Eu não te dizia, Zazie? A caixinha do Jean Vigo está quase a reaparecer por aí. Descobri esta e outras notícias formidáveis neste site, que convém manter debaixo de olho. John Cassavetes e "Alphaville", de Godard já em Setembro e Robert Bresson (finalmente!!!) em 2005.
ou: Método para percorrer a "Biblioteca" de Gonçalo M. Tavares
Pego no livro e abro-o ao acaso: páginas cento e sessenta e quatro, cento e sessenta cinco. Os olhos escorregam para o canto inferior direito:
Thomas Bernhard O cérebro quando toca nos objectos.
Como um alimento que se come, o que se pensa não é de imediato esquecido, tal como o que se come não é expulso de imediato. O Homem é 30 por cento de esquecimento. Depois há o lado dos alimentos e da curiosidade.
O cérebro quando pensa num objecto, agarra num objecto. Quando esquece, larga o objecto.
Largo o livro. Quando volto a ele procuro um nome, como na lista telefónica. Página setenta e quatro, não me decido pelo primeiro ou pelo segundo, Heinrich von Kleist ou Henri Michaux?
Almoço com Henri Michaux, disfarçado de Plume:
Era um homem que tinha um apetite de vencedor mas um número de moedas de vencido. Em frente ao restaurante caro sacou da imaginação e contou uma história ao empregado que lhe havia apresentado a conta obtusa. Era uma vez um homem que contava histórias para não pagar a conta de um restaurante rico, e o empregado encantado com a história deixou-o sair sem pagar. Era esta a história. Henri olhou para o empregado para verficar se ele tinha gostado, e mais que isso, compreendido. O empregado disse: em dólares, por favor.
E agora? Eu não pago! Sigo a ordem alfabética? Letra "a", de Adolfo Bioy Casares, Adorno, Alan Watts, Albert Camus, Aldous Huxley, Amiel, Anaximandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto, André Breton, Antoin Artaud, Apuleio, Aragon, Aristófanes, Aristóteles, Arquitas de Tarento, Arhur Adamov e Arthur Miller. Páro aqui:
Nenhum homem é feliz apenas com um frigorífico, um ordenado, uma mulher e duas cervejas. Nenhuma lâmpada tem tanta luz que baste uma lâmpada para permaneceres alegre por dentro.
Tenho que sair - disse ele, e bateu com a porta.
Saio. Levo o livro no saco, só pesa duzentas e noventa gramas. Entro no autocarro. A página noventa e oito é a cave de Lautréamont, somos bonzinhos até ao limite em que a bondade nos prejudica seriamente a nível muscular e financeiro, explica o Conde. O sangue desata a correr e a respiração acelera. Preciso de ar, na página cento e setenta subo ao terraço com o Tonino Guerra, para espreitar a cidade. Pela janela, sob sol de Itália toca um telefone, é Cesare Pavese.
Distraio-me e esqueço o livro no autocarro. Alguém o encontra, abre-o inesperadamente na página cento e setenta e sete e lê, pela primeira vez na vida, W. B. Yeats:
Nenhum poeta ficará contente se ficar só com a dança e o modo de tocar nos vivos, e se perder a maneira como o ouvido gosta que as palavras toquem umas nas outras.
Os itálicos são da "Biblioteca", de Gonçalo M. Tavares
Campo das Letras, colecção Campo da Literatura # 106, 2004
posted by Anónimo on 15:37
1. Na Cinemateca, a bilheteira está aberta das 14:30 às 15:30 e depois a partir das 18:00. Mesmo que, à tarde, se consiga chegar às 18:00, depois de alguns malabarismos, não raro acontece que o filme que queríamos ver está esgotado, porque os bilhetes foram todos comprados no primeiro horário. Está mal. Quem está a trabalhar não consegue ver os filmes que passam quando não está a trabalhar.
2. Que se passa com a Biblioteca Municipal de São Lázaro? Fechou para obras em 2002, na altura, por alguns meses. A reabertura foi, desde então, calculada para certas datas e, de todas as vezes, foi adiada. Passados dois anos já não há sequer datas de reabertura susceptíveis de adiamento - não se sabe quando voltará a abrir.
3. Os incêndios não param. Hoje de manhã, na rádio, estava um senhor a lamentar a perda de sobreiros que davam rolhas para inúmeras garrafas de vinho e por vezes até para garrafas de champanhe de marcas estrangeiras. Há esta necessidade de justificar a defesa das árvores com a utilidade das árvores. É mais simples que isso. Não são apenas belas e úteis e frescas. São seres vivos. E eu não tocaria num cabelo de um ladrão de automóveis, mas com gosto torturaria um incendiário.
posted by camponesa pragmática on 10:52
Por vezes, junto à claridade da manhã,
descubro que as palavras não me pertencem,
que o sopro que lhes dou é ainda
mais aparente do que certas imagens
reveladas pelos espelhos e que usá-las,
por exemplo, para descrever a melancolia
é esperar demais dos lábios - porque o que
se quer é só o esforço de contemplar uma flor
ou uma pedra na berma da estrada -
Porque é que o Michael Moore, que é um fala-barato, chega até nós com pompa e circunstância e Errol Morris, que é um homem inteligente e um cineasta brilhante, não?
[No Fora do Mundo o Pedro Mexia fala dos dois cineastas e ainda de Frederick Wiseman. Subscrevo tudo que é dito no post.]
Em Abril de 2001 o Hospital Psiquiátrico Conde Ferreira abriu as portas. A Lúcia Sigalho entrou e pôs-se a inventar jardins, jardins como eu nunca vi, jardins de flores, jardins de papéis, jardins fechados.
Lembro-me de António Gancho, o poeta múltiplo, numa pequena televisão. É um filme que anda por aí perdido. Gosto de filmes, do Charlot. O Charlot sou eu. Eu também gosto. Eu também sou. Eu sou Tu.
Visita a António Gancho, na Casa do Telhal | 2ª semana | (vídeo) | Narração de Lúcia Sigalho:
Porque o Alexandre já conhecia o trabalho dele e porque, na véspera de vir para o Porto, encontro o Daniel Oliveira - conta que o pai, o Herberto Helder, guardava os poemas ao Gancho no início de ele estar internado, nos anos sessenta. O Herberto Helder empresta-nos O Ar da Manhã, é um livro lindo de um grande poeta português. Marcamos a entrevista para uma quarta-feira, depois de pedir as autorizações todas à casa do Telhal. Vamos do Porto para Lisboa e de Lisboa, já com o Daniel, seguimos para perto de Mem Martins. É tudo aparentemente muito diferente do Conde de Ferreira, a construção é muito mais recente e há flores nos jardins que estão tratados. À porta mandam-nos seguir para a enfermaria de São João de Deus, um doente leva-nos ao bar e apresenta-nos ao António Gancho. A produtora da Companhia disse-me que ele tinha ficado muito contente com a ideia da entrevista mas nessa tarde já não se lembrava que nós lá íamos. Sentamo-nos numa mesa cá fora, à sombra, virados para uma estrada por onde passam camiões vários. Estamos a começar a conversar, o António quer saber pelo Daniel notícias do Herberto Helder, quando ouvimos gritos furiosos a avançarem na nossa direcção: era o director da Casa do Telhal, visvelmente alterado. Não tínhamos ido primeiro ter com ele, apresentar uma declaração da Sensurround, carimbada pela Companhia, em que nos comprometíamos a só filmar a entrevista e mais nada. O António Gancho fica enervadíssimo, ficamos todos. Desfaz-se o equívoco, pedimos desculpa, acalmamos todos, o director volta para trás pelo mesmo caminho. O António Gancho deve também assinar uma declaração. Não gosta. Estamos um bocado ansiosos e a conversa na primeira hora é feita à beira do colapso. Mas do que ele gosta é de perguntar ao Daniel pelo Herberto, e quando eu leio em voz alta a "Ilustrazione" , finalmente descontrai. "Ela percebe os meus poemas". É um bicho, um artista dos pés à cabeça. Estuda-nos as reacções, atira-nos frases como armas de arremesso. Tem os olhos muito azuis, uma maneira de rir como um gaiato e observa. Fala de muita gente que morreu. A Luísa Neto Jorge. O poema "Constelação Vega" é dedicado ao irmão dela. Passaram três horas, ele já bebeu um café e uma garrafa de água de litro e meio. Fala muito dos remédios, dos remédios. E dos electrochoques que levou. Os outros doentes interrompem, querem cigarros - os do António Gancho são Coronas, fuma um maço inteiro e abre o segundo, e vêm da Rua das Portas de Santo Antão - querem falar. Nós não somos da televisão. Ele conhecia o Camané e o Miguel Portas. Está ali desde 63. Vive ali. Sempre internado. Tinha 26 anos. Recebe uma pensão de 90 contos do Ministério da Cultura, tem medo de perder a pensão.Tem um walkman ligado no bolso do casaco e mostra-me três canetas. Convidamo-lo a vir ao Porto..Quando saímos, ele fica na lavandaria para pagar a conta da lavandaria (!), mas afinal vem apanhar-nos ao portão e fica a conversar a conversar. Gosto de filmes, do Charlot. O Charlot sou eu. Eu também gosto. Eu também sou. Eu sou Tu.
here I am
in the ground
my mouth
open
and
I can't even say
mama,
and
the dogs run by and stop and piss
on my stone; I get it all
except the sun
and my suit is looking
bad
and yesterday
the last of my left
arm gone
very little left, all harp-like
without music.
at least a drunk
in bed with a cigarette
might cause 5 fire
engines and
33 men.
I can't
do
any
thing.
but p.s. -- Hector Richmond in the next
tomb thinks only of Mozart and candy
caterpillars.
he is
very bad
company.
Il y a dans mes pays, dans mes pays enchantés
Il y a des jeunes reines, brunes comme le blé
Elles se promènent là, là où, aussi, il y a des mâles
Des jeunes oui, oui des jeunes rois, beaux et droits comme un Phâle
Vous savez bien où çà se passe?
Le savez-vous, alors?
Tout çà où l'imagination chasse
la realité du dehors.
C'est vrai que ces reines et ces rois
jamais n'ont existé
Ça importe pas.
Importe qu'ils sont beaux
belles elles
avec des seins bruns comme le blé.
A Atalanta adiou a estreia d' O Regresso de Andrei Zvyagintsev (prometida a 15 de Julho) para 12 de Agosto. Nesse dia vou estar longe das salas de cinema. Ah, não lhes perdoo, não lhes perdoo. Há quase um ano que espero por ele e agora este desencontro...
She said: It looks. Don't you think it looks a lot like* Edward Hopper?
Used Book Store In Butte, Montana
I was somehow reminded of Truffaut's "Fahrenheit 461"
on my Sunday morning stroll through Butte.
In Bradbury's science fiction novel
"used books" would have been a contradiction in terms,
and would only have been available
in stores like this one.
Do nosso correspondente em Coimbra chega-nos um pedacinho de "Uma Coisa em Forma de Assim", colecção de crónicas do Alexandre O'Neill que a Assírio & Alvim acaba de (re)editar. Gourmet, chama-lhe o Miguel. Para abrir o apetite, da crónica "Desaprender":
«Para não falar de modéstia - e afastando, desde já, qualquer vislumbre de proselitismo - eu arriscaria dizer que está condenado a si mesmo todo o escritor que não prestar mais atenção aos outros e às coisas deste mundo do que à sua - sem dúvida importante, sem dúvida decisiva - preciosa personalidade. O segredo da abelha é esse. Quem não tiver uma curiosidade encarniçada por tudo o que o rodeia, quem alguma vez supuser que dá mais do que recebe, está perdido para o tal desaprender que repõe em causa ideias e formas. É que, depois de se saber tudo, estará sempre tudo por saber. O criador deve ter a consciência de que, por melhor que crie, não consegue mais do que aproximações a uma perfeição que lhe é inatingível. Ele é um derrotado à partida. Sabê-lo e, apesar de tudo, prosseguir, é o seu único e legítimo motivo de orgulho.
O resto é bilros.»
«4'33" was inspired by Cage's visit to Harvard's anechoic chamber, designed to eliminate all sound; but instead of promised silence Cage was amazed and delighted to hear the pulsing of his blood and the whistling of his nerves».
It ain't no use to sit and wonder why, babe It don't matter, anyhow And it ain't no use to sit and wonder why, babe If you don't know by now When your rooster crows at the breaks of dawn Look out your window and I'll be gone You're the reason I'm traveling on Don't think twice, it's all right.
It ain't no use in turning on your light, babe That light I never knowed And it ain't no use in turning on your light, babe I'm on the dark side of the road But I wish there was somethin' you would do or say To try and make me change my mind and stay We never did too much talking anyway So don't think twice, it's all right.
It ain't no use in calling out my name, gal Like you never done before It ain't no use in calling out my name, gal I can't hear you any more I'm a-thinking and a-wond'rin' walking down the road I once loved a woman, a child I'm told I give her my heart but she wanted my soul Don't think twice, it's all right.
So long honey, babe Where I'm bound, I can't tell Goodbye's too good a word, babe So I'll just say fare thee well I ain't saying you treated me unkind You could have done better but I don't mind
You just kinda wasted my precious time
But don't think twice, it's all right.
"I tried in writing them [os seus artigos sobre jazz, publicados no Daily Telegraph entre 1961 e 1971] to be fair and conscientious, and there were many times when I substituted "challenging" for "insolent," "adventurous" for "excrutiating," and "colourful" for "viciously absurd" in athoroughly professional manner. Although my critical principle has been Eddie Condon's 'As it enters the ear, does it come in like broken glass or does it come in like honey?,' I've generally remembered that mine was not the only ear in the world. Above all, I hope they suggest I love jazz".
Isto tudo começou o ano passado com o cianómetro que encontrei no "Jogo de Nuvens" de Göethe, no voo entre as ilhas e o continente. O escritor descrevia-o como um instrumento para medir o azul do céu. Gostei da ideia e, apesar do invento não ter hoje em dia qualquer utilidade científica, pensei recriá-la sob a forma de um pequeno livro de fotografias que mostrasse as variantes da cor do céu ao longo do dia.
Fui esquecedo o projecto porque me faltava o meio de produção (uma máquina fotográfica digital) e, admito, por uma certa preguiça mas ocorreu-me há pouco que talvez o livro se possa fazer de outra forma, isto é, com as nossas e as vossas fotografias.
Já tenho o desenho do livro na cabeça, só preciso que me enviem fotografias do céu. No enquadramento podem aparecer apenas nuvens, aviões, pássaros e outros objectos voadores não identificados. O objectivo é mostrar as variantes da cor do céu, todos os outros elementos não devem ter destaque. Junto com a fotografia devem referir o local e a hora em que foi tirada. O livro será feito em formato digital (PDF) e será gratuito por isso esqueçam os royalties. A imagem deverá ser gravada em formato jpeg, com aproximadamente 12 X 12 cms e definação de 200 pixels por polegada (para permitir uma boa impressão). Podem mandar mais do que uma fotografia e, como não faço ideia se vai haver muitas ou não, aviso já que talvez seja obrigada a deixar algumas de fora ou então, caso não haja imagens suficientes, a não fazer livro nenhum.
Quem estiver interessado pode mandar um mail de inscrição, mas por favor não enviem já as fotografias que a caixa não aguenta, eu depois forneço um endereço mais compatível com o projecto.
Ao Navio de Espelhos que festeja hoje o seu primeiro aniversário. É uma das mais bonitas e apetecíveis livrarias que conheço. Vale a pena ir a Aveiro, ir à festa, ir à prestidigitação poética de António Poppe.
sexta-feira, julho 23, 2004
Como se impunha, o programa foi alterado. A RTP está a homenagear Carlos Paredes.
music filled with such longing, such unfulfillable longing. Nas palavras de Salieri, tão a propósito recordadas pelo Tó .
posted by zazie on 22:52
A Primavera de Botticelli
Daqui a nada na RTP1- Vidas- (22.30), um documentário da BBC acerca dos mistérios da Primavera de Botticelli.
De acordo com alguns estudiosos em que se deve salientar Warburg em 1845 e posteriormente Pasnofsky, a Primavera faria pendant com o Nascimento de Vénus e os dois quadros teriam uma leitura de cariz neo-platónico numa alegoria entre o Amor Sagrado e o Amor Profano, a Vénus Terrena e a Vénus Celestial.
No Nascimento, Vénus saída das águas, despida como uma deusa, pura e imaculada, recebida por Zéfiro agarrado à amada Flora; na Primavera, a deusa fértil da época das fecundações, recebendo as setas amorosas de Cupido, ladeada pela Primavera e por Flora, a deusa da fecundação, que se escapa dos braços do vento Zéfiro para fertilizar o solo, segundo o mito da renovação das estações.
Vénus a par da deusa Deméter, responsável pela manutenção das sementeiras que na Primavera tem a recompensa da companhia da filha- Proserpina (a deusa da primavera), raptada por Vulcano e obrigada a passar o tempo invernal nas profundezas do solo.
Warburg foi o primeiro a associar esta pintura com as festividades de Maio, na poderosa corte dos Medicis que, inteligentemente, aproveitavam a tradição pagã para festejos citadinos em sua honra. O poeta Poliziano escreveu em 1475 um poema em gesta dedicado ao jovem nobre Giulano de Médicis. Segundo os relatos da festividade, as jovens florentinas percorreram a cidade num carro alegórico, largando flores à sua volta e, chegando-se perto do jovem príncipe desafiaram com cânticos o seu coração empedernido.
Botticelli teria aproveitado este acontecimento para subtilmente o referir na sua Primavera. No lado esquerdo da pintura, as jovens graças viram as costas a Mercúrio, que recusa o amor profano e ergue o braço com o caduceu, procurando repelir os farrapos de nevoeiro que se prendem aos ramos das laranjeiras. A razão que despreza tudo o que as deusas da beleza, do amor e da Primavera têm para oferecer. O jovem e casto Giulinao de Médicis representado pelo deus da Razão e da solidão, única potência psicológica que é excluída das regiões do Amor Divinus e que se auto exclui do próprio Amor humanus.
ver: Erwin Panofsky, Renascimento e Renascimentos na Arte Ocidental, Ed. Presença, Lisboa, 1981.
Não é um devaneio de Göethe, o cianómetro existe mesmo. Foi inventado em 1787 por Horace-Bénédict de Saussure. É um instrumento de meteorologia; um simples cartão com uma escala de dezasseis azuis, do mais escuro ao mais claro; uma tentativa para medir e organizar algo tão instável como é o azul do céu. Saussure pensava que através da cor do céu poderia prever o tempo.
A sua descrição encontra-se no livro "Voyages dans les Alpes" de H.-B de Saussure. Arago François e Alexandre de Humbolt também utilizaram cianómetros nas suas expedições científicas.
Estas informações foram recolhidas aqui mas são os alunos da Escola de Lully (de Genebra) que melhor descrevem o cianómetro. Ora vejam se isto não é bonito.
posted by Anónimo on 13:02
- Apanhei folhas de hortelã. Fazemos um Pimm's?
- Num copo alto, cheio de gelo, como no Claridge's.
- Não estou vestida a preceito...
- Roubamos um modelo do Galliano.
- A saia vermelha, rodada?
Há uns anos arrastavam-me para o Blues Café uma vez de quinze em quinze dias. Eu condescendi até à altura em que comecei a trabalhar todos os dias e o meu tempo livre passou a ser mais raro, mais valioso e absolutamente insusceptível de desperdícios. Nas noites em que lá ia precisava de cerca de quinze a vinte minutos para deixar de ouvir. Quando conseguia, ficava a observar o bar mudo, as pessoas mudas, tudo mudo. Isso divertia-me e permitia-me permanecer no bar de forma discreta e urbana. Certas coisas, sem som, de insuportáveis passam a hilariantes.
Outras vezes, subia as escadas e ia limpar e absolver os olhos, até que de mim, ali, só restava o meu corpo vazio. Também as fotografias nos salvam. E esta é tão bonita.
Foi durante a minha passagem pelo Café Society que nasceu uma canção que se tornou o meu protesto pessoal: «Strange Fruit». O embrião da canção estava num poema escrito pelo Lewis Allen. A primeira vez que o vi foi no Café Society. Quando ele me mostrou aquele poema fiquei logo impressionada. Parecia que falava de todas as coisas que tinham morto o meu pai.
O Allen também tinha sabido das condições em que o meu pai morrera e, claro, estava interessado na minha voz. Ele sugeriu que Sonny White e eu fizéssemos a música para o poema. Por isso juntámo-nos os três e fizemos o trabalho em três semanas. Também tive uma grande ajuda do Danny Mendelsohn, um outro músico que já me tinha feito arranjos. Ajudou-me com muita paciência a fazer o arranjo para a canção porque não tinha a certeza se conseguia transmitir essas coisas, que tinham um significado para mim, ao público de um clube fino.
Tinha medo que as pessoas a detestassem. A primeira vez que a cantei fiquei com a sensação que tinha sido um erro e tinha razões para ter medo. Não houve sequer um ameaço de palmas quando acabei de cantar. Então uma só pessoa começou a bater palmas nervosamente. E de repente toda a gente estava a bater palmas.
My faith in the Creative Writing course (...) has been strengthned considerably by a very good response to the 'What is it Like to be a Bat?' exercise. I've just looked at the work handed in yesterday, and there are some excellent, if rather ribald, parodies or pastiches. (...)
What is it Like to be a Vampire Bat?
By Irv*ne W*lsh
We goat back to the auld cave aboot the same time, Gamps n me, jist is the sun wis rizin. Scotty wis back already, hangin from the ceiling feelin sorry for hisself. Ah hud goat ma fix from one ay they Highland bullocks that feel like shagpile rugs n legs, n Gamps hud foond a sheep wi its throat torn oot by a fox, the jammy cunt, but Scotty hud goat fuckall. (...)
What is it Like to be a Bat?
By S*lm*n R*shd**
What kind of question is that, sir? With all due respect, what would you say if I asked you, 'What is it like to be a man?' You would undoubtedly reply, 'It all depends on what kind of man.' What race, what colour, what class, what caste, what situation in life? Likewise with bats. We are of many kinds. (...)
What is it Like to be a Blind Bat?
By S*m**l B*ck*tt
Where? When? Why? Squeak. I am in the dark. I am always in the dark. It was not always so. Once there were periods of light, or shades of darkness. Squeak. There would be a faint luminosity from the mouth of the cave. When it faded I knew it would soon be time to leave the cave, with the others, to go flittering throught the dusk. Squeak. Now it is always dark, uniformly dark. Whether at any given moment it is dark outside my head as well as inside, I do not know. All I know, if know is the word, and it is not, is that I can see nothing. I can feel, hear, smell, but not see. Squeak. (...)