Há uns anos arrastavam-me para o Blues Café uma vez de quinze em quinze dias. Eu condescendi até à altura em que comecei a trabalhar todos os dias e o meu tempo livre passou a ser mais raro, mais valioso e absolutamente insusceptível de desperdícios. Nas noites em que lá ia precisava de cerca de quinze a vinte minutos para deixar de ouvir. Quando conseguia, ficava a observar o bar mudo, as pessoas mudas, tudo mudo. Isso divertia-me e permitia-me permanecer no bar de forma discreta e urbana. Certas coisas, sem som, de insuportáveis passam a hilariantes.
Outras vezes, subia as escadas e ia limpar e absolver os olhos, até que de mim, ali, só restava o meu corpo vazio. Também as fotografias nos salvam. E esta é tão bonita.