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quinta-feira, setembro 30, 2004  

Estou a falar de António Reis



«É certo que, na fria tarde de Dezembro em que me dirigi para a sala de projecção da Tóbis, fui recebido pela mais cândida e afável criatura que deve existir sobre a face deste taciturno planeta, mas só me dei conta da exacta dimensão dessas qualidades (e digo isto com o pressentimento de quão terríveis devem ser as manifestações do seu avesso), após ter visto o filme, como se o filme fosse afinal o único revelador possível e sem equívoco dessa tão veemente e natural explosão de humana grandeza.
Estou a falar de António Reis e do dia em que o conheci e que, por acaso profissional, coincidiu com a primeira vez que vi Jaime, quanto a mim, um dos mais belos filmes da história do cinema, ou, se preferem: uma etapa decisiva e original do cinema moderno, obrigatório ponto de passagem para quem, neste ou noutro país, quiser continuar a prática de um certo cinema, o cinema que só tolera e reconhece a sua própria austera e radical intransigência.»


João César Monteiro, para para seguir com atenção, neste formidável blog , dedicado a António Reis.

posted by Anónimo on 18:24


 

romance da praia de moledo

canto da hora do banho

ó mar contente, tão frio
que o verde das ondas é neve
fazes meu corpo tão leve,
no ar, vazio!
meus seios, cabelos, tudo é brando!
na mão do mar talhado cerce
vou, como se a um velho comando
desobedecêsse!

e raia de leve um sol macio
que ainda não amadurou
frio
da manhã forte e silente
as minhas mãos nem são de gente
são formas de água, de neve
sobre o maillot

Mário Cesariny, "Manual de prestidigitação" (burlescas teóricas e sentimentais)
© Assírio & Alvim

posted by Anónimo on 14:23


 

objectos de estimação #4


ANDERSON, LAURIE / GIORNO, JOHN / BURROUGHS, WILLIAM | YOU'RE THE GUY I WANT TO SHARE MY MONEY WITH | 2LP's | 30cm | 33RPM | US | GIORNO POETRY SYSTEMS | GPS 020-021 | 1981

Já não me lembro se foi oferecido ou se me apoderei dele, mas isso não importa. É um vinil, dos mais preciosos que guardo em casa: You're the Guy I Want to Share My Money With. Data de 1981 e é o primeiro álbum, não a solo, da Laurie Anderson. Se são precisas duas pessoas para dançar o tango, talvez sejam necessárias três para fazer um disco assim; John Giorno e William Burroughs são os parceiros exemplares da Laurie Anderson. Cada um teve direito a uma faixa (é um duplo) e, na que sobra, reuniram-se os três, ao molhe. O que é que isso quer dizer? Bom, cada um entra em estrias diferentes. Coloca-se a agulha sobre o disco e é como na roleta, pode sair a Laurie Anderson, o Giorno ou o Burroughs.

Para além da elevada qualidade musical e poética, este disco é um objecto imprescindível em qualquer lista de casamento.

posted by Anónimo on 10:52


 

é preciso comer o coração da mãe para seguir


Fotografia de Alcino Gonçalves

COMER O CORAÇÃO | 26ª Bienal de Artes de SP | Pavilhão Ciccillo Matarazzo - pq. Ibirapuera, portão 3

posted by Anónimo on 10:12


 

uma história de amor, uma oferta



A notícia está na página 43 do Público (mas não está online). Durante o Fim, o filme de João Trabulo sobre Rui Chafes, tem agendadas duas únicas exibições: uma hoje na Culturgest, em Lisboa, e outra a 5 de Outubro na Fundação de Serralves no Porto.

posted by Anónimo on 09:51


quarta-feira, setembro 29, 2004  

Braga, percurso #2: a Cerca do Mosteiro


Olival

A Cerca de 40 hectares, a maior cerca monástica preservada em Portugal, é única no seu género uma vez que combina funções agrícolas e de mata com o jardim barroco.

Tal como o Edifício, também a Cerca, situada nas faldas do Monte de S. Gens na sua encosta norte virada ao rio Cávado, sofreu profundas alterações ao longo dos tempos. Encimado pela Capela de S. Filipe, o Monte de S. Gens é ocupado a meio pela Capelinha de S. Bento e ao fundo pelo Mosteiro. Ocupado actualmente por Pinhal e Eucaliptal só dentro da Cerca do Mosteiro a vegetação climácica consegue ir recuperando o seu espaço secular, servindo de refúgio e habitat a centenas de espécies da nossa Fauna e Flora. Podemos aqui observar entre outras plantas da associação do Carvalho do Norte (Quercus robur), o protegido Azevinho (Ilex aquifolium),o Loureiro (Laurus nobilis), a Aveleira (Corylus avellana), o Medronheiro (Arbutus unedo), a Gilbarbeira (Ruscus aculeatus) e o Bordo (Acer pseudoplatanus).

As terras do Mosteiro eram muradas. Os muros começaram por envolver os terrenos mais próximos - a "Cerca pequena" e mais tarde fez-se a "Cerca da mata". Este muro com mais de três metros de altura é o que ainda hoje delimita a Cerca. Na Cerca pequena que englobava as Hortas, os Pomares, a Casa do hortelão, a Capelinha de S. Bento, as fontes das Aveleiras, dos Tornos e do Pevidal, os monges, no séc. XVIII, associando o poder económico à estética barroca, marcante nas obras em curso no novo edifício conventual, implantaram eixos formados por sebes de buxo, muros brancos e caminhos ensombrados por ramadas, que direccionavam o espaço para: um ponto de água, enquadrado por majestosa fonte ou tanque de pedra lavrada; um percurso pela mata onde a exuberância da vegetação surpreende; uma "rua das fontes" ou escadório onde, através duma sucessão de 7 fontes trabalhadas, intercaladas por escadas e patamares lajeados, contrastavam nas suas cores e doirados com os pomares envolventes, sobe até ao Jardim e Capelinha de S. Bento. A estrutura deste espaço chegou até nós intacta e com vestígios de buxos, rebocos, ramadas e fontes.

Por Jardins do Mosteiro de Tibães estavam designados os espaços do Claustro do Cemitério, do Claustro do Refeitório, Jardim de S. João, Jardim da Capelinha de S. Bento e Jardim do Jericó. Estes espaços eram trabalhados pelo Hortelão que cuidava também dos Alegretes do Passadiço e do Pátio do Galo. Os canteiros eram contidos por sebes de buxo ou por cantaria de granito. Vindo de diversas Minas, a indispensável água, chegava até estes locais por uma elaborada rede de alcatruzes de barro, caleiros de pedra e canos de chumbo que dotavam as fontes do elemento necessário a toda uma encenação barroca. Esta corrente estética que trata o espaço de modo a criar ilusões, mostrar grandeza e deslumbramento e onde a arquitectura se molda à paisagem foi ilustrada em Portugal pelo Escadório. A última grande intervenção ainda visível, ao nível do construído, na Cerca do Mosteiro, foi o Lago. Construído entre 1795-98 "por não haverem águas suficientes para o engenho de serra trabalhar", é "de cantaria em volta". A sua forma elíptica remete-nos ao barroco final. Alimentado pelas águas de cinco minas este potencial energético fazia funcionar além do engenho de serrar madeira , três moinhos e um engenho de azeite. Os engenhos e moinhos reflectem a importância da transformação dos produtos agrícolas e florestais. Recordemos que o suporte económico dos Beneditinos para todas as intervenções operadas nos séc. XVII e XVIII foi a criação e gestão eficiente da estrutura agrícola. Assim a importância da Cerca de Tibães não se prende só com os seus jardins, mas também por ser um exemplo da sábia utilização da terra, explorada agrícola e florestalmente apoiada por importantes obras hidráulicas.

Acompanhando o Mosteiro na agressão do tempo, a Cerca viu desaparecer as pinturas e doirados dos muros e fontes, as imagens das Virtudes, as próprias fontes, as árvores da mata e dos pomares. Até mesmo os socalcos, vestígios da conquista do Monte de S. Gens, e as minas de água sofreram grandes transformações com a exploração do volfrâmio em 1944. Apesar de tudo, permaneceu até aos nossos dias um fabuloso espaço que constitui um Jardim Histórico em recuperação. Atributos reconhecidos internacionalmente com a atribuição, em 1998, do prémio "Carlo Scarpa per il Giardino" atribuído pela Fundação Benetton Studi Ricerche.


Texto e Fotografia © Mosteiro de de S. Martinho deTibães

posted by Anónimo on 14:34


 

Braga, percurso #1: os olhos

Mosteiro de Tibães, Museu da Imagem, Museu Nogueira da Silva, Casa dos Crivos, Torre de Menagem, Shoping Bragaparque.



Mais pormenores sobre a 17ª edição dos Encontros da Imagem, aqui.

posted by Anónimo on 14:33


 

Cézanne

posted by camponesa pragmática on 10:50


 

sob escuta


Patrick Fondiller

Devendra Banhart no Later with Jools Holland (14.05.2004), sentado: A sight to behold

posted by Anónimo on 09:26


 


Para se ouvir com pleno sentir é necessário a cadeira porque a alma não pode estar a pensar nas pernas. No princípio é sempre a palavra, mas antes da palavra fala o silêncio. Depois a música como o vento sopra onde quer. Percorre todo o espaço e depois desce e entra no nosso corpo e é aqui que nasce a música.

Este Festival é para Gente Sentada. Para gente que gosta de música e que não se deixa enganar por coreografias ou por saltos gratuitos porque sabemos que o homem não salta só com as pernas mas, sobretudo, com a intensidade do sonho e do desejo de ser e sentir.

É um Festival sem barracas porque nem só de pão vive o homem. O homem vive também do desejo, da escuridão, da luz, das telhas e das colmeias.
É um Festival Para Gente Sentada.

Texto e cartaz © Festival Para Gente Sentada

posted by Anónimo on 09:24


terça-feira, setembro 28, 2004  

"Hi-ro-shi-ma... Hi-ro-shi-ma.

C'est ton nom"

"C'est mon nom. Oui.
Tom nom a toi est Nevers.
Ne-vers-en-Fran-ce".



O filme de Alain Resnais "Hiroshima, meu amor" é projectado às 21h40 no Auditório da Casa da Cultura de Fafe. A exibição está integrada nas segundas Jornadas de Cinema e Audiovisual que decorrem até sábado naquela cidade e que, este ano, abordam as relações entre o cinema e a literatura. Ao contrário do que consta nesta notícia, a Marguerite Duras escreveu o argumento mas não teve tempo para fazer os "decors". Com pena minha, reconheço, pois gosto muito das suas casas desarrumadas.

posted by Anónimo on 13:32


 

UNAS PALABRAS PARA PETER PAN

"No puedo ya ir contigo, Peter. He olvidado volar, y...
Wendy se levantó y encendió la luz: él
lanzó un grito de dolor... »
                                  James Matthew Barrie, Peter Pan.


Pero conoceremos otras primaveras, cruzarán el cielo otros nombres -Jane, Margaret-. El desvío en la ruta, la visita a la Isla-Que-No-Existe, está previsto en el itinerario. Cruzarán el cielo otros nombres hasta ser llamados, uno tras otro, por la voz de la señora Darling (el barco pirata naufraga, Campanilla cae al suelo sin un grito, los Niños Extraviados vuelven el rostro a sus esposas o toman sus carteras de piel bajo el brazo, Billy el Tatuado saluda cortésmente, el señor Darling invita a todos ellos a tomar el té a las cinco). Las pieles de animales, el polvo mágico que necesitaba de la complicidad de un pensamiento, es puesto tras de la pizarra, en una habitación para ellos destinada en el n° 14 de una calle de Londres, en una habitación cuya luz ahora nadie enciende. Usted lleva razón, señor Darling, Peter Pan no existe, pero sí Wendy, Jane, Margaret y los Niños Extraviados. No hay nada detrás del espejo, tranquilícese, señor Darling, todo estaba previsto, todos ellos acudirán puntualmente a las cinco, nadie faltará a la mesa. Campanilla necesita a Wendy, las Sirenas a Jane, los Piratas a Margaret. Peter Pan no existe. «Peter Pan, ¿no lo sabías? Mi nombre es Wendy Darling». El río dejó hace tiempo la verde llanura, pero sigue su curso. Conocer el Sur, las Islas, nos ayudará, nos servirá de algo al fin y al cabo, durante el resto de la semana. Wendy, Wendy Darling. Deje ya de retorcerse el bigote, señor Darling, Peter Pan no es más que un nombre, un nombre más para pronunciar a solas, con voz queda, en la habitación a oscuras. Deje ya de retorcerse el bigote, todo quedará en unas lágrimas, en un sollozo apagado por la noche: todo está en orden, tranquilícese, señor Darling.

Leopoldo María Panero, Así se fundó Carnaby Street, 1970



posted by Anónimo on 11:05


 

BLANCANIEVES SE DESPIDE DE LOS SIETE ENANOS

Prometo escribiros, pañuelos que se pierden en el horizonte, risas que palidecen, rostros que caen sin peso sobre la hierba húmeda, donde las arañas tejen ahora sus azules telas. En la casa del bosque crujen, de noche, las viejas maderas, el viento agita raídos cortinajes, entra sólo la luna a través de las grietas. Los espejos silenciosos, ahora, qué grotescos, envenenados peines, manzanas, maleficios, qué olor a cerrado, ahora, qué grotescos. Os echaré de menos, nunca os olvidaré. Pañuelos que se pierden en el horizonte. A lo lejos se oyen golpes secos, uno tras otro los árboles se derrumban. Está en venta el jardín de los cerezos.

Leopoldo María Panero, Así se fundó Carnaby Street, 1970



posted by Anónimo on 10:54


 

ÉRASE UNA VEZ

Cuentan que la Bella Durmiente

nunca despertó de su sueño.


Leopoldo María Panero, Así se fundó Carnaby Street, 1970



posted by Anónimo on 10:50


 

EL RAPTO DE LINDBERG

Al amanecer los niños montaron en sus triciclos, y nunca regresaron.

Leopoldo María Panero, Así se fundó Carnaby Street, 1970



posted by Anónimo on 09:14


 

Arshile Gorky, Water of the Flowery Mill, 1944
Metropolitan Museum of Modern Art, New York


posted by zazie on 03:10


segunda-feira, setembro 27, 2004  

Foi aqui...!



The Great Nebula in Orion


Stefan Seip


Batty: Quite an experience to live in fear, isn't it? That's what it is to be a slave. I've seen things you people wouldn't believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I've watched C beams glitter in the dark near the Tannhauser gate. All those moments will be lost in time like tears in rain. Time to die.


Blade Runner

posted by Paulo on 20:40


 

Citação para segunda, terça, quarta, quinta e sexta:

"Trabalho não tem swing."

www.jazzportugal.net


posted by camponesa pragmática on 17:04


 

à deriva

Já o tinha visto em casa, há umas semanas, na televisão, mas não foi suficiente. Ontem ao fim da tarde resolvi ver Wanda, como deve ser, no cinema. Wanda é uma mulher sem ligações. Logo no início do filme, separa-se do marido e dos filhos. A irmã e o cunhado, que lhe dão abrigo por uma noite, não gostam dela e mostram-no, com desprezo. A única personagem que é simpática com Wanda é um velhote que apanha carvão e lhe empresta algum dinheiro. Com esse dinheiro, com a roupa que tem no corpo, com os rolos no cabelo e uma carteira barata, Wanda inicia um estranho percurso, sem destino: vai por onde a levam, vai com quem a leva, faz o que lhe dizem para fazer. É assim, à toa, que chega a Dennis, um tipo cinzento, como qualquer outro, um ladrão de segunda.

Wanda não luta, não se revolta, não age, quase não fala, tem sempre fome. Não a conseguimos compreender e no entanto ela não nos sai da cabeça, como um assombro. A meio do filme, Dennis acusa-a de não ser ninguém. Quem nada tem, nem objectos nem objectivos, quem nada quer, diz ele, nem sequer é um cidadão dos Estados Unidos, é quase um morto. "Então estou morta", responde Wanda. Então está morta. E o que é isso, de estar morta?

É o único filme de Barbara Loden. É um filme magnífico.

posted by Anónimo on 16:49


 

às 23h00


John Dugdale | Crescent Moon, Stone Ridge, NY, 1993

Exactamente há um ano, no dia 27 de Setembro de 2003, ia para o ar a última emissão da Íntima Fracção. O Francisco disse então que a IF não acabava, está a cantar baixinho, parada, num caminho escuro à espera da aurora.

Hoje a aurora surge inesperadamente, entre as 23h00 e as 24h00. De novo, um traço azul.

Francisco Amaral é o convidado de Ricardo Mariano, logo à noite, no Vidro Azul, na RUC (em Coimbra, em 107.9 ou aqui). Para ouvir, de olhos fechados.

posted by Anónimo on 08:41


domingo, setembro 26, 2004  

Las palabras

Las palabras
construyen el bosque
un árbol es sólo un árbol
cuando lo toca el poema

Leopoldo María Panero, Poesía Completa 1970-2000, Visor Libros, Madrid 2001
© Visor Libros

Nota: algumas informações preciosas sobre Leopoldo María Panero em Fatal Espejo





posted by Anónimo on 23:03


 

foi isto o que disseram

Na Natureza do Mal, o Luís escreve sobre os livros de Outubro..., ou de Dezembro.

Numa caixa de comentários, alguns posts mais abaixo, o Nuno garante que estão a despachar os livros de José Alberto Oliveira a "preços de amigo", na Almedina do Saldanha. É favor não ignorar o facto.

A Biblioteca Almeida Garrett já tem, disponíveis para empréstimo, os dois volumes de "Teatro", de Harold Pinter, editados pela Relógio d'água. Bom, neste momento só tem um, o outro está cá em casa.

«Não consigo resumir nenhuma das minhas peças. Não consigo descrever nenhuma. O que sei dizer: foi assim que se passou, foi isto o que disseram, isto o que fizeram.» Harold Pinter

posted by Anónimo on 17:21


 

Aposto que sim



"La Nina Santa", de Lucrecia Martel, às 21h30 no São Jorge.

Mais informações sobre o filme, aqui.

posted by Anónimo on 16:42


 

Comer o Coração, em São Paulo




Fotografias de Laura Castro Caldas

Ferro, corpo e voz

Rui Chafes é escultor, mas não só. É um prazer coleccionar as suas palavras, desde os nomes que dá às peças que cria, a tudo aquilo que diz. No princípio do mês, o Mil |Folhas entrevistou-o a propósito da participação na Bienal de São Paulo , que arrancou ontem. Fiz alguns sublinhados, mas vale a pena ler tudo, tudo.

...
Eu queria que a Vera não fosse uma pessoa, mas sim uma parte da escultura. Na altura escrevi-lhe: "Quero desenhar o teu corpo como uma folha de papel e desmaterializá-lo."

...
Teria de ser algo contrário a uma prisão, a um objecto de tortura, o contrário de uma ferramenta. Teria de ser algo que tivesse que ver com a leveza. Tornou-se, então, evidente que eu não queria ver a Vera no chão. O trabalho da maior parte das dançarinas parte de uma relação com o solo, em que muitas vezes o voo ou a fugacidade do ponto é a sua linguagem. A Vera apareceu-me como um personagem que não podia tocar o chão e, imediatamente, propus-lhe que estivesse no ar, pendurada, não no sentido de suspensa, mas como se tivesse realmente a voar. Quis desenvolver uma ideia relacionada com as gravuras do séc. XIX de Odilon Redon: um céu sépia e um balão a voar, o balão como um olho divino que se eleva sobre o mundo.

... a escultura é uma encenação estática da morte, ao passo que a dança é uma luta contra a morte. No meu caso, as esculturas são uma luta contra a morte no sentido de serem uma luta contra a gravidade, o peso. Por isso é que muitas vezes não tocam no solo, ou, se o tocam, fazem-no de um modo fugaz, suspenso, elástico. A dança é uma luta contra a morte no sentido em que é um grito, mudo ou não, de um corpo que tenta elevar-se e movimentar-se, contrariando a horizontalidade, a gravidade, o peso e a imobilidade

...
Eu nunca penso na beleza. Penso em termos de equilíbrio, de falhanço, de fracasso. A beleza só faz sentido no momento em que chega a alguém, em si própria não faz sentido, é estéril.

...
Gosto de olhar o meu trabalho como se fosse uma espécie de sombra, como aquelas silhuetas negras que os românticos alemães faziam uns dos outros.

...
Convém é não escrever deus com letra maiúscula e convém esclarecer mal-entendidos. Penso que na altura houve pessoas que entenderam que eu sou um cristão com uma grande fé e que ouço uma voz divina que me diz para fazer as coisas. A ideia não é, de todo, essa. Pelo contrário, a minha única religião, o meu único centro e a minha única razão de viver e de transcender é a arte.



- E a arte chega para nos salvar?

Acho que nada chega para nos salvar. Se só a arte chegasse, era fácil.

posted by Anónimo on 16:34


sábado, setembro 25, 2004  

hoje, Na 2, às 23.15h:


Hightsmith + Wenders:
O Amigo Americano



posted by zazie on 20:52


 

Este excelente blogue fez ontem um ano


Jayne Hinds Bidaut | Charaxes castor (borboleta zebra) | 1998

Li a notícia e saí à procura de uma história para oferecer à Alexandra. Na Rua Miguel Bombarda (mas antes, repara como está bonito e avermelhado um determinado muro no Largo da Maternidade), encontrei esta pequena história que, com apenas setenta e quatro palavras, fala de borboletas, sonhos, relva, uma lareira, um paradoxo e jogos de cartas.
Do Bestiário, de José Alberto Oliveira:

AS BORBOLETAS vivem no sonho dos homens.
Os homens vivem no sonho das borboletas.
Um filósofo oriental especulou ser impossível distinguir o sonhado de quem sonha.
Este tipo de paradoxos é irritante nas noites de inverno, mas agradável nas tardes de primavera. Embora seja mais agradável estar deitado na relva, beijando uma rapariga.
Nas noites de inverno é agradável discutir o paradoxo de Epiménides, à lareira, beberricando. Embora seja mais agradável jogar às cartas.

© Assírio & Alvim



posted by Anónimo on 19:12


 
Uma amiga regressou da Argentina. E trouxe fotografias.


Baleia - El Doradillo (Puerto Madryn)


Lebre da Patagónia


Lago Calafate




Glaciar Perito Moreno


Upsala


Cordilheira dos Andes

posted by camponesa pragmática on 18:50


 

sob escuta



Agora, sim, completo. Fui comprá-lo esta manhã. Depois de duas audições seguidas, vou agora na enésima repetição do primeiro vício deste disco: «Paranoid Android» (como podem 19 minutos e 29 segundos de música passar tão depressa e passar tão devagar?). Diz que "Live in Tokyo" tem outras faixas. Ou terá só esta? Como é lindo, isto.



posted by camponesa pragmática on 17:36


 

Robert Desnos

Vida e obra | tábua cronológica*

1900
Nascimento de Robert Desnos a 4 de Julho, em Paris, no nº 32 do Boulevard Richard-Lenoir, no 11º Bairro. O meio familiar era o da pequena burguesia, com uma situação económica folgada. Seria educado no respeito da ordem e dos valores correlativos: trabalho, poupança, família, religião, pátria.

1902
Mudança da família para o 4º Bairro, na Rue Saint-Martin. O escritor evocará sempre com emoção esse bairro, as suas ruas, os seus homens de artes e ofícios.

1905
Ingresso numa escola laica, onde se sentirá feliz.

1910
Em Janeiro deste ano assiste à prisão de um tal Liabeuf, sapateiro e rufia condenado à morte pelo assassínio de um polícia e ferimentos em vários outros. Anarquistas e socialistas revolucionários manifestaram-se no dia da execução da sentença. Liabeuf morre a gritar "Viva a anarquia! Morte à bófia!"

1911
Com dez anos, faz a primeira comunhão.

1913
Entra numa escola comercial, mas as matérias de estudo desiludem-no. Em contrapartida, devora romances populares e bandas desenhadas e lê apaidonadamente Baudelaire e Victor Hugo.

1916
Contra a opinião do pai, abandona os estudos para se dedicar à literatura. Começa a conviver com escritores: Henri Jeanson, Armand Salacrou, Georges Limbour...

1918
Publica os primeiros artigos na revista de Henri Barbusse "La Tribune des Jeunes".
Em Novembro, fim da guerra. Desnos é chamado para o serviço militar apenas em Março de 1920.

1921
Primeiro encontro com André Breton, por intermédio de Benjamim Péret.
Em Maio embarca, como cabo, para Marrocos, de onde regressa, meses depois, com o posto de sargento.

1922 a 1924
Retorna à vida civil com a preocupação de recuperar o tempo perdido (por causa da tropa falhara, designadamente, grande parte da agitação do movimento Dada) e de "adquirir uma liberdade urgente que os meus pais me recusavam".
Integra o grupo da revista Littérature e faz a primeira experiência de escrita automática com Nouvelles Hébrides. Revela-se também um médium fora de série, capaz de comunicar, por exemplo, com Robespierre ou Victor Hugo.
O Manifesto de 1924 confirma o lugar de relevo que Desnos, por esta época, ocupava no movimento surrealista.
Colabora em vários jornais, fazendo crítica literária e cinematográfica. Em Julho de 1924 André Breton declara a Le Journal Littéraire que "o surrealismo está na ordem do dia e Desnos é o seu profeta".
Apaixona-se pela comediante belga Yvonne George e começa a fumar ópio.
Em Dezembro de 1924, aparecimento de Deuil pour Deuil, o seu primeiro livro publicado.

1927
É redactor do novo jornal de Eugène Merle, Paris-Matinal
Breton, Aragon, Péret e Éluard aderem ao Partido Comunista, não sendo seguidos por Desnos.
Publica La Liberté ou l'Amour!, que lhe valeu um processo por licenciosidade e anticlericalismo.

1928
Publica no Paris-Matinal Jack l'Eventreur, uma série de nove artigos, no período de 29 de janeiro a 7 de Fevereiro. No mesmo jornal publica também, entre 9 e 18 de Fevereiro, nova série de artigos sobre outro célebre criminosos sádico, este de nacionalidade francesa, Vacher l'Eventreur.
A 21 de Fevereiro parte para Cuba, a fim de assistir em Havana a um Congresso da Imprensa Latina. Aí se encontra com escritores com quem faz amizade (Miguel Angel Asturias, Corpus Braga, Alejo Carpentier), descobre a música cubana e frequenta os meios revolucionários da ilha, onde permanece cerca de quatro semanas. De regresso a Paris, traz com ele Alejo Carpentier, com quem virá a colaborar assiduamente.
Man Ray realiza o filme L'Étoile de Mer a partir de poema e script de Desnos.


Man Ray | L'Étoile de Mer

[continua]

_______

*Cronologia publicada na edição portuguesa de "Jack o Estripador", de Robert Desnos, da responsabilidade da & etc (Março de 2001). Não está assinada, por isso deduzo que seja da autoria ou dos editores ou do tradutor, Rui Caeiro.
© & etc


posted by Anónimo on 09:12


 

Nuit du 24 au 25 septembre 1922

Début de cauchemar dont je ne puis absolument pas me rappeler:
«L'atelier de Breton. Celui-ci marche de long en large du piano à la fenêtre.
«Il dit des choses d'un tragique absolu, dans une atmosphère d'angoisse absolument inouïe, à Morise assis sur le canapé contre le mur. Simone Breton ni Vitrac ni moi n'étions là: je me suis inquiété de savoir si Simone et Vitrac étaient là et m'étonnai même de leur absence; quant à moi je n'étais pas là et cette partie du cauchemar était de l'ordre de la voyance à distance ou de la projection cinématographique.»
Je me suis renseigné le soir du 25-9-22 auprès de Morise et de Breton: à 7 heures du soir le 24 Breton avait développé à Morise ses idées sur la ligne nouvelle à suivre en général et son opinion sur M. Duchamp en particulier. Conversation d'un tragique réel pour André Breton et ses amis. Ce cauchemar commencé après 22 heures (heure du coucher) se termina avant 23 heures (heure d'un réveil en sursaut) pour reprendre vers 24 heures et approximativement et se terminer par une sorte d'inondation de couleurs de la consistance d'un fluide.

Robert Desnos, Nouvelles Hébrides et autres textes

posted by Anónimo on 09:09


sexta-feira, setembro 24, 2004  

sob escuta

...
I don't know where I'll go now
And I don't really care who follows me there
But i'll burn every bridge that I cross
To find some beautiful place to get lost
To find some beautiful place to get lost


Elliott Smith


© NPR

posted by Anónimo on 16:36


 

objectos animais de estimação #4



Nasceu em minha casa há treze anos. Não me lembro da data da fotografia. mas sei que quando ele olha para mim assim, consegue tudo. É europeu, tigrado e rafeiro. Já o salvei de uma queda do quinto andar e acalmo-o quando há trovoada. Ele, sempre que pode, adormece-me. Não passamos um sem o outro.

posted by Anónimo on 13:53


 

o mar de Hiroshi Sugimoto



Hiroshi Sugimoto | North Pacific Ocean (Sug-420) | 1994 | Silver Print

posted by Anónimo on 09:52


 

il mare di Sandro Penna

Il mare è tutto azzurro.
Il mare è tutto calmo.
Nel cuore è quasi un urlo
di gioia. E tutto è calmo.

posted by Anónimo on 09:42


 

Lá se foi o Russ Meyer...

Conhecido pelo "Ed Wood do soft porno", ou o "Fellini do sexo", esta figura lendária que faleceu ontem aos oitenta e dois anos, deixou o filme mais tonto da história do cinema- Beyond the Valley of the Dolls. Tão mauzinho e tão moralista que se torna um delicioso disparate. O mérito não estava propriamente no sexo mas na louca fixação que ele tinha por maminhas. Fosse qual fosse a cena a filmar, a câmara apontava sempre ao nível dos decotes. Tanto se dava se era close up ou plano americano- as maminhas tornavam-se um autêntico "emplastro"; não importava a quem pertenciam nem se vinham ao caso; tapavam tudo o resto e até se chegava a duvidar de onde saiam os diálogos...
O Vale das Bonecas é o o apogeu do estilo. Uma história de roqueiras das berças que se perdem na grande cidade. Um cocktail de underground com gore à mistura, ambição e corrupção, castigo e arrependimento e um final feliz, onde tudo volta à normalidade e pureza idílica porque a carne e as maminhas são mesmo assim, tal como o Russ - sem culpa do pecado.

Aqui fica só um cheirinho deste nonsense do porno, que isto aqui é um blogue muito sério. Mas quem quiser pode encontrá-lo à venda na Fnac ou pedir-me emprestado ";O)

as entradas em cena ; os planos de conjunto; os diálogos; as maminhas gore .

posted by zazie on 02:27


quinta-feira, setembro 23, 2004  

1950's Sex Education Record - #1 - "For Young Boys"

[transcrição da introdução]

(violinos)
(mais violinos)
(muitos violinos)


This is the first of a series of four recordings on a problem that bothers so many parents today: what should I teach my child about sex? and, particularly, how should I go about it? It's intended for use by parents organizations and PTA groups, not for children. It's not designed to be followed word for word but to serve as a basis for discussion, as an illustration on how the beautiful story of Creation can be told to children in a frank but perfectly natural way, that combines both spiritual and biological elements. Only you, the parent, can decide how and when to give these instructions to your child, but these little scenes, by suggesting a phrase or a situation, may make your talk easier.

(violinos)
(mais violinos)
(poderosa catarse de violinos)

(pausa)


In this first recording, a little boy, who might be four or six, has just discovered that the neighbour's dog has given birth to a litter of puppies. Out of this natural situation arises the first question usual in all sex instructions: where do babies come from? The father, who might be you, answers him truthfully, seriously, but in a natural informal way.

Notice two things: first, the father introduces the name of God and the divine plan of reproduction very early, and this identification of God with Creation carries naturally through the dialogue; second, although the father answers the boy's further question - how does a baby gets out of his mother's body? -, that he gives a minimum of feminine anatomy at this stage and avoids arousing empty curiosity.

In real life this instruction might extend over two or three talks. The child's curiosity should govern though we should be careful not to give him more than he can handle at first.

(pausa)

(som: alguém a serrar lenha)
(som: homem a cantar que odeia serrar lenha)

[/transcrição da introdução]



Segue-se o diálogo. A minha gravação (cuja proveniência editorial desconheço, excepto que é norte-americana) tem, além desta primeira faixa, mais três faixas: "Explaining Menstruation" [for young girls, obviously], "The Problem With Growing" [for young boys, once more, this time about weird dreams], "The Marriage Union" [para ambos]. Procurei transcrições disto na internet, mas não consegui encontrar. Daqui a uns dias passo mais um bocado.





posted by camponesa pragmática on 23:52


 

para Mário Botas



de Mário Cesariny

posted by Anónimo on 13:13


 

locais muito curtas

> O alfarrabista da Rua Formosa foi substituido por uma loja de acessórios de moda. Foi lá que encontrei a Zazie do Queneau, dois contos do Pavese, um livro do Pasolini..., a partir de agora, só se for um gancho para o cabelo.


> Por falta de espaço em casa, tenho por regra não comprar os livros que existem na Biblioteca Almeida Garrett mas, como resistir ao Carpinteiros, Levantem Alto o Pau de Fileira de J. D. Salinger (Quetzal) por dois euros e setenta e quatro cêntimos, na fnac do norte shopping?


> Wanda de Barbara Loden chega hoje ao Porto. A estreia é na sala 3 do cinema Cidade do Porto. Sessões todos os dias às 14h00, 16h30, 19h00 e 21h30. Sexta e sábados também às 00h00. Wanda é um mistério.


> A não perder: Bernardo Sassetti, amanhã à noite no Rivoli, a abrir o Festival de Jazz do Porto. Os bilhetes custam 10 euros e ainda não esgotaram. O rapaz merece casa cheia.


> Marcar na agenda: dias 1 e 2 de Outubro, Festival para Gente Sentada, no Teatro António Lamosos em Santa Maria da Feira:
Dia 1: Rosie Thomas (EUA) | Sufjan Stevens (EUA) | Nicolai Dunger (SWE)
Dia 2: Devendra Banhart (EUA) | Robert Fisher (EUA) | Kate Walsh (UK)
O bilhete para uma noite custa 15 euros e para as duas, custa vinte.


> À revelia, o Verão continua a brilhar por toda a região.

> Acabei de comprovar: as camélias sazanka têm cheiro e, com o calor que faz, o perfume é intenso.


do livro "À sombra de árvores com história"

posted by Anónimo on 13:05


quarta-feira, setembro 22, 2004  

sob escuta



e



que começa com "Things Behind the Sun", está sob escuta aqui ("Things Behind the Sun", "Monk's Dream", "From This Moment On" e "50 Ways To Leave Your Lover").


posted by camponesa pragmática on 23:08


 

A Big Theory Of Culture - excerto # 2

If you asked 20 scientists what they thought they were doing, or what they thought the point of science was, I would think that most of them would come up with an answer something like, we want to understand the world, we want to see how the world works. If you asked 20 artists the same question - what are you doing it for, what does art do for us - I guarantee you'll get about 15 different answers, and the other five will tell you to mind your own business. There is no consensus whatsoever about what art is there for although some people will say, well, it's to make life more beautiful.

Here I am, an artist - who reads mostly science books - like most other artists. I know very few artists who read books about art. Why, I ask myself, is there not a conversation of that quality in the arts? Many artists normally are talking about science, they're not talking about art - there is not a developed language, for having a conversation about the arts.

Brian Eno,
entrevistado por John Brockman


http://www.musicclub.it


posted by camponesa pragmática on 22:30


 

pensamento do dia

PANDEMONIUM, n. Literally, the Place of All the Demons.
Most of them have escaped into politics and finance,
and the place is now used as a lecture hall by the Audible Reformer.
When disturbed by his voice the ancient echoes clamor appropriate
responses most gratifying to his pride of distinction.

Ambrose Bierce's Devil's Dictionary

posted by zazie on 21:44


 

Paradoxo oficial

No "Montanha Mágica", Hans Castorp discorria sobre o paradoxo que é o início oficial das estações segundo os calendários. Quando uma estação começa, na verdade acabou.

O Outono prepara-se desde o Solstício de Verão, a partir do qual os dias começaram a minguar. A partir da data em que o calendário marca o início do Inverno, no dia seguinte à noite mais longa do ano, os dias crescem outra vez.

A pensar nisto consegui por fim reduzir a pior percepção do Inverno a um mês e pouco: de meados de Novembro até ao dia em que em Dezembro se dá o Solstício, normalmente coincidente ou muito próximo do Natal.

O Inverno é muito mais bonito do que parece. Segundo tenho observado, no dia a seguir ao Solstício de Inverno, a tarde cresce de forma perceptível. E até ao Equinócio de Primavera quase todas as coisas que a fazem já deram sinal.



Informações relevantes:
Estações de sol minguante: Verão e Outono.
Estações de sol crescente: Inverno e Primavera.



posted by camponesa pragmática on 15:48


 

Começou o Outono, foi?


© Dennis Stock/ Magnum Photos


© Dennis Stock/ Magnum Photos




posted by camponesa pragmática on 15:26


 

A Big Theory Of Culture - excerto # 1

JB: But you're an artist. Why are we talking about Darwin?

ENO: Most of the questions I'm interested in about art and culture really are based on trying to look at them with some kind of big theory of that kind, which is not oblique, not mysterious, is quite easily graspable, and would allow a real discussion about culture. It's partly because I think most art writing is absolutely appallingly bad.

My first mother-in-law, that's to say the mother of my first wife, was a very interesting woman who lived in Cambridge, and had a salon, at which quite a lot of very good scientists would appear, Francis Crick, John Kendrew, Herman Bondi, among others. Her name was Joan Harvey and she ran a thing called the Cambridge Humanists. She's a very bright and interesting woman. I met her daughter, and was taken home, and got along very well with Joan. I was 17 at the time. One day Joan said to me, it's all very well what you do, but I just don't understand why someone with a brain as good as yours wants to waste it being an artist. This question cut me to the quick in a way. I came from was working-class where nobody particularly cared what you did. It was the first time that anyone had ever cared. Then I fell in with a lot of arty people, who of course assumed that being an artist was a wonderful thing, and never bothered to ask the question about why - about what the point of it might be, or what it actually did for anybody. Joan asked that question, and I never stopped thinking about it. That was the beginning of an interesting double life, because part of my life of course is being an artist, but the other part, and just as interesting to me, is wondering what it is I'm doing, or what everybody else is doing - asking what it's for.

Brian Eno,
entrevistado por John Brockman (o link para a entrevista foi cortesia do satori)


Brian Eno por Jutta Brandt



posted by camponesa pragmática on 14:23


 

Quartzo, Feldspato & Mica

Hoje abandono a janela. Dou um salto para o lado, para a festa. É o primeiro aniversário de um dos meus blogs mais preferidos: Quartzo, Feldspato & Mica. Muitos agradecimentos por tudo e muitos parabéns para o António Pedro Pombo, Nuno Corvacho, Rui Manuel Amaral, João Luís Barreto Guimarães, Manuel Resende, Rui Lage e Sophie.

Agora tenho que me despachar que a missa está quase a começar. Encontramo-nos na Sé.


Lorenzo Mattotti, Danza sulla città





posted by Anónimo on 08:43


terça-feira, setembro 21, 2004  

sob escuta










posted by camponesa pragmática on 22:03


 

olhar e ver


Nan Goldin | Red sky from my window, NYC |2000


Nan Goldin | Valerie and Mel, Maternal Embrace, St. Remy, France | 2002


Nan Goldin | Kathe in the tub. West Berlin | 1984


Nan Goldin | Risé and Monty Kissing, NYC | 1988


Nan Goldin | Bruce in his red car, NYC | 1981

posted by Paulo on 19:36


 
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