quinta-feira, janeiro 29, 2004 Welles disse: «John Ford é um poeta. Um comediante». (Cahiers du Cinema, 165). Nos melhores filme de Ford estão presentes essas duas facetas da sua personalidade: é, afinal, a mistura da comédia e pathos em The Sun Shines Bright (um «remake» informal do filme de Will Rogers, Judge Priest) que dá ao filme o seu notável sentido de humanidade, tal como os abruptos saltos da comédia para a tragédia em The Wings of Eagles lhe dão um tão extraordinário tom de verdade.
Cada um dos filmes de Ford está cheio de ecos de outro — o que faz com que a utilização dos mesmos actores, de ano para ano, de década para década, seja muito mais do que o simples construir de uma «companhia privada» — e nenhum dos seus filmes pode ser verdadeiramente considerado em separado dos restantes.
O que a Mãe Joad diz sobre a sua vida (em The Grapes of Wrath) também se aplica à obra de Ford: «… é um fluir contínuo tal como um riacho, com pequenos remoinhos, pequenas quedas de água, mas o rio, esse continua sempre».
Peter Bogdanovich, “John Ford: Poeta e Comediante”, retirado do catálogo da Cinemateca Portuguesa dedicado ao John Ford em 1983