A Cerca de 40 hectares, a maior cerca monástica preservada em Portugal, é única no seu género uma vez que combina funções agrícolas e de mata com o jardim barroco.
Tal como o Edifício, também a Cerca, situada nas faldas do Monte de S. Gens na sua encosta norte virada ao rio Cávado, sofreu profundas alterações ao longo dos tempos. Encimado pela Capela de S. Filipe, o Monte de S. Gens é ocupado a meio pela Capelinha de S. Bento e ao fundo pelo Mosteiro. Ocupado actualmente por Pinhal e Eucaliptal só dentro da Cerca do Mosteiro a vegetação climácica consegue ir recuperando o seu espaço secular, servindo de refúgio e habitat a centenas de espécies da nossa Fauna e Flora. Podemos aqui observar entre outras plantas da associação do Carvalho do Norte (Quercus robur), o protegido Azevinho (Ilex aquifolium),o Loureiro (Laurus nobilis), a Aveleira (Corylus avellana), o Medronheiro (Arbutus unedo), a Gilbarbeira (Ruscus aculeatus) e o Bordo (Acer pseudoplatanus).
As terras do Mosteiro eram muradas. Os muros começaram por envolver os terrenos mais próximos - a "Cerca pequena" e mais tarde fez-se a "Cerca da mata". Este muro com mais de três metros de altura é o que ainda hoje delimita a Cerca. Na Cerca pequena que englobava as Hortas, os Pomares, a Casa do hortelão, a Capelinha de S. Bento, as fontes das Aveleiras, dos Tornos e do Pevidal, os monges, no séc. XVIII, associando o poder económico à estética barroca, marcante nas obras em curso no novo edifício conventual, implantaram eixos formados por sebes de buxo, muros brancos e caminhos ensombrados por ramadas, que direccionavam o espaço para: um ponto de água, enquadrado por majestosa fonte ou tanque de pedra lavrada; um percurso pela mata onde a exuberância da vegetação surpreende; uma "rua das fontes" ou escadório onde, através duma sucessão de 7 fontes trabalhadas, intercaladas por escadas e patamares lajeados, contrastavam nas suas cores e doirados com os pomares envolventes, sobe até ao Jardim e Capelinha de S. Bento. A estrutura deste espaço chegou até nós intacta e com vestígios de buxos, rebocos, ramadas e fontes.
Por Jardins do Mosteiro de Tibães estavam designados os espaços do Claustro do Cemitério, do Claustro do Refeitório, Jardim de S. João, Jardim da Capelinha de S. Bento e Jardim do Jericó. Estes espaços eram trabalhados pelo Hortelão que cuidava também dos Alegretes do Passadiço e do Pátio do Galo. Os canteiros eram contidos por sebes de buxo ou por cantaria de granito. Vindo de diversas Minas, a indispensável água, chegava até estes locais por uma elaborada rede de alcatruzes de barro, caleiros de pedra e canos de chumbo que dotavam as fontes do elemento necessário a toda uma encenação barroca. Esta corrente estética que trata o espaço de modo a criar ilusões, mostrar grandeza e deslumbramento e onde a arquitectura se molda à paisagem foi ilustrada em Portugal pelo Escadório. A última grande intervenção ainda visível, ao nível do construído, na Cerca do Mosteiro, foi o Lago. Construído entre 1795-98 "por não haverem águas suficientes para o engenho de serra trabalhar", é "de cantaria em volta". A sua forma elíptica remete-nos ao barroco final. Alimentado pelas águas de cinco minas este potencial energético fazia funcionar além do engenho de serrar madeira , três moinhos e um engenho de azeite. Os engenhos e moinhos reflectem a importância da transformação dos produtos agrícolas e florestais. Recordemos que o suporte económico dos Beneditinos para todas as intervenções operadas nos séc. XVII e XVIII foi a criação e gestão eficiente da estrutura agrícola. Assim a importância da Cerca de Tibães não se prende só com os seus jardins, mas também por ser um exemplo da sábia utilização da terra, explorada agrícola e florestalmente apoiada por importantes obras hidráulicas.
Acompanhando o Mosteiro na agressão do tempo, a Cerca viu desaparecer as pinturas e doirados dos muros e fontes, as imagens das Virtudes, as próprias fontes, as árvores da mata e dos pomares. Até mesmo os socalcos, vestígios da conquista do Monte de S. Gens, e as minas de água sofreram grandes transformações com a exploração do volfrâmio em 1944. Apesar de tudo, permaneceu até aos nossos dias um fabuloso espaço que constitui um Jardim Histórico em recuperação. Atributos reconhecidos internacionalmente com a atribuição, em 1998, do prémio "Carlo Scarpa per il Giardino" atribuído pela Fundação Benetton Studi Ricerche.