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sexta-feira, julho 23, 2004  

A Primavera de Botticelli



Daqui a nada na RTP1- Vidas- (22.30), um documentário da BBC acerca dos mistérios da Primavera de Botticelli.
 
De acordo com alguns estudiosos em que se deve salientar Warburg em 1845 e posteriormente Pasnofsky, a Primavera faria pendant com o Nascimento de Vénus e os dois quadros teriam uma leitura de cariz neo-platónico numa alegoria entre o Amor Sagrado e o Amor Profano, a Vénus Terrena e a Vénus Celestial.

No Nascimento, Vénus saída das águas, despida como uma deusa, pura e imaculada, recebida por Zéfiro agarrado à amada Flora; na Primavera, a deusa fértil da época das fecundações, recebendo as setas amorosas de Cupido, ladeada pela Primavera e por Flora, a deusa da fecundação, que se escapa dos braços do vento Zéfiro para fertilizar o solo, segundo o mito da renovação das estações.
Vénus a par da deusa Deméter, responsável pela manutenção das sementeiras que na Primavera tem a recompensa da companhia da filha- Proserpina (a deusa da primavera), raptada por Vulcano e obrigada a passar o tempo invernal nas profundezas do solo.

Warburg foi o primeiro a associar esta pintura com as festividades de Maio, na poderosa corte dos Medicis que, inteligentemente, aproveitavam a tradição pagã para festejos citadinos em sua honra. O poeta Poliziano escreveu em 1475 um poema em gesta dedicado ao jovem nobre Giulano de Médicis. Segundo os relatos da festividade, as jovens florentinas percorreram a cidade num carro alegórico, largando flores à sua volta e, chegando-se perto do jovem príncipe desafiaram com cânticos o seu coração empedernido.

Botticelli teria aproveitado este acontecimento para subtilmente o referir na sua Primavera. No lado esquerdo da pintura, as jovens graças viram as costas a Mercúrio, que recusa o amor profano e ergue o braço com o caduceu, procurando repelir os farrapos de nevoeiro que se prendem aos ramos das laranjeiras. A razão que despreza tudo o que as deusas da beleza, do amor e da Primavera têm para oferecer. O jovem e casto Giulinao de Médicis representado pelo deus da Razão e da solidão, única potência psicológica que é excluída das regiões do Amor Divinus e que se auto exclui do próprio Amor humanus.
 
ver: Erwin Panofsky, Renascimento e Renascimentos na Arte Ocidental, Ed. Presença, Lisboa, 1981.

posted by zazie on 21:27


 
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