sexta-feira, setembro 05, 2003
Passagens (3)- O Momento Total
“Tenciono eliminar todo o excesso, o torpor, o supérfluo: dar o momento total; inclua ele o que incluir. Digamos que o momento é uma mescla de pensamento, sensação, a voz do mar. O excesso, o torpor vêm da inclusão de coisas que não pertencem ao momento; o terrível trabalho narrativo do realista: passar do almoço ao jantar: é falso, irreal, meramente convencional. Porque admitir em literatura algo que não seja poesia – isto é, saturado? Não é aí que reside a minha má vontade contra os romancistas? No facto de não seleccionarem nada? Os poetas conseguem-no simplificando: excluem praticamente tudo. Eu quero incluir tudo e, no entanto, saturar.”
Virginia Woolf, Diário (28 de Novembro de 1923), cit. in O Momento Total, Ensaios de Virginia Woolf, org. Luísa Flora, Ulmeiro, 1985, p.23.
"Como tornar um momento do mundo durável ou fazê-lo existir em si? Virginia Woolf dá uma resposta que vale tanto para a pintura ou para a música como para escrita: "Saturar cada átomo", "Eliminar tudo o que é desperdício, morte e supérfulo", tudo o que cola às nossas percepções correntes e vividas, tudo o que constitui o alimento do romancista medíocre, ficar apenas com a saturação que nos dá um percepto, "Incluir no momento absurdo os factos, o sórdido, mas tratados em transparência", "Colocar aí tudo e no entanto saturar". "
Gilles Deleuze e Félix Guattari, O que é a Filosofia?, Editorial Presença, Lisboa, 1992, p.152.