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Janela Indiscreta
 
sábado, dezembro 20, 2003  


NASA's newly named Spitzer Space Telescope has captured dazzling images of a dusty, spiral galaxy; a planet-forming disc; a glowing, stellar nursery and a young, buried star, demonstrating the power of its infrared eyes to spy hidden objects.

Top left: The dusty, star-studded arms of M81, a nearby spiral galaxy similar to our own, are illuminated in unprecedented detail. The image reveals Spitzer's ability to explore regions invisible in optical light.

Top right: A massive disc of dusty debris encircles a nearby star called Fomalhaut. Such discs are remnants of planetary construction; our own planet is believed to have formed out of a similar disc.

Bottom left: Resembling a flaming creature on the run, this image exposes the hidden interior of a dark and dusty cloud in the emission nebula IC 1396. Young stars previously obscured by dust can be seen here for the first time.

Bottom right: This Spitzer image transforms a dark cloud into a silky translucent veil, revealing the stellar winds from an otherwise hidden newborn star called HH46-IR. Spitzer's remarkable capacity to peer through cosmic dust allowed it to unveil this never-before-seen star.

Launched in August 2003 as the Space Infrared Telescope Facility (SIRTF), Spitzer was renamed in honor of Dr. Lyman Spitzer, Jr, the first to propose placing telescopes in space.

Photo Credit: NASA/JPL-Caltech | © Nasa



Vídeos:


Animação/lançamento do Spitzer:

posted by camponesa pragmática on 20:53


 

un maître du temps



Contrairement aux apparences, Yann Kersalé n'est pas un éclairagiste, ni même un illuministe (encore moins un illuminé) mais un maître du temps, de ce TEMPS-LUMIERE qui compose le jour, le jour du temps de l'art de voir.
Paul Virilio, "L'instant lumière", 1994

Yann Kersalé é o convidade de hoje de "Por outro lado". Às 21h00 na rtp2.

posted by Anónimo on 18:26


 

nicole strasburg


Morte ao Meio-dia


No meu país não acontece nada
à terra vai-se pela estrada em frente
Novembro é quanta cor o céu consente
às casas com que o frio abre a praça

Dezembro vibra vidros brande as folhas
a brisa sopra e corre e varre o adro menos mal
que o mais zeloso varredor municipal
Mas que fazer de toda esta cor azul

que cobre os campos neste meu país do sul?
A gente é previdente cala-se e mais nada
A boca é pra comer e pra fazer fachada
o único caminho é direito ao sol

No meu país não acontece nada
o corpo curva ao peso de uma alma que não sente
Todos temos janela para o mar voltada
e fisco vela e a palavra era para toda a gente

E juntam-se na casa portuguesa
a saudade e o transístor sob o céu azul
A indústria prospera e fazem-se ao abrigo
da velha lei mental pastilhas de mentol

Morre-se a ocidente como o sol à tarde
Cai a sirene sob o sol a pino
Da inspecção do rosto o próprio olhar nos arde
Nesta orla costeira qual de nós foi um dia menino?

Há neste mundo seres para quem
a vida não contém contentamento
E a nação faz um apelo à mãe,
atenta a gravidade do momento

O meu país é o que o mar não quer
é o pescador cuspido à praia à luz do dia
pois a areia cresceu e a gente em vão requer
curvada o que de fronte erguida já lhe pertencia

A minha terra é uma grande estrada
que põe a pedra entre o homem e a mulher
O homem vende a vida e verga sob a enxada
O meu país é o que o mar não quer


Ruy Belo

posted by camponesa pragmática on 15:41


 
Das coisas que competem aos poetas


Nas terras onde os sinos andam pelas ruas
há horas surdas sós e sem cuidados
há mar condicionado ao possível verão
e vendem-se manhãs e mães por três ideias
Nas terras onde a música é o fogo de artifício
a camioneta curva a carga sob os plátanos
e à sombra dos lacrimejantes carros
o gato dorme a trepadeira sobe
o soba grita nunca ninguém sabe
a erva cresce e as crianças morrem
O mar aceita chão a mão do sol
Que plural deplorável o da magna agência mogno
E nas tílias há riscos dos vestidos de retintas raparigas
e o dente resistente número quarenta cheira a Pepsodent


Ruy Belo

posted by camponesa pragmática on 15:41


 
Nascente do Tejo na Serra de Albarracin

"Arroio, sílabas de água,
escorre nas tuas pedras,
sílabas de terra"

eu disse ao ouvido da nascente.

Fiama Hasse Pais Brandão
As Fábulas | Quasi

posted by camponesa pragmática on 15:08


 
Aproxima-te. Ouves?


Una musica, ca. 1595
Caravaggio (Michelangelo Merisi) (Italian, Lombard, 1571–1610)
Rogers Fund, 1952 (52.81)


Trained in Lombardy, Caravaggio moved in 1592 or 1593 to Rome, where he initially made his reputation with a number of realistic paintings of half-length figures. This picture dates about 1595 and was painted for his first great patron, Cardinal Francesco del Monte. Although it was described by contemporaries as simply "una musica" (music piece), it is an allegory of music. Cupid, "who is always in the company of music" (Vasari), is shown at left with a bunch of grapes, "because music was invented to keep spirits happy, as does wine" (Ripa). The costumes have a vaguely classical look. The surface of the picture is worn and there are extensive losses in the back of the right-hand figure and in the still life of music and the violin. The upturned page of music is a reconstruction based on an old copy of the picture.

© The Metropolitan Museum of Art, New York

posted by Anónimo on 14:38


 

© António Gancho, fotografado por Miguel Carvalhais

Música

A música vinha duma mansidão de consciência
era como que uma cadeira sentada sem
um não falar de coisa alguma com a palavra por baixo
nada faria prever que o vento fosse de azul para cima
e que a pose uma nostalgia de movimento deambulante
era-se como se tudo por cima duma vontade de fazer uma asa
nós não movimentamos o espaço mas a vida erege a cifra
constrói por dentro um vocábulo sem se saber
como o que será
era um sinal que vinha duma atmosfera simplificante
silêncio como um pássaro caído a falar do comprimento.


Abertura

Eu abria o rádio
eu abria o aparelho
era uma flor branca que eu abria
de sopro
eu soprava e eu abria a flor
A flor tocava música com as várias mãos
das pétalas
A flor tocava uma simbolização dum tempo
caído podre de espera de cor branca
O tempo espera-se em pintar-se
de branco
para cegar uma cor
mas a minha flor abria-se de
pétalas
e as várias mãos escreviam um
piano por cima de teclas grãos vários
seguidos uns aos outros.
Era assim uma harmonia
entre flor
tempo a querer-se de cor branca em cegar
era assim umas teclas cantarem filhos de grãos
por dentro dos grãos mesmos
unidos que eram em dimensão de lado
era assim um cantar-me o tempo todo
não era assim um cantar-me o tempo todo
era assim um pairar-me
o tempo todo em Nijinsky
o tempo em um fazer-me ballet pelo quarto inteiro
quando eu tinha aberta a cabeça que imagino
da música
Abria a pétala favorita do harém
onde no centro um sultão da flor
no centro que era o amarelo da flor
abria a pétala favorita da flor
e então
e era então que me soava dentro da manhã
do quarto
uma música desfibrada de tempo serôdio
como se tudo me fosse em longe
como se a música levasse longe
o céu.

dois poemas de Antóno Gancho, retirados de "O ar da manhã"
© Assírio & Alvim

posted by Anónimo on 14:14


sexta-feira, dezembro 19, 2003  


Jacques Tati: para ler hoje no Público, em três partes e a seguir ir a correr ao Nimas (sessões às 14h30, 17h, 19h30 e 22h).
É obrigatório ver ouvir e rir.

Tativille Odisseia no Espaço, por Vasco Câmara; Onde Está Hulot?, por Luís Miguel Oliveira; e Tempos Modernos, por Manuel Graça Dias:

Não sei se Jacques Tati tem uma relação ligeiramente equivocada com a arquitectura moderna ou se seremos nós a ter uma ideia ligeiramente equivocada àcerca da relação de Jacques Tati com a arquitectura moderna. O que Tati critica, ridiculariza e põe a nu, são determinados tiques, muletas, recursos de uma certa arquitectura moderna - o chamado International Style -, apanhada pela burocratização, limpa de ambiguidades, uma arquitectura que procura num qualquer fascínio tecnológico a sua própria razão de ser e, arrogante, impõe a tudo e a todos, um só modo, uma só maneira, esquecendo-se do espaço aberto aos novos e não programados usos que os homens sempre hão-de descobrir e inventar.


posted by Anónimo on 21:13


 
sob escuta



Rhymes with Silver, de Lou Harrison.

Primeiro lento – Scherzo –; depois alegre – Gigue & Musette –; por fim... Fox Trot.

© New Albion

posted by Anónimo on 19:52


 
A pequena bailarina de quatorze anos


The Little Fourteen-Year-Old Dancer, 19th–20th century (executed ca. 1880; cast in 1922)
By Edgar Degas (1834–1917); Cast by A. A. Hébrard
French (Paris); Made in Paris, France
Bronze, partially tinted, with cotton skirt and satin hair-ribbon; wood base; H. (w/out base) 39 in. (99.1 cm)
H.O. Havemeyer Collection, Bequest of Mrs. H.O. Havemeyer, 1929 (29.100.370)


Degas exhibited the original version of this sculpture at the sixth Impressionist exhibition, in 1881. The wax figure, tinted to simulate flesh, was clothed in a real bodice, tutu, and ballet slippers and topped by a horsehair wig tied with a silk ribbon. The care with which Degas observed his model, a ballet student in the Paris Opéra named Marie van Goethem, is reflected in the extraordinary number of surviving sketches in charcoal and pastel as well as in the preparatory sculptural study of the figure in the nude.

© The Metropolitan Museum of Art, New York

posted by Anónimo on 13:33


 
Ontem ao fim da tarde visitei rapidamente duas livrarias. Na Fnac do Chiado estava metade da população de Lisboa; pus lá um dos pés e, acto contínuo, sem ordem minha racional mas de um qualquer instinto, o outro pé e o resto do corpo rodaram e puseram-me a milhas dali - só saí da semi inconsciência da fuga à porta das galerias. E agora?, pensei, Bertrand? Sá da Costa? Não me lembro de ter recusado essas alternativas, mas vi-me quase ao mesmo tempo a descer a Rua do Carmo em direcção à Portugal. Em poucos minutos encontrei o livro que procurava, paguei e saí. Pode ter sido mais caro do que seria na Fnac, mas, irrepetíveis que são em cada instante, onde encontraria eu outra vez, se os perdesse, o tempo, a liberdade, a paz, o vento e a rua?

posted by camponesa pragmática on 13:10


 

Ormond Gigli | Nuns

"Ormond Gigli is renowned for his images of theater, celebrities, dance, exotic persons and places but he is best known for the self-assigned, international award-winning image "Girls in the Windows" which he shot in 1960.

Gigli gathered 41 models together, all without pay, and persuaded them to stand in the windows of four brownstones across from his E58th street studio the day before the buildings were demolished.

There was a snag: the windows were partially filled with glass. Gigli asked the crew foreman if he could clear the glass. The foreman agreed on the condition that his wife be included in the photograph. Luckily for Gigli she was an attractive brunette and he placed her third from the left on the third floor. (She wears a green dress.)

This photo has won the distinction of being one of the best photographs taken by a professional photographer during the last 40 years. " www.peterfetterman.com


Ormond Gigli | Girls in the Windows | 1960

posted by camponesa pragmática on 12:30


quinta-feira, dezembro 18, 2003  

Catacumbas Jazz Bar - Lisboa
18 Dez 2003 | 23:00

Filipe Melo
piano
Bruno Santos guitarra
João Custódio contrabaixo
Marco Franco bateria

posted by camponesa pragmática on 18:14


 


Uma colónia de protozoários

No fórum Leituras do Citador a pequena comunidade residente, ao que parece, viu-se a braços com uma preocupação de tirar o sono – como acolher no fórum novos participantes se as conversas, à medida que o tempo passa e os conhecimentos pessoais se aprofundam, são cada vez mais “codificadas”?!

Não há que enganar: no Citador a franqueza está acima de tudo e, por isso, está disponível, desde esta manhã, a pedido de Ali, em post inamovível do Citador, a estimulante mensagem de boas vindas que se segue, da autoria de JosephK (tudo isto, segundo a lenda, por causa de uma pergunta de satori):

«Ao Novo Forense (ou um estímulo à Meta-Reflexão)

este texto irónico reflecte a auto e hetero-crítica pungente do utilizador josephK e não deve ser confundido com um comunicado da administração do site



cara(o) e-amiga(o):

serve este thread para te por à vontade.
somos um bando de elitistas que à custa de muitas horas de convívio se habituou a codificar o pensamento, pelo que poderás julgar-te condenado ao ostracismo caso tentes imiscuír-te nestas conversas que tanto prazer nos proporcionam.

uma análise não necessariamente aturada da cada vez menor frequência de discussão sobre livros e autores poderá fazer-te indagar sobre a verdadeira vocação deste fórum. o que se passa é que nenhum de nós leu tantos livros como quer fazer crer aos outros e (principalmente) a si próprio. já todos o compreenderam, mas optamos pelo silêncio. esgotámos muito do que tinhamos a dizer sobre literatura e guardamos alguns pequenos trunfos para ocasiões especiais.

pode ainda acontecer que, depois de leres este post, te aventures a participar. se fizeres questão de ficar por cá durante algum tempo deves primeiro ler os threads antigos para que possas escrever sobre algo que saibas de antemão não vá criar grandes anticorpos. só depois poderás começar a tentar escrever coisas originais, nunca aqui publicadas jamais, mesmo que vão contra o aparentemente instituído.
outra modalidade com que te poderás deparar passa por uma aparente aceitação incondicional às tuas primeiras mensagens, mas não te iludas.

parecemos indivíduos mas somos, de facto, uma colónia de protozoários. protozoários com capacidade de angústia. angustiamo-nos quando uma entidade inteligente e inteligível (um semelhante, portanto) nos abandona na sequência de uma discussão mais acalorada; ou quando um de nós não representa o papel com o qual se comprometeu ao longo de cinco ou mais posts consecutivos.

se tudo isto te parecer execrável olha à tua volta e pensa na possibilidade de nada do que aqui foi referido te ser já estranho. encontrarás este padrão nos grupos que frequentas e nos que frequentaste, da tertúlia sobre física quântica ao clube do burro-em-pé .

apesar de tudo, este grupo de protozoários é um dos melhores que conseguirás encontrar por aí, pelo que, what the fuck, diz qualquer coisa que nós cá estamos para te canibalizar.
só depois te incluiremos, mas então farás parte de uma colónia feliz.»

posted by camponesa pragmática on 17:17


 

Piet Mondrian | Composition with Color Planes and Gray Lines 1
1918 | Oil on canvas | 49 x 60.5 cm

posted by camponesa pragmática on 15:36


 
Laberinto

No habrá nunca una puerta. Estás dentro
y el alcázar abarca el universo
y no tiene ni anverso ni reverso
ni externo muro ni secreto centro.
No esperes que el rigor de tu camino
que tercamente se bifurca en otro,
tendrá fin. Es de hierro tu destino
como tu juez. No aguardes la embestida
del toro que es un hombre y cuya extraña
forma plural da horror a la maraña
de interminable piedra entretejida.
No existe. Nada esperes. Ni siquiera
en el negro crepúsculo la fiera.

Jorge Luís Borges

posted by camponesa pragmática on 14:26


 
El sueño

Si el sueño fuera (como dicen) una
tregua, un puro reposo de la mente,
¿por qué, si te despiertan bruscamente,
sientes que te han robado una fortuna?

¿Por qué es tan triste madrugar? La hora
nos despoja de un don inconcebible,
tan íntimo que sólo es traducible
en un sopor que la vigilia dora

de sueños, que bien pueden ser reflejos
truncos de los tesoros de la sombra,
de un orbe intemporal que no se nombra

y que el día deforma en sus espejos.
¿Quién serás esta noche en el oscuro
sueño, del otro lado de su muro?

Jorge Luís Borges

posted by camponesa pragmática on 14:24


 

IRELAND. Dublin. Informal Economy - women in Capel Street selling plums from prams discarded from the market stalls. 2003. © Stuart Franklin/ Magnum


IRELAND. Dublin. Ringsend docks. 2003. © Stuart Franklin/ Magnum

posted by camponesa pragmática on 11:23


quarta-feira, dezembro 17, 2003  
A propósito da História de Walter Benjamim, do anjo e de Paul Klee, lidos há pouco (e com algum atraso) no quase em português:



O sonho anterior (para Walter Benjamim)

Hansel e Gretel estão vivos e de boa saúde
E a viver em Berlim
Ela é empregada num bar
Ele teve um papel num filme de Fassbinder
E à noite sentam-se a descansar
Bebendo Schnapps e gin
E ela diz: Hansel, dás mesmo cabo de mim
E ele diz: Gretel, quando queres és mesmo cabra
Ele diz: Desperdicei toda a minha vida com a nossa estúpida lenda
Quando o meu verdadeiro e único amor
Era a bruxa má

Ela disse: O que é a história?
E ele disse: A História é um anjo
Soprado para trás na direcção do futuro
Ele disse: A História é uma pilha de destroços
E o anjo quer voltar para trás e consertá-los
Reparar as coisas que foram quebradas
Mas há uma tempestade que sopra do Paraíso
E que não pára de empurrar o anjo
Para trás na direcção do futuro
E esta tempestade, esta tempestade
Chama-se
Progresso.

Laurie Anderson, tradução de João Lisboa
© Assírio & Alvim


posted by Anónimo on 20:03


 

Espigas

É uma boa notícia: o Nuno Centeio decidiu reanimar o Espigas. Uma vez por semana podemos encontrá-lo aqui.

posted by Anónimo on 19:37


 
Metropa

A Lídia provoca-me no recato de uma caixinha inofensiva de comentários. Envia-me mais uma vez o endereço do Metropa, flog de um fotógrafo checo. Sim, sim, mas quando regresso ao Metropa dou com um pedido expresso: "All I ask is that you do not publish them without my permission". Enviei ontem mail e hoje John Goddard respondeu que sim, que posso mostrar a fotografia. Aqui está:


© John Goddard/ Metropa

Ainda não há muitas fotografias no flog, mas há muitas árvores e vê-las a todas demora-nos um bom bocado porque merecem atenção. Vale também a pena ler como John Goddard tira o tapete aos puristas, no "about" (linkado aqui por baixo da fotografia).

posted by camponesa pragmática on 14:24


 
Há qualquer coisa de errado

1.
É apenas um fragmento [do Requiem Alemão de Brahms], nem sequer dos mais importantes e dramáticos do texto, e o que me interessou foi a frase “toda carne é como a erva”. A pergunta que me fiz, nem sequer muito presa ao sentido do texto, foi: quantos nazis, quantos torcionários, ouviram este Requiem com emoção, sentiram estas palavras, marteladas na nossa memória cristã desde a infância? Com genuína emoção? Certamente muitos.
Há qualquer coisa de errado na feitura dos humanos. Um bug, uma linha solta do programa, mesmo no sítio mais crucial, não no logos, mas no ethos.
José Pacheco Pereira, COMO MUITAS VEZES ACONTECE, 13.12.03, 12:23

2.
Sim, eles ouviam música e é isso que é inaceitável. Seria tudo mais fácil se os monstros fossem apenas monstros, reconhecíveis. Seria um descanso para a alma.
Mas eles ouviam música e depois torturavam e à noite dormiam. Como é que é possível? Paul Celan já perguntou ( Mãe, eles escrevem poemas), Georg Steiner perguntou, Polanski perguntou (e "A Morte e a Donzela", de Schubert é agora uma composição ainda mais terrível), tanta gente a perguntar e nenhuma resposta, nenhum sossego. E se um dia eles somos nós?

3.
Põe o ferrolho à porta: há 7 rosas na casa.

sete rosas na casa.

o candelabro de sete braços na casa.
nosso
filho
sabe isso e dorme.

(Lá longe, em Michailowka, na Ucrânia, onde
eles me mataram pai e mãe: que
floria aí, que
floresce aí? Que
flor, mãe
te fazia doer aí
com o seu nome,
mãe, a ti,
que dizias grão-de-lobo, e não
lupino?

Ontem
veio um deles e
matou-te
outra vez no
meu poema (...)


Paul Celan, excerto de Grão-de-Lobo

posted by Anónimo on 13:06


 

Nem só as árvores adormecem no frio.


- Apogee Photo


- Apogee Photo


© Harry Gruyaert/ Magnum


posted by camponesa pragmática on 12:36


 
A favor da claridade



O Filme Que Teresa Villaverde Fez para Pedro Cabrita Reis.

É do caos, diz Cabrita Reis, que nascem todas as obras de arte. É natural, para quem tem como princípio básico de vida (e construção de obra) acolher tudo o que o rodeia, funcionar como um receptor/transformador do que no mundo atesta a presença da humanidade, para quem quer ser "um transportador de memória", de todas as memórias, ligadas umas às outras, através do tempo.

Mais interessante que as rupturas, diz o artista num dos vários fragmentos de entrevista do filme, é conseguir dar continuidade, construir para além e mais longe do já existente. Porque, afinal, tudo não passa de uma luta corpo-a-corpo, entre a mão de Deus e a mão do homem. E não há dúvidas sobre quem vencerá.

"A Favor da Claridade - um filme de Teresa Villaverde para Pedro Cabrita Reis" foi produzido pela Filmes do Tejo e estreará em circuito comercial em Janeiro, com três sessões diárias no King, em Lisboa, entre os dias 20 e 28. Passará depois também pelo Porto, após o que deverá ser lançado em DVD.


Retirado do artigo de Vanessa Rato no Público

posted by Anónimo on 10:54


 
Há coisas difíceis de imaginar. Outras fáceis. Imagino milhões de reproduções deste quadro. Algumas excelentes. Sei que ninguém o fotografou onde é único. Sei também que este post não o mostra. Tento mostrá-lo, quase inconcebivelmente, porque a mim a memória ajuda a ver o que não está aqui e outras memórias haverá como a minha. O azul muito claro e brilhante composto, afinal, de trinta mil quatrocentas e noventa e duas tonalidades de azul muito claro, que os olhos descobrem numa sucessão de tempos mais ou menos extasiados, como, por vezes, muitas vezes, acontece nas paisagens naturais. Só que aqui é um quadro, aqui é uma incontornável criação humana. Não se pensa nisso, pelo menos eu não pensei nisso, fiquei só muito tempo a deixar as tonalidades de azul saltarem daquilo que, de início, parecia ser uma superfície quase lisa e vagamente devo ter pensado que é uma das melhores coisas que podem acontecer na vida, ser-se tomado assim por uma obra de arte, uma pessoa esquecer-se, render-se e não querer saber. Quem alguma vez se entreteve a escavar o azul cobalto, que é aquele azul que fechado parece muito escuro mas que consoante as misturas e consoante os pincéis e consoante as superfícies e consoante as luzes revela ser afinal todos os tons de azul existentes no mundo, sabe do que falo. Bem isto que eu saiba não é azul cobalto com branco, não sei o que é, mas abre a cada novo olhar, e nisso aproxima-se, só que é maior, muito maior. Nunca é igual, não é quieto, não se cala, não acaba, vive intensamente.


Charing Cross Bridge Opposite the Houses of Parliament, 1899 | Claude Monet
Thyssen-Bormemizsa

posted by camponesa pragmática on 10:36


 

Houses on the River (The Old Town), 1914 | Egon Schiele
Thyssen-Bormemizsa

posted by camponesa pragmática on 10:36


 

The Viaduct, 1963 | Paul Delvaux
Thyssen-Bormemizsa

posted by camponesa pragmática on 10:35


 
arte



A dança e Degas, documentário de Mischa Scorer, às 20h40 no arte
S’il y eut un “peintre des danseuses”, ce fut bien Degas. Ce documentaire montre avec quel génie Degas a réussi à capter l’essence de leur art.
“La Danse et Degas” est moins un film sur l’histoire de l’art qu’un film sur le ballet et les ballerines, et sur le génie particulier avec lequel Degas a réussi à capter l’essence de leur art. Le film met en scène le Paris de Degas, ramené à deux lieux clés: Montmartre, où le peintre eut toujours son atelier de travail, et le Palais Garnier. Il s’inspire en grande partie de la recherche minutieuse entreprise par Richard Kendall et Jill de Vonyar, les deux commissaires d’une exposition exceptionnelle, qui a eu lieu en 2002 aux États-Unis.



Elogio do amor, de Jean Luc-Godard, às 21h35 no arte
Edgar a un projet: représenter par le théâtre, le roman, le cinéma ou l’opéra quatre des moments de l’amour, à savoir: la rencontre, la passion physique, la séparation et les retrouvailles. À la recherche de son matériau, l’artiste découvre ses personnages: des couples mythiques (comme Perceval et Eglantine) aux figures exemplaires (comme Simone Weil et Hannah Arendt) jusqu’aux plus déshérités (comme les travailleurs de la nuit) en passant par des rencontres de hasard, évoquées tantôt par Edgar, tantôt par les protagonistes qui l’entourent. Ainsi des anciennes amours de l’associé de son père, marchand de tableaux, ainsi de certaines rencontres au bord de la mer ou dans les milieux mondains.
La quête d’Edgar nous ramène pour finir deux années en arrière, en Bretagne où, à l’occasion d’une étude sur les catholiques dans la Résistance, l’artiste rencontre deux figures de l’ancien réseau Tristan et Yseult.

À travers la quête d’Edgar/Godard se retrouve un thème cher au cinéaste, celui des traces laissées par la grande histoire dans notre univers contemporain: les tableaux, admirés comme travail des Anciens, les listes d’oeuvres spoliées pendant
la guerre, les lieux désertés – comme l’usine Renault de l’Île Seguin, devenu le sarcophage des grandes luttes ouvrières –, les immigrés du Kosovo… L’univers d’Éloge de l’amour est le réceptacle de toutes ces traces inscrites dans le paysage. Traitée à l’identique, la mémoire individuelle est le fil qui permet de croiser le tissu social et humain; elle introduit l’histoire collective et la grande Histoire, celle des légendes et des figures héroïques, celle du politique, celle des horreurs de la guerre comme celle des hauts faits de l’amour. En noir et blanc et souvent en clair-obscur, Éloge de l’amour inscrit cette quête nécessaire par des images d’une formidable puissance qui se gravent comme des tableaux dans notre mémoire.
Magnifiquement montrée, la ville de Paris est le cadre de la quête d’un cinéaste qui confirme ici, autant que dans Histoire(s) du cinéma, la puissance de sa pensée.



posted by Anónimo on 09:53


terça-feira, dezembro 16, 2003  
sob escuta

Things behind the sun

Please beware of them that stare
They'll only smile to see you while
Your time away
And once you've seen what they have been
To win the earth just won't seem worth
Your night or your day
Who'll hear what I say.
Look around you find the ground
Is not so far from where you are
But not too wise
For down below they never grow
They're always tired and charms are hired
From out of their eyes
Never surprise.

Take your time and you'll be fine
And say a prayer for people there
Who live on the floor
And if you see what's meant to be
Don't name the day or try to say
It happened before.

Don't be shy you learn to fly
And see the sun when day is done
If only you see
Just what you are beneath a star
That came to stay one rainy day
In autumn for free
Yes, be what you'll be.
Please beware of them that stare
They'll only smile to see you while
Your time away
And once you've seen what they have been
To win the earth just won't seem worth
Your night or your day
Who'll hear what I say.

Open up the broken cup
Let goodly sin and sunshine in
Yes that's today.
And open wide the hymns you hide
You find reknown while people frown
At things that you say
But say what you'll say
About the farmers and the fun
And the things behind the sun
And the people round your head
Who say everything's been said
And the movement in your brain
Sends you out into the rain.


posted by camponesa pragmática on 21:57


 
"Eventually I discovered for myself the utterly simple prescription for creativity; be intensely yourself. Don`t try to be outstanding; don`t try to be a success; don`t try to do pictures for others to look at - just please yourself." - Ralph Steiner

posted by camponesa pragmática on 21:37


 

State of Guerero. Village of San Augustin de Oapan. 1985. Dust storm. © Abbas/Magnum

posted by camponesa pragmática on 15:07


 
sob escuta



1972, Caetano Veloso, no exílio em Londres, [Nostalgia] that's what rock’n roll is all about / I mean, that's what rock’n roll was all about

posted by Anónimo on 14:58


 
"Quase sempre os filósofos começam por dizer: 'Quero ver o que é o Ser, o que é a realidade. Pois bem aqui está uma mesa; o que é que esta mesa me mostra como traços característicos de um ser real?' Nunca um filósofo começou por dizer: 'Quero saber o que é o Ser, o que é a realidade. Pois bem, aqui está a minha recordação do meu sonho da noite passada; o que é que isto me mostra como traços característicos de um ser real?' Um filósofo nunca começa por dizer: 'Tomemos o Requiem de Mozart como paradigma do Ser; é por ele que começaremos.' Porque não poderíamos começar por pôr um sonho, um poema, uma sinfonia como instâncias paradigmáticas da plenitude do Ser (...) em vez de vermos no modo de existência imaginário, ou seja humano, um modo de ser deficiente ou secundário?'

Cornelius Castoriadis, citado por Miguel Serras Pereira no posfácio do tradutor do Presenças Reais de George Steiner.

posted by camponesa pragmática on 14:53


 
Ver, com os olhos de Bonnard II



Pierre Bonnard | Sesta 1900 | oil on canvas | 109.0 (h) x 132.0 (w) cm
National Gallery of Victoria, Melbourne, Felton Bequest 1949

Marthe is shown in a pose made famous by a celebrated classical sculpture, Hermaphrodite, which Bonnard may have seen in the Louvre during his studies there at l’ Ecole des Beaux-Arts.

We are in the room and looking down at the woman. With her head and shoulders in shadow, Marthe seems relaxed and perhaps asleep — she also appears to be slipping off the bed. The strong diagonal of the table on the right continues the line of Marthe’s upper left leg. The table appears tipped up, covered with a clutter of unstable objects — creating an ambiguous spatial illusion. Note how the stripes on the wallpaper on the right do not recede into the corner of the room, thereby flattening the space.

While the small white dog having a siesta on the floor beside the bed is facing away from the woman, the shape of its body echoes the shape of her back, and its front legs are stretched out in much the same way as the woman’s arms. Bonnard often introduced images of animals unexpectedly into his paintings.


© National Gallery of Australia

posted by Anónimo on 12:15


 
Ver, com os olhos de Bonnard I



Pierre Bonnard | Praça Clichy 1947 | oil on canvas 138.0 (h) x 203.0 (w) cm
Musée des Beaux-Arts et d'Archéologie, Besançon, Gift of George and Adèle Besson 1963. Deposited by the Musée national d'art moderne

Place Clichy, on the western slope of Montmartre, is the centre of a number of radiating avenues, a busy place full of people shopping, talking and drinking coffee. The automobile and commercial businesses visible in the background demonstrate the prosperity of the times.

The view is from the terrace of the Brasserie Wepler. Its awning is visible along the top of the picture, with the words soupers (suppers) and brasseri[e] facing out to the street — and therefore seen by us in reverse. The horizontality of the awning is echoed in the frieze-like array of people across the bottom half of the canvas. A waiter stands at the extreme left, another at the right. Two women on the left walk by, while the two to the right, accompanied by a small child, appear to be about to seat themselves at a table. A man walks with a dog, and two girls cross the street arm in arm, one of them carrying a basket of laundry. Passengers look out of the passing car. Figures on the far right with a parasol shield themselves from the bright sunlight bathing the scene.

A sense of depth is conveyed by the diminishing size of the people from foreground into middle distance; by the nearer buildings overlapping more distant ones as in a stage set; and by the softening and blurring of the most distant details.


© National Gallery of Australia

posted by Anónimo on 12:07


segunda-feira, dezembro 15, 2003  
Romãzeira

JULIET: Wilt thou be gone? it is not yet near day: It was the nightingale, and not the lark, That pierced the fearful hollow of thine ear; Nightly she sings on yon pomegranate-tree: Believe me, love, it was the nightingale.

William Shakespeare, Romeo and Juliet, III, 5:



Uma árvore de natal para a Raquel.

posted by Anónimo on 23:12


 
road documentary



Este filme é um documentário composto por vários fios: pelas emoções que senti quando fui confrontada com a precaridade; pelas possibilidades oferecidas pelas novas e pequenas câmaras digitais; e pelo desejo de filmar o que consigo ver de mim própria – as minhas mãos velhas e o meu cabelo grisalho. Também queria exprimir o meu amor pela pintura. Eu tinha de juntar as peças todas e conseguir que no filme tudo fizesse sentido, sem trair o tema social que tinha decidido tratar – desperdício e lixo: quem lhe encontra um uso? Como? Pode alguém viver dos restos dos outros?

Os filmes originam sempre emoções. Desta vez foi ver tanta gente a rebuscar o mercado ou a procurar minuciosamente restos nos contentores de lixo dos supermercados. Vê-los fez-me ter vontade de os filmar, especialmente aquilo que não pode ser filmado sem o seu consentimento. Como é que podemos testemunhar por eles, sem os embaraçar?

Durante a colheita de trigo no Verão de 1999, vi na televisão um agricultor sentado em cima da sua máquina de ceifar, que explicava que se a máquina fosse mal ajustada e deixasse cair um grão em cada espiga, ele acabaria por perder uma desconcertante quantidade de trigo e uma, igualmente desconcertante, quantidade de dinheiro.
Este grão de espiga chocou-me. Lembrou-me da respiga nos velhos tempos, um costume rural que hoje em dia desapreceu (por razões óbvias), e das pinturas de mulheres a respigar. Eu também queria passear. Conhecer pessoas. Procurá-las.
Mais do que um “road movie”, eu diria que é um “road documentary”.
primeiro tive de investigar o mundo rural (respigar e apanhar), e depois o mundo urbano (recuperação), e só me permiti divagações directamente relacionadas com o tema.

As pessoas que filmei dizem-nos muito acerca da sociedade e de nós próprios. Eu por exemplo aprendi muito enquanto filmava. Confirmei a ideia que eu tinha de que os documentários são uma disciplina que ensina modéstia.

Agnès Varda, sobre o filme "Os respigadores e a respigadora"

posted by Anónimo on 22:22


 
Por todos os poemas que ele nos dá, aqui fica Joan Salvat-Papasseit, traduzido por Pedro Silveira

Natal

Sinto o frio da noite
e o som escuro da ronca.
Também o rancho de homens novos que agora passa cantando.
Sinto o carro da hortaliça
que vai batendo o empedrado
e os outros que também vão, todos direitos ao mercado.
Os da casa
na cozinha
junto do braseiro que arde,
com o gás bem esperto já prepararam o galo.
Agora olho para a Lua, que me parece lua-cheia;
e eles recolhem as penas,
e já suspiram por amanhã.

Amanhã sentados à mesa esqueceremos os pobres
— e tão pobres que somos —.
Jesus já terá nascido.
Olhará um momento para nós à hora das sobremesas
e depois de olhar-nos
romperá a chorar.

posted by Anónimo on 21:37


 
– A música...

– A música é [das artes] a que está menos ligada à realidade. Mas se está ligada não tem ideias. É um som vazio, sem associações. A música penetra milagrosamente na nossa alma. Há algo em nós que responde às suas harmonias, transformando-as numa delícia suprema, unindo-nos e desintegrando-nos. Porque é que tudo isto é necessário e para quem? Vais responder: “Por nada e para ninguém” É altruísta? Não… duvido. Porque, em última análise, tudo tem um significado. Um significado e uma razão.

Stalker




Morton Feldman , Three Voices [for Joan La Barbara], Opening

posted by Anónimo on 21:23


 
O duro cerne da beleza

O mais esplêndido não é
a beleza, por profunda que seja,
mas a clássica tentativa
de beleza,
em meio ao charco: a
estrada interrompida, abandonada
quando a nova ponte finalmente entrou em uso.
Ali, de ambos os lados de uma entrada
cuja tinta, crestada pelo sol,
começa a descascar -
dois vasos de gerânios.
Pois entre: em uma das paredes,
pintadas numa placa ornamental,
romãs maduras.
- e, ao sair, repare lá
embaixo na estrada - numa unha,
numa unha de polegar se poderia esboçá-lo -
degraus de pedra subindo
pela fachada toda até, no
primeiro andar, um
minúsculo
pórtico
em bico como o palato
de uma criança! Deus nos dê de novo
igual intrepidez.
Há tufos
de roseiras dos dois lados
dessa entrada e ameixeiras
(uma seca) circundadas
na base por carcaças
de pneus velhos! sem outro propósito
senão a glória da Divindade
a qual fez aparecerem
ambos os seus ombros, sustentando
o enlameado lourejar
de suas tranças, acima
das ondas pacientes.
E nós? o vasto mundo inteiro abandonado
sem nenhuma razão, intacto,
o mundo perdido da simetria
e da graça: sacos de carvão
jeitosamente empilhados sob
o telheiro dos fundos, o
fosso bem atrás um passadiço
por entre a lama,
triunfante! ao prazer,
prazer; prazer de barco,
retirada vereda de um domingo
até o livre rio.

William Carlos Williams, traduzido por José Paulo Paes
© vasco cavalcante



posted by Anónimo on 13:33


domingo, dezembro 14, 2003  
Domingo à tarde

Domingo com sol, em Dezembro, ainda para mais morno, é uma benção. Hoje há lojas cheias, trânsito intenso, pais natal em desfile pela cidade, António Lobo Antunes a esconder-se o melhor que pode na fnac de Santa Catarina.
Evito a baixa e a boavista, vou apanhar batatas.









posted by Anónimo on 14:39


 
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