quarta-feira, outubro 29, 2003 \o/ Viva o Grande Martin Parr!
Odeio fazer malas, mochilas. E a lista prévia. Uma benção indiscutível do "Dogville" é que me pôs a ouvir Vivaldi como não acontecia há largos meses. Não existe uma capa decente do disco na internet, mas Álvaro Cassuto dirige a Nova Filarmonia Portuguesa. Soa agora o Outono das Quatro Estações e já perdi a conta às voltas que o cd deu desde que cheguei a casa. E não me canso. Estes concertos são meus amigos desde a infância. A música guarda referências maravilhosas. Lembro-me de uma viagem de trabalho a um país estranho, pela primeira vez, numa Primavera fria. Eu sentia-me triste porque deixara em Lisboa a luz cada vez mais bonita de Março. Sentia o peso de uma responsabilidade nova e a ansiedade de não saber como as coisas iriam correr. Na primeira noite vi-me fechada num hotel tão impessoal quanto grotesco, de andares iguais e corredores desertos, o calor atroz do ar condicionado, os vidros tão duplos ou triplos que nem o vento se ouvia. Do mar do Norte, largo, agreste e turbulento, que me encantou de imediato, e que me faria mais tarde amar sem regresso as pinturas de Mesdag, nem se ouvia um rumor que fosse. Mas, pormenor, havia um leitor de cds nesse quarto, havia cds e, entre esses cds, alguns concertos como este, que conheço desde sempre. Dormi em casa, dormi na música. Agora Vivaldi repete-se e eu não me importo. Não sei o que é que é mais antigo, se Vivaldi, se eu não gostar de fazer malas. Se não tivesse um blog, provavelmente, ia aparar a relva só para adiar esta cruz mais um bocado.