É UM FILME FALADO por ser falado em várias línguas. Porque cada uma dessas línguas representa um contributo dado para a evolução da civilização ocidental desde os seus primórdios, o que é, afinal, um modo sub-reptício de tocar o fundamental deste filme falado.
Isto ao longo de uma viagem num navio de recreio, em que uma professora de História vai pelo Mediterrâneo com a sua filha, uma menina, ao encontro do seu marido, aviador civil, para fazerem férias, no outro lado do mundo - Bombaim.
É também um pretexto para uma homenagem a três grandes actrizes de teatro e de cinema que atravessaram uma longa e gloriosa vida artística, e que dão, através das personagens que representam, uma visão crítica desta mesma civilização, em vulgar conversa à mesa, com o experiente comandante do navio que as conduz nesta nova viagem.
Manoel de Oliveira
Passo os olhos pelo jornal, parece que os críticos dizem mal, o João Bénard da Costa diz bem, como só ele sabe.
O vento da morte (vento do norte) soprou mais forte, ao contrário do que pediu a belíssima canção de Irene Papas. Ficou-nos a beleza de Outrora? No filme ficou. Do navio, a última imagem é a de Copérnico, o primeiro a dizer-nos que a Terra não é o centro do Universo. E é para outros universos que "Um Filme Falado" nos convoca. Quem, neles, falará a nossa fala? Alguém nos ouve? Alguém nos vê?