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Janela Indiscreta
 
sábado, abril 24, 2004  

O livro é um pássaro com mais de cem asas para voar*

Entrei na Assírio & Alvim mas conforme me tinha prometido não comprei nada. Nem livros novos (apesar de ter ficado com um gato maltês atravessado), nem livros manuseados, muito menos o atraente “Marginálias” que estava na montra.

* uma greguería de Ramón Gómez de La Serna

posted by Anónimo on 20:43


 

sob escuta



Vou ser poupada, risquei tudo que escrevi atrás, todos os adjectivos e superlativos que me ocorreram à primeira audição: a foreign sound é tão bonito, mas tão bonito! E não bastasse isso, descubro lá dentro as extraordinárias cores de Miguel Rio Branco.

People all over the world would like to find a way of thanking American popular music for having made their lives and their music richer and more beautiful. Many try. So do I.
Caetano Veloso

posted by Anónimo on 20:08


 

sob escuta

Allen Ginsberg | Jimmy Berman: Bob Dylan, Artie and Happy Traum, John Schole, Arthur Russell, David Amram, recorded at the Record Palnt, NYC, November 1971.




posted by zazie on 18:36


 

Curiosidades Estéticas

O mais importante na vida
É ser-se criador – criar beleza.

Para isso,
É necessário pressenti-la
Aonde os nossos olhos não a virem.

Eu creio que sonhar o impossível
É como que ouvir uma voz de alguma coisa
Que pede existência e que nos chama de longe.

Sim, o mais importante na vida
É ser-se criador.
E para o impossível
Só devemos caminhar de olhos fechados
Como a fé e como o amor.


António Botto

posted by Anónimo on 15:04


 

Manhã fresca, reclinada

céu em geral limpo, vento fraco (inferior a 15 km/h), predominando do quadrante leste, soprando moderado (15 a 30 km/h) de noroeste no litoral oeste a partir da tarde. Pequena subida da temperatura. Neblina matinal.

Instituto de Metereologia


posted by Anónimo on 10:29


 

La Joie de vivre de Henri Matisse

Ainda não vi nem políticos nem militares mas as comemorações já começaram:



posted by Anónimo on 10:28


 

A'h-mosè


posted by zazie on 02:12


sexta-feira, abril 23, 2004  


Não, não é arte conceptual. É a câmara do Charcot para estudar a histeria.

posted by zazie on 22:51


 

sessão da noite



- Mas mesmo assim, quero que tu a faças ressuscitar, para que ela fique connosco.
- Se eles deixarem, fá-lo-ei.
- Não te preocupes com os outros. Eu quero muito que o faças.


posted by Anónimo on 19:40


 

Tudo tão velado


Ecce Homo | atribuído a Nuno Gonçalves | c. 1490 | óleo sobre madeira | 88 x 65 cm | Museu Nacional de Arte Antiga | Lisboa

"Ecce Homo", a mais extraordinária das pinturas jamais pintadas em português. Deixo-os com essa reprodução. Tudo tão velado. Até mesmo aí. Ou até mesmo ali. Tempos difíceis

João Bénard da Costa
____________
* Para mais informações sobre Ecce Homo, passo a bola ao Pedro.

posted by Anónimo on 12:21


 

Dia Mundial do Livro



— Posso pedir um livro ?
— ...
— A frase?
— ...
Antes do advento dos navios a vapor, ou então com mais freqüência do que agora, alguém que perambulasse pelo cais de qualquer porto marítimo de médio ou grande porte teria sua atenção ocasionalmente atraída por um grupo de bronzeados homens do mar, tripulantes de navios de guerra ou de carga que, vestidos a passeio, gozavam o dia de folga em terra firme. Em alguns casos, ladeavam, ou chegavam mesmo a cercar como guarda-costas, uma figura proeminente de sua própria classe, que andava entre eles feito Aldebarã em meio às luzes menos brilhantes da constelação de que faz parte. Esse marco de orientação era o "Belo Marujo" do tempo em que a vida nas marinhas militar e mercante era menos prosaica. Sem dar mostras de vaidade, revelando, ao contrário, a naturalidade despreocupada daqueles em quem a realeza é um traço de caráter, parecia aceitar a homenagem espontânea que seus colegas de bordo lhe dedicavam. [...]


posted by Anónimo on 10:58


 

sob escuta


posted by camponesa pragmática on 03:14


quinta-feira, abril 22, 2004  

A Bela Adormecida, de Robert Walser

E assim chegamos ao fim desta formidável história. Antes que a sopa fique fria, como diz a Bela Adormecida. Apenas um pormenor nos fica atravessado, é que depois da segunda fala o Forasteiro deveria passar a ser nomeado príncipe. Ou talvez não, talvez seja Walser o verdadeiro princípe. Sim, Robert Walser é o nosso Príncipe.

Bela Adormecida:
Diz, como vieste aqui ter?
Não tens olhos como o mar?
Foram ondas a trazer-te
ou caíste-nos das nuvens?

Forasteiro:
Sou assim tão indesejado?

Bela Adormecida:
Por assim me perturbares
o meu agradável sono.

Forasteiro:
Não será o real também
um sonho, não seremos todos,
apesar de igualmente
agirmos acordados, algo
sonhadores, sonâmbulos
em pleno dia, que brincam
com ideias e agem como
se estivessem acordados?
A nós conduz-nos um Deus
constantemente pela mão;
se o não fizesse, onde
é que iríamos parar?
Teremos garantia de
nos podermos valer sem o
Altíssimo, de poder
subsistir sem auxílio,
que apenas apercebemos
por ser para nós um enigma?
Tudo é sonhável: as nossas
casas, trabalho, negócio,
o sustento diário, as
cidades, os campos e
a luz e o sol. E ninguém
pode afirmar que compreende.
O entendimento aparece
sempre fragmentado, nunca
de outro modo.

Rei:
Primeiro dá-nos informações.

Forasteiro:
Pois sabei: aborrecia-me
na corte de meu pai; um dia
pus-me a andar, para saber o que é
a vida; e quando estava cansado,
dormia algures sobre a terra
dura, e depois prosseguia;
se alguém me barrasse o caminho,
defendia-me; e foi então
que ouvi falar de ti.

Bela Adormecida:
De mim?

Forasteiro:
Diziam que
dormias numa torre, envolta
em rosas bravas e espinhos,
e que estavas encantada;
só quem lograsse chegar
junto a ti, te livraria.

Bela Adormecida:
Despertou isso por certo
a tua curiosidade.

Forasteiro:
Claro que me apetecia
tentar o feito. Prossegui
viagem e, apesar de
nunca te ter visto,
tinha-te sempre diante
de mim em espírito,
acompanhavas-me os passos,
e à noite passava o tempo
imaginando como eras
doce e amorosa e como
seria maravilhoso
impressionar-te para que
me estimasses um pouco,
atrair-te a mim com força,
com muita força, e que tu
pensasses de mim ser eu
para ti algo aceitável.
E, agora eis-me aqui, um tanto
canhestro, mas que importa
dede que aqui esteja em
pessoa, como de facto estou.
Continuei viagem e
cheguei aqui e penetrei,
sem pensar muito, na turba
envolvente, e logo, como
se soubessem que era chegado
o momento, os espinhos
se separaram, de modo
que encontrei o caminho
sem entraves e pude então
correr para ti; vi-te e
beijei-te, e então abriste
os olhos.

Bela Adormecida:
espantada com
o temerário intruso?

Forasteiro:
Muitos dos que menos sorte
tiveram do que eu, vi-os
deitados no chão; alguns
pareciam sorrir, como
se estivessem felizes
naquela morte, à conquista
de um prémio tentador.

Bela Adormecida:
Oh coitados, os valentes
que ousaram desprezar a
vida, a quem pareceu mais belo
resolver um problema,
conquistar honra e amor,
do que existir com menos
dignidade e valentia.
Lembrar-me-ei disto toda a
vida, e este pensamento
deverá animar-me como
o perfume das flores;
desgraçada serei se não
pensar constantemente nisto,
para mim igual a respirar.

Forasteiro:
Claro, sem dúvida, e eu
deveras envergonhado
por ser tão bem sucedido
agora à tua frente —

Bela Adormecida:
quando tantos bons tiveram
de morrer, tantos que, como
tu tão fervorosos, por mim
ansiavam, que, de olhos
azuis brilhantes e cabelo
louro, de ânimo puro,
de peito jovem cheio de
ímpeto juvenil para
ganhar a esta vida o seu
encanto, me disputavam —
tu apenas me alcançaste;
não lho concedeu a eles
o destino. Não quero isso,
portanto lutamos em vão,
mesmo que gigantes se metam
de permeio. Fortuna! Pff!
Por momentos fiquei quase
de mau humor, vê lá! Porém
começo a acreditar que tens
direitos sobre mim, e é
justo que agora te pertença.

Raínha:
Não quererás pensar melhor
sobre esse passo? Medita
no que estás a prometer.

Bela Adormecida:
Se pensasse nisso muito
mais tempo, no fim perdia-lhe
o gosto. Não, estou em total
acordo comigo mesma
e agora ele é o meu senhor,
embora gostasse de ter
imaginado diferente
o herói, bem mais formoso,
mais gentil e elegante,
mais arrebatador também,
e, em certo sentido, mais
altivo, ai, não devo dizê-lo,
tenho de aceitá-lo como é,
e faço-o com muito gosto.

Forasteiro:
Teu galante servo de sempre!
E se acaso só te semi-
-agradasse e tu quase
tivesses de forçar-te a
olhar-me e amar-me e
tolerar-me, então digo-te
o que diz um provérbio francês:
L’appétit vient en mangeant..
Espero conseguir satisfazer-te.

Bela Adormecida:
Assim seja! Toquem música e
alegremo-nos todos juntos.
O sol brilha, o céu está azul
e os ventos refrescam-nos.
O palácio está agora
vivo. Todos nós queremos
doravante confiar
seriamente uns nos outros e
ajudar prontamente onde
se mostre necessário,
viver satisfeitos uns com
os outros e, em resumo,
construir desta maneira
uma sociedade próspera.

Rei:
Não falas nada mal, filha,
estou de acordo.

Raínha:
eu também.

Forasteiro:
e eu, pois doutro modo não
podia ser.

Bela Adormecida:
Também eu, pois que sem mim
certamente não podia.

Forasteiro:
Não, não podia.

Bela Adormecida:
Mas assim poderá.

Forasteiro:
Sim, assim poderá.

Bela Adormecida:
Continuando a falar
fica-nos a sopa fria;
paremos portanto e toca
de ir juntos para a mesa.
Posso pedir-te que me dês
o braço?

Forasteiro:
E assim teríamos um final
agradável com um casório
feliz.

FIM



Gata Borralheira, Branca de Neve, Bela Adormecida, de Robert Walser, traduzidas por Célia Henriques e editadas pela & etc em 2000

posted by Anónimo on 20:57


 

Números

Sei que isto é um pouco off-Janela, mas não deixa de ser interessante. :)

O número de Abril/Maio da Sciences et Avenir (Hors-Série) é dedicado aos números.



Le mystère des nombres
- Les entiers sont-ils naturels?
- La fabrique des nombres
- L'effet-monde des numéraux
- Des idéalités numériques
- Le sens du nombre
- Qu'est-ce qu'un nombre?
- Des nombres impossibles
- L'invention des réels
- Des nombres transfinis
- L'irréalité des nombres réels

posted by picatostes on 19:31


 

as boas pinturas são incompreensíveis

«A pintura é a produção de uma imagem para uma coisa não visível e incompreensível: dando-lhe forma e tornando-a próxima. E é por isso que as boas pinturas são incompreensíveis (...) 'Não compreensível' significa, em parte 'não-transitória', i.e. essencial. E também significa, em parte, um símbolo para aquilo que, por definição, transcende o nosso entendimento, mas que o nosso entendimento nos permita postular.»

Gerhard Richter
fonte: pedaço de jornal rasgado e de proveniência desconhecida

posted by Anónimo on 13:37


 

Ghost Town

Já mencionei que o OzOnO é um dos meus blogs preferidos? Pois foi lá que descobri esta viagem.



«This town might be an attractive place for tourists. Some tourists companies have been trying to arrange tours in this town, but the first group of tourists found the silence unnerving and downright SPOOKY. And it is. They charged 1200 hryvnas for a 2 hour excursion and after some 15 minutes, they wanted to flee to the outside world. The silence here is deafening.»

posted by picatostes on 10:34


 

sob escuta

[…] - You've been playing standards pretty exclusively for the past 17 years or so, ever since you formed the trio with Jack DeJohnette and Gary Peacock. But before that you had built up a repertoire of dozens of original songs. Why don't you play them anymore?
- The biggest reason is, you don't have to be coming on stage saying, "We're playing our music." There's a possessiveness that goes along with that. A valuable player doesn't have to play anything new to have value, because it's not about the material, it's about the playing.
Take a player like Sonny Rollins -- he can play anything. If he's having a good night, and let's assume he is, then he completely transcends the song. And it's obvious that it's not about the material. Anyway, if you already have a piece of music ingrained in your body, why would you not play it?[...]" - (dir.salon.com | David Rubien | 2000-Dez-04)

posted by camponesa pragmática on 09:37


 

O cão e o monge


O Cão, Goya

«Um Cão (...) levanta a cabeça. Nenhuma outra obra de Goya oferece um retrato tão radical do vazio, enfrentando descaradamente toda a tradição artística. Tudo o que se vê do cão é a cabeça, ocupando apenas cerca de um por cento do plano pictórico. 99% da composição permanece vazia de objectos familiares (...)»
Goya, Rose-Marie & Rainer Hagen, Taschen / Público


O Monge à Beira-Mar, Caspar David Friedrich

«Na Alemanha, cerca de dez anos antes, (...) Caspar David Friedrich executara uma pintura igualmente radical, O Monge à Beira-Mar. Também Friedrich reduzira o mundo, não a um só campo de cor, mas a três zonas horizontais. Tal como a cabeça do cão de Goya, o monge de Friedrich ocupa apenas um por cento do plano pictórico.»
Goya, Rose-Marie & Rainer Hagen, Taschen / Público

posted by picatostes on 01:36


 

f

Perco-me.

posted by picatostes on 01:20


quarta-feira, abril 21, 2004  

A Bela Adormecida, de Robert Walser

Todos conhecem a Branca de Neve por causa do João César Monteiro mas já alguém ouviu a verdadeira história d’ A Bela Adormecida? Nós vamos contar. Em dois ou três episódios em prime-time explicaremos como a formosa rapariga foi bruscamente acordada do seu doce sonho por um forasteiro; como isso se revelou incómodo; como o forasteiro teve de explicar que, mesmo acordados, todos nós podemos continuar a sonhar; e como, assim apaziguados, eles resolveram, com muita sensatez e com a ajuda de um provérbio francês, casar e ser felizes para sempre.

É uma história de encantar, nem podia ser de outro modo, escrita com delicadeza e profundidade. Podiamos dedicá-la a muita gente (até a nós próprios se para isso tivessemos coragem), mas decidimos por unanimidade — e a pedido do autor — dedicá-la à querida Sophie porque… bom porque ela é muito parecida com a menina Edite...

Bela Adormecida:
Vós, que aqui estais em redor,
por favor olhai com atenção
para este homem; acordou-me
de um profundo sono secular
e agora quer-me para esposa.

Rei:
Não ousará tal atrevimento.
Que fez ele de importante?

Bela Adormecida:
Veio até aqui e beijou-me,
e com o beijo acordei.

1ª Dama de Honor:
Qualquer outro o poderia.

Raínha:
Salvou, é certo, o palácio
e libertou-nos do encanto;
justo é pois o que pretende,
mas que não seja para já.

Rei:
Também o espero.

2ª Dama de Honor:
eu também.

Bela Adormecida:
eu também.

Rei:
Dizei, caro forasteiro,
podeis identificar-vos
convenientemente?

Bela Adormecida:
Não tem ele olhos como o mar
e o rosto como mármore,
como granito os gestos?
Ai, não gosto de gente assim,
busque o amor noutro lado.

3ª Dama de Honor:
Antes de tudo devia
ser um pouco mais amável.
Tal como um pau, não se mexe
nem abriu ainda a boca.
Ouve, sabes falar ou não?

Forasteiro:
Depois falarei, quanto baste,
não há assim tanta pressa.

Rei:
A nós despertou-nos do sono
mas ele parece dormir ainda.

Almoxarife:
O favor que ele nos prestou
claro que é bem duvidoso
e tantos cuidados connosco
bem os podia ter poupado.
Durante o sono, não fluía
tudo, e excelentemente
não nos sentiamos todos?

Cocheiro:
Estivesse eu a dormir, não
tinha agora de trepar p’rá
boleia e incomodar-me c’os
teimosos coices dos cavalos.

Cozinheiro:
Estivesse eu a dormir, não
tinha agora de me zangar
com os moços da cozinha.

Cozinheira:
Estivesse eu a dormir, não
depenava agora galinhas.

Governanta:
e eu não sacudia almofadas

Criado:
e eu não engraxava sapatos.

Caçador:
A caça estaria a dormir
como eu se este senhor
não tivesse aparecido.

Intendente:
Livro nenhum me maçaria,
nunca reveria as contas,
bem poucas preocupações
iria ter com os saldos.

Poeta de Corte:
Estivesse eu a dormir, não
era agora preciso que
os versos fossem limados;
se estivesse ainda deitado
sobre a orelha, sonharia
apenas com a minha fama.
Assim afadigo-me a
versejar e em troca só
colherei ingratidão.
Por isso eu queria que ele
tivesse ido à fava ou
onde bem lhe aprouvesse,
deixando-nos dormir em paz.
É que isto, da parte dele,
não foi nenhuma obra-prima.

Ministro:
Se estivesse como antes
deitado a dormir, não tinha
de espremer a cabeça
com difíceis combinações.

Ama:
Não é que tenho de novo
de chamar constantemente
a atenção das crianças
para a conduta que levam?
Mas ninguém pensa no custo
que pago p’lo sacríficio.

Médico:
Cá por mim, erudição e
ciência bem poderiam
calmamente ficar mais um
tempinho a cochilar.

1ª Dama de Honor:
De facto ele considera uma
honra o êxito obtido.
Mais valia que tivesse
favorecido outra pessoa
com a sua presença e
dispensar-nos a nós.

Bela Adormecida:
Mas ele agora está aqui.

Rei:
Sim, infelizmente.

(continua amanhã, pela mesma hora)

tradução de Célia Henriques numa magnífica edição da & etc
(que infelizmente não está disponível nas livrarias, é preciso encomendar e rezar para que o livro apareça)




posted by Anónimo on 21:16


 

distopia do dia



I'm singigng in the rain

posted by zazie on 16:48


 

Carl Djerassi

«[...] Tenho 80 anos, mas não gosto de falar com pessoas de 80 anos, acho-as velhíssimas. Muitas pessoas mais velhas, mesmo com 60 anos, decidem que não vão mudar mais. Eu mudei muitas vezes ao longo da vida, o que tem muitas vantagens. Em especial na América, onde há muita competição, e o que se passa é a sobrevivência dos mais aptos - o que é brutal, e ao mesmo tempo bom e mau. As coisas que ensino agora na universidade são muito diferentes de há 20 anos. Por exemplo, passei a ensinar no programa de estudos femininos, nunca sonharia fazê-lo nos anos 50, nem em leccionar em bioética. Eram coisas que não me interessavam. [...]» © Carla Barata, no Público.

Esse Espermatozóide É Meu - de 21 de Abril a 30 de Maio, no Teatro da Trindade.


© Barbara Schwanhäufer/ 2000


posted by camponesa pragmática on 15:12


 

desaparecidos

1.
Tenho saudades da Zero em Comportamento.

2.
Parece que os separadores da antena 2 desapareceram. Ou sou eu que estou a sintonizar fora de tempo ou foi a antena que perdeu o humor.

posted by Anónimo on 14:19


 

Sob escuta



"[...]
- Well, because of this illness, I was forced to look at what I was doing as if it would be the last thing I would ever do. I had to stop playing, because of this illness ... there was no solution to this thing. I wasn't able to play for two years. And when I started to recover, I realized that the time off I had wasn't such a bad thing. I realized that improvisers should probably always have time off. But musicians are always gigging and never have a chance to stop for a minute -- unless something drastic occurs.

So when I started recovering, I said to myself that I'd better be my own worst critic. I didn't know if I'd keep recovering; I thought I might relapse and never be able to play again. I would listen to stuff I'd recorded and a lot of it I didn't like. I realized I didn't like the long intros. I didn't like digging into the keyboard so much. Because when you do that the piano doesn't open up as much. I decided to pare things down. I wanted to get to the heart of my playing, and to do that I really had to slice away. That's what happens to mature artists. But it does not happen without reflection.

- There is very little improvisation on "The Melody at Night, With You."

- So many people don't understand "The Melody at Night," because they think it's cocktail piano. So it was gratifying to hear someone say, "Nobody knows how hard it is to do what Keith did with that record." It's a lot harder to play softly. But after I made the record I thought, "We're gonna release this, and nobody's gonna hear it." What I was doing was not typical of what I'm known for, like improvisational virtuosity. There are no trappings. There's no echo. And some people made the mistake of thinking they were hearing the sickness. They think it's pale or something. But the record was actually a celebration of my recovery. I was in a state of grace. I was connected to the heart of these songs.

Some of the tunes were not even in my head when I sat down to play them. "Be My Love" was one of those -- not in my wildest imagination did I think I'd play that one. But obviously it was an emotion I was trying to get out. "The Melody at Night" was an ecstatic moment in my life. I look for that experience every time I play, but how often do you get it onto a recording?
[...]" - (dir.salon.com | David Rubien | 2000-Dez-04)


posted by camponesa pragmática on 09:54


terça-feira, abril 20, 2004  

Kronos Quartet

Para quem anda distraído, só para lembrar que o Kronos Quartet vai actuar na Culturgest de Lisboa, dia 30 de Abril. Ainda há muitos bilhetes, se bem que sejam quase todos nas partes laterais. O bilhete custa 20€.

Programa:

Severiano Briseño (arr. Osvaldo Golijov) / El Sinaloense (The Man from Sinaloa) +
Agustín Lara (arr. Osvaldo Golijov) / Se Me Hizo Fácil (It Was Easy for Me) +
Silvestre Revueltas (arr. Stephen Prutsman) / Sensemayá +
Felipe Pérez Santiago / Camposanto (Holy Ground) *
Alfred Schnittke / Quartet No. 3
I. Andante
II. Agitato
III. Pesante
(played without pause)

INTERMISSION

Rahul Dev Burman (arr. Osvaldo Golijov) / Aaj Ki Raat (Tonight Is the Night) +
Gétatchèw Mèkurya (arr. Stephen Prutsman) / Aha gèdawo +
Sigur Rós (arr. Stephen Prutsman) / Flugufrelsarinn (The Fly Freer) +
Steve Reich / Triple Quartet *

* Written for Kronos
+ Arranged for Kronos


posted by picatostes on 18:45


 

Torso arcaico de Apolo

Não sabemos como era a cabeça, que falta,
De pupilas amadurecidas, porém
O torso arde ainda como um candelabro e tem,
Só que meio apagada, a luz do olhar, que salta

E brilha. Se não fosse assim, a curva rara
Do peito não deslumbraria, nem achar
Caminho poderia um sorriso e baixar
Da anca suave ao centro onde o sexo se alteara.

Não fosse assim, seria essa estátua uma mera
Pedra, um desfigurado mármore, e nem já
Resplandecera mais como pele de fera.

Seus limites não transporia desmedida
Como uma estrela; pois ali ponto não há
Que não te mire. Força é mudares de vida.

Rainer Maria Rilke
Tradução de Manuel Bandeira

posted by Anónimo on 12:16


 

voltar a Bonnard


Pierre Bonnard | Amendoeira em flor | c. 1945 | óleo em tela

"Hoje vi a primeira amendoeira em flor e nas mimosas começam a nascer pequenos pontos amarelos”, escreveu Bonnard a Henri Matisse em finais de Fevereiro de 1941.
Esta árvore estava no jardim da sua casa em Le Cannet e todas as primaveras Pierre Bonnard voltava a ela porque não podia deixar de o fazer.
Esta persistência lembra-me aquele outro pintor que, no outono, tenta captar a luz do sol sobre o marmeleiro do quintal.

posted by Anónimo on 11:47


segunda-feira, abril 19, 2004  

XXIII

então, quando o voo
já não por mor de si
subir aos céus silentes,
a si mesmo bastante,

para em claros perfis,
utensílio acabado,
brincar dilecto dos ventos,
certo baloiçante e esbelto, —

só quando um alvo puro
de aparelhos crescentes
vença o imberbe orgulho,

pode o que aos longes se achega,
precipite de lucro, ser o que,
em solitário voo, conquista.

Rainer Maria Rilke, Sonetos a Orfeu
Tradução de Paulo Quintela | © Editorial Inova Limitada

posted by Anónimo on 13:24


 

Only

Only when flight shall soar
not for its own sake only
up into heaven's lonely
silence, and be no more

merely the lightly profiling,
proudly successful tool,
playmate of winds, beguiling
time there, careless and cool:

only when some pure Whither
outweighs boyish insistence
on the achieved machine

will who has journeyed thither
be, in that fading distance,
all that his flight has been.

Rainer Maria Rilke , Sonetos a Orfeu

posted by Anónimo on 12:22


 

sob escuta



Morton Feldman: Only | Voice, Violin and Piano

"Only" and "Voice, Violin, and Piano" come from New Albion's Only — Works for Voice and Instruments. "Only" features a gorgeous soprano solo by Joan La Barbara. La Barbara, both a friend and student of Feldman, first performed the piece at a memorial concert given for Feldman after his death in 1987. While the initial publishing date of the uncharacteristically short piece was listed as 1976, La Barbara learned that "Only" was actually written in 1947, when Feldman was only 21 years old. "Voice, Violin, and Piano" is characteristic of Feldman's body of work — timbral changes shift subtly, precisely notated and articulated by silences, lending a sense of beauty and mystery to the work.

Noel Morrison | © Epitonic

In 1988, the Holland Festival presented a John Cage musicircus from various locations around Amsterdam and in addition to several of Cage's works, in memorium to Feldman who had died the previous autumn, I was asked to sing "Only." I sang it for the first time on June 23, from the roof of the State Opera House on the Leidseplein, at midnight, in the rain. I am sure only the angels heard it... and, perhaps, Morty. It is so uncharacteristically brief and so openly poignant that I wanted to find out more about the circumstances surrounding its composition. The manuscript I had gave the publishing copyright date as 1976, but none of Morty's friends or students from around that time could shed any light on its mystery. It remained an enigma until I learned that it had been written when Morty was just 21 years old, in 1947. For me, Rainer Maria Rilke's text is an eloquent epitaph for a soul flown too soon.
[...]

Joan La Barbara | © New Albion



posted by Anónimo on 11:53


domingo, abril 18, 2004  

grau zero

É raro meter-me nestas questões mas acabei agora mesmo de ler a entrevista de Omar Bakri Mohammed publicada hoje na Pública e não encontro os adjectivos certos: dolorosa, abjecta, hipócrita, ignóbil?
Ele legitima o terrorismo divino. Malditas palavras que se lêem deste modo: “Maomé disse mais: Eu sou o profeta que ri quando mata o seu inimigo”.
Tudo o que é aqui dito é repugnante, no entanto uma frase fica atravessada: “E a vida de um descrente não tem qualquer valor”.
É o grau zero da humanidade?

posted by Anónimo on 15:54


 

sob escuta


posted by camponesa pragmática on 15:35


 

Hanami



Cerejeiras e Klee, para a Nebbia:

A característica mais bela do jardim sagrado é uma particular variedade de cerejeiras rubras, com os ramos pendentes. Não existe outra flor que melhor possa simbolizar a primavera de Kyoto.
Assim que entrou no Parque, Chieko sentiu até ao fundo do seu coração o esplendor de tanta florescência. Contemplou longamente as cerejeiras e agradeceu-lhes por ter descoberto através delas, mais uma vez, a Primavera de Kyoto.

[…]

Ainda não passara meia hora quando Takichiro Sata, de automóvel, parou em frente da loja de Sosuke. Tinha os olhos luminosos. Abriu bruscamente uma pasta e mostrou alguns desenhos:
— Vim aqui para lhe pedir um favor.
— Eh! — e Sosuke fixou Takichiro com o rabo do olho. — É para um obi, claro? Demasiado moderno e expressivo para si. Enquanto está recolhido no Amadera…
— Outra vez? — riu Takichiro. — É para a minha filha!
— Oh! Quando ela o vir ficará surpreendida. Mas antes de mais nada: ela vestirá um obi destes?
— Ela ofereceu-me dois livros com obras de Klee.
— Klee?
— É o percursor do abstraccionismo. Delicado, digno, fantasioso, agrada a um velho japonês como eu. Em Amadera olhei e tornei a olhar para as suas obras, e depois diz este desenho. Completamente diferente dos temas clássicos japoneses, não é?
— Isso é verdade.
— Vamos lá a ver o que sai daí quando for tecido — disse Takichiro, ainda excitado.
Sosuke ficou a olhar durante algum tempo o desenho de Takichio.
— Belo, verdadeiramente belo na disposição das cores… E de uma modernidade que em relação a si é estranha, embora não seja nada vistoso. Vai ser difícil tecê-lo. Bem, tentaremos. Vamos considerar o amor de sua filha por si, e o seu por ela.

Yasunari Kawabata, Kyoto
tradução de Vírgilio Martinho | © Publicações D. Quixote


posted by Anónimo on 13:59


 

a realidade dos anjos #2

Moram nas montanhas e alimentam-se de cerejas. Vivem mais de cem anos.

posted by Anónimo on 11:21


 

Abbas Kiarostami



Não sei exactamente o que quer dizer Mossafer. Em inglês traduziram por “The Traveller” e em português por “O Viajante” mas eu preferiria "O Corredor", pois é disso que se trata, de um míudo rebelde que passa a vida a correr.
Quassem quer ir ver um jogo da selecção a Teerão. Faz as contas e precisa de 30 tomans. Rouba cinco à mãe, aldraba os colegas em 46 riales (magnífica a cena das fotografias tipo estúdio no recreio da escola), vende sem escrúpulos duas mini-balizas e uma bola de futebol que estavam à sua guarda, compra o bilhete e mete-se ao caminho sem os pais saberem.
O míudo tem muito paleio e engana meio mundo. Na escola não gostam dele porque é distraído e não estuda; e em casa a mãe já perdeu a paciência para as suas diabruras, “vais acabar por ser um carpinteiro” (como o pai que só se vê numa cena, a fumar com displicência). A única pessoa que o apoia sempre e de forma incondional é um outro rapaz, um amigo do peito, um amigo como só se tem nessa idade e como só Kiarostami sabe filmar.
Depois de várias correrias e trapaças Quassem consegue chegar a Teerão, sempre à rasca. Compra um bilhete na candonga e arranja um bom lugar no estádio mas está cansado, feliz mas cansado. E adormece.

Mossafer é a primeira longa metragem do Abbas Kiarostami, (subsidiada pelo Instituto para o Desenvolvimento Intelectual das Crianças e Jovens) e é um filme inesquecível.

posted by Anónimo on 10:54


 

esclarecimento breve

Gosto muito dos textos da Cristina Fernandes no Público mas a verdade é que eu sou outra Cristina. Partilho o nome no entanto nada sei dizer sobre música clássica. Peço desculpa se levei a alguns enganos mas considero a escrita no blog tão irregular que nunca me ocorreu que isso pudesse acontecer, ou pelo menos persistir.


posted by Anónimo on 10:50


 
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