Mendelssohn en 1809, Schumann et Chopin en 1810, Liszt en 1811: quatre des plus grands musiciens du XIXe siècle sont nés en l'espace de trois ans. Les membres de cette "génération 1810" étaient tous des musiciens très complets, à la fois immenses pianistes, compositeurs de génie et excellents critiques musicaux. Tous ont composé des œuvres symphoniques, de la musique de chambre, des œuvres pour piano seul et des œuvres vocales (sauf Chopin). Ce sont ces dernières qu'ARTE a privilégiées dans ses retransmissions de la Folle Journée de Nantes 2004. On pourra ainsi entendre la pianiste Brigitte Engerer et le chœur de chambre Accentus, dirigé par Laurence Equilbey, dans un extrait du Via crucis de Liszt. Accentus interprétera ensuite des motets de Mendelssohn. Puis laissera place au RIAS-Kammerchor, dirigé par Daniel Reuss, dans une œuvre vocale de Schumann. Enfin, les deux formations se retrouveront pour Trois Psaumes pour soli et double chœur (op. 78) de Mendelssohn. De Chopin, on entendra un Nocturne interprété par Brigitte Engerer.
É difícil traduzir Walser. Olivier Fressard fala sobre as dificuldades, dá exemplos e apresenta resultados. Para ler aqui
Il n'était pas gentil (Er war nicht nett, p.237)
Maintenant il ne peut plus
se promener comme il lui plaît à travers la beauté du monde,
plaisanter avec les femmes et dans la lumière de l’aurore,
accorder une attention distraite aux silhouettes qui flânent;
Maintenant il vit dans une sorte de cloître.
La Maîtresse l’a mis,
là où il peut seulement encore prendre un livre,
afin qu’il s’amende progressivement car il était
désobligeant envers ceux auxquels maintenant
il pense, incessamment même, et elle le sait.
De savoir que cela est ainsi et pas autrement,
elle devient toujours plus belle. Le tourmenter
est doux pour elle.
Was Walser a great writer? If one is reluctant to call him great, said Canetti, that is only because nothing could be more alien to him than greatness. In a late poem Walser wrote:
I would wish it on no one to be me.
Only I am capable of bearing myself.
To know so much, to have seen so much, and
To say nothing, just about nothing.
Il y a Walser le fou et Walser le sage. Il y a Walser l’émerveillé et Walser le désespéré. Il y a le modeste Robert Walser et l’orgueilleux retranché dans le silence. Il y a le gentil Robert et le Robert qui perd ses nerfs dans les estaminets. Il y a le Walser qui aime tout le monde et celui qui vit en solitaire. Tout le monde peut aimer Robert Walser parce qu’il est à la fois tous ces personnages d’une manière si originale qu’il n’y a qu’un Robert Walser, écrivain génial à la personnalité insaisissable.
[...]
Henry Purcell, "The Plaint: O Let me Weep, For Ever Weep".
O silêncio em volta da música.
O som da chuva nos estores.
As árvores molhadas negras, negras.
A noite parada, fora do tempo.
Pensei em Casanova
Velho
A correr para o refeitório
Os cabelos
Outrora empoados
Leva-os o vento.
A fama de si que nos chegou
Desconhece-a
E não sente satisfação nenhuma
Pela sua antiga vida.
Porque nos apresssamos a tirar conclusões
Da sua biografia?
Vejo-o a rapar com pão a malga
A barba por fazer
Uma paisagem em Zagreb ou Trieste
Enevoada.
E quanto ao que por aí andais a contar,
Dessas histórias sobre o Casanova
Nada sei.
— Porque é que uma gata patareca se apaixona por um rato que lhe atira tijolos?
Na resposta tenha em consideração toda a problemática amorosa dos tijolos, a interacção entre o comportamento vil do rato e o seu nome Ignatz e por aí fora.
— Não respondo, por pudor.
— Porque é que uma gata desmiolada não gosta do cão que gosta dela?
Trace uma cronologia dos casos desesperados entre gatos e cães, analogias e qualidade semântica deste tipo de relações.
— Um gato nunca gosta de um cão polícia… sei mas não digo.
— Porque é que George Herriman está sempre a mudar o Cenário?
Responda indicando breve biografia do desenhador (data de nascimento, todos os estilos utilizados, gama de cores, que café frequentava e o que fazia nos tempos livres,…), classificação estética dos desenhos, opiniões dos críticos mais conceituados, interesse antropológico da obra.
— Ele é um poeta dissimulado e o resto não interessa.
quinta-feira, janeiro 29, 2004 Welles disse: «John Ford é um poeta. Um comediante». (Cahiers du Cinema, 165). Nos melhores filme de Ford estão presentes essas duas facetas da sua personalidade: é, afinal, a mistura da comédia e pathos em The Sun Shines Bright (um «remake» informal do filme de Will Rogers, Judge Priest) que dá ao filme o seu notável sentido de humanidade, tal como os abruptos saltos da comédia para a tragédia em The Wings of Eagles lhe dão um tão extraordinário tom de verdade.
Cada um dos filmes de Ford está cheio de ecos de outro — o que faz com que a utilização dos mesmos actores, de ano para ano, de década para década, seja muito mais do que o simples construir de uma «companhia privada» — e nenhum dos seus filmes pode ser verdadeiramente considerado em separado dos restantes.
O que a Mãe Joad diz sobre a sua vida (em The Grapes of Wrath) também se aplica à obra de Ford: «… é um fluir contínuo tal como um riacho, com pequenos remoinhos, pequenas quedas de água, mas o rio, esse continua sempre».
Peter Bogdanovich, “John Ford: Poeta e Comediante”, retirado do catálogo da Cinemateca Portuguesa dedicado ao John Ford em 1983
Ninguém me mandou atravessar a rua, ninguém me mandou parar a olhar para a montra. Foi esse o meu erro. Vi “A harpa de ervas” e gosto tanto do livro e é tão raro vê-lo assim, à venda, ao lado de outros livros, que resolvi observar tudo com minúcia, quem sabe o que encontraria? Por exemplo, mais abaixo, uma edição de Jerome K. Jerome acrescentava aos “Três homens num bote”, uma espécie de subtítulo entre parêntesis, assim: (sem falar do cão). Aproveito e recupero a frase que, infelizmente, escapou às edições posteriores.
A montra revelava-se cada vez mais interessante e o melhor estava para chegar: do outro lado, entre muitas lombadas descortinei “Antes que o galo cante” de Cesare Pavese, edição de 1959 da Arcácia, uma capa dura, amarelo torrado, por três euros e meio. Era a hora do almoço, o alfarrabista estava fechado. Ainda pensei ficar à porta à espera mas ri-me da minha figura, "ninguém vai dar conta do Pavese aqui tão sossegado, ninguém que passe na Rua Formosa sabe quem é o Pavese, volto antes das sete". E voltei e o Pavese estava à minha espera. A história já é suficientemente feliz e devia acabar aqui mas não é que entrando na loja senti, não, não senti, cheirei mesmo, sim é aqui que está a “Zazie no Metro” e estava: edição do Círculo de Leitores de Março de 1974, tradução de Alexandre Rodrigues. Na capa dura uma miúda a preto e branco sobre uma parede castanha, folheio-o e desconfio que nunca foi lido, também estava à minha espera…
— Ah! Paris! – proferiu, num tom encorajante. — Que bela cidade! Olha-me para isto, como é belo!
— Estou-me marimbando – replicou Zazie —; eu o que queria era ir no Metro.
“montar um filme é ligar as pessoas umas às outras e aos objectos através dos olhares”Notas sobre o Cinematógrafo “Quando filmo, não realizo nada. Agarro o real, pedaços do real que depois disponho em conjunto numa certa ordem.”Entrevista L’Express, 23-XII, 1959.
Os gestos
Un condamné à mort s’est échappé ;Pickpocket
Como um artesão, trabalho frenético das mãos. Como um jogador, tece a sorte e o azar.
"Que se sinta no teu filme a alma e o coração, mas que seja feito como um trabalho de mãos” Notas sobre o Cinematógrafo.
As sombras
Les anges du péché
"O cinematógrafo é a arte de não mostrar nada. É coisa de luz e sombra. É preciso muita sombra.” Entevista aos Cahiers du Cinèma, nº 140, Fev. 1963
As marcas
Une femme douce; Au Hasard Bathazar
Ver os seres vivos e os objectos nas suas partes separáveis. Isolar essas partes. Torná-las independentes a fim de as dotar de uma nova dependência” Notas sobre o Cinematógrafo.
A redenção
Une femme douce; Procés de Jeanne d’Arc
O vento sopra onde quer.
“O vínculo insensível que liga as tuas imagens mais distantes e mais diversas, é a tua visão” Notas sobre...
"Estas histórias são de uma delicadeza totalmente inabitual, isso, todos o entendem. O que nem todos vêem, é que estas histórias contêm não a tensão nervosa de uma vida decadente, mas a atmosfera pura e vivaz da convalescença." Walter Benjamin
O Salteador foi escrito por Robert Walser em 1925 e editado pela primeira vez em 1972: quarenta e sete anos de espera. Em Janeiro do ano passado saiu a tradução portuguesa (de Leopoldina Almeida), ora quarenta e sete mais trinta e um dá setenta e oito anos perdidos. Não espero mais, vou começar a ler… não te esqueças Alexandra. (já vi que não, já vi que estão todos curados...)
A Edite ama-o. Mais adiante voltarei a falar disto. Quer-me parecer que ela não deveria ter-se relacionado sequer com este inútil, com esse pobretanas. Há quem diga que ela…
Os livros são acolhedoras moradas para a nossa necessidade de consolo
A frase que vos proponho para compreensão do meu modo de ler e do reconhecimento e gratidão que devo à Literatura, foi-me inspirada pelo belíssimo título de um livro de Stig Dagerman – “A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer”. Nesse pequenino livro o escritor fala-nos de um irremissível sentimento de perda que carregamos dentro de nós e para o qual tentamos, continuamente, descobrir um bálsamo apaziguador. Nos livros podemos encontrar refúgio, porque são uma morada de acolhimento para as nossas dores e onde o mar das nossas mágoas pode sempre desaguar e receber o conforto que demandamos. Essa qualidade, mágica e redentora, fica-se a dever ao entretecimento das palavras que poetas e prosadores nos oferecem quando escrevem, às ideias que essas palavras tantas vezes carregam como flechas luminosas e às personagens que habitam as páginas dos livros, com os seus enredos, as suas vidas e os seus sonhos. Palavras, ideias e personagens, feita a revelação e ocorrido o encontro com quem as lê, conseguem muitas vezes atravessar para o outro lado do espelho e instalar-se no interior do leitor. Dessa generosa travessia pode acontecer (numa “hora muito rara” como Rilke anunciou) florescerem em nós, leitores, novos pontos de luz, de cintilação. É deles que falo, ao falar de consolação.
Maria João Seixas
Comunidade de Leitores (com Maria João Seixas)| Fundação de Serralves | 29 de Janeiro a 8 de Abril | 21h00-23h00 | inscrição nas 6 sessões= 15 euros
Livros Propostos:29.01: Antígona, de Sófocles; 12.02: Cartas portuguesas; 26.02: No reino da Dinamarca, de Alexandre O’Neill; 11.03: A hora da estrela, de Clarice Lispector; 25.03: Desconhecido nesta morada, de Kathrine Kressmann Taylor; 8.04: O leitor, de Bernhard Schlink
Não filmar para ilustrar uma tese, ou para mostrar homens e mulheres apenas no seu aspecto exterior, mas para descobrir a matéria de que são feitos. Atingir esse «coração do coração» que não se deixa captar nem pela poesia, nem pela filosofia, nem pela dramaturgia.
*
Imagens e sons como pessoas que travam conhecimento no caminho e já não podem separar-se.
"The earliest of Bacon's paintings of Popes, this combines a number of themes which were to recur in many of his later works: the framework around the figure, like a glass box; the tassel; the paraphrase of Valasquez's portrait of Popr Innocent X; and the screaming mouth derived from the close-up of the nurse from Battleship Potemkin. Bacon, in point of fact, has never seen the painting by Valasquez, but knows it only from photographs; he departs widely from the colours of the origional and paints the robe a purpilsh ultramarine instead of a wine red. The films of Einsenstein; the great pioneer of the dramatic use of montage, have been of special interest to him, above all the famous Odessa steps sequence from Battleship Potemkin."
Exhib Ctg. Tate Gallery | 24 may-1 July, 1962
"The shock of the picture, when it was seen with a whole series of heads in Bacon's exhibition a the Hanover Gallery in London at Christmas 1949, was indescribable. ... It was everything unpardonable. The paradoxical appearance at once of pastiche and iconoclasm was indeed one of Bacon's most original strokes. The picture remains one of his masterpieces and one of the least conventional, least foreseeable pictures of the twentieth century."
Lawrence Gowing
Exhibition catalogue
Hirshhorn Museum and Sculpture Garden
October 1989
Apesar de grego, não o roubei, trouxe-o emprestado da Biblioteca. Tassos Denegris nasceu em Atenas em 1934, escreve poemas, não muitos, dizem que é de "parcimoniosa escrita". Em 1992 esteve em Vila Real na Casa de Mateus e do encontro saiu este livro "A Outra versão", editado pela Quetzal (colecção Poetas em Mateus) onde entro,
Descendo
Eu que deveria
Fazer isto e aquilo
Por vezes quase
Desespero
Caio numa doença extravagante
Os meus ossos enlouquecem totalmente.
Lá fora, um inverno insólito
E a paisagem
Tal como a minha imaginação a quer:
Cor ocre
Duas figuras caminham rente ao muro
O meu pai
Caçador na Eubeia
E eu criança de cinco anos com as cartucheiras.
“Se algum livro moral puder ser útil, acho que seriam úteis sobretudo os livros poéticos; digo poético utilizando o vocábulo em sentido amplo, isto é, livros destinados a mover a imaginação, e me refiro não menos à prosa do que aos versos. Contudo, tenho pouco apreço por aquela poesia que, depois de lida e meditada, não deixa no espírito do leitor um sentimento a tal ponto nobre que, por meia hora, o impeça de admitir um pensamento vil e de cometer uma ação indigna.”
Giacomo Leopardi, “Diálogo de Timandro e de Eleandro”, in: “Opúsculos Morais”.
Fui ver "Lost in Translation" na quinta-feira passada, mas a agitação provocada pelo "Sétimo Selo" não me permitiu exprimir-me. Gostei muito de "Lost in Translation", também pelas razões que li ao Tó. Agradou-me particularmente o facto de Bob e Charlotte serem pessoas inteligentes. Charlotte, ainda por cima, enverga um snobismo taciturno verdadeiramente encantador - a cena em que ela se levanta muito naturalmente da mesa a meio de monólogo acéfalo de Kelly ficará guardada na minha memória em "actos heróicos vistos no cinema". Numa outra leitura, paralela e indissociável da "não-história" de Bob e Charlotte, penso que "Lost in Translation" é uma sublime representação do homem na vida. Tóquio é estranho para dois ocidentais como o mundo nos é estranho tantas vezes, não poucas vezes, ao longo da existência, tanto mais estranho quanto é suposto ser familiar. A cidade é o mundo. E o encontro precário e necessário destas duas pessoas, visto a uma distância crítica, será sempre o encontro da nossa própria fugacidade. As situações a consumar e a não deixar pendentes somos nós. Daí que o alcance da quietude deste filme, de tudo o que não é dito e de tudo o que não é mostrado, seja intuitivo e instintivo em nós - por todas as outras razões eu teria visto um filme muito muito muito bom, mas por estas vi uma obra-prima.
Godard: Há uma expressão que se deixou de usar, mas que se usava antigamente: pintura dos sentimentos. É isso o que você faz.
Bresson: Pintura— ou escrita, para o caso é a mesma coisa, é creio eu, uma pintura.
(Entrevista publicada nos Cahiers du Cinema, nº 178, Maio, 1966).
—Foi pintor antes de ser cineasta?
—Quer dizer, sou pintor. Não se pode ter sido um pintor e deixar de o ser.
—De que pintores se sente mais próximo, agora?
—De todos os que não seguiram ou não seguem uma moda. Julgo que gosto de todos os grandes pintores. Não tenho preferências. Gosto da pintura-pintura. A pintura abstracta é muitas vezes demasiado decorativa. E não conheço nada de mais abstracto que Vermeer.
Toda a pintura (como todo o filme) é forçosamente abstracta.
(Entrevista de Outubro de 1962, publicada no nº 140, Fevereiro de 63, dos Cahiers du Cinema)
A pintura ensinou-me que o que havia a fazer não eram imagens belas mas imagens necessárias. Plasticamente, é preciso esculpir a ideia num rosto através da luz e da sobmra.
(Entrevista de Maio de 1962, publicada no n.º 928 de Les Lettres Françaises).
Godard—Há duas tendências em si (e Não sei qual delas lhe corresponde melhor). Você é, por um lado, um humanista, por outro lado, um inquisidor. Acha que isso é conciliável, ou...?
Bresson—Inquisidor? Em que sentido? Espero que não...
Godard—Com certeza que não no sentido Gestapo. Mas num sentido, digamos...
Bresson—Não no sentido da Inquisição? São Domingos?
Com certeza. Mas, apesar de tudo...
Bresson— Não! Não!
Godard—Então, digamos, jansenista
Bresson— Jansenista no sentido do despojamento.
Godard—Sim, mas além disso, há outra coisa, e a palavra inquisidor...
Bresson—Inquisidor, inquisidor..Não quer dizer que eu imponho a minha maneira de ver as coisas. É verdade que impono—e nem pode ser de outra maneira— a minha maneira de ver, de pensar, a minha opinião pessoal, mas como toda a gente escreve...
Quer dizer, se há Inquisidor, direi então que vou procurar nas pessoas o que elas têm de mais requintado, de mais pessoal.
Godard—Sim, mas ao mesmo tempo há um lado terrível...
Bresson—Refere-se à Pergunta?
Godard—Sim. À Pergunta.
Bresson— Está bem, evidentemente, a Pergunta eu faço-a.
Godard—Pois.
Bresson— A Pergunta que provocará a resposta. Mas vivemos todos as fazer perguntas a que talvez demos respostas ou para as quais esperamos respostas. É certo que o meu modo de trabalho é um questionário. Mas é um questionário no desconhecido, ou seja, dêem-me alguma coisa que me surpreenda (...)
Delahaye—O Acaso?
Bresson— Sim, o acaso. Por aí vamos ao jansenismo, pois eu acredito realmente que a nossa vida é feita de predestinação e de acasos...
(Entevista nos Cahiers, n.178).
in Catálogo do Ciclo Robert Bresson Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Abril de 1978
(...) A Filosofia deve ser construída em diálogo com o tempo que passa, apontando para a pluridimensionalidade do homem, recusando identificar a entropia com a história humana, propondo uma visão marcadamente existencial. A reflexão filosófica recusa uma arbitrária hierarquização e compartimentação dos saberes em que se move; orientada, sem paradoxos, para o desvelamento da verdade, em torno do real e da sua expressão, usa ilimitadamente a preocupação hermenêutico-especulativa em horizontes cada vez mais alargados, pois o pensamento filosófico é um pensamento crítico que procura fazer surgir no espírito dos homens uma atitude nova, de preocupação intelectual e moral, convidando a que nunca haja desistência do raciocínio perante as questões, por forma a que a ignorância nunca se tome por ciência; o que implica que, em ordem a alcançar a visão prospectiva do real, se progrida da observação natural até à visão crítica das coisas. (...)
Jof e Antonius são positivo/negativo, não são? No filme de Bergman têm vidas separadas, nomes diferentes, encontram-se, seguem juntos, separam-se por iniciativa de Jof, que rejeita em Antonius a Morte. Pergunto-me se é possível separá-los em nós. E se a alegria incondicional perante as coisas, a alegria rendida, que é Jof - para mim desde o início o personagem mais apaixonante do filme -, terá sempre este poder.
FRANCE. Paris, 2004. "The Fables of La Fontaine" at the Comédie Francaise. Rehearsals of the Fable "the Grasshopper and the Ant" (La Cigale et la Fourmi). The Grasshopper is played by the actress Florence Viala.
"In spite of the fact that ORDET centres around a miracle, it is a thoroughly realistic piece, a play about those who are feeble in their faith. The miracle one longs for only happens when the person arrives who has the faith - the firmly rooted Faith. The action plays out among Danish peasants and it depicts the struggle between two different denominations: the bright happy christianity and its counterpart, the dark, life-hating, religious fanaticism."
A propósito da Spirit e da Opportunity, fiquei outra vez a pensar como tudo isto de a Terra ter os dias contados é uma pena… seria possível descobrir tantas coisas. É por isso que prefiro viver na arte. Evito assim a tentação de pensar como será daqui a 50 ou a 100 anos. Ou daqui a 500 anos. Beberemos ácido nessa altura? Quem sabe não nos adaptamos? Outra dieta, talvez.
Só mais umas imagens, depois destas quero ainda deixar as finais com a dança da morte e então paro. Estas são tiradas da cena dos penitentes, que interrompem o espectáculo de Jof e Mia e em cortejo desesperado se auto-flagelam pela purificação. Acho que o espectáculo de Jof e Mia não é colocado antes por acaso, é outro daqueles contrastes entre a alegria e a fé de mortificação, que também está em Fanny & Alexander. Mas não é só isso que me faz deixar mais estas imagens. É que elas são, em si, imagens perfeitas e Bergman para mim é também esse assombro.
Filmstaden é um local de trabalho, Farö é uma forma de vida
(...) Não sei porquê [Farö] foi amor à primeira vista. Senti que era a minha paisagem. Fui viver para Färo em 1967. Acho que foi a coisa mais inteligente que fiz. (…) Precisava de olhar bem para dentro de mim e de confrontar os meus problemas e os meus fantasmas. Pensava que podia evitar as coisas. Estava a ficar farto de tudo. Era o director do Teatro Dramático Real havia três anos e meio. Era um trabalho e tanto. Se se sobrevive a isso, não se é a mesma pessoa depois. Eu queria tudo isso e tinha uma imagem romântica de ser o Velho de “O Velho e o Mar”. Fico aqui a olhar para o horizonte e a aprender a conhecer-me a mim próprio. Leio bons livros e isolo-me. Por isso, vim viver para Färo. De um momento para o outro passei a olhar com mais atenção para o que me rodeava. E para as pessoas à minha volta. Muito mais do que antes. (…)
-
(...) Quando era criança, gostava de andar sozinho, conversar com as pessoas, pensar sobre as coisas, ficar a olhar pela janela, a ver a chuva ou o sol, gostava de ler ou escrever, ou, simplesmente, brincar. Gostava desse tipo de vida. Estava à-vontade comigo próprio dessa maneira (…)
-
(…) descobri Farö e a sua paisagem. É pálida e dura. As proporções são extremamente sofisticadas e precisas. Aqui, posso fazer parte de um mundo que é eterno. Sou apenas uma pequena parte dele. Como os animais ou as plantas. Não sei como foi que aconteceu, mas as minhas raízes estão aqui. Agora, acho que voltei a ter uma existência enraizada. (...)
Imagens e texto do documentário "De Filmstaden a Farö – Três cenas com Ingmar
Bergman" que acompanha o dvd / Costa do Castelo Filmes
posted by camponesa pragmática on 20:55