quarta-feira, abril 30, 2003
Recebi há pouco este e-mail. Por favor circulem esta mensagem! E não penses que não serve de nada, Safiya salvou-se!
AMINA VAI SER LAPIDADA...PRECISA DA SUA AJUDA
Amina vai ser lapidada à morte quando deixar de amamentar seu filho. Depois será enterrada até ao pescoço e em seguida apedrejada, a menos que um dilúvio de condenação faça com que as autoridades nigerianas voltem atrás na decisão. Através de uma campanha de assinaturas como esta salvou-se uma outra mulher na mesma situação.
Não se perde nada, mas ganha-se no sentido humanitário. Não duvidem disto e façam-no por favor. Safiya também seria lapidada porque teve um filho depois de divorciada. A Amnistia Internacional pediu apoio através da nossa assinatura na sua página web.
Parece que se receberam menos assinaturas desta vez. Favor façam circular esta mensagem.
Quem não comprou a revista "Construções portuárias", perdeu um conjunto de poemas de Alejandra Pizarnik, uma poeta argentina, "umas das principais referências da poesia argentina e de língua espanhola da segunda metade do séc XX". De qualquer modo, há agora a oportunidade de descobrir a poesia da autora, porque saiu uma "Antologia Poética", pela editora O Correio dos Navios, numa edição bilingue e com a tradução de Alberto Augusto Miranda.
Quanto aos dados biográficos da poeta, posso dizer que Alejandra Pizarnik nasceu em 1936. Era filha de imigrantes judeus russos e estudou filosofia e letras em Buenos Aires. "La tierra más ajena" é o seu livro primeiro publicado,em 1955. Estudou história das religiões e literatura em Paris, onde viveu entre 1960 e 1964. Antonin Artaud, Yves Bonnefoy e Henri Michaux são os autores que traduziu. De volta a Buenos Aires, publica "Los trabajos y las noches" (1965), "Extracción de la piedra de la locura" (1968) e "El infierno musical" (1971). Suicidou-se em 1972. Ponto final.
Alejandra Pizarnik escreve desde da solidão, da ausência, e por isso o seu suicídio se converte em linguagem. Suicida-se em palavras. Silêncio, noite, vento, pássaros, jardim são algumas das palavras chaves que abrem a casa da solidão, do amor, do medo, da morte. Casas dentro de uma grande casa escura, a da noite. ( "Caes una vez más por la ranura de la noche" diz um verso de Olga Orozco.) A noite que é o "lugar tão aberto", e onde "só a música do sangue/assegura residência". E é na noite, com o seu nome - título de um breve poema ("alejandra alejandra / por baixo estou eu / alejandra")- que pode dizer: "choro debaixo do meu nome". Habita na noite, mas de "olhos abertos". E é nessa "obscuridad abierta" que :"Alguém mede soluçando / a extensão da aurora. / Alguém apunhala a almofada / em busca do seu impossível / lugar de repouso". Mas o que os olhos interrogam não tem resposta: "No meu olhar perdi tudo / É tão longe pedir. Tão perto saber que não há".
"Explicar com palavras deste mundo / que partiu de mim um barco que me levava" são, certamente, os versos que mais dizem sobre toda a poesia de Pizarnik. A poeta procurou de um modo incessante a linguagem pura, o poema perfeito para explicar. As palavras que explicassem que um barco a leva pra outro mundo,e ao soltar-se deste mundo, das amarras da "jaula" da noite, a libertasse do porto que é o seu nome, Alejandra, verbo encarnado.
Não me vou alongar muito mais, o que se segue são alguns poemas da antologia.
Poema
Eleges o lugar da ferida
onde falamos o nosso silêncio
Fazes da minha vida
esta cerimónia demasiado pura.
Festa
Desdobrei a minha orfandade
sobre a mesa, como um mapa.
Desenhei o meu itinerário
até ao meu lugar ao vento.
Os que chegam não me encontram.
Os que espero não existem.
E bebi licores furiosos
para transmutar os rostos
num anjo, em copos vazios.
Cold in hand blues
e o que é que vais dizer
vou dizer apenas algo
e o que é que vais fazer
vou ocultar-me na linguagem
e porquê
tenho medo
Não,
as palavras
não fazem amor
fazem ausência
Se digo água, beberei?
Se digo pão, comerei?
(excerto de "En esta noche en este mundo")
Construiste a tua casa
emplumaste os teus pássaros
golpeaste o vento
com os teus próprios ossos
Carlos Bica apresenta logo, na FNAC Norteshopping, o seu novo disco.
Carlos Bica contrabaixo | Jim Black bateria | Frank Möbus guitarra
No site jazzportugal há uma crítica sobre o disco. É assinada por Leonel Santos e termina assim: “What Have They Done To My Song” é dos discos mais excitantes que me foi dado ouvir desde há muito tempo. Eu, que tenho o Diz, nos meus preferidos, acredito.
posted by Anónimo on 16:14
Paris Jazz Clubs (2)
Stefano Di Battista
Au Sunset: Louis Winsberg "Jaleos" Un savant mélange de jazz, de flamenco et de musique indienne. Le métissage musical à son meilleur.
Au Sunside: Stefano Di Battista Quartet Le saxophoniste Stefano Di Battista revisite l'esprit des anciens et écrit une nouvelle page de l'histoire du jazz.
Au Baiser Salé: Rebekka Bakken & Julia Hülsmann Trio Julia Hülsmann, la plus remarquable pianiste de la scène allemande contemporaine, et la chanteuse-compositrice Rebekka Bakken proposent un jazz basé sur l'œuvre du poète E. E. Cummings.
Au Duc des Lombards: Le Sacre du Tympan de Fred Pallem La formation la plus détonante du moment : dix-huit musiciens dirigés par le contrebassiste-compositeur Fred Pallem, qui bouleversent les règles établies.
Folk, musiques exotiques, rock et free jazz sont revisités. Résultat: un jazz déjanté dont on ne saurait se priver.
Persepolis é uma autobiografia em b.d, onde a autora iraniana, Marjane Satrapi ( a única numa país onde não há b.d! ) revolve as suas memórias de infância. Contando com lucidez, mas inocência, a revolução religiosa do seu país.
O ciclo Obra Aberta apresenta um conjunto de edifícios ou territórios urbanizados em forma de visita conduzida por um arquitecto e dirigida a um público não especializado em Arquitectura. Este ciclo abrange as várias temáticas apresentadas na programação do Ano Nacional da Arquitectura e procura encontrar exemplos em todos os distritos da região Norte do país. A escolha das obras, ecléctica, não privilegia um olhar disciplinar sistematizado, permitindo antes visitar exemplos mais escondidos do olhar do público apelando à exploração de lugares habitualmente inacessíveis e espaços privados.
As visitas estão numeradas pela sua sequência e identificam-se pelo tipo de condução (circuito ou obra) e pelo tema em que se inserem. A inscrição prévia poderá ser feita por telefone, fax ou correio na OASRN, nas três semanas anteriores à data da visita.
O programa é muito aliciante. A próxima visita é no dia 10 de Maio (sábado) ao centro de Produção DST em Braga e será conduzida pelo Arquitecto José Manuel Carvalho Araújo.
posted by Anónimo on 13:59
Prefiro o Silêncio, do Didier Comès, a preto e branco
Sean Smith spent four months in Iraq documenting the run-up to the war, and recording the conflict. Here he chooses key images from his recent assignment and tells the stories behind the photographs.
Hotel Babylon wedding Thursday night was the big night. Our hotel lifts, which barely worked, ground to a halt under the number of startled-looking brides being taken upstairs for one night of honeymoon
posted by Anónimo on 12:07
let’s dance
“I arrived on a Sunday and went to the Villa des Glycines [to see the dancers]. I wanted to get my impressions on paper, but since all the artists' materials shops were closed I was obliged to go to a grocer and ask him to sell me wrapping paper on which to draw. The paper has since taken on the very beautiful gray tint and pearly quality of antique Japanese silks. I draw them with a pencil in my hand and the paper on my knees, enchanted by the beauty and character of their choric dances. The friezes of Angkor were coming to life before my very eyes... I loved these Cambodian girls so much that I didn't know how to express my gratitude for the royal honor they had shown me in dancing and posing for me. I went to the Nouvelles Galeries to buy a basket of toys for them, and these divine children who dance for the gods hardly knew how to repay me for the happiness I had given them. They even talked about taking me with them.”
Rodin
Um misteriosa Coisa, disse o e.e. cummings* (1995) «o que ele disse de facto sobre a Josephine: "uma misteriosa Coisa, nem primitiva nem civilizada, ou para além do tempo, no sentido em que a emoção está para além da aritmética.»
Perhaps she could dance first and think afterwards (1991) «A minha relação com a dança gira à volta das seguinte questões: o que é que a dança diz? O que é que eu posso dizer com a dança? O que é que eu estou a dizer quando estou a dançar?»
Estes e outros trabalhos desta coreógrafa tiveram e têm uma agenda cheia fora do nosso país.
Clara Andermatt Tem apresentado o espectáculo de dança, "Polaroid", por vários locais do país. No dia 18 de Maio apresentará este trabalho no Rivoli (Porto).
Polaroid
Um dos pontos de partida deste espectáculo é a banda desenhada O INFERNO de Mark Harrison / Gordon Rennie.
“ Dos 0 aos 1850 km/ por hora em menos de 3 segundos, feridas recentemente cicatrizadas reabrem-se sob a força de inúmeras gravidades.
Continuámos até aos 3564kpm, o número mágico que nunca ninguém soube explicar
e o terror apodera-se de nós.
Ser disparado direito a uma brecha interdimensional
a uma velocidade suficiente para esmagar ossos e rebentar veias.
Ser vomitado de uma realidade e excretado para outra passando por um ponto onde todas as partículas do corpo são separadas provocando uma dor indescritível.
A loucura em segundos.
Nada nos podia preparar para esta realidade.
Nunca nos disseram nada sobre como tudo se altera quando não estamos a olhar.
Para os sobreviventes é apenas uma iniciação às regras deste lugar.
Dá-se a redução drástica da velocidade no momento do embate,
e o corpo parece implodir.
Viver em bando é a única maneira de sobreviver.”
(excerto de “O Inferno” de Mark Harrison / Gordon Rennie )
Quem viu o filme "Hable con Ella" de Pedro Almodóvar, certamente não esqueceu as primeiras e as últimas cenas do filme. Nas primeiras, vê-se um pequeno fragmento da peça-bailado, "Café Müller", da coreógrafa alemã, Pina Bausch. E nas últimas, a peça-bailado, "Masurca Fogo" da mesma coreógrafa. São duas peças que abrem e fecham o círculo da história do filme.
Em "Café Müller", o corpo escreve o lado "catastrófico" da vida. Nesta peça, Pina Bausch (que aparece dançando, de olhos fechados,sem um ponto fixo, desarticulada) coreograficamente encena o que resta do lado "catastrófico" da vida, que é a incomunicabilidade, a desarticulação entre as pessoas. A desarticulação também se dá no próprio corpo, pelos movimentos bruscos e pelos movimentos inconsequentes. Aqui, os bailarinos-actores não têm um sentido, um projecto, um destino. É um movimento absurdo. É a vida, no seu lado "catastrófico".
"Masurca Fogo"
Aquando da sua passagem por Lisboa, pra apresentar o espectáculo "Água", uma coreografia que presta homenagem ao Brasil, onde debaixo do som de Tom Waits, P.J. Harvey, Tom Jobim, entre outros, são desfiladas imagens que Pina Bausch "comeu" nos lugares de Brasil (São Paulo, Rio e Baía), a coreógrafa alemã lá respondeu algumas perguntas (coisa de que ela não gosta. não gosta de explicar a sua obra) pra a imprensa.
Uma das perguntas foi esta:
"Existe uma dança que é mais feliz que outra?"
"Não sei responder se há uma dança mais feliz que outra. O que é maravilhoso na dança é que é sempre "no momento" e não existe mais nenhum momento quando se está naquele. Na dança não há ontem nem amanhã, só há dança. É fabulosa, é sempre única, não se pode repetir. Nunca se sabe o que poderá ser reconstituído de uma apresentação de dança. Extraordinário é o teatro, o público, as pessoas sobre o palco, a música, mas é tudo único de cada vez."
Outra:
"O que é que procura num bailarino?"
"É muito complicado de dizer. (...) Em primeiro lugar, têm de ter necessidade de falar de si próprios, de dizer o quanto amam as pessoas. Têm de sentir de uma forma genuína- não sentir aquilo que pedimos que sintam. Têm de querer falar, mesmo que não o saibam ainda. Talvez a maioria descubra essa urgência de comunicar, enquanto trabalhamos, enquanto experimentamos."
Chamo-me Pedro, sou Silveira e sou
também Mendonça: um tanto duro, como
Pedro é pedra; picante agudo assomo
de silva dos silvedos - não me dou
Raiz flamenga, já se sabe; e um gomo,
no fruto, castelhano. E assim bem pou-
co, pois, que doce me passara à ou-
tra pátria (língua?) que me coube e tomo.
Ainda Henriques (alemão? polaco?)
e outros cognomes mais: espelho opaco
de errâncias várias, que mal sei (Desfaço,
talvez por isso, no que faço.) Ilhéu
da casca até ao cerne - e lá vou eu,
sem ambição maior que o livre Espaço.
«BAR A BARRACA TEATRO CINEARTE
LARGO DE SANTOS, 2, LISBOA
Durante as últimas semanas temos sido vítimas de raros acontecimentos que, possivelmente, irão influenciar o curso das nossas jovens vidas, a saber: A presença nos nossos ecrãs de Rui Bandeira, Carlos Ribeiro, Malato, Maya, Cristina Caras Lindas, Rita Stock, Fernanda Freitas, Fernando Rocha, Jorge Gabriel, Marisa Cruz, Rui Unas, Cristina Candeias, Maria João Simões, e outras dezenas de alimárias sem brilho nem talento e, mais grave, sem capacidade para fazer qualquer ser pensante sonhar. Pois bem, depois de meses de silêncio, sentimo-nos no direito de protestar e dizer que a vida precisa de um bocadinho de sonho, uma ponte para fora da realidade. Nada de muito extraordinário, mínimas gotas de luz, leia-se inventividade, rasgo, humor, beleza que não venha em embalagens recicláveis.
Pedimo-vos pois que, além de nos visitarem com o intuito claro do enfrascanço, protestem também contra a mesmice e a falta de gosto que impera neste recanto europeu. Haverá forma? Pensamos que sim. Mandem-nos sugestões, ordens, gritos, reclamações. Mas mandem qualquer coisa, para nós ou para a DECO, que isto assim não vai lá!
Segue abaixo a programação desta semana:
[PROGRAMAÇÃO DE 28 DE ABRIL A 4 DE MAIO]
Terça-feira – 23.07h – POESIA com Colectivo Muzz Eu Bárbara FE, Joana ME e Pedro AL, compõem o colectivo Muzz Eu. Este trio, habituado a grandes triunfos em palcos estrangeiros e europeus, apresenta-se pela primeira vez no nosso bar com o intuito de revolucionar a declamação de poesia em solo lusitano. As suas influências, que vão de Demis Russos a Laurinda Alves, passando por Chibanga e Helena Rubinstein, são óbvias, assim como o seu talento. Venham comprovar a qualidade e a demência destes três jovens numa noite para literatos e gatos e ratos.
Quarta-feira – 23.19h – JAZZ com o Trio de António Palma O jazz é, mais que um estilo musical que se divide em dezenas de sub-estilos e estiletes, uma forma de vida. Aliás, a esse respeito Amália, confessa adepta de Jazz, escreveu: Que estranha forma de vida… António Palma, verdadeira ave canora da arte da corrediça, e seu piano amestrado, regressa ao nosso estaminé com sua indomável trupe para um serão que se prevê antológico e deontológico. A noite em que finalmente a revelação será feita… Irá António desfazer todas as dúvidas sobre a autoria do hino da Juve-Leo? Acreditamos que sim.
Quinta-feira – 00.14h – Canções de Music-Hall com Petra & Georgeous Petra, com a sua voz de cetim e as suas interpretações fleumáticas, e Georgeous, esse grego que tem posto o mulherio da Assembleia da Republica em alvoroço, são já uma presença indispensável no nosso palco. Espera-se casa cheia, repleta de deputadas e secretárias de estado querendo descobrir que mistérios esconde o grego. No mais, voz e piano numa simbiose em que a perfeição não é um sonho. Um serão dionisíaco.
Domingo – 20.04h – La Milonga de Solange & Alejandro (com aula gratuita) Ao centro da sala vê-se um quadro desolador: Solange esperando e desesperando por Alejandro, que há três semanas foi comprar cigarros à Argentina y nunca más volvió… Este seria um quadro digno da dramaticidade pungente tão típica do tango. Pois bem, a acreditar nas últimas notícias, esta imagem será impossível de vislumbrar. Alejandro regressa ao nosso convívio e, com a esguia e esfuziante Solange, dará uma prova cabal de que o seu talento é infinito e que a mialgia nos trapézios é coisa do passado. Una noche caliente!, como costuma dizer-se em Huelva.
Entrevistas mínimas ou O que é Feito de si: Bar A Barraca: Como anda, amigo Paulo, que nunca mais se soube de si…?
Paulo Bragança: Olhe, tenho andando ocupado em compras. Ando a ver se consigo reuinir uns trapinhos para fazer concorrência à Mísia e à Wanda Stuart.
Bar A Barraca: E então a música, já se deixou disso?
Paulo Bragança: Por agora, sim. Vou tentar montar uma boutique para um segmento de mercado que está esquecido entre nós.
Bar A Barraca: E qual é esse segmento?
Paulo Bragança: Pessoas como eu, pessoas simples. Pessoas góticas, fadistas, magrinhas ou amaricadas. Há muito por fazer nessa área.
Bar A Barraca: Ó Bragança, não tenha dúvidas.
Slogan da semana: Fazei contas, fazei contas, mas de sumir, que de somar é impossível.
(Manuela Ferreira Leite)
BAR A BARRACA – ADMIRÁVEL EM TERMOS DE PÉ DIREITO
Vasco e Changuito (Reflorestação de Interiores)
Esta mensagem segue para quem a solicitou e está coberta de razão. No entanto, as mentes perversas ou com ruindade cerebral poderão receber esta missiva como um filho não desejado. Para essas, e como prova de que não somos partidários do Spam, achamo-lo uma espécie de peste negra dos dias da cibernética, aconselhamos respostas cortantes e esclarecedoras exigindo não mais receber comunicação deste grandioso bar para o seguinte endereço: bar.a.barraca@netcabo.pt
«É caso para enlouquecer, Guilherme, ver essas criaturas que vagueiam pelo mundo sem sentir coisa alguma do que a outras faz palpitar o coração.
Já te descrevi aquelas nogueiras, sob as quais eu me sentara com Carlota, em casa do presbítero de S... aquelas lindas nogueiras, que tanto prazer me davam e que de tanta frescura enchiam o presbitério. Recordações vivas daqueles venerados sacerdotes que, tantos anos antes, ali as tinham plantado! O mestre-escola disse-nos algumas vezes o nome de um deles, que lhe fora ensinado pelo avô. Era – dizia ele – um homem respeitável. Assim devia ser, e a sua memória estava para mim consagrada naquelas árvores. Pois foi com os olhos cheios de lágrimas que o mestre-escola me contou ontem que as tinham deitado abaixo.
Deitá-las abaixo! Fiquei furioso! Se apanhasse ali o patife que lhes deu a primeira machadada, matava-o! Eu, que seria capaz de me vestir de luto se, tendo aquelas árvores no meu jardim, uma delas secasse, havia de presenciar semelhante vandalismo?
Uma coisa me consola, meu bom amigo: – o que é a consciência dos homens! – toda a aldeia murmurou. E tenho a esperança de que a mulher do presbítero há-de conhecer pela diminuição dos ovos, da manteiga e das atenções dos camponeses, a boa obra que lhes fez. Porque foi ela, a mulher do novo presbítero (o velho já morreu), uma criatura seca e escanzelada, que tem talvez razão de não gostar de coisa alguma do mundo, porque ninguém gosta dela; uma toleirona que se julga um portento, que se mete a dissertar sobre os cânones e a trabalhar na reforma crítica e moral do cristianismo; uma mulher a quem os entusiasmos de Lavater fazem encolher os ombros, e a quem, finalmente, a arruinada saúde priva da maior alegria neste mundo. Só uma criatura destas mandaria cortar as minhas nogueiras! Não! Não posso resignar-me! E queres saber o que ela alega? Que as folhas caídas lhe sujavam o pátio e o faziam húmido. As árvores tiravam-lhe a claridade! E quando as nozes estavam secas, os rapazes atiravam-lhes pedras, o que irritava fortemente os nervos e a perturbava nas profundas meditações quando comparava Kennikot, Semler e Michaelis!»
J. W. Göethe, Werther Tradução de João Teodoro Monteiro
15ª edição revista do alemão por
M. José Guimarães.
Lisboa/ Guimarães Editores - 1993
pp. 122-123.
Inaugura-se hoje, em Paris, na Biblioteca Nacional de França uma grande retrospectiva (De Qui s´Agit-il?),dedicada ao fotógrafo Henri Cartier- Bresson. A partir de 15 de Setembro estará patente na Caixa Fórum de Barcelona.
"Photographier, c'est dans un même instant et en une fraction de seconde reconnaître un fait et l'organisation rigoureuse des formes perçues visuellement qui expriment et signifient ce fait. C'est mettre sur la même ligne de mire la tête, l'œil et le cœur".
Henri Cartier- Bresson
Escrevias pela noite fora. Olhava-te, olhava
o que ia ficando nas pausas entre cada
sorriso. Por ti mudei a razão das coisas,
faz de conta que não sei as coisas que não queres
que saiba, acabei por te pensar com crianças
à volta. Agora há prédios onde havia
laranjeiras e romãs no chão e as palavras
nem o sabem dizer, apenas apontam a rua
que foi comum, o quarto estreito. Um livro
é suficiente neste passeio. Quando não escreves
estás a ler e ao lado das árvores o silêncio
é maior. Decerto te digo o que penso
baixando a cabeça e tu respondes sempre
com a cabeça inclinada e o fumo suspenso
no ar. As verdades nunca se disseram. Queria
prender-te, tornar a perder-te, achar-te
assim por acaso no meu dia livre a meio
da semana. Mantêm-se as causas iguais
das pequenas alegrias, longe da alegria, a rotina
dos sorrisos vem de nenhum vício. Este abandono
custa. Porque estou contigo e me deixas
a tua imagem passa pelas noites sem sono,
está aqui a cadeira em que te sentaste
a escrever lendo. Pudesse eu propor-te
vida menos igual, outras iguais obrigações.
Havias de rir, sair à rua, comprar o jornal.
Helder Moura Pereira ,Entre o Deserto e a Vertigem
O meu tem um autocolante na caixa que diz «includes Waltz 2 as featured on Eyes Wide Shut soundtrack». Eu tenho quase quase a certeza que já tinha ouvido isto no (maravilhoso) Aeroplano. Mas não encontrei nada a esse respeito... Estarei a fazer confusão?
O último filme de Pasolini, assassinado em 1975, encerra o ciclo 5 Noites, 5 Filmes que lhe foi dedicado. Curiosamente, Saló ou Os 120 Dias de Sodoma é a obra mais violenta do cineasta italiano, marcada pela opressão, sadismo, deboche e morte numa expressão de pura maldade. Pasolini transpõe "Os 120 Dias de Sodoma" do Marquês de Sade e apoia-se em textos de Roland Barthes, Maurice Blanchot e Pierre Klossowski para evocar os últimos dias da ditadura fascista italiana, no final da II Guerra Mundial. É no norte de Itália que se situa a República de Saló, controlada pelos nazis. Os Senhores, quatro homens no poder, reúnem os 16 belos jovens de ambos os sexos que serão levados para a mansão para servirem nas orgias. Já na mansão, três senhoras de meia-idade contam histórias bizarras que são recriadas pelos Senhores e pelos jovens, resultando em cenas de deboche, delírio sexual, humilhações, torturas e finalmente morte. Esta impressionante reflexão de Pasolini sobre a perversão do ser humano suscitou muita polémica e deixou plateias inteiras em estado de choque. "Saló ou Os 120 Dias de Sodoma" foi censurado em vários países e continua a ser, nos nossos dias, um filme perturbador.
Saló ou Os 120 Dias de Sodoma (Saló o Le 120 Giornate di Sodoma). De Pier Paolo Pasolini, com Paolo Bonacelli, Giorgio Cataldi, Umberto Paolo Quintavalle, Aldo Valletti, Caterina Boratto, Elsa De Giorgi, Hélèna Surgère, Sonia Saviange, Sergio Fascetti, Bruno Musso. Itália/França, 1975, 117 min.
Andas aí a partir corações
como quem parte um baralho de cartas
cartas de amor
escrevi-te eu tantas
às tantas, aos poucos
às tantas, aos poucos
eu fui percebendo
às tantas eu lá fui tacteando
às cegas eu lá fui conseguindo
às cegas eu lá fui abrindo os olhos
E nos teus olhos como espelhos partidos
quis inventar uma outra narrativa
até que um ai me chegou aos ouvidos
e era só eu a vogar à deriva
e um animal sempre foge do fogo
e eu mal gritei: fogo!
mal eu gritei: água!
que morro de sede
achei-me encostado à parede
gritando: Livrai-me da sede!
e o mar inteiro entrou na minha casa
E nos teus olhos inundados do mar
eu naveguei contra minha vontade
mas deixa lá, que este barco a viajar
há-de chegar à gare da sua cidade
e ao desembarque a terra será mais firme
há quem afirme
há quem assegure
que é depois da vida
que a gente encontra a paz prometida
por mim marquei-lhe encontro na vida
marquei-lhe encontro ao fim da tempestade
Da tempestade, o que se teve em comum
é aquilo que nos separa depois
e os barcos passam a ser um e um
onde uma vez quiseram quase ser dois
e a tempestade deixa o mar encrespado
por isso cuidado
mesmo muito cuidado
que é frágil o pano
que veste as velas do desengano
que nos empurra em novo oceano
frágil e resistente ao mesmo tempo
Mas isto é um canto
e não um lamento
já disse o que sinto
agora façamos o ponto
e mudemos de assunto
sim?
Conhecendo as regras dos negócios, era iminente, já me tinham preparado para isso.
A semana passado, quando fui ver o filme de Spike Jonze, dei conta de uma jornalista a entrevistar o projeccionista e percebi que algo estava para acontecer. “Ó menina, veja lá se faz uma forcinha para isto não fechar”, apanhei de passagem.
Mas não se pode fazer nada, a sala dá prejuízo, a câmara não pode fazer nada, ninguém pode, só o público poderia, mas ele concentra-se nas salas dos grandes centros comerciais...
Estou desanimada. Já vi tantas salas de cinema fechar aqui no Porto e tenho saudades delas. Da grande sala do Trindade, do Pedro Cem - tão cinéfila -, do Foco, do Batalha -que apesar das obras não abrirá -, do Auditório do Carlos Alberto onde vi os filmes que me viciaram e da casa da Cinema Novo com projecções ao ar livre no verão...
Neste momento restam apenas as salas da Atalanta/Medeia que, suspeito, só sobrevivem graças à boa vontade da distribuidora e aos subsídios europeus.
Este Sábado encontrei finalmente um manual de árvores. Trata-se de um livro da Everest, da autoria de Gregor Aas e Andreas Riedmiller, intitulado Árvores de folha caduca. A minha intenção era conseguir um livro de âmbito mais alargado, que me mostrasse e falasse mesmo de todos os tipos de árvores, mas só encontrei este e estava quase a rejeitá-lo quando me lembrei que as árvores que me são mais próximas e que me chamam a atenção ao longo do ano, por mostrarem tão evidentemente as mudanças de Estação, são quase todas de folha caduca. Assim, fiquei a saber que a árvore que desapareceu do jardim dos meus pais, porque incomodava o mármore retalhado dos vizinhos, não era apenas um choupo, como eu pensava, mas sim um choupo-tremedor, e que a árvore da praça aqui em frente, que se foi tornando mais e mais querida à medida que o tempo passa, é uma faia. Hoje, quando a vi, alegrei-me mais. Pode parecer um pormenor, mas faz toda a diferença saber.
posted by camponesa pragmática on 14:54
Este é um daqueles filmes para o qual fui literalmente arrastada (eu e as minhas costumeiras trezentas e tal toneladas de distracção crónica) sem nada saber. Poucos minutos antes de comprarmos os bilhetes, soube tratar-se de um filme de Spike Lee, o que me deixou esperançada. E bem. Por razões que infelizmente não sei verbalizar, por se tratar de cinema, este acabou por ser o melhor filme que vi nos últimos meses. Conta, basicamente, a história do último dia em liberdade de um tipo condenado a sete anos de prisão por tráfico de droga, com algumas retrospecções pelo meio que nos vão pondo a par do enredo. Genérico lindo, banda sonora apetecível (Terence Blanchard), fotografia bem bonita. Com Barry Pepper, Edward Norton, Philip Seymour Hoffman, Rosario Dawson. Em Lisboa está no Amoreiras, no Colombo, no Fonte Nova, no Monumental, no Corte Inglês e no Vasco da Gama; no Porto, está no Nun’Alvares.
posted by camponesa pragmática on 13:11
The Girl With Many Eyes
One day in the park
I had quite a surprise.
I met a girl
who had many eyes.
She was really quite pretty
(and also quite shocking!)
and I noticed she had a mouth,
so we ended up talking.
We talked about flowers,
and her poetry classes,
and the problems she'd have
if she ever wore glasses.
It's great to know a girl
who has so many eyes,
but you really get wet
when she breaks down and cries.
Não é nada fácil reduzir uma ideia a quatro quadrados e a uma ou duas personagens mas o Bartoon há dez anos que o faz e com um humor refinadíssimo. Quantas palavras vale um cartoon? E quantas gargalhadas?
Para comemorar deixamos aqui este link que oferece um desfile aleatório de Bartoons.
E claro aconselhamos a compra do livrinho quadrado qua acompanha o Público de hoje.
domingo, abril 27, 2003
A Cultura não é para quem pode - é para quem quer!
Mensalidade da TVCabo - 19€
Poder ver música, dança, documentários e teatro praticamente a qualquer hora - Priceless!
A Cultura deixou de ser um luxo, deixou de estar acessível somente a uma ínfima parte da população, deixou de ser o cartão de visita das elites. Há várias décadas! Então, porque é que ainda me dizem «Tu deves ser rica, sempre nessas coisas intelectuais...»? Esclareço já: não sou rica (nem intelectual). Sou estudante e sofro as consequências de condição tão precária (monetariamente falando, claro). Mas sei procurar. E, mais importante, sei escolher (é o que me digo sempre, para não pensar em todas as coisas que me passam ao lado...).
Há muitas coisas que se podem fazer com um orçamento limitado. A mais óbvia: televisão. Mesmo nos 4 canais portugueses, passam programas muito interessantes. O importante é pegar na grelha e fazer a selecção. Simples. Fora de casa, podemos contar com as FNAC e com as livrarias-que-são-mais-que-livrarias (dou como exemplo a Ler Devagar, em Lisboa), onde podemos assistir a um colóquio, ver um filme, ouvir poesia, participar num debate, ir a um concerto ou ver uma exposição. Sem pagar nada. E que tal bons livros (Público, DN, Focus, Planeta Agostini) e cd's de música clássica (hipermercados) por módicas quantias? Sabiam que ao Domingo, até às 14h (se não me engano) é possível ver várias exposições em Serralves de graça? Ou que podem conseguir ver uma ópera no São Carlos por 10€? A lista é infindável...
E porque a Cultura não é só ver e ouvir, é também absorver, formar opiniões e saber discutir, nada melhor que uma conversa entre amigos para trocar ideias e sugestões. Grátis! (A internet, neste assunto, é uma óptima ajuda, com os seus fóruns e blogs e chats e...)
Para acabar (ainda havia muito para dizer, mas o texto já vai longo), deixo aqui e aqui dois óptimos sítios para estar a par do que se passa culturalmente. Não há desculpa!
Porque é que nunca vi o filme do Glauber Rocha ou o do Robert Kramer? Porque é que nem sabia que existia um filme chamado “Setúbal, a cidade vermelha”? Porque é que não há cópias daqueles filmes e daquelas fotografias cá em Portugal? Não é uma questão ideológica mas sim histórica, porque é que não nos interessa o modo como os outros viram o 25 de Abril? Não é através desse olhar que nos podemos conhecer melhor?
Porque é que “Torrebela” foi considerado um insulto para Portugal? Continuo a considerar exemplar a cena em que o revolucionário ensina ao camponês as diferenças entre propriedade privada e propriedade colectiva, mas o camponês não compreende e só tem dúvidas, ou a tomada da "casa dos senhores" como se fosse o palácio de inverno. Porque é que nunca vou ver a cena que o Kramer filmou numa sede do partido comunista em que uns tantos militantes, já bebados, dançam ao som da bella ciao?…
"I sometimes suspect the Thames of being water."
Roni Horn
Fernando Calhau, Materialização de um quadrado imaginário, 1974
As fotografias de Roni Horn e do Fernando Calhau fazem parte da exposição Sem Limites, uma selecção de obras pertencentes à Colecção da Fundação de Serralves que esteve patente (encerrou hoje) no Centro de Artes Visuais de Coimbra.
Saí de lá com uma pergunta: a falta de limites pode ser uma limitação artística?
E uma certeza: é bom visitar o CAV.
É uma tela de 2,44 x 44m
em que o real imaginado
está devidamente enquadrado
Tudo seria plano
como planeado
se não houvesse o splash a perturbação que anima
a placidez geométrica do fotograma
do freeze-frame que esta pintura
quer ser
e afinal não é
Porque o real
que esta pintura pinta
e que ele quer que se sinta
é um real que se mente
nesta pintura rente
É uma pintura que por nós entra
fina e quase débil
como as magras palmeiras
postas ali para o olhar subir
um pouco
para o longe
para um céu azul que não existe
a não ser como ameaça
latente
na cruel esterilidade
dum real que não mente
O que esta pintura quer tornar patente
não interessa:
É preciso desconfiar das imagens diz o próprio artista
e num quadro
o sentido vem de toda a parte
Amanhã o público
vai querer outra coisa
além do que eu vi
Mas o que é a arte
senão artifício da verdade?
O problema é que
os filósofos modernos
brincaram demais
com a máquina fotográfica
Os livros são chatos de ler. Não há neles livre circulação. Somos convidados a seguir. O caminho está traçado, único.
Muito diferente é o quadro: imediato, total. À esquerda, também à direita, em profundidade, sem peias.
Nele não há um trajecto, há mil trajectos, e as pausas não são indicadas. Mal a gente o deseje, de novo o quadro todo, por inteiro. Num instante está ali tudo. Tudo, mas nada ainda é conhecido. É aqui que se deve começar a LER.
Henri Michaux, O retiro pelo risco
(antologia da poética de Henri Michaux)
Não é fácil comprar um livro chamado "O Nariz" mas que a situação é digna do Gogol, lá isso é: "Olhe... temos o Fernando Pessoa... esse temos, não quer?"
Ontem encontrei um oásis, literalmente, na Granja de Belgais. Depois de uma sexta-feira chuvosa, a perspectiva de fazer seiscentos quilometros para assistir a um concerto deixava-nos cheios de dúvidas e preguiça. Mas o programa era tão aliciante que resolvemos metermo-nos à estrada. Um café na Guarda, um almoço fraco em Castelo Branco mas o céu já estava azul e a tarde parecia de verão. No posto de turismo aconselhavam-nos a sair com uma hora de antecedência porque a estrada de acesso à Granja “é de terra batida”. “Segue-se em direcção a Monfortinho, vira-se na primeira à direita onde indica Escalos de Baixo e depois há-de aparecer uma placa a indicar Belgais.”
Como a placa demorava a aparecer fomos a um café indagar. “Não tem nada que saber. Depois de encontrar três eucaliptos, conta três curvas, depois encontra um casa de pedra velha que é onde começa a estrada para Belgais.” Parece uma cena do “E o vento levar-nos-à” do Kiarostami. Mas o concerto não é sobre as Arábias? Então estamos no caminho certo e a verdade é que no meio de todas as árvores lá encontramos os eucaliptos e as curvas e a estrada.
”Follow the yellow brick road”.
A estrada levanta uma poeira danada que se agarra aos carros. Mas os cheiros e os sons indiciavam que, no fim, encontrariamos o Feiticeiro de Oz.
A Granja é belíssima, rodeada de árvores e pássaros. Havia chá e tâmaras à nossa espera num pátio saído das mil e uma noites.
A sala do concerto é uma espécie de estábulo. Pelas pequenas janelas entrava o som dos pássaros, e os aromas primaveris.
Na primeira parte ouvimos peças de compositores ocidentais, influenciados ou a quererem brincar com a música árabe e os seus padrões abstratos; poemas árabes e excertos das mil e uma noites.
Durante o intervalo podia-se comer couscous, bolinhos marroquinos e muitas outras iguarias e beber chá com hortelã.
Se ainda houvesse dúvidas quanto ao nosso coração, o Abdel Karim Ensemble teria acabado com elas quando subiu ao palco para nos encantar.
O meu amor não cabe num poema- há coisas assim,
que não se rendem à geometria deste mundo;
são como corpos desencontrados da sua arquitectura
ou quartos que os gestos não preenchem.
O meu amor é maior que as palavras; e daí inútil
a agitação dos dedos na intimidade do texto-
a página não ilustra o zelo do farol que agasalha as baías
nem a candura da mão que protege a chama que estremece.
O meu amor não se deixa dizer- é um formigueiro
que acode aos lábios como a urgência de um beijo
ou a matéria efervescente dos segredos; a combustão
laboriosa que evoca, à flor da pele, vestígios
de uma explosão exemplar: a cratera que um corpo,
ao levantar-se, deixa para sempre na vizinhança de outro corpo.
O meu amor anda por dentro do silêncio a formular loucuras
com a nudez do teu nome- é um fantasma que estrebucha
no dédalo das veias e sangra quando o encerram em metáforas.
Um verso que o vestisse definharia sob a roupa
como o esqueleto de uma palavra morta. Nenhum poema
podia ser o chão da sua casa.
Maria do Rosário Pedreira, O Canto do Vento nos Ciprestes
Temos uma nova Indiscreta. É a Marta Almeida, que resolveu aceitar o nosso convite e entrar para a Janela.
Nós ficamos literalmente de sorriso aberto J
The birds they sang
at the break of day
Start again,
I heard them say,
Don't dwell on what
has passed away
or what is yet to be.
The wars they will
be fought again
The holy dove
be caught again
bought and sold
and bought again;
the dove is never free.
Ring the bells that still can ring.
Forget your perfect offering.
There is a crack in everything.
That's how the light gets in.
We asked for signs
the signs were sent:
the birth betrayed,
the marriage spent;
the widowhood
of every government --
signs for all to see.
Can't run no more
with that lawless crowd
while the killers in high places
say their prayers out loud.
But they've summoned up
a thundercloud
They're going to hear from me.
Ring the bells that still can ring.
Forget your perfect offering.
There is a crack in everything.
That's how the light gets in.
You can add up the parts
but you won't have the sum
You can strike up the march,
there is no drum.
Every heart
to love will come
but like a refugee.
Ring the bells that still can ring.
Forget your perfect offering.
There is a crack in everything.
That's how the light gets in.
Estreado em Outubro do ano passado, em Lisboa, pelos Artistas Unidos, "Nunzio", do italiano Spiro Scimone, entra no próximo dia 10 de Maio numa minidigressão que começa no Porto, integrado no Festival Fazer a Festa. Segue para Faro e termina em Viana de Castelo. A comovente história de amizade entre dois homens pobres – Nunzio, um funcionário fabril, e Pino, um assassino –, assemelha-se ao cinema mudo. E, no entanto, o retrato desesperado de um quotidiano paradoxal, triste, e, ao mesmo tempo, hilariante, é mais do que eloquente. O trabalho de João Meireles e Miguel Borges é o diálogo de homens sós. Abandonados.