«Pode-se estar fatigado do mundo - fatigado dos fazedores de orações de poemas cujos rituais são recreativos, humanos e agradáveis, mas piores do que irritantes porque não têm realidade - e continuam a querer muito à própria realidade. Desejamos vislumbrar a realidade. Deus é uma imensidão, enquanto esta doença, esta morte que reside em mim, este pequeno e rigidamente definido evento pedestre, é simplesmente real, sem milagres nem instruções. Estou de pé numa jangada desancorada, um bote que se move na face flexível e fluente de um rio. É precário. O desconhecido, o tenso equilíbrio, as sacudidelas e a instabilidade espalham-se em largas ondulações através de todos os meus pensamentos. Paz? Nunca houve nenhuma no mundo. Mas estou agora a viajar na água maleável, sob o céu e à deriva; ouço-me rir, de nervoso ao princípio e, depois, genuinamente fascinado. O riso está todo à minha volta.»
Harold Brodkey no final de "Esta feroz escuridão - a história da minha morte" (tradução de José Luís Luna, edição da Bizâncio, Novembro de 1999)
Watcher, Natália, João ou Isabel. Para ler na Pública.