As pedras de fogo também tinham sexo. Chamavam-lhes Terrebolem, Terroboli, Terrobuli ou Piroboli, numa alteração do étimo grego pirobolos= "o que lança fogo" e incluíam-se entre os seres da natureza descritos pelos bestiários medievais.
Dizia-se que se podiam encontrar nas montanhas do Oriente. Quando a pedra fêmea se aproximava da pedra macho dava-se uma tremenda combustão, incendiando a montanha e queimando tudo o que existisse em redor.
A simbologia traduzia-se num apelo à castidade - que o homem não se deixe aproximar da mulher, pois como o Terroboli há-de arder no inferno do pecado carnal.
As pirites de ferro devem estar na base científica desta lenda.
1- Alne, N. Yorks, um par de terrobolem rodeado por chamas. 2- Whitersfield. Essex, um par de terroblem agitando-se com o ardor. Bestiário de Abarden (c.1200). Adão e Eva aproximando-se com as pedras do fogo na mão.
No texto também são apelidadas de adamas (dos adamitas pecadores) e dá-se o exemplo de Sansão e José que também foram tentados por mulheres.
Ela vai a caminho. E nós também. Com a música da chuva nos ouvidos (Setembro, de Tonino Guerra).
posted by Anónimo on 15:01
Dir-se-iam castanheiros...
"O cinema de António Reis e Margarida Cordeiro tem a ambição desmedida da poesia, único critério da sua verdade, do seu vigor, da sua latência duradoura no espectador. Só essa realidade lhe interessa, só essa inteireza busca. Cinema de secreta e paciente convocação e manipulação dos materiais, não tem paralelo com nada do que o cinema já ergueu. Nele se confunde o respeito pelo real e a sua transgressão, o documento e a ficção são postos em causa, enquanto categorias formais, pelo seu tecido. Realidade, imaginário, visões, sentimentos, há certamente um vocabulário-outro para falar dos objectos cálidos e fascinantes que Reis e Margarida Cordeiro geram: poemas fílmicos, belíssimos e solidários, majestáticos.
"Would the last communist out
Switch off the lights?"
They shout as they go
Into the night
They think that it's over
Maybe it is
But I'm staying here
Alone with this promise
In my mind
It still exists
I'm the last communist
Alone in the Soviet Union
(In the Soviet Union)
There's a light switch on the wall
(In the Soviet Union)
And a canteen down the hall
(In the Soviet Union)
I make faces with a torch
(In the Soviet Union)
In the mirror on the back of the bathroom door
(In the Soviet Union)
Shining up the lino on the corridor floor
(In the Soviet Union)
Eating dead pigeons cold and raw
(In the Soviet Union)
Drinking vodka through a straw
(In the Soviet Union)
Weeping for the visions Lenin saw
I like it here
I like it fine
The radiator's warm
The bus is on time
And healthcare is free
A job is for life
The caretaker is me
I'm switching on the lights
In my mind
It will exist
I'm the first communist
Alive in the Soviet Union
(In the world of freedom)
You lived a long time ago
(In the world of freedom)
You filled your shoes with six black toes
(In the world of freedom)
You rode to work on a big skateboard
(In the world of freedom)
And swiped your celery barcode
(In the world of freedom)
Exploding filippino washing machines
(In the world of freedom)
Your sinister servants watch TV
(In the world of freedom)
You shake our palm trees violently
(In the world of freedom)
Until the coconuts fill your plastic tray
(In the world of freedom)
You're writing up the budget and you're purchasing supplies
(In the world of freedom)
It's always someone else's turn to die
(In the world of freedom)
You're launching major missile strikes (on the Soviet Union)
(In the world of freedom)
To prove you'll never drink Zamzam cola
(In the world of freedom)
The car protecting your child is killing mine
(In the world of freedom)
You're blinded by the headlights on the autobahn
(In the world of freedom)
A chimp made off with your sports jacket, boy
(In the world of freedom)
Your king is a monkey and a mongoloid
Today I'm alone
The war hasn't even begun
But your king hasn't won
One day you'll come
It's so clear
Our future's here
I am just the caretaker
All is forgiven!
Come back communism!
Verter o gin num copo cheio de gelo. Juntar uma rodela de limão ou lima acabada de cortar. Adicionar água tónica a gosto (em geral, duas vezes mais do que a quantidade de gin) e mexer de forma a libertar o sabor do zimbro presente no gin. Como acontece com todos os cocktails, a qualidade dos ingredientes é um dos factores mais importantes no G&T. Quanto melhor o gin, naturalmente melhor será o produto final. Os perfeccionistas poderão guardar a garrafa de gin no frigorífico, tal como os copos. A água tónica deverá ser sempre acabada de abrir (evite as versões de dieta). Não há nada pior do que um G&T feito com água chocha, limão velho e gelo tristonho. O gelo, aliás, é igualmente crucial: deverá ser gordo e feito preferencialmente a partir de água mineral ou água filtrada e os cubos, se possível, deverão ser secados num pano limpo (quanto mais gelo no copo, mais tempo demorará a dissolver-se e a diluir os sabores delicados do G&T). O copo deverá ter um fundo pesado para que as bolhas da tónica durem mais tempo. Lima ou limão? É tudo uma questão de gosto. Algumas pessoas argumentam que o limão ou a lima são tão fortes que escondem os sabores subtis presentes no gin e preferem, por isso, beber G&T sem qualquer citrino (sobretudo quando se usa Beefeater, que é suave e com sabor a limão).
Entre nós e as palavras há metal fundente entre nós e as palavras há hélices qe andam e podem dar-nos a morte violar-nos tirar do mais fundo de nós o mais útil segredo entre nós e as palvras há perfis ardentes espaços cheios de gente de costas altas flores venenosas portas por abrir e escadas e ponteiros e crianças sentadas à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos há palavras de vida há palavras de morte há palavras imensas, qeu esperam por nós e outras, frágeis, que deixaram de esperar há palvras acesas como barcos e há palavras homens, palavras que guardam o seu segredo e a sua posição
Entre nóse as palavras, surdamente, as mãos e as paredes de Elsenor E há palavras e nocturnas palavras gemidos palavras que nos sobem ilegíveis à boca palavras diamantes palavras nunca escritas palavras impossíveis de escrever por não termos connosco cordas de violinos nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar e os braços dos amantes escrevem muito alto muito além do azul onde oxidados morrem palavras maternais só sombra só soluço só espasmos só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados e entre nós e as palavras, o nosso dever falar.
Ciclo de Carl Th. Dreyer na fnac da Santa Catarina às 18h00, entrada gratuita:
O dia da cólera, ontem
A Palavra, hoje
Gertrude, sexta-feira, dia 3
O meu ofício, terça-feira dia 7
A paixão de Joana D'Arc, terça-feira, dia 14
J'ai travaillé sur ce film [Ordet] avec un jeune opérateur très intelligent et très doué: Henning Bendtsen. Nous étions d'accord pour ne pas nous contenter seulement d'une bonne photo. Ce que nous voulions arriver à faire, c'était à trouver l'atmosphère exacte. Autrefois, les opératuers parlaient de «mettre de la lumière». Aujoud'hui, on dit «mettre de la lumière» et «mettre de l'ombre». «Mettre de l'ombre» est une réalité aussi importante que «mettre de la lumière». Un visage, mis dans l'ombre, peut, dans certaines circonstances, faire un effet plus grand et exprimer plus de choses que s'il est en pleine lumière.
1. O Repórter mandou um postal, com selo. Do Equador. Diz que está mesmo em cima da linha, que se fartou de blogs, que não volta. Que não vale a pena escrever, "a verdadeira criação é a criação de galinhas!"
Mas?!! Isto é roubado ao Raduan Nassar! O rapaz não tem cura...
2. A lógica é uma disciplina com falhas, basta uma pequena distração e abre-se uma brecha. Michaux encontrou, sabe-se lá onde, este poema do Gancho e decidiu abandonar a geografia. Vai explorar os olhos pois "é aí que está a verdadeira matéria". Agradecemos toda a sua perícia nos mergulhos e paciência nos salvamentos.
Desejamos uma boa viagem aos dois. Voltem quando quiserem. Poèsie des yeux, c'est!
3.Champollion
Pode-se ler nos teus olhos o que o Champollion não leria
Ciência que o amor tem e nada tem a geografia
Na escola ensinam-te madrastas
coisas do diabo e sem interesse
No amor se resumem todas as castas
Seja que casta for ou de qualquer espécie
E bem se pode ler nos teus olhos yes
E vai-la a velida lavar camisas
E seja o que for se pode de qualquer espécie
Yes
pois bem de l'amour avant toute chose
Et pour cela je préfère tes yeux
Avec beaucoup de matière amoureuse
Avec beaucoup, beaucoup, beaucoup
Réponse à une enquête sur "la poésie et le cinéma parlant"
1° Le cinéma parlant est...
il est peut-être môche (sic) il sera.
C'est pour moi la seule forme d'expression qu'il m'intéresserait d'employer en ce moment... si l'on m'en fournissait un moyen. C'est tellement joyeux d'imaginer qu'on n'aura plus la peine d'écrire, comme je le fais en ce moment...
2° Il n'y a pas de poèmes.
Il n'y a que la poésie.
Je mets, sur le même plan: Il pleut, bergère, Le Poème-Préface de Mme Putiphar, Booz endormi, Le Balcon, L'Émigrant de Lander Road, Les Illuminations, Les Chants de Maldoror, L'Assommoir, Une Cure, Les Rapaces, La Symphonie nuptiale, la colonne Vendôme, les tableaux de Picasso, Derain, Miró, Masson, Piero della Francesca. Donc, question sans réponse.
3° L'amour.
Le film pornographique est le film poétique seul valable.
Subi à serra das Fontes; percorri a rua do Mar a horas diferentes; perdi a conta às nuvens; arrastei-me pelas esplanadas; ouvi histórias e inventei outras; dei de caras com uma personagem do Kiarostami no Cais da Calheta. Como o Pedro da Silveira, quis morar no ilhéu para acordar todos os dias em frente à praia; deitei-me nas pedras; procurei o Pico por trás de São Jorge; saí de barco em direcção à Terceira, três horas e um quarto de mar. No mercado comprei ameixas da terra e araçãs, figos e uvas de cheiro; pensei roubar as Papoilas para Cesário Verde, de António Dacosta no Museu de Angra e uma versão de Michael Kohlhaas de Agosto de 1973, capa verde, da Inova, que descobri na Biblioteca na Praia da Vitória, mas fraquejei. Subi à serra do Cume; desci à Furna da Água; andei à cata da arquitectura do Ramo Grande. Comi bolo lêvedo ao pequeno-almoço. Vagueei por Angra; entrei em igrejas. Procurei pessoas; encontrei textos. E outras coisas, não menos importantes, que ficam por discriminar.
posted by Anónimo on 12:00
AGOSTO
Com o mar dentro dos olhos
Tonino Guerra, traduzido por Mário Rui de Oliveira
Ferrar uma avestruz, Cadeiral de Catedral de Saint-Jean-de-Maurienne, séc. XV.
"na minha opinião, o homem é tanto mais feliz quanto mais numerosas são as suas modalidades de loucura, contanto que não saia da espécie que nos é peculiar e que é tão espalhada que eu não saberia dizer se haverá, em todo o género humano, um só indivíduo que seja sempre sábio e não tenha também a sua modalidade".
Molloy abjura a personagem à procura do leitor, a ideia à procura de quem a pense.
Procura-se Molloy.
Como encontrá-lo, se nos recusamos a perguntar-lhe quem somos?
posted by Paulo on 18:27
Magician
Magician, Magician
take me upon your wings, and
gently roll the clouds away
I'm sorry, so sorry
I have no incantations
only words to help sweep me away
I want some magic to sweep me away
I want some magic to sweep me away
I want to count to five
turn around and find myself gone
Fly through the storm
and wake up in the calm
Release me from this body
from this bulk that moves beside me
Let me leave this body far away
I'm sick of looking at me
I hate this painful body
that disease has slowly worm away
Magician take my spirit
inside I'm young and vital
Inside I'm alive, please take me away
So many things to do, it's too early
for my life to be ending
For this body, to simply rot away
I want some magic to keep me alive
I want a miracle, I don't want to die
I'm afraid that if I go to sleep I'll never wake
I'll no longer exist
I'll close my eyes and disappear
and float into the mist
Somebody, please hear me
my hand can't hold a cup of coffee
My fingers are weak, things just fall away
Inside I'm young and pretty
too many things unfinished
My very breath taken away
Doctor you're no magician
and I am no believer
I need more than faith can give me now
I want to believe in miracles
not just belief in numbers
I need some magic to take me away
I want some magic to sweep me away
I want some magic to sweep me away
Visit on this starlit night
replace the stars the moon the light, the sun's gone
Fly me through this storm
and wake up in the calm
I fly right through this storm
and I wake, up, in, the, calm
A última vez que vi António Dacosta foi em sonhos nos Açores. Ele estava a ter um sonho e eu entrei lá dentro como visitante. Posso entrar no seu sonho, António Dacosta?, perguntei: Ele levantou a tela do quadro que estava a pintar e respondeu-me: entre lá no meu sonho, isto é, no meu quadro.
Desta ilha à margem de onde passam os cargueiros e paquetes vindos
de Antuérpia, do Havre, da Inglaterra, a proa
feita ao ocidente, às Bermudas, às Pequenas Antilhas, ao Canal
do Panamá e, noutros rumos,
à Nova York dos arranha-céus
ou, sobre o sul, ao Brasil onde tu és
segundo dizes,
rei numa ilha de índios bravos;
desta ilha qualquer pequena, absorta, a novecentas
milhas da ponta mais a oeste
da velha Mão-Europa terra firme; aqui, onde
outrora os marinheiros do Norte - no pavor
dos duros aguilhões cortantes
da sua costa alçada e brava -
um nome sinalaram,
Black Coast,
pelos mil veleiros que bebeu...;
desta ilha que tu, passando ao largo, um dia porventura
contemplaste, curioso e comovido da sua solidão
de rochas pretas, húmidas, verdosas
e pequenos lugares onde as casas,
quais navios varados,
olham o mar a pedir-lhe
caminhos livres infinitos...;
desta ilha que tu, no repartir-te inquieto
pelos longes como ela humildes e calados,
nunca no tempo errado-certo
dos teus dias andados,
brevemente que fosse,
de visita habitaste -
em suas casas e montes
e vales escondidos que o silêncio
orla de nuvens imprevistas...
Aqui, onde nasci e te leio e me desdendas
os segredos mais fundos do Não Visto
e do Visível Revelado,
grito o teu nome sobre as águas
e no vento mais lesto,
grito teu nome e saúdo-te, chamo-te,
ó Mestre das Descobertas Impossíveis!
... Depois espero, um instante penso
e a mim próprio pergunto:
- Seria aqui, à vista desta terra
que tu uma vez,
não podendo abordá-la,
botaste ao mar os teus sapatos
aproados à costa?
Mas não, eu sei; que se fosse
eu os acharia encallhados na praia e logo,
seguro e certo do aviso,
com eles calçados
caminhava
pelo mar chão e sobre as vagas
até lá fora te encontrar.
Quando chegasse ao pé de ti
dir-te-ia somente:
- Je te salue! Bénis-moi, mon Maître!
E não haveria estranheza,
nenhum espanto
em ti, Blaise Cendrars.
De repente, iluminado, tu
exactamente adivinhavas
quem sou, mesmo sem nunca
de lugar nenhum me conheceres:
na minha cara, eu sei, verias
(que mais nada não visses)
os sinais, as feições
das irmandades centenárias.
- Sim, Blaise, é isso: eu mesmo, o neto, derradeiro
talvez - na Europa o único restante -,
do companheiro do teu tio-avô
Johann Suter, o subido e abatido
Rei do Ouro (a ele) Roubado:
Suter, o da miragem mais trágica
de todas as miragens
enormes e luzentes fugazes!
Sim, Blaise, eu mesmo,
longínquo
e imprevisto.
Eu a teu lado, Blaise,
a teu lado, ó meu amigo,
a teu lado, ó meu Mestre de Assombros!
A teu lado e aqui,
anónimo e perdido
neste Fundo da Ausência...
Gritando o teu nome sobre a água,
ajoelhado na água invocando o teu nome
e dizendo-te, tocando
o coto do teu braço bombardeado: