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Janela Indiscreta
 
sexta-feira, setembro 03, 2004  
You are Welcome to Elsinore

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices qe andam
e podem dar-nos a morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palvras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, qeu esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palvras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nóse as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras e nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar.

Mário Cesariny (1923), Pena Capital

posted by zazie on 01:49


 
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