Já o tinha visto em casa, há umas semanas, na televisão, mas não foi suficiente. Ontem ao fim da tarde resolvi ver Wanda, como deve ser, no cinema. Wanda é uma mulher sem ligações. Logo no início do filme, separa-se do marido e dos filhos. A irmã e o cunhado, que lhe dão abrigo por uma noite, não gostam dela e mostram-no, com desprezo. A única personagem que é simpática com Wanda é um velhote que apanha carvão e lhe empresta algum dinheiro. Com esse dinheiro, com a roupa que tem no corpo, com os rolos no cabelo e uma carteira barata, Wanda inicia um estranho percurso, sem destino: vai por onde a levam, vai com quem a leva, faz o que lhe dizem para fazer. É assim, à toa, que chega a Dennis, um tipo cinzento, como qualquer outro, um ladrão de segunda.
Wanda não luta, não se revolta, não age, quase não fala, tem sempre fome. Não a conseguimos compreender e no entanto ela não nos sai da cabeça, como um assombro. A meio do filme, Dennis acusa-a de não ser ninguém. Quem nada tem, nem objectos nem objectivos, quem nada quer, diz ele, nem sequer é um cidadão dos Estados Unidos, é quase um morto. "Então estou morta", responde Wanda. Então está morta. E o que é isso, de estar morta?
É o único filme de Barbara Loden. É um filme magnífico.