Good evening one and all - We're all so glad to see you here.
We'll play your fav'rite songs,
while you all soak up the atmosphere.
We'll start with Old Man River,
Then Maybe Stormy Weather, too.
I'm sure you know just what to do.
On with the show, good health to you.
Please pour another glass
It's time ot watch the cabaret
Your wife will never know
That you're not really working late
Your hostess is Wendy
You'll find her very friendly, too
And we don't care just what you do
On with the show, good health to you
We climbed and we climbed,
Oh, how we climbed
My, how we climbed
Over the stars to the top
Of Tiger Mountain
Forcing the lines through the snow.
I nearly always work from ideas rather than sounds. Titles. It's that title that just fascinates me. It's fabulous. I mean, I am interested in strategy, and the idea of it. I'm not Maoist or any of that; if anything, I'm anti-Maoist. Strategy interests me because it deals with the interaction of systems, which is what my interest in music is really, and not so much the interaction of sounds.
Brian Eno (More Dark Than Shark)
2. Depois de jantar leio uma boa notícia .
Daqui a algumas horas começa a última emissão da Íntima Fracção na TSF.
Mas a IF continua na próxima frequência.
Na quinta-feira voltei a ver o “Hable con ella”. No quarto (do hospital) de Alicia, em cima da mesa de cabeceira, estava um livro com o Robert Mitchum, the preacher.
Por coincidência, o filme vai estar em Lisboa, nos últimos dias de Outubro. Mais uma excelente surpresa da Zero em comportamento.
É um filme sobre o bem e o mal, um filme extraordinário. O único de Charles Laughton, filmado em estado de graça, em êxtase, o que quiserem…
Vamos acompanhar esta sessão, vamos procurar os textos da Ana Teresa Pereira (não é Lídia?) e do Manuel António Pina (e não há ninguém melhor do que ele para falar sobre "A sombra do caçador").
Tenho os olhos cansados de não ver. Este ano não houve encontros em Braga nem em Coimbra mas amanhã... amanhã vou ver o mar…
Jean Gaumy, THE MANCHE. The tugboat ABEILLE LANGUEDOC, 2000.
Centro Português de Fotografia/Cadeia da Relação De 3ª a 6ª, das 15h às 18h; e fins-de-semana e feriados, das 15h às 19h. Até 30 Novembro. Entrada Livre.
Cabem no bolso de trás dos jeans. São mesmo “livrinhos”: pequenos, baratos (seis euros, apenas), apetecíveis, com uma bonita capa de papel pardo. Este é o primeiro da colecção. Só há oitocentos exemplares.
Cozinha de casa pobre. Ao fundo, uma porta. Numa parede, um calendário e uma janela. A Mãe olha para o Pai que lê o jornal.
Silêncio
A Mãe: Já sei porque é que ressonas.
O Pai: Então?
A Mãe: Dormes com a boca aberta.
O Pai: Como é que que sabes?
A Mãe: Vejo.
O Pai: Quando eu estou a dormir?
A Mãe: Sim.
O Pai: Em vez de te pores a olhar para mim, apaga mas é a luz.
A Mãe: Não posso apagar a luz. Tenho de ler as orações.
O Pai: Não as sabes de cor?
A Mãe: Sei.
O Pai. Então apaga a luz.
A Mãe: Olho para os santinhos.
O Pai: Olha de dia.
A Mãe: E à noite, olho para quê?
O Pai: Nada. dorme.
A Mãe: Como é que eu posso dormir, se tu ressonas?
A Festa > Teatro Taborda: 11 de Setembro a 12 de Outubro
Digressão: Outubro/Novembro/ Dezembro
”Os últimos dias da humanidade” começou a ser escrito em 1915. A primeira versão da obra veio a lume na revista “Die Facke”l, em 1918-1919, tendo sido publicada em livro em 1922, numa versão revista e alargada. Esta primeira edição portuguesa apresenta uma selecção de 115 cenas das 209 que constituem o texto original.
Ninguém levou tão longe a representação do mal absoluto da guerra. Kraus procurou captar o teatro de guerra como fantasmagoria tecnológica e discursiva. Montagem verbal e montagem cénica desenvolvem-se segundo uma lógica recursiva e centrífuga, capaz de dar ao horror dos actos e das palavras um alcance social panorâmico. A intensidade do pathos satírico e a multiplicação dos quadros dramáticos permitiu-lhe construir uma estética da mais alta indignação. Para o estado de apocalipse a que a humanidade se condenara nem o testemunho do poeta era já possível. Notícias impressas, oratória militar, pregões, cenas de rua, dos corredores do poder e das frentes de batalha alternam num processo de montagem, cuja natureza documental só acentua a miséria da linguagem. Os últimos dias da humanidade mostra de que forma as condições de inteligibilidade do presente produzidas pela imprensa fazem, de facto, parte da ordem da morte que alegadamente descrevem. Ao tornar visível essa ignóbil função de tornar invisível o sofrimento dos seres humanos, Kraus encena o moderno mercado da violência que tornou a humanidade cúmplice do seu próprio extermínio.
Quem são estes editores, esta gente que ainda insiste em descobrir, em contrariar o gosto, que lança livros difíceis (metem tanto medo, estes substantivo+adjectivo), quem são os leitores, que mundo é este dos livros que me parecia tão mortiço, agónico, fantasmático e onde agora vejo coisas insuspeitas que se movem?
Fiquei tão surpreendida que nem sequer tive maneiras. As boas vindas fazem-se com ofertas. Deviam ser frésias mas, apesar de ser Setembro, não as encontrei. Ficam alguns figos e cerejas…
Josefa de Óbidos, Natureza morta: pote e cestos com queijos, figos e cerejas
"O município devia ter garantido um espaço de dignidade. Num edifício de referência tem que se acautelar a zona circundante. A arquitectura é também o que está à volta"
Subscrevo este artigo e subscrevo também o editorial de ontem, de José Manuel Fernandes.
Se nada for feito cubro-me de vergonha.
A copa da faia é perfeitamente redonda. Nesta altura do ano ainda está cheia de folhas muito verdes, brilhantes e viçosas. Na ponta dos ramos há folhas pequenas, mais claras, nascidas há menos tempo. É bonita. Soa quando o vento passa. É normal. Estranho é vê-la muito quieta e muito silenciosa. Isso às vezes acontece. Nessas alturas fico felicíssima e tenho vontade de a abraçar. Já desisti de me perguntar porquê. Nunca a abracei, não quero que me internem.
Em jardins particulares, quando ninguém olha, sim, às vezes deixo-me ir. É muito bom abraçar as árvores. Em geral cheiram bem, são seres tranquilos e tocar-lhes é uma injecção de alegria (e de formigas, também, nada que um banho não resolva).
A partir de Novembro a faia estará nua. Será do sol nos dias de sol e da chuva nos dias de chuva. Uma mancha transparente de ramos escuros. Em Janeiro, com os dias a crescer, passarei a olhá-la com maior ansiedade. É por ela que sei que a Primavera vai chegar, quando, de um dia para o outro, as pontas dos ramos ficam cheias de botões.
posted by camponesa pragmática on 16:54
a história de um homem que procura a morte e que só encontra a vida
– Disse-nos que tinha tido dificuldade em gostar do seu último filme, “O vento levar-nos-à”. Ouvir os outros falar do filme reconciliou-me com ele, quando soube que os espectadores tinham compreendido do filme exactamente aquilo que eu queria que eles compreendessem. Para se gostar do seu próprio filme é preciso desde logo uma distanciação em relação a ele, antes de o rever. Há recordações ligadas à rodagem que ainda me incomodam, detalhes de que não gosto. Fazer este filme demorou quase sete meses e isso deixou-me exausto… O filme começou a morrer na mesa de montagem. E foram precisos os vossos olhares para o ressuscitar.
– O filme passa-se em paisagens magníficas. Será que, como disse John Ford, a sua vontade de fazer este filme resulta também da vontade de passar algum tempo neste enquadramento também esplêndido? É precisamente isso: procurei um pretexto para ir para aquela paisagem. O tema pouco importava; o que contou foi o meu desejo por aqueles lugares que vemos no filme. Há quatro anos, alguém me trouxe o tema e eu vi aí a oportunidade de filmar aquelas paisagens. Fui lá e durante dois anos tirei fotografias de repérage, até encontrar aquela aldeia, suficientemente estranha aos meus olhos – a mais estranha que já vi. Depois de transpor o tema para a aldeia, juntei os elementos do filme como uma vestimenta.
– O que é que essa aldeia tinha de tão estranho? Os habitantes e a sua atitude a nosso respeito. Eles não conheciam o nosso trabalho e fomos considerados intrusos, um pouco como a equipa de rodagem do filme, e comunicar com eles manteve-se difícil até ao último dia de rodagem. Mas estavam tão ocupados com o seu trabalho que não tinham tempo para se preocuparem connosco – trabalhavam de manhã à noite e não faziam mais nada. E como a cerimónia fúnubre evocada no filme está ligada a uma forma de economia primitiva, era preciso que a aldeia fosse distante e recolhida para que fosse credível.
– Asssitiu a essa cerimónia? Não, mas acho que ela existe porque vi quatro instrumentos relacionados com ela: é como se a tivesse visto. Às vezes, os indícios são suficientes, e o cinema contenta-se em dar indícios ao espectador mais do que deseja mostrar tudo. O cinema que me interessa consiste em persuadir o espectador.
– É por isso que nunca mostra os colaboradores da personagem principal? Ouvimo-los falar, é suficiente, é inútil mostrá-los: sabemos que eles estão lá.
– Há uma parte autobiográfica de Abbas Kiarostami, cineasta próximo do documentário, que se pode encontrar na situação da personagem do filme? É possível… Todo o ser humano fala sempre de si mesmo, o que quer que se faça, é uma regra geral. Cada vez que conto alguma coisa, conto uma parte de mim.
– Os habitantes da aldeia aceitaram interpretar o papel de si mesmos? Não. Para todos os papéis com alguma importância, à excepção da jovem, fui buscar habitantes das aldeias à volta. Era impossível pôr os daquela aldeia à frente da câmara, e só os vemos como silhuetas. Tinha de usar todo o tipo de manhas, de lhes contar não importa o que fosse, para os poder filmar um bocadinho. Para filmar a cena do desabamento, pus uma pessoa da nossa equipa no fundo do poço e fiz-los crer que era um verdadeiro acidente. Aí, vieram ajudar, mas nunca se teriam movido se soubesssem que era apenas a rodagem de um acidente simulado. Recusavam-se mesmo a filmar por dinheiro. Para eles, éramos incapazes de fazer um trabalho sério. O fascínio do cinema não funcionou aqui, trata-se de um outro planeta. Sei que não vou mostrar lá o filme porque ver a sua própria aldeia no ecrã não lhes interessa absolutamente nada.
– Num dos planos vemos o acasalamento de duas vacas. Foi um acaso ou uma encenação com um significado? Era Verão e cada vez mais queríamos filmar os animais, eles estavam a acasalar! A vida continua… Era a estação dos amores. Toda a aldeia acasalava, os animais e as pessoas… Todos menos nós!
– O sexo está efectivamente muito presente. Sim. Se quisermos resumir o filme numa linha, é a história de um homem que procura a morte e que só encontra a vida. E naquela aldeia a vida está presente em todo o lado, de maneira ainda mais forte do que a filmamos.
Abbas Kiarostami entrevistado por Fréderic Bonnaud e Serge Kaganski para a revista “Les Inrockuptibles” (24.11.1999)
Retirado da folha do Cineclube do Porto que acompanhou a sessão
Próximas sessões do Cineclube do Porto (16h00 e 21h30, Casa das Artes):
05.10 O Passo suspenso da cegonha, de Theo Angelopoulos
19.10 Mãe e filho, de Alexandr Sokuvov
A bem dizer cuido que o Custódio foi um grande poeta
É um livrinho precioso, este. O texto é de Raul Brandão e os desenhos são de Mário Botas. Chama-se "O senhor Custódio" e foi editado em 1987 pela Quetzal.
Fica aqui a primeira página, em jeito de dedicatória aos nossos queridos vizinhos.
Talvez continue...
A palavra é o único fundamento do mundo.
Eu sou seu servo e dono.
E se o espírito manda átomos para que
olfatem, toquem, sintam, estamos em verdade
no campo, iguais aos deuses.
A linguagem não toca nada novo.
Não há juízo final,
não há nada superior. A assunção
está no concêntrico, onde tudo
o que vemos e não vemos é mais que um grão de areia.
As coisas parecem mais próximas quando miradas.
Mas isso não é um critério. Repito: as coisas
não são o critério. O critério está
em nós mesmos como a dispersão final.
A morte é só um erro na denominação
daqueles que estão privados da luz.
music drifted in the wind/someone touched colours and rhythms/remembrances and dreams/nostalgia and whispers of the soul/and merged them into a journey/towards tomorrow, towards light
sob escuta
The last resplendent morning star
heralded the coming of the sun on high
No mist or shadow dared to mar
the sheer perfection of the cloudless sky
from where a gentle breeze would blow
caressing the faces down below
as if to murmur into the heart’s recesses
Life is sweet and…
Life is sweet
retirado do poema “Easter Sunday”, de Dionysios Solomos
What Fassbinder is it?
The one-armed man walks into a flower shop and says:
What flower expresses days go by
and they just keep going by endlessly
pulling you into the future.
Days go by
endlessly
Endlessly pulling you into the future.
and the florist says:
White Lily.
Lá de onde as coisas provêm, retornam, pagando uma à outra
o castigo de ter vindo segundo a ordem injusta do tempo. Anaximandro
Ontem revi "O Delfim" na televisão. É um filme brilhante e um excelente retrato do país.
Gosto dos actores, do marialva decadente, composto na perfeição pelo Rogério Samora, e da bela Alexandra Lencastre. Gosto das cores, os vermelhos da roupa dela, da echarpe, do jaguar. Gosto dos sons do vento, dos patos e dos cães e da música (é um filme para ouvir de auscultadores) E, acima de tudo, gosto dos diálogos, tão certos e tão profundos.
A história constrói-se em vários níveis. É possível acompanhar o desaire do Infante Tomás Palma Bravo mas também é possivel ver outras coisas, muitas.
As mulheres, por exemplo. Há três notáveis: a criada, que aguenta o contrato, firme e carrancuda; Maria das Mercês, cheia de desejos mas submissa, apodrecendo no lodo; e a rapariga, que chega num Mini apenas com dois cães e, quando a caçada acaba, parte.
Os carros, também. O belo e sensual jaguar, vermelho e veloz, guiado desbragadamente por Tomás; o Renault 4 do "senhor doutor", o caçador, detective e narrador, observador todo-o-terreno; um NSU, algures numa bomba de gasolina; o carro que a Mercês nunca terá; e o Mini, da rapariga independente e solitária.
E o poder, o grande jogo. Passando das mãos do Infante, o dono da lagoa, para o presidente da junta que acumula cargos, espertezas saloias e sabe que é preciso ter as quotas em dia.
No fim, rodeando a lagoa, em direcção ao mar, também nós sentimos o sono, o sono. Que a noite caia. Belo, belíssimo!
Sendo, seguramente, um dos maiores romances contemporâneos portugueses "O Delfim" é, para mim, sobretudo um prodigioso pretexto cinematográfico para entender paixões e emoções, misérias e grandezas, de um Portugal agonizante, em plena guerra colonial e com o seu ditador (Salazar) a morrer lentamente, como o país.
Será também um filme sobre um tempo em suspensão. E sobre um universo metafórico - a Gafeira - que é a propriedade e ao mesmo tempo a imagem de Tomás Palma Bravo, o herdeiro e último representante de uma raça em vias de extinção.
A narrativa, próxima do policial, vai processar-se como na "Detective Story" de W. H. Auden:
«A sequência é banal. Tudo corre segundo o plano:
A disputa entre o senso comum local
E a intuição, esse amador irritante
Que tem sempre a sorte de chegar ao local antes de nós
Tudo corre segundo o plano, a mentira e a confissão
Até à excitante perseguição final, o assassínio.»
Os "décores" e as paisagens, os bichos e os animais, a luz fria atravessada por neblinas que partem da lagoa e envolvem toda a Gafeira (casas e pessoas), serão elementos fundamentais do tratamento da imagem, que se pretende densa, quase palpável.
A banda sonora terá dois "leit-motiv" constantes: o ronco brutal do carro (um insólito e fálico Jaguar-E) e os latidos pungentes dos mastins de Palma Bravo. A única ligação ao mundo exterior para Maria das Mercês, a reclusa da imensa casa de Tomás, será o telefone e a televisão. O resto, o que se ouve do exterior da Gafeira, é o tilintar das bicicletas dos camponeses e os tiros repetitivos dos caçadores de patos.
A música será toda trabalhada a partir de temas da grande tradição barroca portuguesa, inspirada sobretudo num dos seus compositores maiores - Marcos de Portugal.
”As awe-inspiring as it is to be in the country under a black sky, and to see the wonders of the universe pass overhead, the most amazing thing is that we, the viewers, are made of the same simple stuff as the stars, and that we have developed a mind and consciousness that can contemplate our place in it all.
So, look up!
On a clear night, you can almost see forever.”
Jerry Lodriguss
Jerry Lodriguss é um nome que conheci há uns anos, em navegação afortunada, na própria semana em que me liguei à Internet. À Catching the Light chega-se para nunca mais se partir. Às vezes vou lá só para ver se está tudo bem, se não mudou de endereço ou desapareceu. Confirmo que está tudo no lugar, a seguir revejo as mesmas imagens pela enésima vez e depois procuro novas; assim, por esta ordem - primeiro as antigas, para ter a certeza que estão todas lá.
Gosto de imaginar esta página como um lugar alto e nocturno onde se vai ver o céu, afinar a percepção do mundo, redimensionar a importância das coisas. Desce-se apaziguado, mais leve, os olhos mais transparentes. Algo menor e algo maior. E desce-se inquieto, porque é entre as estrelas que vivem as grandes perguntas primordiais, as perguntas inúteis e inevitáveis de estar aqui.
O trabalho de Jerry Lodriguss é mais que astrofotografia. Em geral as imagens do espaço são bastante apagadas. Ele restaura-as, recupera cores, brilhos e contrastes, devolve-nos uma visão que não temos sobre o que também - e sobretudo - somos.
segunda-feira, setembro 22, 2003
Objectos que já não se usam
1. Há tempos, ao mexer em cartas e envelopes antigos, descobri uns postais antigos assinados pelo Nadar. Digitalizei-os e, como se trata de tão ilustre fotógrafo, desviei-os para a sala ao lado.
2. No sábado deitei a mão a alguns programas de cinemas do Porto dos anos sessenta: Coliseu do Porto, Trindade, Nun’Alvares, Rivoli, São João, Águia, Carlos Alberto e Olimpia.
O meu preferido é o da Música no Coração, O filme de maior êxito em todo o mundo.
O programa tem as letras (e até as traduções) das canções e era distribuído gratuitamente pela “Confeitaria Porto Santo”.
Fico a saber que, no natal de 1966, o brinde do Bolo-rei era um lindo emblema da Julie Andrews.
Prometo digitalizar e publicá-los muito em breve.
Raindrops on roses,
And whiskers on kittens,
Bright copper kettles,
And warm woollen mittens,
Brown paper packages,
Tied up with strings,
These are a few of my favorite things...
…
A 18 de Abril anotei o seguinte:
Não sei muito deste filme e, contudo, ele me seduz mais do que qualquer outro. É um tanto enigmático, requer reflexão, mas o importante é, evidentemente que eu sinta prazer em fazê-lo.
A 23 de Abril escrevo esto: “Hoje redigi as primeiras seis páginas de Fanny e Alexander. Foi, de facto, um prazer. Agora vou passar às sequências do teatro, do apartamento, da avó.”
Quarta feira, 2 de Maio:
Não posso continuar a trabalhar com a velocidade com que até aqui tenho mantido. Tenho todo o Verão à disposição, mais de quatro meses. Não devo no entanto afastar-me demasiado da mesa de trabalho. Devo passear, deixar que as cenas surjam naturalmente. Assim serão sempre agradáveis.
Terça-feira, 5 de Junho, escrevi isto:
É perigoso trazer à luz poderes ocultos. Na casa de Isak está o idiota com fisionomia de anjo. Um corpo esguio, inseguro, com olhos claros que veêm tudo. Este ser pode cometer más acções. É como uma membrana que vibra ao menor desejo.
As experiências que Alexander tem do oculto. A conversa com o seu pai falecido. Deus revela-se a ele. O encontro com o perigoso Ismael que envia a mulher em chamas para aniquilar o bispo.
A 8 de Julho tenho o roteiro completo. Demorou uns três meses a ser escrito, seguidos de um longo e divertido período de preparativos.
Sentado à janela do edifício
Quem me dera não ter de escrever o manual de instruções sobre o uso de um novo metal.
Olho para a rua e vejo gente, todos caminhando numa paz interior,
E invejo-os – estão tão longe de mim!
nenhum deles tem de se preocupar em entregar a tempo este manual.
E, como sempre, começo a sonhar, apoiando os cotovelos na secretária e debruçando-me um pouco da janela,
Com a vaga Guadalajara! Cidade de flores da cor das rosas!
Cidade que mais queria ver e menos vi, no México!
Mas imagino ver, sob a pressão de ter de redigir o manual de instruções,
A tua praça pública, cidade, com o pequeno coreto rendilhado!
A banda toca a Xerazade de Rimsky-Korsakov.
Em volta, raparigas distribuem flores cor de rosa e de limão,
Todas atraentes nos seus vestidos de riscas cor-de-rosa e azuis (Oh, aqueles tons de rosa e azul!),
E ali ao pé a pequena barraca branca onde mulheres de verde servem frutas verdes e amarelas.
Os casais desfilam, todos com ar de festa.
À frente, abrindo o desfile, um janota
Vestido de azul escuro. Na cabeça pousa-lhe um chapéu branco
E usa bigode, aparado para esta ocasião.
A sua querida, a mulher, é jovem e bonita: traz um xaile malva, rosa e branco.
As chinelas são de verniz, à maneira americana,
E traz um leque, pois é modesta, e não quer que os outros lhe vejam muitas vezes a cara.
Mas estando todos tão entretidos com as mulheres ou as namoradas
Duvido que reparassem na mulher do homem de bigode.
Aí vêm os rapazes! Vêm saltitando e atiram pequenas coisas para o passeio
De ladrilho cinzento. Um deles, um pouco mais velho, tem um palito nos dentes.
Está mais calado que os outros, e faz que não repara nas bonitas raparigas de branco.
Mas os amigos reparam, e lançam chalaças às raparigas que riem.
Em breve, porém, tudo isto acabará, com o aprofundar dos anos,
E o amor os trará à parada por outras razões.
Mas perdi de vista o rapazola do palito.
Espera! Lá está ele, do outro lado do coreto,
Afastado dos amigos, em conversa séria com uma rapariga
De catorze ou quinze anos. Tento ouvir o que dizem,
Mas parece que apenas murmuram qualquer coisa – tímidas palavras de amor, provavelmente.
Ela é um pouco mais alta, e desce o olhar sereno para os seus olhos sinceros.
Está vestida de branco. A brisa agita-lhe os cabelos pretos, finos e compridos contra a face morena.
É claro que está apaixonada. O rapaz, o do palito, também ele está apaixonado;
Vê-se-lhe nos olhos. Afasto-me deste par
E vejo que há um intervalo no concerto.
Os que desfilaram descansam e bebem por palhinhas
(As bebidas são servidas dum grande jarro de vidro por uma senhora de azul escuro),
E os músicos misturam-se com eles, nos seus uniformes de um branco-creme, e fala.
Do tempo, talvez, ou de como os miúdos vão bem na escola.
Aproveitemos esta oportunidade para entrar pé-ante-pé numa das ruas laterais.
Cá está uma daquelas casas debruadas de verde,
Tão populares aqui. Olha – eu não te dizia?
Está fresco e escuro cá dentro, mas no pátio há sol.
Uma velha, de cinzento, ali sentada, abana-se com um leque de folha de palmeira.
Recebe-nos no pátio e oferece-nos um refresco.
«O meu filho está na Cidade do México», diz ela. «Também os havia de receber bem,
Se cá estivesse. Mas trabalha lá num banco.
Olhe, uma fotografia dele.»
E um rapaz de pele escura e dentes de pérola sorri para nós da moldura de couro gasto.
Agradecemos-lhe a hospitalidade, porque se faz tarde
E nós precisamos de encontrar um ponto alto para ver bem a cidade, antes de partir.
A torre da igreja serve – aquela ali, de rosa desmaiado, recortada no azul violento do céu. Entramos devagar.
O sacristão, um velho vestido de castanho e cinzento, pergunta-nos há quanto tempo estamos na cidadde, e se gostamos dela.
A filha está a esfregar os degraus – acena-nos ao passarmos para a torre.
Em breve chegamos ao cimo e toda a malha da cidade se estende diante de nós.
Lá está o bairro elegante, de casas pintadas de rosa e branco, com frondosos terraços decrépitos.
Lá está o bairro popular, com casas de azul escuro.
Lá está o mercado, onde os homens vendem chapéus e enxotam moscas,
E a biblioteca pública, pintada em vários tons de verde pálido e beige.
Olha! Lá está a praça onde há pouco estivémos, com os passeantes.
Já são menos, agora que o dia aqueceu,
Mas o rapaz e a rapariga continuam escondidos pela sombra do coreto.
E lá está a casa da senhora velha –
Continua sentada no pátio a abanar-se.
Que limitada, e no entanto completa, foi a nossa experiência de Guadalajara!
Vimos amor de jovens, amor de casados, e o amor de uma mãe idosa pelo filho.
Provámos as bebidas, ouvimos música e vimos casas coloridas.
Que mais há a fazer, senão ficar? E isso é que não é possível.
E enquanto uma última brisa refresca o cimo da velha torre degradada, volto a olhar
Para o manual de instruções que me fez sonhar com Guadalajara.
Da Califórnia à Austrália passando pela África do Sul os amantes da terra e do espírito mediterrânico tentam criar de raiz aquilo que não têm: olivais.
A dignidade do azeite foi consagrada internacionalmente com a recuperação da dieta mediterrânica e a oliveira é uma árvore admirada e acarinhada pela sua resistência, longevidade e beleza.
Mas entre nós, que temos olivais centenários e azeites de grande qualidade, tarda em concretizar-se a política que faz do azeite um produto estratégico de rendimento e exportação, como o vinho. A agricultura está em crise e se Portugal conquistou em Bruxelas direitos de plantação de 30 mil hectares de olival, a verdade é que só existem projectos para 15 por cento desta área.
Enquanto espanhóis, italianos e tunisinos avançam na valorização e modernização do seu olival, em Portugal, se as coisas não mudarem até 2006, pode deitar-se a perder o oiro da terra e a cultura e as tradições simbolizadas pela oliveira e pelo azeite.
A reportagem é de Sílvia Alves, com imagens de Artur Pacífico e Rui Capitão.
Aquela senhora que conheci no comboio, olhando pela janela, disse-me a certa altura que a oliveira é uma árvore triste. Olhei também e estive quase a concordar. Agora, felicito-me, porque não foi preciso. Lembro-me que a senhora ia vestida de preto. Talvez lhe tivesse morrido alguém. Às oliveiras daquele olival que passava lá fora é que eu tenho a certeza de que não faltava nada: nem sol, nem uma leve brisa, nem um fruto grado, prometedor. E perguntei para mim, ao descer do comboio:
– Porque maltratamos as oliveiras?
Broken bicycles, old busted chains
With rusted handle bars, out in the rain
Somebody must have an orphanage for
All these things that nobody wants any more
September’s reminding July
It’s time to be saying goodbye
Summer is gone, but our love will remain
Like old broken bicycles out in the rain
Broken bicycles, don’t tell my folks
There’s all those playing cards pinned to the spokes
Laid down like skeletons out on the lawn
The wheels won’t turn when the other has gone
The seasons can turn on a dime
Somehow I forget every time
For all the things that you’ve given me will always stay
Broken, but I’ll never throw them away
A emissão de ontem deixou-me um travo amargo. No fim da primeira parte o leitor de cds começou a plissar, a voz do Francisco Amaral saiu estrangulada e a última música – “There was a river”, For Stars – foi cortada abruptamente.