Ontem encontrei um oásis, literalmente, na Granja de Belgais. Depois de uma sexta-feira chuvosa, a perspectiva de fazer seiscentos quilometros para assistir a um concerto deixava-nos cheios de dúvidas e preguiça. Mas o programa era tão aliciante que resolvemos metermo-nos à estrada. Um café na Guarda, um almoço fraco em Castelo Branco mas o céu já estava azul e a tarde parecia de verão. No posto de turismo aconselhavam-nos a sair com uma hora de antecedência porque a estrada de acesso à Granja “é de terra batida”. “Segue-se em direcção a Monfortinho, vira-se na primeira à direita onde indica Escalos de Baixo e depois há-de aparecer uma placa a indicar Belgais.”
Como a placa demorava a aparecer fomos a um café indagar. “Não tem nada que saber. Depois de encontrar três eucaliptos, conta três curvas, depois encontra um casa de pedra velha que é onde começa a estrada para Belgais.” Parece uma cena do “E o vento levar-nos-à” do Kiarostami. Mas o concerto não é sobre as Arábias? Então estamos no caminho certo e a verdade é que no meio de todas as árvores lá encontramos os eucaliptos e as curvas e a estrada.
”Follow the yellow brick road”.
A estrada levanta uma poeira danada que se agarra aos carros. Mas os cheiros e os sons indiciavam que, no fim, encontrariamos o Feiticeiro de Oz.
A Granja é belíssima, rodeada de árvores e pássaros. Havia chá e tâmaras à nossa espera num pátio saído das mil e uma noites.
A sala do concerto é uma espécie de estábulo. Pelas pequenas janelas entrava o som dos pássaros, e os aromas primaveris.
Na primeira parte ouvimos peças de compositores ocidentais, influenciados ou a quererem brincar com a música árabe e os seus padrões abstratos; poemas árabes e excertos das mil e uma noites.
Durante o intervalo podia-se comer couscous, bolinhos marroquinos e muitas outras iguarias e beber chá com hortelã.
Se ainda houvesse dúvidas quanto ao nosso coração, o Abdel Karim Ensemble teria acabado com elas quando subiu ao palco para nos encantar.