Não sei exactamente o que quer dizer Mossafer. Em inglês traduziram por “The Traveller” e em português por “O Viajante” mas eu preferiria "O Corredor", pois é disso que se trata, de um míudo rebelde que passa a vida a correr.
Quassem quer ir ver um jogo da selecção a Teerão. Faz as contas e precisa de 30 tomans. Rouba cinco à mãe, aldraba os colegas em 46 riales (magnífica a cena das fotografias tipo estúdio no recreio da escola), vende sem escrúpulos duas mini-balizas e uma bola de futebol que estavam à sua guarda, compra o bilhete e mete-se ao caminho sem os pais saberem.
O míudo tem muito paleio e engana meio mundo. Na escola não gostam dele porque é distraído e não estuda; e em casa a mãe já perdeu a paciência para as suas diabruras, “vais acabar por ser um carpinteiro” (como o pai que só se vê numa cena, a fumar com displicência). A única pessoa que o apoia sempre e de forma incondional é um outro rapaz, um amigo do peito, um amigo como só se tem nessa idade e como só Kiarostami sabe filmar.
Depois de várias correrias e trapaças Quassem consegue chegar a Teerão, sempre à rasca. Compra um bilhete na candonga e arranja um bom lugar no estádio mas está cansado, feliz mas cansado. E adormece.
Mossafer é a primeira longa metragem do Abbas Kiarostami, (subsidiada pelo Instituto para o Desenvolvimento Intelectual das Crianças e Jovens) e é um filme inesquecível.