Estava o dia nublado. Ninguém se resolvia
soprava um vento ligeiro: «Não é o grego é o
siroco» disse alguém.
Alguns ciprestes esguios cravados na encosta e o
mar
cinzento com lagoas luminosas, mais além.
Os soldados apresentavam armas quando começou a chuviscar.
«Não é o grego é o siroco» a única resolução que
se ouviu.
Todavia sabíamos que na alba seguinte não nos restaria
mais nada, nem a mulher bebendo ao nosso lado o sono
nem a memória de que fomos homens alguma vez,
mais nada na alba seguinte.
«Este vento traz à mente a primavera» dizia a amiga
caminhando a meu lado olhando para longe «a primavera
que de repente caiu no inverno perto do mar fechado.
Tão inesperadamente. Passaram tantos anos. Como vamos
morrer?»
Uma marcha fúnebre vagueava por entre a chuva miudinha.
Como morre um homem? Estranho ninguém refletiu
nisso.
E os que pensaram nisso era como memória de crónicas
velhas
da época dos cruzados ou da - em Salamina - batalha
naval.
Todavia a morte é algo que é feito; como morre
um homem?
Todavia alguém ganha a sua morte, a sua própria morte,
que não pertence a nenhum outro
e este jogo é a vida.
Baixava a luz sobre o dia nublado, ninguém se
resolvia.
Na alba seguinte não nos restaria nada; tudo entregue;
nem sequer as nossas mãos;
e as nossas mulheres trabalhando para outros nos fontanários e
os nossos filhos
nas pedreiras.
A minha amiga cantava caminhando a meu lado
uma canção amputada:
«Na primavera, no verão, escravos...»
Lembrávamo-nos de mestres anciãos que nos deixaram
órfãos.
Uma casal passou a conversar:
«Fartei-me do crepúsculo, vamos para casa
vamos para casa acender a luz.»
«Pode-se estar fatigado do mundo - fatigado dos fazedores de orações de poemas cujos rituais são recreativos, humanos e agradáveis, mas piores do que irritantes porque não têm realidade - e continuam a querer muito à própria realidade. Desejamos vislumbrar a realidade. Deus é uma imensidão, enquanto esta doença, esta morte que reside em mim, este pequeno e rigidamente definido evento pedestre, é simplesmente real, sem milagres nem instruções. Estou de pé numa jangada desancorada, um bote que se move na face flexível e fluente de um rio. É precário. O desconhecido, o tenso equilíbrio, as sacudidelas e a instabilidade espalham-se em largas ondulações através de todos os meus pensamentos. Paz? Nunca houve nenhuma no mundo. Mas estou agora a viajar na água maleável, sob o céu e à deriva; ouço-me rir, de nervoso ao princípio e, depois, genuinamente fascinado. O riso está todo à minha volta.»
Harold Brodkey no final de "Esta feroz escuridão - a história da minha morte" (tradução de José Luís Luna, edição da Bizâncio, Novembro de 1999)
Watcher, Natália, João ou Isabel. Para ler na Pública.
Sólo buscava un lugar más o menos propicio para vivir, quiero decir: un sitio pequeño donde cantar y poder llorar tranquila a veces. En verdad no quería una casa; Sombra quería un jardín.
- Sólo vine a ver el jardín - dijo.
Pero cada vez que visitaba un jardín comprobaba que no era el que buscava, el que quería. Era como hablar o escribir. Después de hablar o de escribir siempre tenía que explicar:
- No, no es eso lo que yo quería decir.
Y el peor es que también el silencio la traicionaba.
- Es porque el silencio no existe - dijo.
El jardín, las voces, la escritura, el silencio.
- No hago otra cosa que buscar y no encontrar. Así pierdo las noches.
Sintió que era culpable de algo grave.
- Yo no creo en las noches - dijo.
A lo cual no supo responderse: sintió que le clavaban una flor azul en el pensamiento con el fin de que no siguiera el curso de su discurso hasta el fondo.
- Es porque el fondo no existe - dijo.
La flor azul se abrió en su mente. Vio palavras como pequeñas piedras diseminadas en el espacio negro de la noche. Luego, pasó un cisne con rueditas con un gran moño rojo en el interrogativo cuello. Una niñita que se le parecía montaba el cisne.
- Esa niñita fui yo - dijo Sombra.
Sombra está desconcertada. Se dice que, en verdad, trabaja demasiado desde que murió Sombra. Todo es pretexto para ser un pretexto, pensó Sombra asombrada.
Alejandra Pizarnik, 1.5.1972
in "Poesía Completa", Editorial Lumen
Tendo como ponto de partida alguns compositores oriundos da música pop que depois enveredaram pelos caminhos da música contemporânea, o Remix Ensemble estreia-se no TeCA com um programa em que se destacam duas obras fundamentais de Heiner Goebbels (industry & Ildeleness e la jalousie). Mark-Anthony Turnage (eulogy) e Iris ter Schiphorst (broken), temperados pelas irrupções românticas da música de Georg Friedrich Haas (monodie para 18 instrumentos), completam um programa de concerto particularmente comunicativo com o qual o Remix Ensemble celebra o seu 4º Aniversário.
I
E sobretudo olhar com inocência. Como se nada se passasse, o que é certo.
II
Mas a ti quero olhar-te até estares longe do meu medo, como um pássaro no limite afiado da noite.
III
Como uma menina de giz cor-de-rosa num muro muito velho subitamente esbatida pela chuva.
IV
Como quando se abre uma flor e revela o coração que não tem.
V
Todos os gestos do meu corpo e voz para fazer de mim a oferenda, o ramo que o vento abandona no umbral.
VI
Cobre a memória da tua cara com a máscara daquela que serás e afugenta a menina que foste.
VII
A nossa noite dispersou-se com a neblina. É a estação dos alimentos frios.
VIII
E a sede, a minha memória é da sede, eu em baixo, no fundo, no poço, bebia, recordo.
IX
Cair como um animal ferido no lugar de hipotéticas revelações.
X
Como quem não quer a coisa. Nenhuma coisa. Boca cosida. Pálpebras cosidas. Esqueci-me. Dentro o vento. Tudo fechado e o vento dentro.
XI
Sob o negro sol do silêncio douravam-se as palavras.
XII
Mas o silêncio é certo. Por isso escrevo. Estou só e escrevo. Não, não estou só. Há alguém aqui que treme.
XIII
Ainda que diga sol e lua e estrelas refiro-me a coisas que me acontecem.
E o que desejava eu?
Desejava um silêncio perfeito.
Por isso falo.
XIV
A noite parece um grito de lobo.
XV
Delícia de perder-se na imagem pressentida. Levantei-me do meu cadáver, fui à procura de quem sou. Peregrina, avancei em direcção àquela que dorme num país ao vento.
XVI
A minha queda sem fim na minha queda sem fim onde ninguém me esperava pois ao descobrir quem me esperava outra não vi senão a mim mesma.
XVII
Algo caía no silêncio. A minha última palavra foi eu embora me referisse à aurora luminosa.
XVIII
Flores amarelas constelam um círculo de terra azul. A água treme cheia de vento.
XIX
Deslumbramento do dia, pássaros amarelos na manhã. Uma mão desata as trevas, arrasta a cabeleira da afogada que não cessa de passar pelo espelho. Voltar à memória do corpo, hei-de regressar aos meus ossos de luto, hei-de compreender o que a minha voz diz.
The book of love is long and boring / No one can lift the damn thing / It's full of charts and facts and figures / And instructions for dancing / But I, I love it when you read it to me / And you, you can read me anything.
The book of love has music in it / In fact that's where music comes from / Some of it is just transcental / Some of it is just really dumb / But I, I love it when you sing to me / And you, you can sing me anything / The book of love is long and boring / And written very long ago / It's full of flowers and heart shaped boxes / And things were all too young to know / But I, I love it when you give me things / And you, you outta give me wedding rings / I, I love it when you give me things / and you, you oughta give me wedding rings. the magnetic fields, song #12
(2 de 6) desenhos de Lorenzo Mattotti para o calendário de 2003 do Marchi Group.
1. O cinema Passos Manuel reabre amanhã as suas portas, pormenores no Local, do Público
2. A partir de 4 de Novembro a Medeia Filmes irá programar o cine-estúdio do Teatro do Campo Alegre. Com duas sessões diárias, uma ao fim da tarde, outra à noite (em geral, às 18h30 e 22h00, excepto quando a duração dos filmes exigir uma alteração), a programação arranca com o filme "A História do Camelo que Chora", de Luigi Falorni e Byambasuren Davaa, de 4 a 10 de Novembro. Seguem-se-lhe "Segunda de Manhã", de Otar Iosseliani, "O Tempo do Lobo", do realizador austríaco Michael Haneke e a reposição de "A Melhor Juventude".
A programação também procurará criar sinergias com outras actividades do Teatro do Campo Alegre, como acontecerá com a exibição do filme de Miguel Gonçalves Mendes, "Autografia" um magnífico "retrato" do poeta Mário Cesariny, a estrear em 2 de Dezembro.
3. Qual cereja no topo do bolo, amanhã é projectadaPrimavera tardia de Yasujiro Ozu. É às 21h00 na Casa das Artes. Espera-se sala cheia e entusiasmada.
posted by Anónimo on 11:46
Nunca tinha visto um eclipse evoluir, disfarçado de nuvens. Estou a ver agora.
Está aqui na Janela da sala, conforme passam e não passam.
Contagem decrescente para o Solstício de Inverno, esse grande dia menor do ano, após o qual tudo começa a restabelecer-se.
posted by camponesa pragmática on 16:43
Cereais sem versos - até quando?
Depois da fundamental chamada de atenção do Tó para a necessidade de promoção do mainstreaming da sesta, virai agora o coração, almas circunspectas, para o desabafo do Alexandre, que lança luz sobre questão não menos importante; cito:
«Num mundo em que os pacotes de cereais não trazem versos de William Butler Yeats EU NÃO QUERO VIVER!»
Gosto muito de documentários sobre o mar e os seus estranhos habitantes. Desconfio que é por causa das cores, das texturas e do ritmo ondulado de tudo o que se move na água, mas não é isso que interessa agora. Noutro dia, apanhei na 2: o final de um filme sobre um dos comportamentos que mais me entusiasma: o mimetismo. Um grupo de biólogos queria descobrir se, conforme parecia, um determinado polvo imitava outros animais. Era preciso apanhá-lo no acto mais do que uma vez (para se tornar regra) e ainda verificar se ele, para além do disfarce, copiava também o comportamento desse outro animal (em termos científicos, só assim se considera o carácter mimético). A tarefa era difícil, envolveu horas e horas debaixo de água, câmara em riste, frente àquele bicho que, apercebendo-se das filmagens, ficava quieto, num insólito jogo de paciência.
Os cientistas contaram com a preciosa ajuda de um grupo de mergulhadores e juntos ganharam na persistência. Conseguiram imagens incríveis do polvo a fazer-se de leão marinho ou de solha (garanto-vos que era perfeito no seu disfarce espalmado) e puderam assim determinar que aquele cefalópode era, de facto, um imitador.
Mas o plano mais belo de todos aconteceu de imprevisto. Já a equipa arrumava as tralhas quando o polvo, depois de uma inesperada e rápida subida até à superfície, deixou-se descer em queda livre, como se voasse, como um bailarino.
engana-se o mundo- sobrevive-se ao mundo-
tomando-o de espaço ganhando-o de tempo
rasgando o mundo pelas margens para que o mundo se faça
beirando precipícios
- diz-se o amor pela metade tudo por uma
desigual metade tudo cheio de palavras
coxas frases feitas de contenção e afectação
e no gesto a encenação da mentira da omissão
a promoção da ambiguidade para efeitos ilibatórios
.....a promoção do mistério é estratégia
.....disfarçando o espanto a confusão
.....o medo
.....enganando-se (d)o mundo
Como é do conhecimento geral, quando, em 1972, Nossa Senhora de Fátima chegou a New Orleans, chorou. Esta história do milagre de New Orleans é fascinante, como é próprio das coisas que não compreendemos em todo o seu alcance: porque chorou a Senhora? Parece-me muito provável (mas pronto é só a minha opinião, uma entre tantas...*) que tenha chorado de alegria - New Orleans é terra de grandes alegrias - e de emoção pela morte (em 1971, então recente) de Louis Armstrong, filho da terra. Aposto que os especialistas não tiveram isto em conta.
_____________________ * Cliché de estimação (assim mesmo, com reticências no fim), parte do acervo do meu Tesouro Kitsch; a desvendar no futuro.
posted by camponesa pragmática on 13:37
Havia um relógio por cima da entrada ?a ubíqua e sincronizada face, insensível, premonitória, oracular: ainda tinha vinte e dois minutos. E vai levar só dois minutos a contar ao Mac o que levei meses a descobrir pensou. ? Eu tinha-me transformado em marido ?disse ele ?. Foi isto. Eu nem sabia, até ela me dizer que lhe tinham oferecido continuar no emprego. A princípio eu costumava vigiar-me, ensaiar-me de cada vez para ter a certeza de dizer ?a minha mulher? ou ?Mrs. Wilbourne?, e depois descobri que durante meses eu me vigiava para não dizer; até dei comigo, duas vezes, desde que voltámos do lago, a pensar ?Quero que a minha mulher tenha tudo do melhor?, exactamente como qualquer marido com o seu envelope de paga ao sábado e a sua vivenda suburbana cheia de aparelhos eléctricos que aliviavam as esposas e o seu tabuleiro de relva para aparar ao domingo pela manhã, e que tudo será seu, se, nos próximos dez anos, não for despedido ou atropelado por um automóvel... o verme condenado, e cego para a paixão e morto para a esperança, e nem sequer sabendo, obnubilado e insciente em face da treva do desconhecido, da subjacente e displicente aposta que estourará com ele. Até deixei de ter vergonha da maneira como ganhava dinheiro, desculpando-me das histórias que escrevia; eu não tinha mais vergonha delas do que o empregado que compra a prestações a vivenda, em que a esposa pode ter o melhor, tem vergonha da insígnia do seu emprego, o desentupidor de retretes que leva consigo. Com efeito, eu chegara a escrevê-las, mesmo independentemente do dinheiro, como o rapaz que nunca viu gelo fica entusiasmado logo que aprende a patinar. Além de que, depois de ter começado a escrevê-las, aprendi que não tinha ideia das profundezas de depravação de que a inventiva humana é capaz, o que é sempre interessante...
?De que é capaz não; em que se compraz ?disse MacCord.
?Isso. Está bem... Interessante para a respeitabilidade. Foi isto. Eu compreendi, há algum tempo, que a ociosidade gera as nossas virtudes, as nossas mais suportáveis virtudes: a contemplação, a equanimidade, a preguiça, o deixar os outros em paz; boa digestão mental e física: a sabedoria de concentrar a atenção nos prazeres da carne: comer e evacuar e fornicar e estar sentado ao sol; que não há manda melhor, nada que se compare, nada no mundo senão viver o breve tempo em que nos é emprestado o respirar, estar vivo e sabê-lo... oh, sim, ela ensinou-me isso; ela marcou-me para sempre...nada, nada. Mas só recentemente é que eu vi claramente, tirei a conclusão lógica, que o que nós chamamos primaciais virtudes: economia, trabalho, ?independência?, isso é que gera todos os vícios; fanatismo, petulância, mexeriquice, medo, e pior que tudo, respeitabilidade. Nós, por exemplo, sabíamos ao certo de onde viria a comida de amanhã (o maldito dinheiro, demais, à noite, ficávamos acordados a pensar em como gastá-lo; na Primavera, andaríamos com folhetos de turismo na algibeira), eu tornara-me tão completamente amarrado e escravo da respeitabilidade, como qualquer...
?Mas ela não?disse MacCord.
?Não. Mas ela é mais homem do que eu.
Qué es la magia, preguntas
en una habitación a oscuras.
Qué es la nada, preguntas,
saliendo de la habitación.
Y qué es un hombre saliendo de la nada
y volviendo solo a la habitación.
Francis Bacon | Study for bullfight nº2 [Estudo para uma corrida, nº2] | 1969 | Óleo sobre tela |
Não era o touro nem o estandarte, a jaula invisível, a multidão ou a brutalidade de todo o quadro. O que o inquietava mesmo era o número cinco. "Não compreendo", disse. E estava no caminho certo.
chega-nos esta óptima sugestão, dentro de portas: ILUMINANDO VIDAS | Ricardo Rangel e a Fotografia Moçambicana
Trata-se de uma exposição feita sob a égide de Ricardo Rangel, um dos maiores fotógrafos de Moçambique, de África, e que inclui outros grandes fotógrafos daquele país, diz o Miguel. A não perder.
«Iluminando vidas é o título da homenagem de Calane da Silva ao seu amigo e companheiro Ricardo Rangel, pioneiro e decano da fotografia moçambicana contemporânea, hoje com 80 anos de idade. No vocábulo 'iluminar' está implícita a palavra 'Luz', elemento essencial da fotografia. Tem dois níveis de significado: iluminar um objecto e - no sentido figurado - colocar uma situação dentro da luz, aclarando-a. Em ambos os níveis vibra um significado festivo e poético: conferir luz e brilho a um objecto, dar-lhe um 'tom claro e cintilante'.»
Bruno Z'Graggen
de 9 de Outubro a 12 de Dezembro de 2004 | na Culturgest | Edifício Caixa Geral de Depósitos Avenida dos Aliados nº104 | Porto | de segunda a sábado, das 10h00 às 18h00 (última admissão às 17h45)
1. Não se antolha legítimo tanto frio e ser outra vez segunda-feira. Ainda ontem era sexta. A chuva se antoja: é o Outono!
Não estou dramática, estou só a experimentar Antolhar e Antojar e pareceu-me que iam bem com pontos de exclamação. Também me parecem apropriados para usar em momentos de grande emoção, quando a mão vai à testa e a cabeça pende para trás, como em "Oh, não se me antolha qualquer esperança!"
Antolhar e Antojar: não são lindos estes verbos?
2. Sinto particular carinho por fórmulas como "Ainda ontem", "Ainda hoje de manhã", que, não se porquê, me lembram sempre o clássico doméstico "Em jantando já lavo a loiça" ou "Em chegando já te faço o jantar", coisas que, pelo tardio da hora, me fazem pensar na necessidade de não sair de casa "sem levar um casaquinho, que à noite sempre arrefece". "Ainda ontem/hoje" vai sempre bem com "e já...". E, normalmente, quando prossigo com estas conversas durante muito tempo, em casa dizem-me "Mas não consegues viver sem gozar?", rimo-nos, e concluímos em coro "Há coisas com as quais não se brinca", frase esta que é, sem dúvida, uma das jóias da coroa do Tesouro Kitsch.
3. "Ainda ontem a Janela começou e já se passaram quase dois anos...!" Reticências seguidas de ponto de exclamação, tem de ser. Porque nestas frases assim é necessário dar uma pausa para que a exclamação produza o seu eco trovejante, sem o que tudo perde a importância...! E, quanto maior é a importância de uma coisa, mais pontos de exclamação se devem seguir às reticências. Sim...!!!
4. Uma coisa que normalmente me faz confusão na comunicação escrita quotidiana - internet e sms's - é a quantidade de pontos de exclamação que uma pessoa sozinha pode gastar. Por exemplo: "Olá!!!!!!!!!!". Demorei a adaptar-me. A princípio, quando me escreviam isto eu saltava e, a seguir, recuperada a compostura e o domínio do teclado, perguntava, sem ser a gozar: "O que é que eu fiz?" Não tinha feito nada. Como um amigo me explicou mais tarde, parece que na internet, nos programas de conversação, cada ponto de exclamação corresponde a um grau de emoção da pessoa e parece que quanto mais pontos escreve mais tem os olhos abertos e mais contente ou indignada está: o contexto dirá o resto. Ou seja, não é na gramática que se deve pensar, mas na pessoa que está a escrever, embora se deva fazer uma interpretação apurada do contexto para determinar o que quer exactamente dizer com "Ainda bem que apareces!!!!!!!!!". Deve ser esse o segredo da poesia do Repórter Lírico.
5. Dois outros verbos que eu adoro: Demolir e Impar. Mais, acredito que uma demolição seja uma boa ocasião para impar.
Todas as segundas de manhã, Vincent começa a mesma rotina monótona. Uma hora e meia de trânsito até ao trabalho pouco inspirador numa fábrica. Em casa, as obrigações familiares que estão sempre a interromper a sua paixão pela pintura. Vincent já não suporta as segundas de manhã! Esta farto da fábrica, da mulher e das crianças, das contradições incompreensíveis da vida e do dia-a-dia do sítio em que vive. O velho Albert todos os dias faz o mesmo caminho. O carteiro lê as cartas de toda a gente. O padre não consegue desviar o olhar das mulheres da cidade. Um camponês miserável resolve instalar mais um alarme. Os adolescentes andam de um lado para o outro de bicicleta, falando de tudo e de nada para animar um pouco a vida...
Cansado, um dia, Vincent resolve ver um pouco do mundo e viaja até Veneza. Talvez aí ele consiga encontrar o que falta na sua vida...
Conta-se que o salteador Procusta assaltava os viandantes entre Atenas e Mégara. Deitava-os numa cama; cortava os membros aos mais altos e esticava os mais pequenos para adaptar todos ás mesmas dimensões. A metáfora da cama de Procusta parece-me excelente para explicar o que fazem as definições. Como preexistem independentemente das coisas excluem o que não se adapta aos critérios escolhidos, criando limites rígidos. É por isso que muito se discute entre quem se interessa por banda desenhada: qual foi a primeira banda desenhada?, será que há banda desenhada sem narração?, o que incluir no corpus?, o que excluir?
Por mim, e dada a reconhecida arbitrariedade destas decisões, prefiro ter um critério largo. É assim que a banda desenhada pode ter começado no Egipto antigo e um dos primeiros e melhores exemplos desta arte pode ter sido escrito em galaico-português: Cantigas de Santa Maria de Afonso X el Sábio (códices do Escorial e de Florença).
De igual modo posso incluir no corpus nomes que habitualmente não são recrutados para estas guerras, como são os casos deWilliam Hogarth; Katshushika Hokusai (Hokusai, já agora, inventou o termo que define hoje a banda desenhada no Japão: manga.)Ou Frans Masereel: aqui e aqui . E ainda, Tom Phillips .
Outro problema que afecta a imagem pública da banda desenhada tem a ver com a sinédoque que faz quem só conhece a banda desenhada infanto-juvenil. A cama de procusta corta aqui a banda desenhada verdadeiramente adulta produzida nos últimos 40 anos.
Na pré-história (ou seja, nos anos 50) encontramos na Argentina os primeiros vestígios de uma banda desenhada amadurecida apesar de publicada ainda em revistas juvenis. Refiro-me às histórias do argumentista Héctor Germán Oesterheld, publicadas na sua Editorial Frontera: El Eternauta, com Solano Lopez; Mort Cinder, com Alberto Breccia; Ernie Pike e Sargento Kirk, com Hugo Pratt e outros (entre os quais José Muñoz, futuro autor, com Carlos Sampayo, de Alack Sinner e Sudor Sudaca).
Alberto Breccia seguiria depois uma carreia absolutamente notável.
Na Grã-Bretanha James Edgar (script) e Tony Weare (desenho) criaram um Western adulto que foge em muito (embora não totalmente, claro) aos clichés do género: Matt Marriott. Talvez por isso seja hoje uma banda desenhada quase esquecida.
O primeiro autor, consciente de o ser foi Guido Buzzelli com La Rivolta dei Racchi, I Labirinti, Zil Zelub, Aunoa.
Uma visita ao site da Associazione Buzzelli pode dar a ideia, a quem nunca o leu, de que Buzzelli é apenas mais um artista de "BD" de ficção científica como os há aos pontapés nas Métal Hurlant deste mundo. Mas nada mais falso: Buzzelli escreveu parábolas políticas extremamente complexas num momento, o Maio de 68 e sequelas, que não apelava propriamente à sofisticação.
De citar é também o caso de Santiago "Chago" Armada em Cuba. Chago serviu a revolução como guerrilheiro, mas teve o azar de produzir uma banda desenhada demasiado intelectual. A sua genial criação Sa-lo-món foi publicada brevemente durante os anos 60, mas permanece em grande parte inédita. Para se apreciar só numa galeria de arte .
Também Harvey Pekar, argumentista norte-americano, foi autoconsciente do seu estatuto de artista autónomo em relação a qualquer instituição comercial. Pekar foi um dos pioneiros, juntamente com Justin Green, Robert Crumb e Aline Kominsky, do comic autobiográfico.
O problema nos comics de Pekar são os seus colaboradores. Como não podia pagar muito, alguns deixam algo a desejar do ponto de vista gráfico. De entre os desenhadores com qualidade destaco Robert Crumb e Frank Stack.
Em França Jacques Tardi publicou, para além do seu trabalho comercial (Buzzelli também dividia o seu trabalho em criativo e alimentar), obras importantes durante os anos 70 e início da década seguinte: La véritable histoire du soldat inconnu, C'était la guerre des tranchées, Trou d'obus, La bascule à Charlot.
Em 1975 Martin Vaughn-James publicou no Canadá um marco importante da literatura desenhada. The Cage Ainda no Canadá há que referir a editora Drawn & Quarterly onde publicam Seth e Chester Brown.
Em 1980 Art Spiegelman e Françoise Mouly editam o primeiro número da revista Raw. Aí publicam, entre muitos outros, Ben Katchor (com a sua nostalgia urbana). Gary Panter (e a sua estética punk).
The Cage Lynda Barry (com um retrato caustico da infância)
No início dos anos 80 a editora Fantagraphics passa a dedicar-se sobretudo à banda desenhada de autor. Para além do já citado Chris Ware, destacam-se, entre os artistas da casa, Daniel Clowes:ver aqui e tambémaqui e Joe Sacco (do qual se editou recentemente em Portugal, Palestina).
Na Alemanha, país com poucas tradicões nesta área, três nomes são dignos de registo:
O artista de banda desenhada mais importante do Japão é Yoshiharu Tsuge. O acontecimento editorial do ano na Europa, durante o corrente ano (do meu ponto de vista, claro), foi a edição, pela editora francesa Ego Comme X, do livro de Tsuge, L'homme sans talent .
Também importante é Yoshihiro Tatsumi, autor do termo gekiga, ou "imagens-drama", correspondente ao nosso "romance gráfico". E Jiro Taniguchi (obras importantes: Quartier lointain, ,Le Journal de mon père, L'homme qui marche).
Em França e na Bélgica muitos são os artistas de banda desenhada "d'art et d'essais" dignos de nota. O decano é Edmond Baudoin .
Les Yeux Dans Le Mur
Mas um dos mais importantes é, sem dúvida, Fabrice Neaud ver também aqui .
Para uma visão global (incluindo nomes como Thierry van Hasselt, Éric Lambé, Vincent Fortemps, Yvan Alagbé, Alex Barbier, Olivier Deprez, Aristophane, etc...) do panorama franco-belga na área da banda desenhada de autor, basta explorar o site da melhor editora de banda desenhada do mundo. A editora Frémok.
O argumentista Felipe H. Cava destaca-se em Espanha. Cava trabalhou com Raúl, Federico del Barrio, Ricard Castells. São ainda de referir os catalães Max e Pere Joan .
Quanto aos artistas portugueses também os há e de qualidade: Pedro Nora, Filipe Abranches, Diniz Conefrey, Miguel Rocha, Ana Cortesão, António Jorge Gonçalves, José Carlos Fernandes, etc...
Revistas de referência:
Madriz, Medios Revueltos, El ojo clínico, Nosotros somos los muertos (Espanha)
Ego Comme X, Lapin, Amok (França)
Fréon, Pelure Amère (Bélgica)
Strapazin (Suiça)
Mano (Itália)
Drawn & Quarterly (Canadá)
Raw (E.U.A.)
Garo (Japão)
LX Comics; Quadrado e Satélite Internacional (Portugal)
Já o outono?! - Mas porquê lamentar um sol eterno, se nos empenhamos na descoberta da claridade divina, - longe das pessoas que morrem com a mudança das estações?
O outono. A nossa barca fundada nas brumas imóveis dirige-se para o porto da miséria, a enorme cidade no céu maculado de fogo e lama. Ah! os andrajos putrefactos, o pão ensopado de chuva, a bebedeira, os mil amores que me crucificaram! Então nunca mais acaba este vampiro, que reina sobre milhões de almas e de corpos mortos e que serão julgados! Revejo-me com a pele remordida pela lama e pela peste, com vermes enchendo-me os cabelos e as axilas e outros ainda maiores no coração, estendido entre desconhecidos sem idade, sem sentimento... Podia ter morrido ali... Que pavorosa evocação! Abomino a miséria!
E receio o inverno por ser a estação do conforto!
- Por vezes, vejo no céu praias sem fim cobertas de alvas nações em regozijo. Uma grande nau de ouro, por cima de mim, desfralda os seus panos multicores à brisa da manhã. Criei todas as festas, todos os triunfos, todos os dramas. Tentei inventar novas flores, novos astros, novas carnes, novos idiomas. Pensei poder adquirir poderes sobrenaturais. Pois bem! tenho de enterrar a minha imaginação e as minhas recordações! Uma bela glória de artista e de contador de histórias destruída!
Eu!, que me intitulei mago ou anjo, dispensado de qualquer moral, restituído ao chão, em demanda de um dever, e a áspera realidade para estreitar! Pacóvio!
Engano-me? seria a caridade irmã da morte, para mim?
Enfim, pedirei perdão por me ter alimentado de mentiras. Vamos.
Mas nem uma mão amiga! e onde buscaria ajuda?
Sim, pelo menos a nova hora é rigorosíssima.
Pois posso dizer que a vitória me foi granjeada: o ranger de dentes, o silibar do fogo, os suspiros pestilentos atenuam-se. Todas as recordações imundas se apagam. Os meus derradeiros remorsos somem-se - invejas dos mendigos, dos malfeitores, dos amigos da morte, dos atrasados de todas as espécies. - Ah, amaldiçoados, se eu me vingasse?!
É preciso ser-se totalmente moderno.
Nada de cânticos: há que conservar o terreno ganho. Dura noite! o sangue seco fumega sobre o meu rosto, e nada tenho atrás de mim a não ser este horrível arbusto!? O combate espiritual é tão brutal como a batalha dos homens; mas a visão da justiça só para Deus é prazer.
Não obstante, é a vigília. recebamos todos os influxos de rigor e de ternura verdadeira. E, ao raiar da aurora, munidos de uma ardente paciência, entraremos nas cidades esplêndidas.
O que dizia eu de mãos amigas! A vantagem é que posso rir dos velhos amores enganosos, e encher de vergonha esses casais mentirosos, - eu bem vi o inferno das mulheres lá em baixo; - e ser-me-á permitido possuir a verdade num corpo e numa alma.
... depois deste texto ["Uma temporada no Inferno", escrito entre Abril e Agosto de 1873], e à excepção não confirmada de alguns poemas de Illuminations, Rimbaud não escreverá mais nada, além de cartas. E, a uma pergunta que anos mais tarde o seu velho amigo Delahaye lhe fará acerca da sua posição relativamente às letras francesas, responderá: "je ne m'occupe plus de ça".
O prazer de desenhar bigodes e demais particularidades nas imagens públicas é injustamente ignorado. Faz parte do rol dos pequenos grandes prazeres que nada custam relativamente à satisfação que oferecem, como apanhar Sol, comer morangos e beber água fresca. Andava há muitos meses (confesso, talvez um ano e pouco) com vontade de experimentar no computador e na internet. Não é a mesma coisa, mas o paint, quando comparado com uma esferográfica, abre possibilidades inimagináveis. No fim, o prazer primordial permanece.
1. Últimos dias para ver Quem tem medo de Virginia Wolf?, de Edward Albee.
Encenação de João Paulo Costa, com António Capelo, Glória Férias, Mário Santos e Sandra Salomé. No Auditório da Academia Contemporânea do Espectáculo, Praça Coronel Pacheco, nº. 1 (Porto)
Até 24 de Outubro, sábado às 21h30; domingo às 16h00. Tel. 222089007. Bilhetes a 10 euros
3.Figuras, Figurantes e Figurões, de Luiz Pacheco, saiu a semana passada com o Independente. Convenci o senhor do quiosque a abrir a caixa das devoluções e resgatei dois exemplares. «De acordo. Mas, para mim, incorro sempre que puder, sempre que o ache necessário como medida de higiene profícua no feio facciosismo. Parece-me urgente. Nem assim tão fácil, porque é a vida que se arrisca quando se afirma (António Maria Lisboa). A verdade e o rigor. Não estamos aqui para brincar.» (último parágrafo da última página). Pois claro!
4. Se houvesse um canal de serviço público atento às necessidades da comunidade, de certeza que, muito em breve, veriamos Jaime (pelo menos) na televisão.
Acabo de saber pelo macguffinho que o Pastilhas acabou. Não vou fazer copy paste do que ele disse porque o descabelado do senhor Mustang até se esqueceu de mim. Prefiro mandar uma daquelas beijocas fofas a todos os pastilhinhas de boa memória, com blogue ou sem blogue, recordando as boas amizades que por lá se formaram.
each man kills the thing he loves [episódio #1 flashback]
A primeira morte de Rimbaud ocorreu em Julho de 1873, em Bruxelas. Do outro lado estava Verlaine. A vítima tentou anular o crime no tribunal, assim:
Acte de Renonciation
Je soussigné Arthur Rimbaud, 19 ans, homme de lettres, demeurant ordinairement à Charleville, (Ardennes-France), déclare, pour rendre hommage à la vérité, que le Jeudi 10 courant vers 2 heures, au moment où Mr Paul Verlaine, dans la chambre de sa mère, a tiré sur moi un coup de revolver qui m'a blessé légèrement au poignet gauche, Mr Verlaine était dans un tel état d'ivresse qu'il n'avait point conscience de son action
Que je suis intimement persuadé qu'en achetant cette arme, Mr Verlaine n'avait aucune intention hostile contre moi, et qu'il n'y avait point de préméditation criminelle dans l'acte de fermer la porte à clef sur nous
Que la cause de l'ivresse de Mr Verlaine tenait simplement à l'idée de ses contrariétés avec Mme Verlaine, sa femme
Je déclare en outre lui offrir volontiers et consentir à ma renonciation pure et simple à toute action criminelle correctionnelle et civile, et me désiste dès aujourd'hui des bénéfices de toute poursuite qui serait ou pourrait être intentée par le ministère public contre Mr Verlaine pour le fait dont il s'agit
As cartas de amor dos outros raramente me interessam. A menos que estejam para além de qualquer coisa. De quê? Não sei explicar mas o Georg Büchner sabe, tem a ver com rãs e peixes, febres e alucinações, fenol?
Büchner escreveu esta extraordinária e comovente carta à sua noiva, Minna, em 1837. A tradução é de Ernesto Sampaio e acompanha o texto Lenz, editado pela Hiena em 1986. É um livro tão curto quanto intenso mas que, infelizmente, se encontra esgotado (no entanto, a quem interessar, posso informar que existe um exemplar na Biblioteca Municipal Silvestre Ribeiro, na Praia da Vitória, na Terceira).
Neste momento não há nenhum livro de Büchner (traduzido, editado e) disponível, nem mesmo a peça Woyzeck. E não percebo porquê.
À Noiva
Zurique, 13 de Janeiro de 1837
Minha querida menina.... conto pelos dedos as semanas que faltam até à Ressurreição. Tudo se torna cada vez mais aborrecido. Ao princípio era mais fácil: novas vistas, novas caras, situações, tarefas... mas agora já estou acostumado e esta regularidade diverge da minha. O que me vale é manter activa a imaginação. A preparação mecânica dos ensaios para o microscópio deixa-a livre. Vejo-te sempre entre rabos de peixe e dedos de rã. Não será isto mais comovente do que a história de Abelardo, e de como Eloísa se lhe interpôs entre os lábios e a oração? Oh, cada dia me torno mais poético, os meus pensamentos nadam em fenol! Graças a Deus, voltei a sonhar muito à noite. O meu descanso já não é tão pesado.
Eu não acredito em fantasmas. E tenho uma gata pequena que começou há pouco a aventurar-se em subidas e descidas pelas estantes da minha biblioteca. Se assim não fosse, teria ficado assustada quando hoje, ao acordar, encontrei um livro que pertenceu ao meu bisavô aberto no meio da sala, com uma fotografia dele, amarela, caída ao lado.
Onde está Prometeu - apoio e esteio da rocha?
Onde está o milhafre e os olhos amarelos,
ameaça de garras voando rasante?
Não mais sucederá - as tragédias não voltam,
mas estes lábios ao ataque, mas estes lábios
vão direitos a Ésquilo, o carregador,
direitos a Sófocles, o lenhador sábio.
Ele é eco, saudação, ele é marco, não - é relha...
O teatro de ar e pedra dos tempos crescentes
pôs-se de pé, e todos querem ver todos -
nascidos, mortais e os que não têm morte."
Óssip Mandelstam 1937
Tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra (Relógio d'Água, 2001)
Já por aqui falámos do excelente Daily Dose of Imagery. Agora, alguém criou um alter-site, que pretende disponibilizar o correspondente genérico de cada foto. O Sam Javanrough, obviamente, levou a coisa com uma gargalhada. Se fosse português levava a coisa para tribunal. Ou fazia uma exposição à UEFA...
posted by Paulo on 15:29
faut-il oublier les morts?
Chaque année, il nous faut rayer des noms sur le carnet d'adresses de notre agenda et il arrive un moment ou nous nous apercevons que nous connaissons plus de morts que de vivants.
Cette constatation, simple comme au revoir, nous a dicte, à Jean Gruault et à moi, le scénario de "La chambre verte" qui entremêle deux histoires courtes de Henry James et des notations biographiques sur sa fidélité au souvenir de sa fiancée disparue.
Le film montre donc l'évolution des relations entre deux êtres qui aiment les morts et les respectent, un homme et une femme qui refuse l'oubli. Contrairement a ce que les habitudes sociales et religieuses font croire, il arrive que l'on entretienne avec certains morts des relations aussi agressives et passionnées qu'avec les vivants.
Les péripéties de "La chambre verte" tournent autour de ces questions: faut-il oublier les morts? Que se passerait-il si, indifférents à l'usure du temps, nous leur restions attaches par des sentiments aussi violents que ceux qui nous lient aux vivants ?
Algumas frases de François Truffaut sobre "O Quarto Verde", em exibição no canal arte (que, dizem-me, está prestes a sair da grelha da TV Cabo), na próxima quinta-feira, dia 21 às 19h45. A não perder.
posted by Anónimo on 13:39
A mi madre
(reivindicación de una hermosura)
Escucha en las noches cómo se rasga la seda
y cae sin ruido la taza de té al suelo
como una magia
tú que sólo palabras dulces tienes para los muertos
y un manojo de flores llevas en la mano
para esperar a la Muerte
que cae de su corcel, herida
por un caballero que la apresa con sus labios brillantes
y llora por las noches pensando que le amabas,
y dice sal al jardín y contempla cómo caen las estrellas
y hablemos quedamente para que nadie nos escuche
ven, escúchame hablemos de nuestros muebles
tengo una rosa tatuada en la mejilla y un bastón con empuñadura en forma de pato
y dicen que llueve por nosotros y que la nieve es nuestra
y ahora que el poema expira
te digo como un niño, ven
he construido una diadema
(sal al jardín y verás cómo la noche nos envuelve)
...
Martha Isabel Moia: Empecemos por entrar, pues, en los espacios más gratos: el jardín y el bosque.
Alejandra Pizarnik: Una de las frases que más me obsesiona la dice la pequeña Alice en el país de las maravillas: -«Sólo vine a ver el jardín»: Para Alice y para mí, el jardín sería el lugar de la cita o, dicho con las palabras de Mircea Eliade, el centro del mundo. Lo cual me sugiere esta frase: El jardín es verde en el cerebro. Frase mía que me conduce a otra siguiente de Georges Bachelard, que espero recordar fielmente: El jardín del recuerdo-sueño, perdido en un más allá del pasado verdadero.
M I M: En cuanto a tu bosque, se aparece como sinónimo de silencio. Mas yo siento otros significados. Por ejemplo, tu bosque podría ser una alusión a lo prohibido, a lo oculto.
A P: ¿Por qué no? Pero también sugeriría la infancia, el cuerpo, la noche.
M I M: ¿Entraste alguna vez en el jardín?
A P: Proust, al analizar los deseos, dice que los deseos no quieren analizarse sino satisfacerse, esto es: no quiero hablar del jardín, quiero verlo. Claro es que lo que digo no deja de ser pueril, pues en esta vida nunca hacemos lo que queremos. Lo cual es un motivo más para querer ver el jardín, aun si es imposible, sobre todo si es imposible.
...
The wind billows constantly throughout the picture. It does not let up even in the interiors, for doors are swept open and windows blown shut. Outside there are not only sweeping wind storms, but tornadoes as well.
Victor Sjöström e Lilian Gish na Montanha Mágica, em seis posts.
"O Vento" na Cinemateca, dia 26 às 19h30 e dia 28 às 19h00.
Le rêve de l'individu c'est d'être deux. Le rêve de l'Etat c'est d'être seul.
Saio do filme do Godard ainda atordoada. Atravesso a cidade. À minha frente as luzes dos carros, como em Sarajevo. Anouar Brahem toca Déjà la nuit. Na cabeça, as palavras, enredadas umas nas outras, "matar um homem para defender uma ideia, não é defender uma ideia, é matar um homem", "campo, contracampo, a mesma imagem", "Porquê Sarajevo?"
Entro no viaduto de Gonçalo Cristovão e leio as palavras luminosas que desfilam no painel do edifício do JN: igrejas em Bagdad atacadas....
Fecho os olhos e vejo o rosto de Olga, campo/contracampo, imagino o filme de Olga Brodsky, junto à ponte de Mostar, nous enterrons nos jours dans la cendre des légendes.
CocoRosie: I once fell in love with you / Just because the sky turned from gray / Into blue / It was a good friday / The streets were open and empty / No more passion ...