentários na salinha de exposições e avisa a navegação que por ideia da indiscreta Lídia há agora conversas fotográficas no Boogie Woogie.
posted by camponesa pragmática on 12:46
quinta-feira, março 20, 2003
Digas o que disseres, não digas nada
I Escrevo logo após um jornalista inglês
“sobre isto cá da Irlanda” pedir “pontos de vista”.
E nos quartéis de inverno eis-me outra vez
onde não é notícia notícia má que exista,
onde os homens dos media farejam e perguntam
e zooms, gravadores, cabos em rodopio
põem hotéis em desordem. Os tempos desconjuntam
mas das contas de um rosário me fio
tanto como de análises e frases
da gente dos jornais, da política élite
que da longa campanha escrevinhou, dos gases
e do protesto e de armas, gelinhite,
que em seu pulsar provou “escalada”, “reacção”,
“repressão”, e “braço militar”, e “tanto”
ódio de longa dura” e “polarização”.
Porém eu vivo aqui, eu também vivo aqui, eu canto,
falo hábil, civilmente, com vizinhos civis
no arame das primeiras transmissões sem fio,
sorvendo o gosto falso, o pedernal matriz
de estafada resposta com bafio:
“Oh concordo, decerto, é uma desgraça incrível”,
“Onde é que isto termina?” “Inda o pior provoca.”
“São assassinos.” “O internamento, compreensível…”
A “voz da sanidade” está a ficar rouca.
Foram duas boas surpresas, os filmes de Krzysztof Kielowski que passaram na rtp2. Realizados alguns anos antes da Trilogia que lhe iria trazer a fama, estes filmes têm algo que me atrai profundamente.
Pessoal passa-se num teatro, metáfora do país e local de invejas, e mostra as hipocrisias de um regime que se pensava superior. O jovem Romek, tímido e deslumbrado, começa a trabalhar nos ateliers de costura de um teatro. Um colega, mais incorformado alerta-o para a realidade: na escola estudaram história da arte, criaram expectativas, mas quando começavam a trabalhar, ia tudo por água abaixo, reduziam-se a coser uns trapos e a servir as estrelas caprichosas.
O filme termina com um plano em que o rapaz tem de escolher. Assinará a denúncia do seu colega ou não?
Um curto dia de trabalho, rodado em 81, é o relato do que aconteceu nos finais dos anos setenta, desta vez sem recorrer a metáforas – é mesmo na sede do Comité Regional do Partido que a acção decorre e a linguagem anda perto da reportagem documental (de onde o realizador vem).
Um secretário em ascenção é posto à prova. Frente à manifestação das pessoas contra os dramáticos aumentos de preços, e sem qualquer apoio do Partido, ele fica indeciso, não sabe o que fazer: ficar no edifício até ao fim ou fugir? Tenta conciliar as duas partes mas isso é impossível. O tom da manifestação já estava ao rubro, e o partido já tinha decidido a sua acção retaliadora: recorrer à violência e promover manifestações postiças, de apoio ao regime.
Gostei muito da cena em que o chefe da polícia o retira do edifício. O secretário veste um casaco de malha para se dissimular na multidão, mas o casaco não lhe assenta bem, as mangas dão-lhe um ar perdido e patético.
Talvez seja isto que me faz gostar dos filmes: o ar perdido dos personagens, as suas dúvidas.
Começam hoje as segundas Jornadas do Cinema Francófono, iniciativa do Instituto Francês do Porto.
Os filmes são legendados em português e a entrada é livre.
Logo à noite é possível assistir a uma ante-estreia. Não sei pormenores sobre o filme mas descobri que a música é composta pela Jocelyn Pook, e isso é uma boa razão para ir ver/ouvir.
19.03. >Como é que matei o meu pai, de Anne Fontaine às 14h30 horas e 21h30
20.03. >O Oitavo Dia, de Jaco Van Dormael às 14h30 e 21h30
21.03. >A vida sonhada dos anjos, de Erick Zonca às 14h30; Fourbi, de Alain Tanner às 21h30
22.03. > Premier Noel, de Kamel Cherif e O confessionário, de Robert Lepage às 17h00 e Transferência mortal, de Jean Jacques Beinix às 21h30
As novidades editoriais na área da Poesia são o motivo da conversa que junta Luís Quintais, Jorge Gomes Miranda, Jaime Rocha, Clara Rowlands, Pedro Mexia (assim mesmo a bold como na notícia do Público ) e Fernando Pinto do Amaral, no papel de moderador.
Os livros que vão estar em cima da mesa são:
Antologia Poética, Cecília Meireles, Ed. Relógio D’Água
Zona de Caça, Jaime Rocha, Ed. Relógio D’Água
Curtas-Metragens, Jorge Gomes Miranda, Ed. Relógio D’Água
ANGST, Luís Quintais, Ed. Cotovia
Eliot e Outras Observações, Pedro Mexia, Ed. Gótica
Virou-se o feitiço contra o feiticeiro: não resisti ao link da Cosac & Naify. Mas o passeio valeu-me uma boa descoberta.
Gostei particularmente do artigo Tela de Mestre, de Hervé Gauville (publicado no "Libération", 25/11/1998):
DESCONFIAR de Alexandre Sokourov. Aos 47 anos, o cineasta russo cometeu uma vintena de filmes, cuja recepção permanece em âmbito obstinadamente confidencial. De saída, esquecer Andrei Tarkovski. O próprio autor declarou: "Jamais frequentei seus cursos, nunca o venerei e jamais continuarei o seu trabalho". Entretanto, dois de seus filmes, "A Voz Solitária do Homem" e "Elegia Moscovita" (terminados em 1987) são dedicados ao diretor desaparecido. Vai se saber por quê.
...
ANAGRAMA: E se o Manel nem vier à caça? Dá-me a pá, médium!
É uma das variações sobre um mote de Bernardim Ribeiro. Um divertimento feito pelo Alexandre Andrade com o consentimento de Georges Perec. Há mais no 1bsk. Leiam e divertiam-se.
A exposição que está em Serralves é um bom motivo para ler A Brutalidade dos factos - Entrevistas com Francis Bacon.
O livro, como o título indica, é composto por nove entrevistas feitas ao longo de vários anos (desde 1962 até 1986), por David Sylvester, pintor e amigo de Bacon.
O tom é de conversa, mas conversa lenta e inteligente. É bom ler as perguntas de Sylvester (até Bacon gosta) e depois, muito devagar, as respostas. Acompanhar os raciocínios e entrar no mundo de Bacon, no seu processo criativo, nas suas dúvidas e contradições, na sua voracidade.
A sinceridade do pintor é tocante. Fala-nos dos seus pintores preferidos, da forma como a tinta vai ocupando as telas, dos erros que o surpreendem e atraem, do acaso que o empurra, das fotografias e do cinema que o influenciam. Também fala da sua vida, das pessoas que foi conhecendo, dos ateliers que ocupou e da luz, ou não fosse ele pintor.
Nas paredes de Serralves há excertos das entrevistas mas isso não chega, aconselho mesmo o livro, para mais, está traduzido para português e editado no Brasil. Apesar de ser impresso a preto e branco (a versão a cores afastaria o livro das pessoas que mais precisam dele), a edição é excelente. Aliás, a Cosac & Naify tem um belíssimo catálogo que vale a pena conhecer, espreitem o site e descubram, por exemplo, que há uma tradução portuguesa deste livro.
Para quem preferir o original em inglês, há várias edições a circular pela fnac e pela loja de Serralves.
Deixo aqui umas perguntas e respostas para vos aliciar.
Francis Bacon - Você sabe, no meu caso, toda a pintura — e quanto mais velho fico, mais isso é verdade — é fruto do acaso. Bom, prevejo em pensamento, prevejo a imagem, mas dificilmente ela será executada como fora prevista. Ela se transforma em decorrência da própria pintura. Eu uso pincéis muito grossos, e, por causa da maneira como trabalho, muitas vezes não sei o que a tinta fará, e ela faz muitas coisas que são muito melhores do que se seguissem estritamente as minhas ordens. Isso seria obra do acaso? Talvez alguém dissesse que não, porque acaba tornando-se um processo selectivo que começa com algo imprevisto, seleccionado para ser preservado. A pessoa, é claro, procura conservar a vitalidade do imprevisto mas preservando também a continuidade.
David Sylvester - Qual a principal coisa que acontece com a tinta? São os tipos de ambiguidade que ela produz?
FB - E as sugestões. Outro dia, tentando desesperado pintar a cabeça de certa pessoa, usei um pincel enorme, um monte de tinta e comecei a pintar de uma maneira solta, muito solta; no fim, simplesmente já não sabia o que estava fazendo, mas de repente deu um clique e a coisa se transformou exactamente na imagem que eu estava tentando reproduzir. Mas não por causa de uma vontade consciente ou de qualquer coisa ligada à pintura ilustrativa. O que até hoje nunca se analisou é o porquê dessa maneira de pintar ser mais profunda do que a ilustração. Talvez seja porque essa pintura tenha uma existência totalmente particular. Ela vive por conta própria, como a imagem que se queria captar; ela vive por conta própria, por isso transmite a essência da imagem com mais profundidade. O artista assim pode expandir-se, ou melhor, diria que ele pode abrir as válvulas do sentimento, e desse modo pode remeter o espectador à vida com mais violência.
DS - E quando você sente que a coisa, para usar as suas palavras, “deu um clique”, isso significa que ela lhe deu aquilo que queria no começo ou que ela lhe deu aquilo que você gostaria de ter querido?
FB - Isso evidentemente nunca se consegue. Mas existe uma possibilidade de você conseguir, através do imprevisto, algo muito mais profundo do que aquilo que fora desejado desde o princípio.
Peça de Brecht vai chegar a Lisboa mas não ao Porto
A partir de amanhã, o Teatro Municipal São Luiz acolhe, até ao fim do mês, Baal, de Bertolt Brecht, co-produção com os Artistas Unidos que se estreou em Viseu (DN, dia 7) e seguiu para Coimbra. No mesmo calendário e noutro horário, no Jardim de Inverno, Anamar apresenta Wild Cabaret, proposta musical complementar à peça, escrita em 1918 e estreada na Alemanha dos anos 20.
A cantora não se limitará, porém, a interpretar temas de Kurt Weill (um dos parceiros musicais de Brecht) e Marlene Dietrich, passando pelos reportórios de Piaf, Gardel, Sinatra, Janis Joplin, Lou Reed e David Bowie (sessões às 23.45, após Baal: às 21.00).
Encenado por Silva Melo, Baal segue em Abril para Famalicão e Évora, mas já não vai em Maio ao Porto: o Rivoli cancelou há dias a co-produção. Devido a cortes orçamentais, segundo a directora.
Adriana Calcanhotto promove o seu último álbum, "Cantada", em Junho, actuando no Porto (13 e 14 de Junho), em Lisboa (23,24 e 25), e nos Açores(16), Madeira (17), Coimbra(19), Castelo Branco (20) e Évora (21).
Em Abril, na Cinemateca, na rubrica ‘Cantores/Actores’, é a vez de...
... Tom Waits.
Ainda não há pormenores e no site da Cinemateca não se avança grande coisa. Há que esperar pela saída do desdobrável de Abril. Mal posso esperar.
Primeira Ontem fui finalmente ver as litografias de Chagall à Fundação Arpad Szenes/Vieira da Silva
Devia haver um cartão multicultural para pessoas entre os 25 e os 65. O orçamento duma pessoa vai-se quase todo em bilhetes de teatro, do HCP, de cinema, de museus, de música clássica. Um cartãozinho que dissesse que quem frequenta um determinado número (por exemplo, a partir de 5) de espectáculos/eventos culturais por mês tinha, digamos, um descontozinho... fazia-se uma atençãozinha. Era bem. Será que há mas está tão escondidinho que não sei?
Segunda Esta manhã, ao sair de casa, reparei que as árvores do largo, que ainda ontem de manhã estavam nuas, estão agora cheias de minúsculas folhas verdes. É belo ver um jardim renascer. Ao contrário dos espectáculos humanos, o da Primavera continua a ser gratuito :)
posted by camponesa pragmática on 13:41
Trilogia de Kielowski na RTP2 em 5 Noites 5 Filmes
Azul, 4ª feira – 19/3, às 00:00
Branco, 5ª feira – 20/3, às 00:00
Vermelho, 6ª feira – 21/3, às 00:00
Só não compreendo porquê à hora da Gata Borralheira.
Será que realmente dá para você analisar a diferença entre a pintura que comunica directamente e a que comunica por meio da ilustração? Este é um problema extremamente difícil de ser expresso com palavras. É algo que tem a ver com o instinto. É uma coisa difícil, muito difícil e íntima saber por que certa pintura toca directamente o sistema nervoso e outra lhe conta a história num longo discurso cerebral.
Francis Bacon (do livro Entrevistas com Francis Bacon - A brutalidade dos factos)
Em 1993, quando decidiram começar, ninguém lhes ligou. "Mandámos cartas a 24 ou 25 editoras e não recebemos resposta de nenhuma." Sentada à mesa de um café do Chiado, Nina Guerra ri-se, ao contar isto, porque já passaram dez anos. Mas na altura esse silêncio fê-los desistir, por algum tempo. "Vivíamos em Vila Pouca de Aguiar, ninguém nos conhecia..."
Ontem o Mil | Folhas foi falar com a Nina e o Filipe Guerra. O artigo está aqui e tem um bombom no fim: qual é o clássico que se segue? Aposto na Guerra e Paz.
Depois de Akhmátova, Dostoiévski, Gogol, Mandelstam, Púchkine, Tchékhov e Tsvétaeva será que chegou a vez de Tolstoi?
Oh sim! Mas o Paul Thomas Anderson perverte o tema. Não há flores, nem passarinhos, nem paisagens bonitas. A acção decorre em locais inóspitos: um armazém de revenda de desentupidores, um hotel , um aeroporto, um hospital, um supermercado de colchões, e corredores, muitos corredores. Os personagens não andam na lua: Barry Egan corre desenfreadamente (foge das irmãs e procura uma saída para a sua vida?) vai contra as coisas, cai, e Lena caminha de uma maneira, que se percebe que está bem agarrada à terra.
Mas voltemos ao início: há um homem que compra pudins para juntar bónus de viagens aéreas (apesar de nunca viajar), um dia compra um fato azul, aparece-lhe um piano à frente para dar um tom romântico e é então que surge uma mulher vestida de vermelho e…apaixonam-se?
Anderson atira-nos os clichés e depois diverte-se a tirar-nos o tapete. Aqui nada se passa como nos filmes. Ela não apareceu por acaso, o jantar não é romântico, e o efeito idílico provocado pelo plano que marca o encontro deles no Hawaii (é o plano que se vê no cartaz) é desfeito à noite quando eles trocam mimos amorosos pouco cor-de-rosa. Entretanto surgem alguns problemas com um mafioso - o brilhante Philip Seymour Hoffman -, que gere uma linha erótica de forma pouco escrupulosa e que acabam por ser resolvidos na magnífica cena em que Egan diz, com toda a clareza, que tem imensa força porque está apaixonado. Anderson no pico do romantismo.
No final, Barry Egan usa uma gravata vermelha e o último plano é magistral, quase podemos adivinhar: eles não foram felizes para sempre.
Adam Sandler e a Emily Watson são óptimos neste par romântico mas pouco ortodoxo. A música encaixa na perfeição e, intencionalmente, ouve-se uma canção repescada da banda sonora do Popeye: He needs me.