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Janela Indiscreta
 
sábado, setembro 06, 2003  

À 1h00, sintonizar a TSF para ouvir a Íntima Fracção. O alinhamento está aqui.

O Mário Pires, do blog Retorta já está em sintonia.



E a Deda, do Notícias do Cais também




posted by Anónimo on 21:08


 
India Song


© David Williams, Stillness and Occurrence

Le genérique se déroule sur un plan de paysage bleu – bleu sombre de la terre, bleu plus clair du ciel –: le disque oranger du soleil sécline progressivement et disparâit derrière la ligne de l’horizon. On entend une voix de femme chantant, riant et parlant en laotien. «Une mendiante», dit une des deus voix féminines hors champ qui vont maintenant se répondre. Elles évoquent cette femme de Savannakhet, folle, qui erre depuis dix ans, puis, parallèlement, une autre femme, «blanche» celle-là.

4e minute
A partir du plan suivant (plan 3), c’est elle, Anne Marie Stretter, qui va être évoquée, à la fois par les deux femmes invisibles (les voix 1 e 2) et par plusieurs signes (ou traces, comme si elle était morte): une photo de jeune fille sur un piano, auprès de laquelle un serviteur hindou vient déposer un bouquet et allumer un bâtonnet d’encens, une robe rouge, une perruque rousse. L’air «India Song» est joué au piano.




posted by Anónimo on 20:28


 
de olhos fechados


© Aly Poelstra (no title)

Às vezes a Íntima Fracção parece a banda sonora de um filme. Ou será de um sonho?

posted by Anónimo on 19:07


 
sob escuta

Sempre pouco para dizer, muito para escutar e tudo para sentir

# Chet Baker: Almost Blue (ao vivo)
ÍNTIMA FRACÇÃO > 8 / 9 Fevereiro de 2003

# Penguin Cafe Orchestra: Yodel 1
ÍNTIMA FRACÇÃO > 22/23 de Fevereiro 2003



# Brian Eno: By this river
# Anouar Brahem: Déjà la nuit
ÍNTIMA FRACÇÃO > 1 / 2 de Março de 2003

# Peggy Lee: We'll meet again
ÍNTIMA FRACÇÃO > 19 / 20 de Abril de 2003



# Yo la tengo: How to make a baby elephant float
ÍNTIMA FRACÇÃO > 26 / 27 de Abril de 2003



# Brad Melhau: Dear Prudence
ÍNTIMA FRACÇÃO > 17 / 18 de Maio de 2003

# Martin L. Gore: Candy says
ÍNTIMA FRACÇÃO >24 / 25 de Maio de 2003


posted by Anónimo on 18:15


 
A IF serve para desenhar com os ouvidos

[imagem a ser inserida posteriormente: Daniel Boudinet: Polaroid, 1979, retirada de "A Câmara Clara", de Roland Barthes]


A Íntima Fracção é para ser ouvida com atenção. Não serve: a escuta dentro de carros em movimento que não sejam muito silenciosos; a escuta em rádios colocados sobre os balcões de restaurantes de bitoques; a escuta em balcões de roulottes de venda de cachorros ou farturas; a escuta em pequenos rádios a pilhas sem qualidade aúdio; a escuta em salas de jogos electrónicos. Não serve, mas aceita-se.
A Íntima Fracção é feita para ser ouvida com headphones no quarto; na sala, em boas aparelhagens; nos carros parados ou a andar lentamente; em rádios portáteis na praia (à noite) ou no meio do campo; num quarto escondido e perdido no meio da cidade; sózinho, a olhar para a janela; com as lágrimas ou a esperança a rebentar. A Íntima Fracção é para ser gravada e ouvida quando se quiser. A IF serve para desenhar com os ouvidos.


Francisco Amaral

posted by Anónimo on 18:07


 
Sight and Hearing, by Robert Bresson




To know what business that sound (or that image) has there.

• What is for the eye must not duplicate what is for the ear.

If the eye is entirely won, give nothing or almost nothing to the ear. One can not be at the same time all eye and all ear.

• When a sound can replace an image, cut the image or neutralize it. The ear goes more toward the within, the eye toward the outer.

• A sound must never come to the help of a image, nor an image to help the of sound.

• If a sound is the obligatory complement of an image, give preponderance either to the sound or to the image. If equal, they damage or kill each other.

• Image and sound must not support each other, but must work each in turn through a sort of relay.

• The eye solicited alone makes the ear impatient, the ear solicited alone, makes the eye impatient. Use these impatiences. Power of the cinematographer who appeals to the senses in governable way. Against the tactics of speed, of noise, set tactics of slowness, of silence.


posted by Anónimo on 18:07


 
Há um traço azul no futuro incandescente



Tudo começou em 1984 ou talvez mais cedo. Sim, desconfio que a ideia surgiu antes mas foi no dia 8 de Abril de 1984 que a Íntima Fracção foi para o ar pela primeira vez. Cinco anos na Antena 1 e, desde 1989, na TSF. Ontem no blog li um post do Francisco Amaral que me assustou. É um apelo e por detrás dele sinto que há o medo do fim.

A TSF está em reestruturação e todos nós sabemos o que essa palavra significa. Geralmente passa por uma limpeza geral que leva tudo atrás. Mas se a rádio portuguesa é um pântano e a Íntima Fracção um dos poucos oásis que resistem qual é o sentido deste fim? Não entendo e não aceito. Por isso este fim-de-semana resolvemos sintonizar a Janela na Íntima Fracção. Até à hora de emissão vamos percorrer músicas e textos que passaram pela IF e agradecemos a quem esteja desse lado o favor de se manifestar, aqui na Janela, no blog da IF ou directamente para a TSF.

Às vezes não basta ouvir, é preciso dizer o que tem de ser dito.

posted by Anónimo on 18:01


 
Transmission, 8.04.1984



Radio, live transmission.
Radio, live transmission.

Listen to the silence, let it ring on.
Eyes, dark grey lenses frightened of the sun.
We would have a fine time living in the night,
Left to blind destruction,
Waiting for our sight.

And we would go on as though nothing was wrong.
And hide from these days we remained all alone.
Staying in the same place, just staying out the time.
Touching from a distance,
Further all the time.

Dance, dance, dance, dance, dance, to the radio.
Dance, dance, dance, dance, dance, to the radio.
Dance, dance, dance, dance, dance, to the radio.
Dance, dance, dance, dance, dance, to the radio.

Well I could call out when the going gets tough.
The things that we've learnt are no longer enough.
No language, just sound, that's all we need know, to synchronise
love to the beat of the show.

And we could dance.

Dance, dance, dance, dance, dance, to the radio.
Dance, dance, dance, dance, dance, to the radio.
Dance, dance, dance, dance, dance, to the radio.
Dance, dance, dance, dance, dance, to the radio.


Joy Division

posted by Anónimo on 17:56


sexta-feira, setembro 05, 2003  
Cogito

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim.

Torquato Neto

posted by camponesa pragmática on 18:10


 
REFLEXÃO Nº 1

Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
E a circulação e o movimento infinito.

Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido.

Murilo Mendes

posted by camponesa pragmática on 18:05


 
da transparência

Senhor libertai-nos do jogo perigoso da transparência
no fundo do mar da nossa alma não há corais nem búzios
mas sufocado sonho
e não sabemos bem que coisa são os sonhos
condutores silenciosos canto surdo
que um dia subitamente emergem
no grande pátio liso dos desastres

Sophia Andresen


© Aris Entertainment

posted by camponesa pragmática on 16:41


 


Hoje, às 23:50, na RTP 2,
OS AMANTES DO RIO «SUZHOU RIVER» de Ye Lou.


posted by Anónimo on 16:29


 
Passagens (3)- O Momento Total

“Tenciono eliminar todo o excesso, o torpor, o supérfluo: dar o momento total; inclua ele o que in­cluir. Digamos que o momento é uma mescla de pensamento, sensação, a voz do mar. O exces­so, o torpor vêm da inclusão de coisas que não pertencem ao momento; o terrível trabalho narrati­vo do realista: passar do almoço ao jantar: é falso, irreal, meramente convencional. Porque admitir em literatura algo que não seja poesia – isto é, saturado? Não é aí que reside a minha má vonta­de contra os romancistas? No facto de não seleccionarem nada? Os poetas conseguem-no sim­plificando: excluem praticamente tudo. Eu quero incluir tudo e, no entanto, saturar.”

Virginia Woolf, Diário (28 de Novembro de 1923), cit. in O Momento Total, Ensaios de Virginia Woolf, org. Luísa Flora, Ulmeiro, 1985, p.23.


"Como tornar um momento do mundo durável ou fazê-lo existir em si? Virginia Woolf dá uma resposta que vale tanto para a pintura ou para a música como para escrita: "Saturar cada átomo", "Eliminar tudo o que é desperdício, morte e supérfulo", tudo o que cola às nossas percepções correntes e vividas, tudo o que constitui o alimento do romancista medíocre, ficar apenas com a saturação que nos dá um percepto, "Incluir no momento absurdo os factos, o sórdido, mas tratados em transparência", "Colocar aí tudo e no entanto saturar". "

Gilles Deleuze e Félix Guattari, O que é a Filosofia?, Editorial Presença, Lisboa, 1992, p.152.

posted by Anónimo on 15:53


 


Quarta à noite revi o Delicatessen e vi-o pela primeira vez em condições:
- O écran da sala da Biblioteca Museu República e Resistência não é grande, grande, lembra os écrans pequeninos da Cinemateca, mas mesmo assim não tem nada que ver com uma televisão. É cinema.
- A noite começou a combinar com o Delicatessen quando, antes do filme, o encarregado da BMRR me indicou onde ficavam os lavabos: atrás da cortina do palco do auditório, no fim de um pequeno labirinto de arrumações.
- A sessão era à borla. A sala tinha uns 60 lugares. 7 pessoas assistiram. E nós chegámos bastante antes com medo duma enchente.
- Gosto mais do filme cada vez que o vejo, embora tenha começado por gostar muito. Quarta-feira parece-me que me apaixonei de vez. Não fui capaz de ouvir o concerto violoncelo-serrote no início e no fim do filme sem me arrepiar. E o tempo voou.
- Uma das minhas prioridades nos próximos tempos será conseguir a banda sonora do filme. Pelo que já vi na internet não vai ser fácil. Quanto a isto há duas coisas que não posso esquecer, para a conseguir: ela existe e eu quero-a.

posted by camponesa pragmática on 15:29


 
"Eu doía nos teus olhos como uma ceifa prematura."

Luís Filipe Castro Mendes, de Recados.


posted by Anónimo on 15:25


 
A fotografia que vem hoje no jornal Público é bem curiosa. É do fotógrafo Adriano Miranda. Ainda não vi o jornal a não ser na net, por isso terei que me dirigir a uma tabacaria pra tirar a dúvida. a rapariga(abraçada à foice) estará de olhos abertos ou fechados? será paixão Cega ou sono?


posted by Anónimo on 15:22


 
Eles andem aí...

Na esplanada onde tomei café, depois de almoço, estavam dois adolescentes metidos dentro de ténis grandes como barcos e de caras completamente tomadas por borbulhas. Um deles ensinava o outro a dizer Dostoiesvki.
- Dós-toí-év's-quí. Diz lá...
- Dós-tó-éves-q...?
- Toí! Dós-toí-év's-quí!
- Dós-toí-év's-quí.
- Sim, isso mesmo! Dóstoíév'squí! É muita fixe, tens de ler!

posted by camponesa pragmática on 14:32


 


Ten de Abbas Kiarostami

Em exibição hoje e amanhã nos Cinemas Cidade do Porto, na sala 4.
Sessões: 14:30, 17:00,19:30 e 22:00
Ciclo Grandes Êxitos a 2 euros



Dez Razões para amar DEZ
por Olivier Joyard e Patrice Blouin, Cahiers du Cinéma, Junho de 2002

10. A COMPETIÇÃO
9. O DISPOSITIVO
8. A PALAVRA
7.O PRINCÍPIO DA INCERTEZA
6.O TRIÂNGULO
5. O SORRISO
4. A REVELAÇÃO
3.A TRAVESSIA
2. O ALÉM-TÚMULO
1. O CONTEMPORÂNEO
Antes de vermos DEZ, concebíamos o cinema contemporâneo na linha de "Disponível para Amar", "Mulholland Drive", "Millennium Mambo": um longo oscilar musical hesitando com beleza entre autismo e esquizofrenia. Kiarostami mostra, numa proposta única e inédita, que pode ser de outra forma. Linear, quotidiano, com diálogos, DEZ regressa ao zero não só pela escolha de dispositivo, mas também por uma forma, misteriosa e insondável, de o exceder sem efeitos. (...) DEZ é todo o cinema, toda a vida e toda a televisão reunidos numa hora e meia.




posted by Anónimo on 14:30


 

Angela Nugara “Sicília”, de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet

O arenque foi limpo, colocado num prato, regado a azeite, e eu e minha mãe sentamos à mesa. Isso, na cozinha, com o sol pela janela atrás das costas de minha mãe, enrolada na manta vermelha, com os cabelos de um castanho bem claro. A mesa ficava encostada à parede e eu e minha mãe sentamos um diante do outro, o braseiro embaixo e o prato de arenque em cima, quase cheio de azeite. E minha mãe atirou-me um guardanapo, passou-me um prato e um garfo, puxou da gaveta um belo pão já pela metade.

– Você não se importa de comer sem toalha? – perguntou.

– Oh, não – eu disse.

E ela: – Não posso lavar roupa todo dia... Estou velha agora.

Em minha infância, no entanto, a gente sempre comera sem toalha, exceto aos domingos e feriados, e minha mãe costumava dizer, isso eu lembrava, que não podia lavar roupa todo dia.

Comecei a comer arenque com pão e perguntei: – Por que não tem sopa?

Minha mãe olhou-me e disse: – Como é que eu ia saber que você vinha?

Olhei-a e perguntei: – Mas é por você que falo. Você não costuma tomar sopa?

– Fala por mim? – disse minha mãe. – Quase não tomei sopa em toda a minha vida... Fazia para vocês e seu pai, mas a minha comida sempre foi essa: arenques no inverno, pimentões assados no verão, muito azeite, muito pão...

– Isso o tempo todo? – perguntei.

– O tempo todo, por que não? – disse minha mãe. – Com azeitonas, naturalmente, e às vezes carne de porco e lingüiça, quando tínhamos porco.

– E tínhamos porco? – perguntei.

– Tínhamos, você não lembra? – disse minha mãe. – Havia anos em que a gente tinha porco, nas casas de cantão, criava-o com figos-da-índia, depois matava-o...

Então, lembrei-me do campo que cercava uma das casas com a linha férrea e figos-da-índia e guinchos de porco. Era bom viver nas casas de cantão, pensei. Todo aquele campo para se correr, sem cultivo, sem camponeses, apenas algumas ovelhas e os homens do enxofre voltando das minas, à noite, quando a gente já tinha se deitado. Bons tempos aqueles, pensei, e perguntei: – Tínhamos frangos também, não é?

Minha mãe respondeu que sim; tínhamos alguns, é claro, e eu disse: – A gente fazia molho apimentado...

E minha mãe: – A gente fazia de tudo um pouco... Secava tomates ao sol... Fazia doces de figos-da-índia.

– Bons tempos aqueles – eu disse convicto, pensando nos tomates que secavam debaixo do sol nas tardes de verão, sem vivalma naquele campo todo. Era campo seco, cor de enxofre e lembrei o zumbido do verão e o brotar do silêncio e de novo pensei que eram bons tempos aqueles. Eram bons tempos aqueles – eu disse. – Tínhamos telas contra insetos.

– Quase sempre havia malária por lá – disse minha mãe.

– Malária da brava! – eu disse.

E minha mãe: – Brava de verdade!

E eu:– E havia cigarras! ... – E revi a floresta de cigarras para além das redes protetoras das janelas, da varanda, na solidão do sol, e disse: – Eu pensava que cigarras eram a malária!

– Ah, ah! – minha mãe gargalhou. – Era por isso talvez que você apanhava tantas?

– Apanhava? – eu disse. – Mas eu acreditava que "malária" era seu canto, não elas... Eu as apanhava?

– E como! – disse minha mãe. – Vinte, trinta de cada vez.

E eu: – Devia estar pensando que eram grilos... – E perguntei: – O que fazia com elas? Minha mãe riu novamente. – Acho que você comia – disse.

– Comia? – exclamei.

– Comia – disse minha mãe. – Você e seus irmãos.

Ela ria e eu estava pasmo. – Mas como pode ser? – perguntei.

E minha mãe disse: – Talvez fosse fome. E eu: – Tínhamos fome?

E minha mãe: – Talvez.

– Mas a gente estava bem de vida! – protestei.

Minha mãe me olhou. – Sim – disse. – Seu pai recebia no fim de cada mês, e então por dez dias vivia-se bem. Todos os camponeses e o pessoal das minas nos invejavam... Mas depois de dez dias a gente ficava como eles. Comia caracóis.

– Caracóis? – eu disse.

– Sim, e chicória do mato – disse minha mãe.

E eu perguntei: – E eles, só comiam caracóis? E ela: – Sim, é o que todos os pobres comem normalmente. E nós éramos pobres nos últimos vinte dias do mês.

E eu: – E comíamos caracóis por vinte dias? E minha mãe: – Caracóis e chicória do mato. Refleti um pouco, sorri e depois disse: – Afinal, devia ser gostoso.

E minha mãe: – Ótimo... Podemos cozinhá-los de tantas maneiras.

E eu: – Como, tantas maneiras?

E minha mãe: – Simplesmente fervidos, por exemplo. Ou empanados e fritos.

E eu: – Que idéia! Empanados e fritos? Com casca?

E minha mãe: – Mas é claro! É assim que se comem, sugando a casca... não se lembra?

E eu: – Lembro, lembro... Sugar a casca é que é o melhor, me parece.

E minha mãe: – A gente passa horas sugando.

(Tradução de Lucia Guidicini)
© Editora Guanabara

posted by Anónimo on 13:22


 
Coisas que animam
- Dormir 12 horas seguidas a meio da semana, acordar muito cedo e ter uma hora inteira para tomar o pequeno-almoço e ler o jornal.
- Saber que Daniel Blaufuks tem um fetiche com view masters (no Y).
- Ter janelas viradas a poente e estores a espalhar a luz em pontos luminosos pela casa.
- Viver entre jardins, onde os pássaros cantam as manhãs e as folhas das árvores contam as estações.

posted by camponesa pragmática on 12:56


 
o amor

Hoje a minha mãe faz anos. Setenta e dois anos. Gostava tanto de lhe dar “tempo”. De fazê-la voltar atrás, até àquela rapariga das histórias e das fotografias, a sorrir, a dançar (ao som dos Marino Marini, não é?)

Só queria mesmo oferecer-lhe “tempo”. Mas como é que se faz? Como é que se luta contra o impossível? Porque é que o amor não chega?

posted by Anónimo on 12:13


 

© UE Archiv / Eric Marinitsch

Hoje à noite o Mezzo presta homenagem a Luciano Berio.

Às 19h45 exibe um concerto da Orquestra Sinfónica Nacional da RAI, dirigida por Eliahu Inbal e gravado no auditório Giovanni Agnelli, em Turim, no qual serão interpretadas obras de Berio e Bruckner.

Segue-se (às 21h15) “Luciano Berio, Portrait”, um curto documentário sobre o compositor italiano.
Le compositeur Luciano Berio était une figure marquante de la musique du XXe siècle. Il a participé à l’avant-garde des années 50 qui a transformé notre monde sonore. L’Orchestre Philharmonique de Radio France l’accueillait pour son soixante-quinzième anniversaire comme chef et compositeur invité. L’occasion de reparcourir des œuvres majeures comme “Sinfonia” et de comprendre l’esprit et l’inventivité du compositeur.

posted by Anónimo on 12:06


 
‘The best things in museums are the windows’, Bonnard told a friend as he left the Louvre in Paris in 1946 for the last time. So many of Bonnard's paintings include a view through a window. There is a sense in which his paintings are a window to another world — the world of the painting. Windows are a means also of bringing the outdoors inside — seen through them the outside takes on an added dimension.



Pierre Bonnard, Devant la fenêtre au Grand-Lemps, 1923
© Musée des Beaux-Arts, Lyon



posted by Anónimo on 09:08


 
Quantas praias quando a luz
e o teu nome são o verão

uma árvore o barco sobre a pedra
é o que tenho se de dia o vento

aumenta as margens o regresso

João Miguel Fernandes Jorge

posted by Anónimo on 09:00


 
Praia de S. Mateus



Dedicada ao meu querido amigo Acúrcio

posted by Anónimo on 08:57


quinta-feira, setembro 04, 2003  
ondas curtas

1.
Encontrei as palmeiras da Praça de Gomes Teixeira. Estão no jardim da Avenida Fernão de Magalhães (a chegar ao Campo 24 de Agosto, ligando a avenida à Rua Santos Pousada).
Lembro-me que, quando era miúda, este terreno servia para montar uma tenda de circo. Era um descampado, cheio de terra, pó e lixo, um lugar muito comum no nosso país. Depois construíram lá um jardim infantil e mais tarde ajardinaram. Tem sobretudo árvores de folhas caduca, erva, alguns arbustos e umas esculturas de pedra muito bonitas.
O jardim é estranho, desequilibrado e até um bocado desleixado. Dentro dessa falta de espírito, as "Phoenix Canariensis" foram colocadas num alinhamento desconcertante.

Mas quem sabe, talvez com tempo passe a gostar. No fundo este é o jardim que atravesso todos os dias de manhã.


2.
A rtp 2 deve andar a arrumar a casa porque os filmes pela noite dentro têm sido repetições. Logo à noite agendaram Um curto dia de trabalho de Krzysztof Kieslowski que passou há uns meses atrás. Já vi e recomendo.

posted by Anónimo on 13:57


quarta-feira, setembro 03, 2003  
Sailing


Sailing 1911 (primeiro quadro vendido)

Entrei no link que a Lídia deixou e escassas ligações depois estava no Edward Hopper Scrapbook, que tem 27 páginas absolutamente deliciosas com fotografias, notas biográficas e pinturas. Soube-me bem o reencontro inesperado com os espaços enormes e a luz bravia. A luz de Hopper não tem explicação! É magnífica!




Yawl Riding a Swell 1935

posted by camponesa pragmática on 17:02


 
Sabiá de setembro tem o orvalho na voz.
De manhã ele recita o sol.

Manoel de Barros, O Encantador de Palavras, edições quasi.


posted by Anónimo on 16:00


 
Passagens(2)-Marca de água

"Há muitas e muitas luas, um dólar eram 870 libras e eu era um homem de trinta e dois anos. Também o mundo era mais leve, dois biliões de almas mais leve, e o bar da stazione a que eu chegara nessa fria noite de Dezembro estava vazio. Fiquei ali parado, à espera da única pessoa que conhecia na cidade. Ela chegou bastante atrasada.
Todos os viajantes conhecem estes apuros: este misto de fadiga e de apreensão. É o momento de examinar rostos e horários, de perscrutar as varizes do mármore debaixo dos pés, de inalar o cheiro a amoníaco e o vago odor que nas noites frias de Inverno emana do ferro fundido das locomotivas.
À excepção do barman ensonado e da matrona imóvel como um buda atrás da caixa registadora, não se via ninguém. Nem um nem a outra me podiam valer, porém, como eu não podia valer a nenhum dos dois: a minha única moeda na língua deles, o termo " expresso", já estava gasta; usara-a duas vezes.
Comprara-lhes também o meu primeiríssimo maço daquilo que em anos vindouros traduziria por " Merde Statale", " Movimento Sociale" e "Morte Sicura": o meu primeiro maço de MS. Por isso peguei nas malas e saí à rua.
No caso improvável de alguém ter seguido com os olhos a minha gabardina branca London Fog e o meu Borsalino castanho escuro, a silhueta não lhe deve ter causado qualquer estranheza. Estou certo de que a própria noite não teria tido dificuldade em a absorver. O mimetismo ocupa, julgo eu, um lugar importante na lista de prioridades de todos os viajantes, e a Itália que eu trazia então no espírito era uma fusão dos filmes a preto a branco dos anos cinquenta e do meio de expressão, também monocromático, do meu ofício. O Inverno era, pois, a minha estação; a única coisa que me faltava, pensei, para parecer um bandido ou carbonaro das redondezas era um lenço de pescoço. Tirando isso, sentia-me capaz de passar despercebido, de me confundir com o cenário ou de me enquadrar no enredo de um desses policiais de orçamento modesto- um policial ou, melhor ainda, um melodrama. "

Joseph Brodsky, Marca de água,Publicações D.Quixote,1993.

posted by Anónimo on 15:55


 


Clarence Hudson White

posted by Anónimo on 15:49


 
ondas curtas

1.
Concerto de Carla Bley logo às 22h00, no Mezzo

2.
Sugestão do Rui Amaral: procurar a Creative Review de Setembro. A capa, sobre fotografia de Guido Mocafico, é absolutamente assombrosa, diz ele e eu acredito

3.
Por um Fio, de Martin Scorsese, às 01h15 na SIC. É pena ser tão tarde, apetecia-me vê-lo ou talvez só: ouvir a voz do Nicholas Cage.



4.
Ler a Grande Reportagem.
Ler os ensaios de José Pacheco Pereira , Gonçalo Ribeiro Telles e Pedro Mexia sobre o «o futuro das nossas vidas»; ler “A necessidade de amar as árvores” do Francisco José Viegas ; ver as fotografias do Pedro Loureiro…

Nesta edição a Grande Reportagem despede-se do formato habitual. A partir de Novembro passará a ser publicada semanalmente e distribuída com as edições de sábado do JN e do DN.


posted by Anónimo on 13:21


terça-feira, setembro 02, 2003  
Relatório sumário

Desci Passos Manuel e confirmei com os meus olhos: o cinema fechou, acabaram-se as sessões ao fim da tarde. Quando não houver cinemas na cidade vou embora!

Fui à Papélia espreitar a montra. Até ao dia 7 de Setembro é possível ver a “Fortaleza”, um projecto da Cláudia Amandi. É uma torre, quase da nossa altura, feita com cartas de jogar. É bonita e provocatória.

fortaleza s.f.. 1 qualidade ou carácter de forte; força, vigor, robustez 2 fig. força moral; firmeza, constância 3 fig solidez, segurança 4 fig aquilo que resiste à acção ou influências exteriores 5 lugar que serve de prisão; cidadela 6 MIL. lugar fortificado para defender uma zona territorial; forte, fortificação. (…)

in Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Círculo de Leitores, Lisboa, 2003, tomo III, pg. 1787

Mais uma montra a não perder.

Entrei, queria lá deixar um livro do bookcrossing mas “esses assuntos são com o dono que está de férias”, disse-me o empregado. Combinei voltar no fim do mês com outro livro.
Atravessei Santa Catarina, entrei no Majestic e, ao fundo, no pátio, à esquerda, deixei a solução do crime: afinal quem é que matou Molière?

Apesar de bonito este não é o café oficial da Janela. Voltei a Passos Manuel, desci até Sá da Bandeira. Na Brasileira troquei livros, revistas, cds e bisbilhotices. Finalmente vou poder começar a enviar os 54° à sombra. Peço desculpa pela demora mas asseguro que o verão ainda não acabou. Por isso, estejam atentos ao nosso carteiro...



posted by Anónimo on 21:31


 
O que vem à rede

Já aqui falamos desta rubrica da RDP que se dedica a explorar a net dando óptimas pistas de orientação.
Depois das férias, O que vem à rede resolveu blogar. Ontem o jornalista Mário Rui Cardoso visitou o Portugal dos pequeninos e repescou o post que corrige uma imprecisão de uma notícia do Público, hoje foi até à bola na área descobrir como é que são os jornais sensacionalistas ingleses.

É uma leitura muito interessante da blogosfera. Para seguir com atenção.

posted by Anónimo on 18:37


 
Crepúsculo

É quando um espelho, no quarto,
se enfastia;
quando a noite se destaca
da cortina;
quando a carne tem o travo
da saliva,
e a saliva sabe a carne
dissolvida;
quando a força de vontade
ressuscita;
quando o pé sobre o sapato
se equilibra...
e quando às sete da tarde
morre o dia
- que dentro de nossas almas
se ilumina,
com luz livida, a palavra
despedida.

David Mourão-Ferreira

posted by camponesa pragmática on 18:09


 
Recado

ouve-me
que o dia te seja limpo e
a cada esquina de luz possas recolher
alimento suficiente para a tua morte

vai até onde ninguém te possa falar
ou reconhecer - vai por esse campo
de crateras extintas - vai por essa porta
de água tão vasta quanto a noite

deixa a árvore das cassiopeias cobrir-te
e as loucas aveias que o ácido enferrujou
erguerem-se na vertigem do voo - deixa
que o outono traga os pássaros e as abelhas
para pernoitarem na doçura
do teu breve coração - ouve-me

que o dia te seja limpo
e para lá da pele constrói o arco de sal
a morada eterna - o mar por onde fugirá
o etéreo visitante desta noite

não esqueças o navio carregado de lumes
de desejos em poeira - não esqueças o ouro
o marfim - os sessenta comprimidos letais
ao pequeno-almoço

Al Berto

posted by camponesa pragmática on 18:06


 

posted by camponesa pragmática on 17:45


 
Paris by blog

Uma viagem por Paris em cinco minutos. Seis posts a não perder!

Em 1950, Paris já era assim:


© Robert Doisneau

posted by Anónimo on 14:26


 
Zazie dans le metro

FOI-SE A CANÍCULA VIVA O MATA-CÃO!

Foi-se a Canícula e, antes de se matar o porco, devia-se matar o cão. Assim decorriam os rituais e festividades do calendário popular na Idade Média. A famigerada Canícula denominava o período que ocorria entre 24 de Julho e 26 de Agosto quando a constelação do Cão se ergue com o Sol, ficando visível a estrela Sirius – a abrasadora. Era precedida da festa da Ascensão que se celebrava no 1º de Maio. Esta era a festividade das máscaras de folhagem que deveria assegurar a protecção contra calores doentios da Canícula que provocavam a queima dos campos.
Já Plínio o Velho explicava as doenças das plantas neste período, por efeito da lua vermelha que ocorria por volta de 20 de Julho, no início da Canícula.
Na Antiguidade sacrificavam-se também cães ruivos neste período, o que motivou uma associação ao culto de Anubis e ao de S. Cristóvão Cinocéfalo.



da esquerda para a direita:
S. Cristóvão cinocéfalo
, ícone bizantino, Museu Bizantino de Atenas
S. Cristóvão canibal, ícone da igreja de S. Jorge, Çegelkoi, na antiga Bithynia, Turquia
Representação da Canícula, S. Cristóvão Cinocéfalo, ícone do séc. XVI, Museu Benaki, Atenas


São Cristóvão é um santo lendário que foi abolido do calendário litúrgico em 1969. Membro de uma tribo de Marmaritas do Norte de África, foi martirizado em 308 da nossa era, depois de ter sido incorporado no exército romano e baptizado por um bispo de Alexandria. Geralmente representado como um gigante que carrega o menino Jesus às costas para o ajudar a atravessar um rio - sendo patrono dos viajantes, teve também uma associação aos cultos do final da Canícula. Segundo a lenda (quer na raiz grega, quer na latina) Cristóvão provinha de uma tribo de canibais e cinocéfalos (a tradição das raças fantásticas que habitavam o Oriente), razão pela qual assim aparece representado em diversa iconografia, particularmente nos ícones bizantinos.

Os rituais do mata-cão, ou fim da Canícula ligavam-se, na Idade Média, à festa da ceifa, ainda conhecidos no início do século na Lorraine, em França como a fête du tue-chien ou fête des moissons. Entre outras associações, representava a purificação do espírito do trigo que era sacrificado sob a forma deste animal. Matavam-se nesta altura também os maus cães, apelidados em França de “vannoures” cujo couro servia para fabricar os tabuleiros de “vanneurs” onde se separavam as espigas. Também é possível que tenha havido um mimetismo com o deus Janus que representava a morte (figurado com a gadanha na mão e a ampulheta do tempo), mas também as ceifas e trabalhos agrícolas. Janus ou Vannus, referido por Virgílio nas Geórgias (Lib.IV,1666) com a crates que separava as espigas impuras



da esquerda para a direita:
representação de Vannus? Misericórdia de cadeiral de Santa Cruz de Coimbra, c.1513/18
A Via Láctea e os Demónios do Sul, tratado de Astrologia alemão do século XV. No século XV, na Alemanha, os demónios transformam-se em bruxas com os caldeirões e selhas de leite roubado e as vassouras para o voo do sabbat



Bibliografia:
GAIGNEBET, Claude; LAJOUX, Dominique, Art profane et religion populaire au moyen âge, P.U.F, Vendômme, France, 1985

SAINTYVES, Pierre, Saint Christophe sucesseur d’ Annubis, d’Hermes et d’Héraclès, Paris, Nourry, in 8º,p.55


© Zazie

posted by Anónimo on 13:12


 
boletim metereológico (não oficial)

Graças ao anti-ciclone dos Açores prevê-se bom tempo para todo o blog: nuvens apenas passageiras, vento morno e lento, temperaturas do ar e da água amenas. Podem nadar à vontade...



Julie with...

I am on an open sea,
Just drifting as the hours go slowly by.
Julie with her open blouse
Is gazing up into the empty sky
Now it seems to be so strange here
Now it's so blue.
The still sea is darker than before...
No wind disturbs our coloured sails.
The radio is silent, so are we.
Julie's head is on her arm;
Her fingers brush the surface of the sea
Now I wonder if we'll be seen here
Or if time has left us all alone.
The still sea is darker than before...

brian eno

posted by Anónimo on 13:09


 
Reconheceremos

Nós reconheceremos a mentira do sonho,
Se assim queres, Senhor.
Nós quebraremos o vidro da miragem,
Nós quebraremos o arco-íris da aliança com as flores.

Sophia Andresen



© Martin Parr

posted by camponesa pragmática on 13:07


 
"Em dois mil anos, o planeta nunca esteve tão quente como agora" é o título do artigo de Ana Fernandes, no Público de hoje, sobre a investigação que levou Philip Jones e Michael Mann a essa conclusão. Há quem defenda (diferente é acreditar) que as alterações climatéricas" são naturais e não induzidas pela actividade humana" e há quem precise destes estudos. Não entendo estas coisas. Quando os coelhos ficaram presos nas ilhotas do Alqueva, alguém explicou que não fez nada por eles porque não tinha competência legal para tal, como se nascer no mundo não fosse suficiente, naturalmente, para impor o resgate dos animais. Aparentemente, quanto ao aquecimento global, há quem fique à espera de estudos para ter a certeza que deve ser reduzida ao mínimo possível a emissão dos gases que provocam o efeito de estufa, como se o facto de só termos no momento acesso a um planeta habitável não fosse suficiente, em caso de dúvida, para a reduzir.

posted by camponesa pragmática on 12:57


segunda-feira, setembro 01, 2003  
Passagens (1)-Onde vais, drama-poesia?

Eu via nela tanta beleza

que não resisti à vontade súbita de brincar com ela.
Dei a Dickinson uma carta e, na volta do correio, recebi notícias sobre o absurdo do tempo, sobre pirilampos e outro still lives.

Dei a Rilke o meu cavalo, e ele ofereceu-me uma mantilha de cães adestrados para o combate, o que, no meu caso, era absolutamente um luxo superior às minhas posses.

Dei a Rimbaud a parte mais recôndita desta casa e, no escuro mais espesso, não resistiu a mostrar-me a sua nudez musical.

Dei a Musil uma balança que não pende mais para um lado do que para o outro e, na sua hesitação, esperou por mim.

Dei a Hölderlin, o velho, meu irmão, uma bilha e a minha tristeza quebrou-se.

Dei a Aossé uma família de aves e ele iluminou-me a fisionomia do rosto.

Entreguei ao meu ambo o estudo da terra e ele criou uma atmosfera propícia à minha alegria.

Dei à rapariguinha que me atacava de surpresa, com pequenas forças, um rebento que nasceu ao pé da tília do jardim.

E não tem medo da morte? Tenho, ao raiar do dia.
Nasceu, então, o primeiro riso entre nós.

E ela disse-me que eu seria natural em todas as coisas.
Natural? Quereria ela dizer "espontânea"? Não, queria dizer "naturalmente".
E, de repente, eu soube naturalmente que haveria entre nós
um combate mortal,

vida contra vida
porque todos somos incompletos a certas horas do dia."


Maria Gabriela Llansol, Onde Vais, Drama-Poesia ?, Relógio d´Água (2000).

posted by Anónimo on 22:42


 
Coisas

que fizeram falta e já estão na lista para a próxima viagem:
? um cianómetro, que é um aparelho que serve para medir a densidade do azul celeste
? binóculos, para ver melhor os mergulhos dos garajaus

que se trazem:
? uma revista apetecível
? um maço de tabaco, porque é o mais bonito que conheço
? queijo: da Graciosa (que anda melhor que o de S. Jorge) para casa e um mais suave, da Terceira, para a minha mãe
? chá verde (que rima com blogs) Gorreana e queijadas da Graciosa (da Maria Jesus dos Santos Bett. Félix, claro) para os amigos
? um saquinho com areia cor-de-rosa da pequena praia de S. Mateus para medir dois anos



posted by Anónimo on 21:22


 

Manobras de Outono



Não digo: isso foi ontem. Com insignificantes
trocos de Verão nos bolsos, estamos de novo deitados
sobre o joio do sarcasmo, nas manobras de Outono do tempo.
E a nós não nos é dada, como aos pássaros,
a retirada para o sul. À noite passam por nós
traineiras e gondolas, e por vezes
atinge-me um estilhaço de mármore impregnado de sonho,
onde a beleza me torna vulnerável, nos olhos.

Leio nos jornais muitas notícias - do frio
e suas consequências, de imprudentes e mortos,
de exilados, assassinos e meríades
de blocos de gelo, mas pouca coisa que me dê prazer.
E porque havia de dar? Ao pedinte que vem ao meio-dia
fecho-lhe a porta na cara, porque há paz
e podemos evitar essas cenas, mas não
o triste cair das folhas à chuva.

Vamos viajar! Debaixo dos ciprestes
ou de palmeiras ou nos laranjais, vamos
contemplar a preços reduzidos
inigualáveis pôr-do-sol! Vamos esquecer
as cartas ao dia de ontem, não respondidas!
O tempo faz milagres. Mas se chegar quando não nos convém,
com o bater da culpa - não estamos em casa.
Na cave do coração, desperto, encontro-me de novo
sobre o joio do sarcasmo, nas manobras de Outono do tempo.


Ingeborg Bachmann


posted by Anónimo on 19:39


 
Destaque na Magnum para David Alan Harvey com um álbum que reúne fotografias de Cuba, Brasil e México e que a Phaidon publica: Divided Soul.


© David Alan Harvey

posted by camponesa pragmática on 18:25


 
sob escuta:


posted by camponesa pragmática on 17:39


 
Hiato

Luto, não muito, contra uma doença à qual poderia chamar niilismo opinativo e que penso ter contraído lentamente nos últimos anos, por razões mais ou menos identificáveis porém inumeráveis. O barulho e a indignação com pompa, fujo deles como o diabo da cruz. Estas linhas são uma contradição excepcional relativamente ao que acabo de dizer e bastante risíveis, embora o constate com serena indiferença. Sei que, se todas as pessoas tivessem sempre cedido a isto, certas conquistas, das quais usufruo plenamente, seriam inúteis sonhos. Por vezes, não muito, incomoda-me esta minha leviandade. Concentro-me nas árvores e em todas as coisas que não falam, não se queixam, não se impacientam, não gritam e me deixam olhá-las sem me pedir nada em troca. De facto não acredito que possa seja o que for contra as coisas do mundo que me chocam. Excepto ignorá-las e seguir. Egoísta e consolada.

posted by camponesa pragmática on 16:54


 
Setembro começou e traz o Outono

O Verão não pode estar quase no fim. Saí de casa ao fim da tarde e fui a pé até Alfama porque era noite de Santo António e isso foi ontem. Tão certo como eu ter visto a Pantera Cor-de-Rosa cor-de-rosa no velho televisor a preto-e-branco dos meus pais, mesmo se eles juram ainda hoje que isso é impossível: jamais vi um episódio a preto-e-branco e defenderei isto até à morte. Foi também ontem que passei um fim-de-semana a ouvir música num castelo a Sul com o chão coberto de hortelã e figueiras pequeninas a crescer dentro das muralhas. Ontem ouvi a Orquestra do Algarve, irrepreensível, interpretar Haydn e Haendel, conduzida pelo Maestro Álvaro Cassuto. Ontem passeei o meu cão no Douro e as amoras silvestres ainda não estavam maduras. Ontem li livros, dormi até ao meio-dia, acordei e continuei a ler. Foi ontem. Mesmo se há dias ao fim da tarde, muito antes disso, percebi pelo cheiro a chuva que o Outono já estava no vento. Setembro começou e agarro-me com força à memória do calor. Em vão. Porque o Outono foi a minha primeira estação no mundo. Ontem imaginei as árvores nuas e rejubilei.


© Gérald Brosseau 2000

posted by camponesa pragmática on 15:19


 


Hoje na rtp1, às 01:10, RETRATO DE UMA SENHORA
(«PORTRAIT OF LADY») de Jane Campion com
Nicole Kidman, John Malkovich, Barbara Hershey.
É baseado no clássico romance de Henry James.


posted by Anónimo on 14:28


 


A Feira Popular de Lisboa fechará definitivamente dia 30 de Setembro, diz o Público, o mais tardar dia 5 de Outubro. Até lá as entradas serão gratuitas. Haverá outro parque do género não se sabe exactamente onde nem quando.

posted by camponesa pragmática on 13:21


 
blog notas

Este é um post sobre alguns blogs e já tardava. Começa com um ponto nº 1 muito pessoal, peço perdão, mas tem que ser.

1. O blog da Rita, que é minha amiga há trezentos anos e me disse há cem anos que tem um blog, mas não me disse que blog é. Protesto veementemente! Rita, imprimi há dias 12 páginas - doze! - de um apontador de blogs activos desde finais de Junho e dei-me ao trabalho de ler título a título e ir visitar todos os suspeitos... não dá, não consegui descobrir. Compadece-te de mim e envia-me esse link, sim?
2. O Alexandre Andrade adiantou-se-me; resta-me portanto citá-lo para concordar: "um dos mais formidáveis e originais blogs dos últimos tempos" é o Pintainho.
3. Blog imperdível: MacJête.

posted by camponesa pragmática on 12:17


domingo, agosto 31, 2003  
Sob escuta da Zazie

Zeca Baleiro



minha tribo sou eu

eu não sou cristão
eu não sou ateu
não sou japa não sou chicano
não sou europeu
eu não sou negão
eu não sou judeu
não sou do samba nem sou do rock
minha tribo sou eu

eu não sou playboy
eu não sou plebeu
não sou hippie hype skinhead
nazi fariseu
a terra se move
falou galileu
não sou maluco nem sou careta
minha tribo sou eu

ai ai ai ai ai
ié ié ié ié ié
pobre de quem não é cacique
nem nunca vai ser pajé

e oiça: À Flor da Pele

Depois de Crato e Figueira da Foz, a digressão de Zeca Baleiro estende-se a Lisboa (Centro Cultural de Belém, dia 4 de Setembro, 21.30), Montemor-o-Novo (dia 5, 22 horas), Vila Nova de Gaia (Hard Club, dia 6, 22 horas) e, por fim, Vila Nova de Famalicão (dia 12, 22 horas). Para quem não puder assistir ao vivo, Zeca Baleiro actuará no dia 11, pelas 17 horas, no auditório da Antena 1.
(in DN,)

Zazie

posted by Anónimo on 22:36


 


Já está disponível o número 6 da Periférica . Polémica, como sempre. A pior revista de Portugal? Não, pelo contrário, a Periférica é uma revista literária bem disposta, sem preconceitos nem acanhamentos, crítica, irónica, auto-irónica, feita da maneira mais arcaica possível (por carolice), com os patrocínios mais interessados e afectuosos que existem (os dos amigos).
Nós patrocinámos.

Há muitas razões para comprar o número de verão: as ilustrações de Jordin Isip, as fotografias de Misha Gordin, os textos de Beatriz Dacosta ou da Cláudia Clemente, a entrevista com João Francisco Vilhena,... a descoberta de Daniil Harms

Era um homem ruivo que não tinha olhos nem orelhas. Também não tinha cabelo, pelo que só convencionalmente se podia chamar ruivo.

Não podia falar, porque não tinha boca. Também não tinha nariz.

Nem sequer tinha mãos, nem pernas. Não tinha ventre, não tinha costas, não tinha coluna vertebral nem quaisquer entranhas. Não tinha nada! Por isso não se compreende de quem se trata.

É melhor não falarmos mais nele.


posted by Anónimo on 20:23


 
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