Li a notícia e saí à procura de uma história para oferecer à Alexandra. Na Rua Miguel Bombarda (mas antes, repara como está bonito e avermelhado um determinado muro no Largo da Maternidade), encontrei esta pequena história que, com apenas setenta e quatro palavras, fala de borboletas, sonhos, relva, uma lareira, um paradoxo e jogos de cartas.
Do Bestiário, de José Alberto Oliveira:
AS BORBOLETAS vivem no sonho dos homens.
Os homens vivem no sonho das borboletas.
Um filósofo oriental especulou ser impossível distinguir o sonhado de quem sonha.
Este tipo de paradoxos é irritante nas noites de inverno, mas agradável nas tardes de primavera. Embora seja mais agradável estar deitado na relva, beijando uma rapariga.
Nas noites de inverno é agradável discutir o paradoxo de Epiménides, à lareira, beberricando. Embora seja mais agradável jogar às cartas.