Da Califórnia à Austrália passando pela África do Sul os amantes da terra e do espírito mediterrânico tentam criar de raiz aquilo que não têm: olivais.
A dignidade do azeite foi consagrada internacionalmente com a recuperação da dieta mediterrânica e a oliveira é uma árvore admirada e acarinhada pela sua resistência, longevidade e beleza.
Mas entre nós, que temos olivais centenários e azeites de grande qualidade, tarda em concretizar-se a política que faz do azeite um produto estratégico de rendimento e exportação, como o vinho. A agricultura está em crise e se Portugal conquistou em Bruxelas direitos de plantação de 30 mil hectares de olival, a verdade é que só existem projectos para 15 por cento desta área.
Enquanto espanhóis, italianos e tunisinos avançam na valorização e modernização do seu olival, em Portugal, se as coisas não mudarem até 2006, pode deitar-se a perder o oiro da terra e a cultura e as tradições simbolizadas pela oliveira e pelo azeite.
A reportagem é de Sílvia Alves, com imagens de Artur Pacífico e Rui Capitão.
Aquela senhora que conheci no comboio, olhando pela janela, disse-me a certa altura que a oliveira é uma árvore triste. Olhei também e estive quase a concordar. Agora, felicito-me, porque não foi preciso. Lembro-me que a senhora ia vestida de preto. Talvez lhe tivesse morrido alguém. Às oliveiras daquele olival que passava lá fora é que eu tenho a certeza de que não faltava nada: nem sol, nem uma leve brisa, nem um fruto grado, prometedor. E perguntei para mim, ao descer do comboio:
– Porque maltratamos as oliveiras?