quarta-feira, janeiro 28, 2004
Os livros são acolhedoras moradas para a nossa necessidade de consolo
A frase que vos proponho para compreensão do meu modo de ler e do reconhecimento e gratidão que devo à Literatura, foi-me inspirada pelo belíssimo título de um livro de Stig Dagerman – “A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer”. Nesse pequenino livro o escritor fala-nos de um irremissível sentimento de perda que carregamos dentro de nós e para o qual tentamos, continuamente, descobrir um bálsamo apaziguador. Nos livros podemos encontrar refúgio, porque são uma morada de acolhimento para as nossas dores e onde o mar das nossas mágoas pode sempre desaguar e receber o conforto que demandamos. Essa qualidade, mágica e redentora, fica-se a dever ao entretecimento das palavras que poetas e prosadores nos oferecem quando escrevem, às ideias que essas palavras tantas vezes carregam como flechas luminosas e às personagens que habitam as páginas dos livros, com os seus enredos, as suas vidas e os seus sonhos. Palavras, ideias e personagens, feita a revelação e ocorrido o encontro com quem as lê, conseguem muitas vezes atravessar para o outro lado do espelho e instalar-se no interior do leitor. Dessa generosa travessia pode acontecer (numa “hora muito rara” como Rilke anunciou) florescerem em nós, leitores, novos pontos de luz, de cintilação. É deles que falo, ao falar de consolação.
Maria João Seixas
Comunidade de Leitores (com Maria João Seixas)| Fundação de Serralves | 29 de Janeiro a 8 de Abril | 21h00-23h00 | inscrição nas 6 sessões= 15 euros
Livros Propostos:29.01: Antígona, de Sófocles; 12.02: Cartas portuguesas; 26.02: No reino da Dinamarca, de Alexandre O’Neill; 11.03: A hora da estrela, de Clarice Lispector; 25.03: Desconhecido nesta morada, de Kathrine Kressmann Taylor; 8.04: O leitor, de Bernhard Schlink