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Janela Indiscreta
 
quinta-feira, outubro 30, 2003  
love and hate



Só há dois dias para ver “A Sombra do Caçador”. Um filme, o único de Charles Laughton, uma pérola, rodado em verdadeiro estado de graça. A sequência da fuga dos miúdos é magnífica, os dois pelo rio fora, com a cumplicidade das rãs e das aranhas. E a Lilian Gish tão doce e o pregador tão intrigante e depois tudo se inverte e é ela que puxa da espingarda. O bem e o mal misturados, sabe-se lá onde começam e acabam. Numa mão a palavra amor e na outra ódio…

Tinha prometido um texto do Manuel António Pina, já vasculhei a biblioteca mas não o encontrei lá. Ainda não desisti, no entanto o importante agora é ver o filme. As sessões são às 21h30, no Cine-Estúdio 222.

E preparem-se para as maravilhas que a zero em comportamento programou para início de Novembro…





posted by Anónimo on 18:43


 


Enquanto não chega, podemos ler esta entrevista à Lhasa aqui ao lado e esperar por essa primavera anunciada...

posted by Anónimo on 13:33


 
Jardim das delícias

Chega-me uma mensagem de Madrid. Há olhos postos neste quadro.



Deslumbrante, diz a Ana.

posted by Anónimo on 13:27


 
noticiário das 13h00

1. fait divers
Ouvi na rádio que a partir de hoje é possivel visitar os bastidores do Oceanário de Lisboa. A reportagem “engasgou-se” e fiquei sem os pormenores por isso fico livre para inventar (que me desculpe o repórter lírico a incursão na sua área) e imagino que podemos nadar com os peixes e fazer festas às lontras. Quero ver esse lado do Oceanário!


© Nuno Correia


2. desporto
Segundo o Público, logo à noite o “Planeta azul” (rtp 2 às 21h30) vai visitar alguns parques de energia eólica. Já tinha dito que gostava destas turbinas? No Verão segui esta estrada e encontrei as mais bonitas de todas, no alto da Serra Branca, na ilha Graciosa. São mesmo enormes e silenciosas e nas ilhas ganham uma presença encantadora. A engenharia aproxima-se muitas vezes da arte.
Ei-las:



3.economia
Passou por aí uma tempestade magnética. “Uma invasão de protões que ionizou atmosfera”, explicou a jornalista. Dizem que só afectou as comunicações e que no norte se viram auroras coloridas no céu nocturno.
Alguém sentiu alguma coisa? Alguém viu?

4. política
Em jeito de consolação: Relíquias, de Jorge Luis Borges, para o hmbf:

O hemisfério austral. Sob a sua álgebra
de estrelas por Ulisses ignoradas,
um homem procura e procurará
as relíquias daquela epifania
que lhe foi dada, há tantos anos,
do outro lado de uma numerada
porta de hotel, junto ao perpétuo Tamisa,
que flui como flui o outro rio,
o ténue tempo elementar. A carne
esquece pesares e alegrias.
O homem espera e sonha. Vagamente
resgata umas triviais circunstâncias.
Um nome de mulher, uma brancura,
um corpo já sem cara, a penumbra
de uma tarde sem data, um chuvisco,
umas flores de cera sobre um mármore
e as paredes, cor-de-rosa pálido.


(tradução de Maria da Piedade Ferreira)

5. previsão metereológica
Ontem à noite, um livro saltou da estante, numa viagem vertical. Enrique Vila-Mata fugiu do Mal e apareceu-me à frente. Vinha do Aniki Bóbó… (continua)
Mapa de orientação: Aniki Bóbó, Hotel da Bolsa, Majestic, Rua Formosa, Morgado Mateus, Bonfim.

posted by Anónimo on 13:00


quarta-feira, outubro 29, 2003  

o hábito não faz o monge

Anda para aí tanto falatório por causa das medidas de contenção propostas pelo Vaticano, evocando-se a torto e a direito as “trevas medievais” que me deu vontade de destapar um pouco as sotainas e hábitos de capuchinho dessa altura.
Hoje bate-se palmas e toca-se música rock démodé nos ofícios católicos, mas as igrejas já conheceram muita coisa para além da oração recatada ou da missa em latim. Nas épocas mais antigas os templos eram utilizados para uma série de práticas sociais, desde os actos de julgamento no alpendre, aos contratos mercantis e outras actividades que hoje em dia nos podem espantar. Serviam, por exemplo, para depósito de cereais e mercadorias e até para abrigo dos animais. Não será causa para admiração, uma vez que o cristianismo se introduziu lentamente nos campos e foi-se misturando com e as velhas práticas pagãs. A protecção que se pedia a Deus também dizia também respeito à subsistência da comunidade, as ordálias (bênção de de objectos e animais nas igrejas) eram comuns e só deixam de ser reconhecidas em 1215, com o IV Concílio de Latrão. Gregório de Tours (séc.V) deixou alguns relatos de desacatos originados por essas práticas. Os animais espantavam-se ao serem levados ao altar, de tal modo que o esperado coro celestial era abafado pelo ruído dos cascos, relinchos, mugidos e grunhidos misturados com os gritos das dúzias homens que os tentavam acorrentar.
Por cá, é próprio rei D. Duarte que se vê obrigado a proibir o costume de pernoitar nas igrejas, aquando das romarias e vigílias nocturnas que se faziam acompanhar de danças, jogatinas e outras festanças pouco castas.

As festas de loucos e carnavais são um dos melhores exemplos da persistência pagã a subverter a prática católica. Nesse período escatológico diziam-se missas às avessas; a liturgia decorria em torno de uma garrafa de vinho ou em honra de um burro e as sátiras não poupavam ninguém – S. José era o mais sacrificado – “o último a saber”, muitas vezes representado por um homem travestido a dar a papa a um gato no lugar do menino Jesus. Era a época do riso pascal e, como ainda hoje se diz – não é para se levar a mal – . Várias personalidades religiosas redigiram textos jocosos a este propósito. O próprio Papa Leão XIII defendia que a Igreja também devia cuidar dos aspectos humanos e estes são revelados com a maior franqueza e honestidade. Apoiava-se numa passagem do Livro de Jehovah “Deus não precisa para nada da vossa hipocrisia”. Os próprios religiosos redigiam e divulgavam estas facécias. Johannes Pauli, monge alemão, recolheu uma série de farsas carnavalescas destinadas aos próprios monges. A colectânea foi publicada em 1522 com o título “Riso e Seriedade” (Schmpof und Ernst). No seu prefácio o autor explica que o livro se destina “aos cenobitas reclusos nos mosteiros para que tenham com que se rir e distrair, de modo a descansar o espírito, pois não podem viver da ascese”.
(ver: Mickail Bakhtine, L’0euvre de François Rabelais et la culture populaire au Moyen Âge et sous ka Renaissance, Paris, Gallimard, 1970; Giordano Oronzo, Religiosidad Popular en la Alta Edad Media, versão espanhola de Pilar Garcia Monton y Valentín Garcia Yebra, Madrid, Editorial Gredos, 1983).
O clero estava mais próximo do povo mas também era muito ignorante. Muitos jovens ingressavam nas ordens sacras praticamente analfabetos e destituídos qualquer formação espiritual. Em 1467 o arcebispo de Lisboa depara com confessores que nem a fórmula da absolvição sabiam, o que não admira pois também era comum não se confessarem, e obriga-os a escrevê-la e a decora-la. No entanto, parece que esta fraquezas eram bem suportadas pelas entidades superiores, contando que materialmente não fossem esquecidos... A um clérigo que tinha por hábito frequentar as tabernas e aparecer em estado impróprio na igreja, o arcebispo castiga-o com a uma pequena multa de 50 reais com a particularidade desta se repetir sempre que reincidisse no pecado etílico...
O canto do Ofício Divino era outro problema; deveria ser de tal modo enfadonho que muitos religiosos e conversos nem compareciam à salmodia. Quando apareciam, “palravam” faziam “jeitos de esgares” uns para os outros; não estavam quietos, trocavam palavrões e até chegavam a andar à pancada. Certo é que estes desmandos não eram exclusivos do baixo clero, pois também havia sacerdotes que nem se falavam e cujas brigas ficaram memoráveis.
(vide Isaías da Rosa Pereira, "Visitações da Igreja de S. Miguel de Torres Vedras" (1462-1524), Lusitana Sacra, 2ª série, 7, 1995.)



Da esquerda para a direita: mascarada – S. José a dar a papa ao menino Jesus – Niccolò Frangipani (c.1555); macaco e monge a lerem livro coral – misericórdia do cadeiral de Zamora.



Da esquerda para a direita: frades-odre a recitarem os salmos – cadeiral de Yuste; burro a ler no facistol – misericórdia do cadeiral da Sé do Funchal (c. 1514/15).


Ego sum abbas cucaniensis
et consilium meum est cum bibulis,
et in secta Decii voluntas mea est,
et qui mane me quesierit in taberna,
post vesperam nudus egredietur,
et sic denudatus veste clamabit:
Wafna, wafna!

Eu sou o abade de Cocania
e o meu conselho é com os bêbedos,
e minha filiação a seita de Décio,
e quem me vier procurar na taberna de manhã
sairá nu à noite,
e assim despido de suas roupas clamará:
Wafna, wafna!

Carmina Burana (canções de monges e eruditos errantes- os goliardos (1230)

A rivalidade entre professos acentua-se com a introdução das ordens mendicantes que vêm retirar grande parte dos privilégios às restantes ordens. Nos cadeirais estas questiúnculas eram satirizadas recorrendo-se a variantes da personagem do raposo do romance popular. Do alto do púlpito, vestido de frade, o matreiro animal faz uso dos dotes da oratória para encantar a audiência de galináceos e os papar no final do sermão. A brincadeira era glosada na literatura popular, fazendo-se trocadilhos com a passagem da Epístola de S. Paulo aos Filipenses (1,8): “Testis est mihi Deus, quam cupium vos visceribus meis”- “Deus é testemunha de quanto vos quero nas minhas entranhas” –, em lugar de “no mais profundo do meu ser”. O refrão lá dizia que “frayle franciscano, el papo abierto,y el saco cerrado” e “o abade donde canta dali janta”.
Gil Vicente no Clérigo da Beira também recorda a ladainha do frade mundano enquanto caminha com o filho em busca de boa caça: “Lauda Dominum die coelis/ Pois os coelhos são seus”.

(ver: Pinciano, Hernãdo Nunez, Refranes o proverbios en romance que nuevamente coligio y glosyo el comendador Herãnado Nunez Pinciano, Valladolid, 1602.



Da esquerda para a direita: frade franciscano ladeado por raposos acólitos – cadeiral de da abadia de York; raposo a pregar às galinhas – cadeiral da Sé do Funchal.

O comportamento sexual dos religiosos provocava alguma dores de cabeça à entidades superiores mas também não seria nada que não conhecessem. No relato de visitação à igreja de S. Miguel de Torres Vedras (1462) ordena-se aos os vigários, capelães, priores que estejam a par de clérigos publicamente barregueiros que os proíbam de dizer missa, No caso do amancebado serem os próprios vigários e piores que assim vivam publicamente, ficavam encarregados os raçoeiros de não os consentirem, bem como de os obrigar a pagar multa ao aljube eclesiástico.
O tema fazia as delícias da literatura satírica. Arcipreste de Talavera, referia no El Corbacho, publicado em 1483 os “frades e seculares que não respeitavam as mulheres e eram conhecidos pelos seus feitos de “tocar gaita”. Por cá, Gil Vicente, na sequência da Nave dos Loucos de Sebastian Brandt, faz aparecer o frade amantizado no auto da Barca do Inferno de Gil Vicente, vestido como um fidalgo e de mão dada com a moça cantando prazenteiro:


FRADE- Corpo de Deus consagrado!
Pela fé de Jesu Cristo,
que eu nom posso entender isto!
Eu hei-de ser condenado?!...
Um padre tão namorado
e tanto dado à virtude?
Assi Deus me dê saúde,
que eu estou maravilhado!
(E continua a desembainhar
o espanto por o esperarem as chamas do Inferno)
Como? Por ser namorado
e folgar com üa mulher
se há um frade de perder,
com tanto salmo rezado?!...

imagem à direita:
Assédio na confissão – cadeiral de Zamora





da esquerda para a direita, de cima para baixo:
Monge sado – cadeiral de Leon; cena monges homossesuais- cadeiral de Oviedo; freira-javali a assediar homem- Bosh, Jardim das Delícias; frade em cena homossexual ou herética- o beijo do diabo- cadeiral de Saint Pierre, Saint Claude, França.

posted by zazie on 15:14


 


Hoje e quinta-feira, o TAGV fica por conta de Reinaldo Ferreira, o célebre "Repórter X". São dele os filmes "O Táxi 9297", sobre o caso verídico de uma actriz assassinada pelo amante, e "Rita ou Rito?" (ambos realizados, em 1927, nos estúdios da Invicta Film, no Porto), que serão respectivamente musicados por Paulo Furtado (Legendary Tiger Man) e Luís Pedro Madeira (Belle Chase Hotel). Ainda na quinta-feira, este último músico vai também musicar "A Dança dos Paroxismos" (1929), de Jorge Brum do Canto, um das obras mais experimentais do cinema português.

"Maria do Mar" (1930), o "documentário romanceado" de Leitão de Barros, fecha "O Animatógrafo de Coimbra". Para este filme, cuja sensibilidade e beleza lhe garantiram um lugar de destaque na história do cinema português, foi encomendada uma composição ao pianista Bernardo Sassetti.


A notícia completa, no Público de ontem

posted by Anónimo on 13:24


 

posted by camponesa pragmática on 02:51


 
\o/ Viva o Grande Martin Parr!

Odeio fazer malas, mochilas. E a lista prévia. Uma benção indiscutível do "Dogville" é que me pôs a ouvir Vivaldi como não acontecia há largos meses. Não existe uma capa decente do disco na internet, mas Álvaro Cassuto dirige a Nova Filarmonia Portuguesa. Soa agora o Outono das Quatro Estações e já perdi a conta às voltas que o cd deu desde que cheguei a casa. E não me canso. Estes concertos são meus amigos desde a infância. A música guarda referências maravilhosas. Lembro-me de uma viagem de trabalho a um país estranho, pela primeira vez, numa Primavera fria. Eu sentia-me triste porque deixara em Lisboa a luz cada vez mais bonita de Março. Sentia o peso de uma responsabilidade nova e a ansiedade de não saber como as coisas iriam correr. Na primeira noite vi-me fechada num hotel tão impessoal quanto grotesco, de andares iguais e corredores desertos, o calor atroz do ar condicionado, os vidros tão duplos ou triplos que nem o vento se ouvia. Do mar do Norte, largo, agreste e turbulento, que me encantou de imediato, e que me faria mais tarde amar sem regresso as pinturas de Mesdag, nem se ouvia um rumor que fosse. Mas, pormenor, havia um leitor de cds nesse quarto, havia cds e, entre esses cds, alguns concertos como este, que conheço desde sempre. Dormi em casa, dormi na música. Agora Vivaldi repete-se e eu não me importo. Não sei o que é que é mais antigo, se Vivaldi, se eu não gostar de fazer malas. Se não tivesse um blog, provavelmente, ia aparar a relva só para adiar esta cruz mais um bocado.

[Eu vi! Eu vi!]

posted by camponesa pragmática on 02:17


terça-feira, outubro 28, 2003  
Uga uga

Há autores que têm direito a uma prateleira só deles. Para a minha mãe, é o caso de Moisés Espírito Santo. Foi através dele que o ugarítico entrou nas nossas vidas. :)

A língua falada antes do português foi (...) a língua cananita (ugarítica, acadiana ou caldaica, sendo difícil - ou inútil - distinguir entre estes três idiomas ou dialectos no seu estádio arcaico). (...) A velha língua mantém muitos vestígios, como demonstram as centenas de expressões e os topónimos referentes a lugares de reunião, difusão do direito e cultos (...).

As minhas férias eram passadas na Reixida - aldeia nos arredores de Leiria - em casa dos meus avós. Um dos meus passeios favoritos era (ainda é) passar pelas Fontes, uma povoação com traços medievais, e entrar pelo arvoredo dentro, acompanhando o Lis até ao local do seu nascimento.

«Reixida. Rexith 'início', refere-se à nascente do rio traduzido por Fontes (...). É a primeira palavra da Bíblia:

b rexyth bra elohim 'eth haxxamain w'eth ha' arêtz

[be rechida bare eloin aet axamain u aet haarêtz]
'No início criou Eloin os céus e a terra' »

Quem diria...

Fontes Remotas da Cultura Portuguesa, Moisés Espírito Santo

posted by picatostes on 23:19


 
1.
A notícia (mais difícil de perceber) do dia
De manhã, Gonçalo Ribeiro Telles dizia na rádio: "isto não é uma questão ambiental, é uma questão de identidade cultural do país". Mais uma vez ele tem razão. Mais uma vez se desperdiça o seu saber.
Ouvi pessoas dos vários partidos, inclusive do PSD, inclusive o Ministro do Ambiente, todos atónitos. Mas afinal que raio de notícia é esta?

2.
Gostei de ver a Belém e a Teresa a falarem da leitura partilhada, no Livro Aberto, de Francisco José Viegas. O vosso entusiasmo é notório e contagiante.
Por mim, informo que já comprei "A volta no parafuso", do Henry James e planeio atacar este "pequeno, maravilhoso, terrível e venenoso conto" (Wilde dixit), no próximo fim-de-semana. Uma curiosidade: a preposição do título é mesmo "no" e não "do". Confio na tradução de Margarida Vale de Gato e não me sai da cabeça esta escolha...

3.
Amanhã é obrigatório sintonizar o mezzo para ouvir Carlos Paredes
19H50 > Carlos Paredes no Teatro São Luis
20h45 > Diálogos em Maio, Charlie Haden, Carlos Paredes

4.
Amanhã é dia de deboche aqui na Janela. Mas por favor não nos peçam indemnizações pelos danos causados, nem lautos jantares regados a Barca Velha (apurei agora que uma garrafa de 1964, custa cerca de 350 euros). Declinamos todas as responsabilidade.

posted by Anónimo on 23:10


 
Aos lisboetas distraídos

Já reparou que a Janela colocou 6 novos posts só hoje?

Vá. Venha ver!

posted by picatostes on 22:04


 
«Amnésia in Litteris»



Trouxe este livrinho de um encontro BookCrossing. Tem três histórias e algumas considerações (sic). As duas primeiras foram as que mais me cativaram: Um Combate (no original, Ein Kampf, denunciando a alusão ao Mein Kampf) e O Imperativo de Profundidade.

Mas foram as considerações com que mais me diverti:

(...) Trata-se de um texto em prosa requintada, com uma claríssima organização das ideias, profusamente ilustrado com interessantíssimas informações ainda não reveladas e repleto das mais maravilhosas surpresas - infelizmente, no momento em que escrevo estas linhas não me ocorre o título do livro, nem tão-pouco o nome do autor ou o conteúdo; mas, como se verá de seguida, isso não tem qualquer importância, ou melhor: isso contribui, pelo contrário, para o esclarecimento do assunto. Trata-se, como disse, de um excelente livro que tenho aqui entre mãos, repleto de frases enriquecedoras; vou lendo e tropeço até à minha cadeira; continuo a ler e sento-me, esquecendo por que motivo estou afinal a ler; sou já apenas um desejo feroz e intenso, deleitado com a completa novidade que aqui descubro página a página. Não me incomodam os sublinhados aqui e ali, os pontos de exclamação rabiscados a lápis na margem - vestígios de um leitor anterior, o que geralmente não aprecio muito em livros - pois a narrativa avança tão palpitantemente e a prosa flui tão alegremente que já nem me apercebo dos vestígios a lápis. E se alguma vez dou conta deles, é apenas com um sentido de aprovação, porque o meu leitor anterior - não tenho a mais vaga ideia de quem seria - o meu leitor anterior, repito, colocou as suas exclamações sublinhadas justamente naquelas passagens que também me entusiasmam mais. Continuo a ler, portanto, duplamente enlevado pela extraordinária qualidade do texto e pela cumplicidade espiritual com o meu desconhecido antecessor; mergulho cada vez mais fundo no mundo imaginado e sigo com um espanto crescente os magníficos caminhos pelos quais o autor me conduz...
Até chegar a um ponto que provavelmente constitui o clímax da narrativa e que me faz soltar um sonoro «ah!». «Ah, que bem pensado! Que bem dito!». E por um momento fecho os olhos para reflectir profundamente sobre o que acabei de ler - o que logo desbrava uma vereda na confusão da minha consciência, abrindo-me perspectivas completamente novas que fazem confluir em mim novos conhecimentos e associações (...)! E, quase automaticamente, a minha mão procura o lápis e penso «Tens de assinalar isto», «Vais escrever na margem um 'muito bem' e colocar à frente um enorme ponto de exclamação e anotar com algumas palavras-chave o fluxo de pensamentos que este passo desencadeou em ti - como auxiliar de memória e como reverência documentada perante o autor que tão magnificamente te iluminou!».
Mas oh! Quando pouso o lápis na página para gatafunhar o meu «muito bem!», já lá está um «muito bem!» - e, aliás, o meu entecessor na leitura também registara o resumo em tópicos que eu pretendia anotar, e fê-lo numa caligrafia que me é muito familiar, a minha própria, porque o meu antecessor não era outro senão eu próprio.


Süskind segue para o Brasil.

posted by picatostes on 17:35


 
Humor

«Devia levantar-me, ir ao quarto dele buscar uma t-shirt e retirar-me para os meus aposentos, como se dizia nos romances antigos, mas estou paralisada de felicidade. É possível fazer uma vaca subir umas escadas, nas é impossível fazê-la descer. E eu sinto-me uma vaca no cimo de um patamar de um edifício de noventa andares. Sinto-me embalada numa espécie de navegação espiritual.»

© Margarida Rebelo Pinto, I'm in Love with a Popstar
(o negrito é da minha autoria)


posted by picatostes on 16:50


 
Ópera do falhado



Quinta-feira vou à Ópera. Dado o fracasso do herói, impõe-se traje informal.

Dois antigos colegas de liceu reencontram-se e descobrem as incompatibilidades dos respectivos percursos. Um empresário ávido de poder e o outro escritor desanimado com as contradições da vida humana protagonizam uma espécie de confronto entre Fausto e Werther, entre a ambição e o romantismo. À volta de um velho café que resiste à demolição, cheio das memórias e fantasmas de um país antigo, constrói-se esta Ópera do Falhado, desafio que envolve dois dos mais consistentes jovens autores da música contemporânea portuguesa, J.P. Simões e Sérgio Costa (dos Belle Chase Hotel). Inspirado nas ballad óperas “Ópera do Mendigo", de Jonh Gray, “Ópera dos 3 vinténs", de Weil / Brecht, e “Ópera do Malandro" de Chico Buarque, este espectáculo envolve 16 actores e uma orquestra ao vivo.

Porto > Rivoli, até 31 de Outubro
Coimbra > Teatro Académico Gil Vicente, 7 e 8 de Novembro
Vila Nova de Famalicão > Casa das Artes, 5 e 6 Dezembro


posted by Anónimo on 14:16


 
Um Filme Falado

Atravessei a cidade para ir ao Nun’Álvares ver “Um filme falado”. Domingo à tarde, o centro vazio, a Boavista com algum movimento junto aos centos comerciais. Paro junto à Duvália para tomar um café. Reparo que já há bolo-rei e decido comprar um. É o empregado que escolhe, olha para mim e pergunta-me se gosto de bolo-rei. Respondo que sim. “Então entre, vou buscar-lhe uma fatia. Acabei de o provar e ainda está morno e delicioso”, foi mais ou menos o que ele disse. E enquanto ele fazia o embrulho, eu comi aquela fatia do melhor bolo-rei da cidade. Atrás do balcão, com um sorriso na cara, a tentar medir o prazer dos melhores presentes, doces e inesperados.

Depois fui ver o filme e gostei. Gravei o último plano na memória: o espanto de Malkovich perante o inexplicável, a voz de Irene Papas. Acaba-se a chorar. Podia falar ainda do jantar babélico, ou das mulheres, que são todas muito belas, ou daquele plano do navio – creio que ao largo de Ceuta – e da onda que rebenta, do vestido azul no hotel no Egipto, do padre ortodoxo, mas não, não digo nada. Apenas a vontade de reler as palavras de Bénard da Costa.

posted by Anónimo on 14:09


 
And Death Shall Have No Dominion

And death shall have no dominion.
Dead men naked they shall be one
With the man in the wind and the west moon;
When their bones are picked clean and the clean bones gone,
They shall have stars at elbow and foot;
Though they go mad they shall be sane,
Though they sink through the sea they shall rise again;
Though lovers be lost love shall not;
And death shall have no dominion.

And death shall have no dominion.
Under the windings of the sea
They lying long shall not die windily;
Twisting on racks when sinews give way,
Strapped to a wheel, yet they shall not break;
Faith in their hands shall snap in two,
And the unicorn evils run them through;
Split all ends up they shan't crack;
And death shall have no dominion.

And death shall have no dominion.
No more may gulls cry at their ears
Or waves break loud on the seashores;
Where blew a flower may a flower no more
Lift its head to the blows of the rain;
Through they be mad and dead as nails,
Heads of the characters hammer through daisies;
Break in the sun till the sun breaks down,
And death shall have no dominion.

Dylan Thomas

posted by camponesa pragmática on 10:29


segunda-feira, outubro 27, 2003  
tive que voltar a ler toda a poesia desde o princípio do mundo

A culpa é do Manuel António Pina. Um dia ele disse que a poesia ia acabar e eu acreditei. Pedi então para me mostrarem a poesia desde o princípio do mundo. Pedi à Zazie, ao Crítico, à Ana, à Lídia, ao Ivan, ao Luís, ao Rui, ao José Manuel, ao Mário e ao Alexandre.

A poesia vai acabar? Uma pergunta numa cabeça / Como uma coroa de espinhos

Agradeço a todos que participaram. Ao Mário agradeço ainda as belas fotografias.

Espero que gostem tanto quanto eu desta antologia. Vou ali buscar umas garrafas de champanhe, deixo-vos com Louis Armstrong e Duke Ellington, I’m just a lucky so and so, a festa já começou…

posted by Anónimo on 21:07


 
A process in the weather of the heart

A process in the weather of the heart
Turns damp to dry; the golden shot
Storms in the freezing tomb.
A weather in the quarter of the veins
Turns night to day; blood in their suns
Lights up the living worm.

A process in the eye forwarns
The bones of blindness; and the womb
Drives in a death as life leaks out.

A darkness in the weather of the eye
Is half its light; the fathomed sea
Breaks on unangled land.
The seed that makes a forest of the loin
Forks half its fruit; and half drops down,
Slow in a sleeping wind.

A weather in the flesh and bone
Is damp and dry; the quick and dead
Move like two ghosts before the eye.

A process in the weather of the world
Turns ghost to ghost; each mothered child
Sits in their double shade.
A process blows the moon into the sun,
Pulls down the shabby curtains of the skin;
And the heart gives up its dead.

Dylan Thomas


© Cartier-Bresson

posted by camponesa pragmática on 20:17


 

© Raymond Depardon

posted by camponesa pragmática on 16:51


 
Sometimes The Sky's Too Bright

Sometimes the sky's too bright,
Or has too many clouds or birds,
And far away's too sharp a sun
To nourish thinking of him.
Why is my hand too blunt
To cut in front of me
My horrid images for me,
Of over-fruitful smiles,
The weightless touching of the lip
I wish to know
I cannot lift, but can,
The creature with the angel's face
Who tells me hurt,
And sees my body go
Down into misery?
No stopping. Put the smile
Where tears have come to dry.
The angel's hurt is left;
His telling burns.

Sometimes a woman's heart has salt,
Or too much blood;
I tear her breast,
And see the blood is mine,
Flowing from her, but mine,
And then I think
Perhaps the sky's too bright;
And watch my hand,
But do not follow it,
And feel the pain it gives,
But do not ache.

Dylan Thomas

posted by camponesa pragmática on 16:51


 

© Martin Parr

posted by camponesa pragmática on 16:15


 
Wuthering Heights

The horizons ring me like faggots,
Tilted and disparate, and always unstable.
Touched by a match, they might warm me,
And their fine lines singe
The air to orange
Before the distances they pin evaporate,
Weighting the pale sky with a soldier color.
But they only dissolve and dissolve
Like a series of promises, as I step forward.

There is no life higher than the grasstops
Or the hearts of sheep, and the wind
Pours by like destiny, bending
Everything in one direction.
I can feel it trying
To funnel my heat away.
If I pay the roots of the heather
Too close attention, they will invite me
To whiten my bones among them.

The sheep know where they are,
Browsing in their dirty wool-clouds,
Gray as the weather.
The black slots of their pupils take me in.
It is like being mailed into space,
A thin, silly message.
They stand about in grandmotherly disguise,
All wig curls and yellow teeth
And hard, marbly baas.

I come to wheel ruts, and water
Limpid as the solitudes
That flee through my fingers.
Hollow doorsteps go from grass to grass;
Lintel and sill have unhinged themselves.
Of people and the air only
Remembers a few odd syllables.
It rehearses them moaningly:
Black stone, black stone.

The sky leans on me, me, the one upright
Among all horizontals.
The grass is beating its head distractedly.
It is too delicate
For a life in such company;
Darkness terrifies it.
Now, in valleys narrow
And black as purses, the house lights
Gleam like small change.

Sylvia Plath


© Marc Riboud

posted by camponesa pragmática on 15:20


 
Poem in October

It was my thirtieth year to heaven
Woke to my hearing from harbour and neighbour wood
And the mussel pooled and the heron
Priested shore
The morning beckon
With water praying and call of seagull and rook
And the knock of sailing boats on the net webbed wall
Myself to set foot
That second
In the still sleeping town and set forth.

My birthday began with the water-
Birds and the birds of the winged trees flying my name
Above the farms and the white horses
And I rose
In rainy autumn
And walked abroad in a shower of all my days.
High tide and the heron dived when I took the road
Over the border
And the gates
Of the town closed as the town awoke.

A springful of larks in a rolling
Cloud and the roadside bushes brimming with whistling
Blackbirds and the sun of October
Summery
On the hill's shoulder,
Here were fond climates and sweet singers suddenly
Come in the morning where I wandered and listened
To the rain wringing
Wind blow cold
In the wood faraway under me.

Pale rain over the dwindling harbour
And over the sea wet church the size of a snail
With its horns through mist and the castle
Brown as owls
But all the gardens
Of spring and summer were blooming in the tall tales
Beyond the border and under the lark full cloud
There I could marvel
My birthday
Away but the weather turned around.

It turned away from the blithe country
And down the other air and the blue altered sky
Streamed again a wonder of summer
With apples
Pears and red currants
And I saw in the turning so clearly a child's
Forgotten morning when he walked with his mother
Through the parables of sun light
And the legends of the green chapels

And the twice told fields of infancy
That his tears burned my cheeks and his heart moved in mine.
These were the woods the river and sea
Where a boy
In the listening
Summertime of the dead whispered the truth of his joy
To the trees and the stones and the fish in the tide.
And the mystery
Sang alive
Still in the water and singingbirds.

And there could I marvel my birthday
Away but the weather turned around. And the true
Joy of the long dead child sang burning
In the sun.
It was my thirtieth
Year to heaven stood there then in the summer noon
Though the town below lay leaved with October blood.
O may my heart's truth
Still be sung
On this high hill in a year's turning.

Dylan Thomas


© Robert Capa

posted by camponesa pragmática on 14:36


 

© André Dahmer

posted by camponesa pragmática on 12:43


 


Depois de alguns minutos a tentar encontrar o horário das sessões num jornal de meados de Setembro, que por engano foi parar à pilha dos jornais do fim-de-semana, lá fomos para o Residence ver o filme e ouvir o metro passar. Ainda bem que vi. Mas não me sinto entusiasmada. Detestei sete décimos do filme. Os violinos constantes suavizaram esse mal estar... de quem é aquela música? Senhores ao meu lado que quiseram, porque quiseram, sair antes do fim do genérico não me deixaram ler essa informação. Alguns acordes lembraram-me, não vaga mas intensamente, partes do Inverno de Vivaldi. A matança final salvou-me de detestar completamente o filme, bem como o pormenor do cão. Gostei bastante do genérico final, a música e todas aquelas imagens. A banda sonora é definitivamente para ter em casa. De resto, compreendo agora por que é que a crítica tem sido de extremos. Não posso dizer que não gostei... melhor, não posso dizer que me agradaria ter perdido este filme, mas vê-lo irritou-me solenemente. Senti-me manipulada.

posted by camponesa pragmática on 11:22


 
each man must realize
that it can all disappear very
quickly:
the cat,
the woman,
the job,
the front tire,
the bed,
the walls,
the room;
all our necessities
including love,
rest on foundations of sand -
and any given cause,
no matter how unrelated:
the death of a boy in Hong Kong
or a blizzard in Omaha ...
can serve as your undoing.
all your chinaware crashing to the
kitchen floor, your girl will enter
and you'll be standing,
drunk,
in the center of it and she'll ask:
my god, what's the matter?
and you'll answer: I don't know,
I don't know ...

Charles Bukowsky

posted by camponesa pragmática on 10:28


domingo, outubro 26, 2003  

posted by camponesa pragmática on 22:12


 
Por Martin Parr, converto-me!

O Reina Sofia tem em exposição a retrospectiva "Martin Parr: Fotografías 1971-2000". Soube há poucos minutos. Euforia, alegria, reboliço, entusiasmo, a poucos dias de mini-férias em Madrid. Deus existe. Deus é Pai. Deus não dorme.


© Martin Parr

posted by camponesa pragmática on 20:57


 


É UM FILME FALADO por ser falado em várias línguas. Porque cada uma dessas línguas representa um contributo dado para a evolução da civilização ocidental desde os seus primórdios, o que é, afinal, um modo sub-reptício de tocar o fundamental deste filme falado.
Isto ao longo de uma viagem num navio de recreio, em que uma professora de História vai pelo Mediterrâneo com a sua filha, uma menina, ao encontro do seu marido, aviador civil, para fazerem férias, no outro lado do mundo - Bombaim.
É também um pretexto para uma homenagem a três grandes actrizes de teatro e de cinema que atravessaram uma longa e gloriosa vida artística, e que dão, através das personagens que representam, uma visão crítica desta mesma civilização, em vulgar conversa à mesa, com o experiente comandante do navio que as conduz nesta nova viagem.


Manoel de Oliveira

Passo os olhos pelo jornal, parece que os críticos dizem mal, o João Bénard da Costa diz bem, como só ele sabe.
O vento da morte (vento do norte) soprou mais forte, ao contrário do que pediu a belíssima canção de Irene Papas. Ficou-nos a beleza de Outrora? No filme ficou. Do navio, a última imagem é a de Copérnico, o primeiro a dizer-nos que a Terra não é o centro do Universo. E é para outros universos que "Um Filme Falado" nos convoca. Quem, neles, falará a nossa fala? Alguém nos ouve? Alguém nos vê?

Vou ao Mediterrâneo e volto já.

posted by Anónimo on 15:43


 


Na praia lá da Boa Nova, um dia,
Edifiquei (foi esse o grande mal)
Alto castelo, o que é a phantasia,
todo de lápis-lazúli e coral!


É desolador ir à Boa Nova. Tudo cheio de pó, lixo, maus cheiros.
Perdidos na paisagem, restam o farol, a pequena capela, a casa de chá com o telhado mais lindo que conheço, e o mar que, apesar de sujo, é sempre o mar. Tento imaginar como seria, há décadas atrás, no tempo do António Nobre. Ou então, como poderia ser, já amanhã...

posted by Anónimo on 15:23


 
pinholeday.org



"A Brownie hawkeye converted to a pinhole camera by my friend Guy. Hand-held for three seconds. Was it the camera? Suddenly I was back in the fifties. My father was taking the photograph."

copyright © 2001 Carl Valiquet

posted by camponesa pragmática on 12:36


 
de manhã: o sol, o gato e as laranjas

Quando o tempo está encoberto e frio o gato prefere a manta, mas se está alguém em casa prefere o colo. Se está sol porém, o gato não liga a ninguém. Pede por favor para virarem a cadeira para a varanda, lava-se e adormece. O gato não é nada parvo.

Comi as primeiras laranjas. Ainda um bocado ácidas, com uma cor muito clara. Lembro-me das caixas que o meu pai me mandava do algarve. Iamos buscá-las a Campanhã e eram muito doces. Benditas laranjas.



posted by Anónimo on 11:18


 


Quando o site da Magnum (este, o site decente) abriu tinha, dizia-se, 200.000 fotografias online. A esperança de vida de uma Nikon Fm2 é, diz-se, de 100.000 fotografias. É uma esperança de vida muito maior que a humana, mesmo para quem se desunhe a fotografar. São muitas fotografias. Há uma ansiedade. Quanto ao site da Magnum, já tentei começar em A e acabar em Z mas não dá. Há que saltitar, como nos escritores, há que ser minimamente nervoso. A Cristina deixou fotografias de um francês que eu desconhecia. Raymond Depardon. Fui ver mais. Para já, vi só "La ferme du Garet" (espreitei todos os outros grupos; a primeira fotografia de "Désert, un homme sans l'Occident" é esmagadora, inverosímil, muito bela, preciso de outro fim-de-semana só para isso, Cris). Gostei muito deste olhar. Que belo encontro :)



Mais no Boogie.

posted by camponesa pragmática on 03:01


sábado, outubro 25, 2003  
Troveja em Lisboa e das alturas celestes São Pedro exercita flashadas com um gigantesco Metz. A constipação recente trouxe para a salinha do computador o aquecedor, fechou as portas, depositou um cobertor no braço da cadeira. Espalhou-se pela casa o cheiro do café acabado de fazer, do saco do Expresso saíram velhas e novas doenças do mundo, Jacinta cantou o seu tributo a Bessie Smith, a compilação indiscreta de Primavera recriou os dias do sol crescente, Nietzsche jorrou a sua implacável lucidez, sempre necessária.

Abrimos o livro do Bosch, folheámo-lo devagar e por fim observámos o Jardim das Delícias que, dentro de dias, será um pouco mais nosso. Desarrumámos mais cds. O leitor aquieta-se aqui:



Agora, reunião de condomínio - o muito esperado programa deste sábado à noite.

posted by camponesa pragmática on 21:19


 
sob escuta



Been lying awake all night trying to figure out
It’s that old song – keeps running around in my head


Lhasa, "The Living Road", em pré-escuta

posted by Anónimo on 15:50


 
boletim metereológico: letra i


© Matthias Hartmann

Chove, está frio mas o pior nem é isso, o pior é o que se perde, o pior é o que não se encontra,


Não olhes em volta.
Ata os sapatos.
Recolhe os cães.
Lança os peixes ao mar.
Extingue os tremoceiros!

Vêm aí tempos difíceis.


Ingeborg Bachmann

posted by Anónimo on 15:30


 


Beacon, de Christoph Girardet e Matthias Müller


Dieci minuti alla finne, de Daniele Ciprí e Franco Maresco


Remains, de Sandro Aguilar

às 00h50 na rtp 2

posted by Anónimo on 15:25


 
Coimbra

a.
O Miguel leva-nos a Coimbra.
Agora que Coimbra se enche novamente de festas de estudantes e latadas de vária ordem, lembrei-me de vos mandar um soneto belíssimo do Fernando Assis Pacheco, que nos mostra um lado indiscutivelmente mais bonito desta minha cidade.

O poema (das “Variações em Sousa”) intitula-se:


LOUVOR DO BAIRRO DOS OLIVAIS

Não tive nunca nada a ver com as
guitarras estudantes: eu vivia
num lento bairro da periferia
onde a chuva apagava os passos das

pessoas de regresso a suas casas
fazia compras na mercearia
e algum livro mais forte que então lia
já era para mim como um par d'asas

amigos vinham ver-me que eu servia
de ponche ou de Madeira malvasia
para soltar as línguas livremente

um que bramava um outro que dormia
eu abria as janelas e só dizia
ao menos estas ruas têm gente


b.
Como é que se trabalha em Portugal? As respostas estão aqui.
Mais uma exposição a não perder, no CAV. Enquanto os Encontros não regressam.

c.

Paulo Nozolino





Bernard Plossu

Agradecimentos a José António Bandeirinha, por ter estas belas fotografias on line.


posted by Anónimo on 14:48


 
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