É uma tela de 2,44 x 44m
em que o real imaginado
está devidamente enquadrado
Tudo seria plano
como planeado
se não houvesse o splash a perturbação que anima
a placidez geométrica do fotograma
do freeze-frame que esta pintura
quer ser
e afinal não é
Porque o real
que esta pintura pinta
e que ele quer que se sinta
é um real que se mente
nesta pintura rente
É uma pintura que por nós entra
fina e quase débil
como as magras palmeiras
postas ali para o olhar subir
um pouco
para o longe
para um céu azul que não existe
a não ser como ameaça
latente
na cruel esterilidade
dum real que não mente
O que esta pintura quer tornar patente
não interessa:
É preciso desconfiar das imagens diz o próprio artista
e num quadro
o sentido vem de toda a parte
Amanhã o público
vai querer outra coisa
além do que eu vi
Mas o que é a arte
senão artifício da verdade?
O problema é que
os filósofos modernos
brincaram demais
com a máquina fotográfica