Gosto muito de documentários sobre o mar e os seus estranhos habitantes. Desconfio que é por causa das cores, das texturas e do ritmo ondulado de tudo o que se move na água, mas não é isso que interessa agora. Noutro dia, apanhei na 2: o final de um filme sobre um dos comportamentos que mais me entusiasma: o mimetismo. Um grupo de biólogos queria descobrir se, conforme parecia, um determinado polvo imitava outros animais. Era preciso apanhá-lo no acto mais do que uma vez (para se tornar regra) e ainda verificar se ele, para além do disfarce, copiava também o comportamento desse outro animal (em termos científicos, só assim se considera o carácter mimético). A tarefa era difícil, envolveu horas e horas debaixo de água, câmara em riste, frente àquele bicho que, apercebendo-se das filmagens, ficava quieto, num insólito jogo de paciência.
Os cientistas contaram com a preciosa ajuda de um grupo de mergulhadores e juntos ganharam na persistência. Conseguiram imagens incríveis do polvo a fazer-se de leão marinho ou de solha (garanto-vos que era perfeito no seu disfarce espalmado) e puderam assim determinar que aquele cefalópode era, de facto, um imitador.
Mas o plano mais belo de todos aconteceu de imprevisto. Já a equipa arrumava as tralhas quando o polvo, depois de uma inesperada e rápida subida até à superfície, deixou-se descer em queda livre, como se voasse, como um bailarino.