Foram duas boas surpresas, os filmes de Krzysztof Kielowski que passaram na rtp2. Realizados alguns anos antes da Trilogia que lhe iria trazer a fama, estes filmes têm algo que me atrai profundamente.
Pessoal passa-se num teatro, metáfora do país e local de invejas, e mostra as hipocrisias de um regime que se pensava superior. O jovem Romek, tímido e deslumbrado, começa a trabalhar nos ateliers de costura de um teatro. Um colega, mais incorformado alerta-o para a realidade: na escola estudaram história da arte, criaram expectativas, mas quando começavam a trabalhar, ia tudo por água abaixo, reduziam-se a coser uns trapos e a servir as estrelas caprichosas.
O filme termina com um plano em que o rapaz tem de escolher. Assinará a denúncia do seu colega ou não?
Um curto dia de trabalho, rodado em 81, é o relato do que aconteceu nos finais dos anos setenta, desta vez sem recorrer a metáforas – é mesmo na sede do Comité Regional do Partido que a acção decorre e a linguagem anda perto da reportagem documental (de onde o realizador vem).
Um secretário em ascenção é posto à prova. Frente à manifestação das pessoas contra os dramáticos aumentos de preços, e sem qualquer apoio do Partido, ele fica indeciso, não sabe o que fazer: ficar no edifício até ao fim ou fugir? Tenta conciliar as duas partes mas isso é impossível. O tom da manifestação já estava ao rubro, e o partido já tinha decidido a sua acção retaliadora: recorrer à violência e promover manifestações postiças, de apoio ao regime.
Gostei muito da cena em que o chefe da polícia o retira do edifício. O secretário veste um casaco de malha para se dissimular na multidão, mas o casaco não lhe assenta bem, as mangas dão-lhe um ar perdido e patético.
Talvez seja isto que me faz gostar dos filmes: o ar perdido dos personagens, as suas dúvidas.