Philip Larkin já chegou às livrarias. Está escondido. Para o descobrir é preciso saber a palavra chave (Em vez de palavras, vêm-me à ideia janelas altas:/ O vidro que acolhe o sol, e mais além / O ar azul e profundo, que não revela / Nada e está em lado nenhum e não tem fim).
Hoje apeteceu-me roubar algumas páginas do livro da Susan Sontag. Da duzentos e três até à duzentos e vinte e cinco. Mas não tive coragem, a livreira acenou-me com um Walser que pensava que não mais reencontraria. Adeus Bresson…
Na Ficções #9 dei de caras com “O Blusão de Couro”, de Cesare Pavese (com tradução de José Lima) e um conto de Óscar de Sá intitulado “Deleituras” que, creio, é uma resposta muito completa ao repto da natureza do mal. Começa assim: “Quem desce a Rua da Fábrica, na baixa do Porto…”
O Luís continua a lerGertrud, de Carl Dreyer.
Numa entrevista, Baard Owe — o actor mais jovem do filme que interpreta o pianista — conta que um dia perguntou ao realizador: “Porque há tantas palavras? Porque falam tanto? Porquê estas tiradas tão longas?”
“Este filme é sobre a palavra”, respondeu Dreyer. “Eu quero fazer um filme sobre as palavras”.
A revelação mais estranha é o episódio da persiana com Leda e o Cisne desenhados. Dreyer empenhou-se tanto em conseguir esta persiana, que considerava um símbolo muito importante, mas nós não a vemos nunca. Nem um único plano a mostra aos nossos olhos. “Está tudo na minha cabeça. Não é assim tão importante”, justifica Dreyer no fim. É importante e contudo.
São precisos muitos anos para gostar de Gertrud. Para começar por fim a entender o último plano do filme, um dos mais pungentes de toda a história do cinema.
Voltar a uns versos de Kavafis, de Eliot,
como quem regressa a uma casa que foi nossa há anos.
Repetir as sílabas, iluminar os símbolos
como fechadas salas, janelas cheias de pó
que escondem um jardim perdido, árvores da morte.
Melancolia do regresso e medo do vazio,
madeira que range, esvoaçar de sombras
e, de repente, num quarto, perdida
como um velho copo ou um espelho embaciado,
encontrares a chave da tua vida.
Palavras que te avisaram: «Um monótono dia
segue-se a outro igualmente monótono»,
ou te advertiram: «Nascer, foder, morrer.
Isso é tudo, isso é tudo, isso é tudo, isso é tudo».
Palavras que a velhice e a noite me oferecem,
presságios que não entendi, anunciadas derrotas.
Juan Luis Panero, "Poemas"
tradução de Joaquim Manuel Magalhães, edição da Relógio d'Água
2. A Fundação de Serralves está a programar um ciclo de cinema russo para Maio. É uma actividade paralela à esposição Fotografia Verbal: Ilya Kabakov / Boris Mikhailov. O programa ainda não está definido mas nós já estamos a contar com Alexander Dovjenko, Otar Ioseliani, Sergei Paradjanov, Artavazd Pelechian, Alexander Sokurov, Andrei Zvyagintsev, Andrei Tarkovsky*.
Agradecemos que não estraguem as nossas espectativas.
______
* Por coincidência, Stalker é projectado no dia 16 de Maio em Serralves, integrado no ciclo Sabor do cinema
Eram oito horas da manhã quando abri a porta para o terraço.
Em frente o mar. O sol ia alto. Não distingui a luz e
a parte maior do silêncio — os cães ao longe.
Nem sequer uma nuvem.
Havia uma voz; uma voz distante e encerrada noutra parte
de lonjura; o ordenado batimento do teu pulso
sentido por um momento e logo perdido. O mar não tinha
qualquer sombra. As colinas detinham-se na linha da
terra. O mar não tinha superfície suavemente pousado
no extenso da sua forma — existe outro rosto outro
rosto da vida.
Um arco surgiu. Não se ouvia o ruído do motor não se viam
remos — vidro ferido pelo sol. Sem velas, sem vento;
uma figura perdida, encarcerada a partir do terraço da casa.
Tudo podia esvaziar-se — o mar, a luz, a serenidade, o
uivar dos cães apaziguados com um prato de comida. E
o silêncio ninguém o anulava.
Restou a sensação de que a menor fissura levaria a água
arrebatando-a a norte e a sul, a este e a ocidente.
O olhar visionário é um olhar aliado do Poder: projecta-se num tempo demasiado longo para poder ser realizado na vida— é uma impossibilidade desejada e por isso mesmo infinita e perfeita.
As visões já foram explicadas como disfunções excessivas do olhar que vê demasiado longe, integrando-se na torrente da luz que desmaterializa os corpos e materializa os sonhos.
Foram também entendidas como uma doença, um desequilíbrio acompanhado de sintomas físicos: as dores de cabeça de Hildegarda de Bingen, por exemplo.
A visão e sempre um acto transitório, algo que se descentraliza, que sai do eixo e depois apaga-se, retoma o curso, esquece.
O visionário deposita a viagem nas formas, na escrita, na assistência; o visionário esvazia-se para deixar o testemunho.
Martiriza-se mas ao mesmo tempo torna-se imune ao sofrimento e à degenerescência.
As visões ultrapassam a racionalidade pela via da sobreexcitação cerebral— em muitos casos os visionários demonstram uma capacidade intelectual próximo dos sobre dotados. As mulheres videntes conseguem maiores proezas: diz-se, por exemplo, que Margarida de Kempe era capaz de prever o tempo e adivinhar o dia da morte.
O curso do olhar inverte-se: o visionário vira-o para dentro de si mesmo. Vê com o olho do espírito, como diz Hildegarda na Scivitas: “ nós não podemos ver o próprio Deus com a visão exterior do corpo, vemo-lo com os olhos do próprio interior”. Catarina de Siena faz idêntica distinção entre o que apelida de “vista do corpo” e “visão do espírito ”. Santo António vai mais longe: chega a dizer que um cego não se devia queixar porque se possui os olhos por onde se pode ver Deus.
A visão é também uma exegese. As verdades divinas não foram feitas para ser conhecidas, por isso mesmo só podem ser figuradas e sentidas. A visão é sempre algo que o corpo sente. São sinais que ocorrem quando o corpo se abre, como explica Hildegarda.
As visões provocam um grande prazer físico. Durante os interrogatórios Joana de Arc insistirá sempre neste aspecto. Não foram demónios que penetraram o seu corpo, foi um anjo. Foi um santo— S. Miguel Arcanjo. Sempre que o seu espírito o via era bafejado por um grande conforto. Sensação essa que a jovem afirma lhe dava uma enorme felicidade e, apesar do conforto físico, permanecia isenta de pecado durante esses momentos luminosos; os santos beijavam-na e abraçavam-na por bons motivos.
No caso de Hilegarda de Bingen, a interpretação das suas visões, feita por um religioso da época (Ricardo de Saint Victoir) torna-se bastante significativa. Diz o teórico que nestes momentos “ o do coração é governado pela semelhança das coisas visíveis e pelas imagens apresentadas como figuras e como sinais, para atingir o conhecimento das coisas invisíveis ”, numa clara demonstração da influência das teorias do Pseudo Dionísio o Aeropagita.
A metafísica da Lux associava o efeito estético e visual com o próprio Criador. A Lux é a fonte luminosa como a emitida pelo Sol, depois há a luz espalhada no espaço: o lumen e a que se reflectia nos objectos: o splendor. O espírito divino tanto podia ser achado no brilho das pedras preciosas e dos diamantes, no luxo da magnificência do que agrada a Deus, como encontrado na simplicidade radiosa do branco das paredes lisas da igreja, conciliando o Abade de Suger com S. Bernardo.
Criação da luz e das esferas: Livro de Horas, c.1340-50, British Library, Londres.
As imagens medievais são também locais de memória. Locais que se lembram uns aos outros: lembranças do destino, dos primórdios, das consequências; dos augúrios, prefigurando de mil modos o verbo.
Visões celestiais e visões apocalípticas têm em comum a figuração de um cosmo total, um espaço que engloba a personificação do Bem e do Mal supremo, com todas as variantes que estas ideias vão tendo ao longo dos tempos.
O milenarismo foi dos maiores produtores de visões, ainda que estas não tivessem um carácter popular. Os textos referem todo o tipo de prodígios de mau augúrio: os cometas, os combates de estrelas, prodigiosas intervenções malignas na natureza e até avisos que chovem do céu em forma de cartas.
O texto do Apocalipse torna-se a fonte por excelência da escatologia de todos os males, à semelhança das santas viagens peregrinas que exultavam a preparação para a morte e a salvação no além.
Inquieto, o sábio monge Raul Glaber manifestou a sua perplexidade pela pulsão misteriosa que levava milhares de peregrinos a partirem em excitantes caminhadas. Viu-as como um presságio dos últimos tempos, um devir dos homens ao encontro final; aquele bíblico momento em que, sem esperança e sem futuro, o homem ficaria finalmente face a face com Deus.
O Apocalipse transforma-se, assim, num devir pelo mundo, numa luta eterna entre locais do Bem e do mal; vistos como arquétipos de cidades: Babilónia e Jerusalém Celeste . O porto de abrigo estava para lá da Jerusalém terrena— o refúgio era a própria Cidade de Deus.
O magnífico apocalipse de Saint Sever (sec. XI) é um dos mais belos exemplos destas tas fantásticas deambulações visionárias.
décima segunda revelação, a grande barregã
Apocalypse 17 / 8
Na sua fronte estava escrito um nome, um mistério: Babilónia a grande, a mãe das impudicícias e das abominações da terra
nona revelação: Sob o olhar atemorizador do anjo do abismo, aparição dos locustos ou saturnais (espíritos dos mortos) com cabeça de mulheres coroadas e de longos cabelos negros, busto couraçado e cauda em forma de cabeça de escorpião pronta a matar. Detalhe: Apocalypse 1 / 11.
vigésima revelação: o anjo encadeia o dragão e o diabo é precipitado nos abismos
Apocalypse 20 / 1
o diabo, a besta e o falso profeta são precipitados no lago de fogo e de sofrimento.
Apocalypse 20 / 10
vigésima primeira revelação : longa descrição das belezas de Jerusalém Celeste
Apocalypse 21 / 11 - 22
O olhar também pode estar impregnado de avidez de espaço, avidez de infinitude que une peregrinos e cruzados.
O homo viator,fascinado pelos relatos de santos e heróis, despreza o mundo; anseia por cortar amarras e fugir das suas impurezas.
Bernardo de Claraval pensa neste viajante vagabundo quando, em 1130, redige a Laus novae militiae para a ordem recém formada dos Cavaleiros do Templo. O monge reformista sente-se um cidadão celeste mas sabe que, cá em baixo, é apenas um peregrino.
Dante, no canto XIII do Paraíso proclama a mesma ideia: “ viver na terra é caminhar sem fim” A precariedade da condição da na terra é consequência da Queda. Peregrinos e cruzados buscam o desconhecido, numa progressão das trevas em direcção à luz, numa ascensão da Cristandade à Cidade providencial.
O olhar do peregrino é um olhar fascinado pela Maravilha; ansioso por percorrer todos os seus lugares, por ouvir todos os seus oráculos.
A Cidade de Deus rodeada por demónios , Santo Agostinho, A Cidade de Deus Livro de Horas, I-X, Paris, c. 1474-1480
Rolando combatendo os sarracenos na batalha de Roncevaux, Jacob van Maerlant, Spieghel Historiael, West Flanders; c. 1325-1335
Milles e peregrini formam o povo de Cristo que parte no frenesim expiatório, no caos emotivo, na obsessão de atingir o Santo Sepulcro. Projecto mítico, eternamente adiado, que no final da idade Média se vai transformar numa autêntica instituição periódica, cheia de aventuras, propícia a escapadelas matrimoniais ou a chorudos ganhos materiais.
Cristóvão Colombo, depois da inaudita viagem que dilatou o mundo para paragens desconhecidas, faz a derradeira proposta à Igreja— da-lhe sete anos para o deixar preparar a última cruzada. No final bastariam mais cento e cinquenta para que esta convertesse a humanidade inteira num globo por ele unificado.
Não faltará muito para que este sonho adquira novos contornos visionários. O homem renascentista, mais seguro das suas potencialidades terrenas, não se quedará pelo anseio do céu. Vai procurar realizar o sonho na terra.
Para tal, importa mudar o espaço para um local sem marca, projectar uma nova ordem fora do tempo— visionar utopias.
O sonho de Colombo concretizar-se-á na Monarchia Hispânica de Campanella, ao mesmo tempo que novas cidades utópicas vão ser projectadas. Para tal, vai ser necessária uma nova cosmovisão que descentra a Cristandade.
A par, nova querela de iconoclastia despoleta no Norte da Europa. Usando as imagens como veículo de propaganda política e religiosa, ao mesmo tempo que as destrói, o movimento reformista queima-as, não tanto porque tema o seu efeito, antes porque o vê banalizado.
Urge destruir para refazer o percurso: regressar das imagens ao texto sagrado e materializa-lo de novo em seu lugar.
O iconoclasta, esvaziado na idolatria sem sentido, vai dar lugar ao utópico prenhe de imagens.
bibliografia:
CAMILLE, Michael, Gothic Art. Glorious Visons, Harry N. Abrams, incorporated; New York, 1996.
DUBY, Georges, O Ano Mil, Edições 70, Lisboa, 1967.
ZUNTHOR; Paul, La mesure du monde, Seuil, Paris, 1993.
Apocalipse de Saint Sever (sec.XI)
Quarta visão profética Genèse 6 – 13 , Apocalyse de Saint Sever, séc XI, BNF, Paris. Então disse Deus a Noé: O fim de toda carne é chegado perante mim; porque a terra está cheia da violência dos homens; eis que os destruirei juntamente com a terra.
Exactamente às 22h00 começa o Playtime de Jacques Tati na 2:. Não é coincidência, é uma montagem perfeita.
posted by Anónimo on 15:47
Jesus blood never failed me yet
A couple of years ago on my wife's birthday we heard a song called "Jesus' Blood Never Failed Me Yet" and it stayed in my head for so long. Tom Waits
Simples e comovente. Foi assim que João Almeida descreveu a composição "Jesus blood never failed me yet" de Gavin Bryars, num dos Bilhetes Postais de hoje (enviado através da antena 2). "A repetição não é necessariamente redundante", disse ainda João Almeida. Pode ser hipnótica. Fica na cabeça, ainda ouço a voz rouca de Tom Waits sobrepondo-se à voz do vagabundo que repete a sua cantilena até, ao fim de mais de uma hora, começar a desaparecer.
I like Americans.
They are so unlike Canadians.
They do not take their policemen seriously.
They come to Montreal to drink.
Not to criticize.
They claim they won the war.
But they know at heart that they didn't.
They have such respect for Englishmen.
They like to live abroad.
They do not brag about how they take baths.
But they take them.
Their teeth are so good.
And they wear B.V.D.'s all the year round.
I wish they didn't brag about it.
They have the second best navy in the world.
But they never mention it.
They would like to have Henry Ford for president.
But they will not elect him.
They saw through Bill Bryan.
They have gotten tired of Billy Sunday.
Their men have such funny hair cuts.
They are hard to suck in on Europe.
They have been there once.
They produced Barney Google, Mutt and Jeff.
And Jiggs.
They do not hang lady murderers.
They put them in vaudeville.
They read the Saturday Evening Post
And believe in Santa Claus.
When they make money
They make a lot of money.
They are fine people.
I Like Canadians
By A Foreigner
I like Canadians.
They are so unlike Americans.
They go home at night.
Their cigarets don't smell bad.
Their hats fit.
They really believe that they won the war.
They don't believe in Literature.
They think Art has been exaggerated.
But they are wonderful on ice skates.
A few of them are very rich.
But when they are rich they buy more horses
Than motor cars.
Chicago calls Toronto a puritan town.
But both boxing and horse-racing are illegal
In Chicago.
Nobody works on Sunday.
Nobody.
That doesn't make me mad.
There is only one Woodbine.
But were you ever at Blue Bonnets?
If you kill somebody with a motor car in Ontario
You are liable to go to jail.
So it isn't done.
There have been over 500 people killed by motor cars
In Chicago
So far this year.
It is hard to get rich in Canada.
But it is easy to make money.
There are too many tea rooms.
But, then, there are no cabarets.
If you tip a waiter a quarter
He says "Thank you."
Instead of calling the bouncer.
They let women stand up in the street cars.
Even if they are good-looking.
They are all in a hurry to get home to supper
And their radio sets.
They are a fine people.
I like them
Estudou-o [A Sala Vermelha, de Henri Matisse, 1951] todos os dias, durante meses, e mais tarde considerou ter sido a fonte de todas as suas pinturas abstractas. Quando se olha para ele, disse, «tornamo-nos aquela cor, tornamo-nos totalmente saturados dela»; era como música. Mais tarde chamou a uma das suas pinturas Homenagem a Matisse.
[Acabo de perder o post do pesadelo cedilhado! Fui lá buscar os códigos para este, esqueci-me de postar depois de os copiar e só percebi que estava a substituir tarde demais. Mais logo, se conseguir (falar nisso custa-me muito, sofro muito), reponho.]
posted by camponesa pragmática on 13:23
correr como um cão
Abbas Kiarostami: I think "running" is a character of the East and not necessarily Iran. The Easterners or the people of the third world have to work much harder than other nations. But if we really want to consider the meaning of these lives, this running is neither futile nor devoid of reason. They don't have a choice and that is a reality itself. This view encompasses not only the children but also the adults. Right now, most Iranians work three jobs. We even have an expression in Farsi 'running like a dog' which means working hard in order to make ends meet.
— Vá lá.
— Não, não gosto de futebol...
— Ofereço-te um cachecol...
— Não me sinto bem em sítios com muita gente aos gritos...
— Aqui ninguém vai gritar, prometo.
— ...
— Então, vens?
— Quero um cachecol vermelho escuro, cor de cereja.*
mossafer de Abbas Kiarostami | sábado dia 17 de abril | no pequeno auditório do Rivoli
À esquerda, em cima, as árvores do Campo Alegre; depois, a Faculdade de Arquitectura; em baixo o "frigorífico" que parece a casa do tio patinhas. Massarelos está escondida mas eu sei como é bonita esta zona, com restos das indústrias, hortas improvisadas e muitos gatos. A igreja de costas para o rio, como no filme do Manoel Oliveira e o viaduto mais lindo da cidade. O convento onde o amor se perdeu está em ruínas. O jardim do Palácio de Cristal, lá em cima, termina com as palmeiras esguias. A Restauração adivinha-se pelos plátanos em linha oblíqua. Junto ao rio, o Museu do Vinho do Porto, recém estreado, o edíficio cor-de-rosa da GNR e, já fora de campo, o edifício da Alfândega.
I dream that the cats, my daughter’s cats, can actually understand everything I say. And have been able to for many years. Therefore they know that I’ve been saying they’re retarded, or stupid, or crazy—that means they also know what I think of them—they go on as if they don’t, but they do. This secret knowledge eats at them and makes them even more crazy than they were to begin with. The effort they make to maintain appearances, to keep up the pretense of geniality and routine, is sometimes just too much for them, which is why they sometimes lash out at me, or at others, for no apparent reason.
A partir de 1950, Rothko deixou de dar qualquer explicação sobre as suas pinturas. «O silêncio é muito exacto», dizia, acrescentando que as palavras serviam apenas para «paralisar» a mente do observador. Numa conversa disse: «Talvez tenham notado que na minha pintura existem duas características: ou as suas superfícies são expansivas e empurram para fora em todas as direcções, ou as suas superfícies contraem-se e puxam para dentro em todas as direcções. Entre estes dois pólos, encontrarão tudo o que quero dizer.»
To a large degree, my choice of instruments (in terms of forces used, balance and timbre) was affected by the space of the chapel as well as the paintings. Rothko's imagery goes right to the edge of his canvas, and I wanted the same effect with the music - that it should permeate the whole octagonal-shaped room and not be heard from a certain distance. The result is very much what you have in a recording - the sound is closer, more physically with you than in a concert hall.
My whole generation was hung up on the 20 to 25 minute piece. It was our clock. We all got to know it, and how to handle it. As soon as you leave the 20-25 minute piece behind, in a one-movement work, different problems arise. Up to one hour you think about form, but after an hour and a half it's scale. Form is easy - just the division of things into parts. But scale is another matter. You have to have control of the piece - it requires a heightened kind of concentration. Before, my pieces were like objects; now, they're like evolving things.
Algum Morton Feldman no Porto [O Remix Ensemble apresenta este concerto (exceptuando a obra de Conlon Nancarrow) no Teatro Nacional de São Carlos (Lisboa), dia 16 pelas 18h00.]
Também sob escuta, outra vez e ainda, Sketches of Satie.
Quando vi o cd pensei que com esta capa, este nome, flauta e guitarra tinha de ser bom. E é. Mas é mais. É um som elementar e exacto, imperioso, como se Satie tivesse ficado todo este tempo à espera de uma flauta e de uma guitarra.
Fica aqui outra vez a página onde alguma coisa pode ser ouvida. Mas não vai chegar.
Naked and grey the Cotswolds stand
Beneath the autumn sun,
And the stubble-fields on either hand
Where Stour and Avon run.
There is no change in the patient land
That has bred us every one.
She should have passed in cloud and fire
And saved us from this sin
Of war - red war - 'twixt kith and kin,
In the heart of a sleepy Midland shire,
With the harvest scarcely in.
But there is no change as we meet at last
On the brow-head or the plain,
And the raw astonished ranks stand fast
To slay or to be slain
By the men they knew in the kindly past
That shall never come again -
By the men they met at dance or chase,
In the tavern or the hall,
At the justice-bench and the market-place,
At the cudgel-play or brawl -
Of their own blood and speech and race,
Comrades or neighbours all!
More bitter than death this day must prove
Whichever way it go,
For the brothers of the maids we love
Make ready to lay low
Their sisters' sweethearts, as we move
Against our dearest foe.
Thank Heaven! At last the trumpets peal
Before our strenght gives way.
For King or for the Commonweal -
No matter what they say,
The first dry rattle of new-drawn steel
Changes the world to-day!
Dia de Primavera
Demorando-se
Em tudo o que é água
Termino aqui a leitura de Primeira Neve [haikus], de Issa Kobayashi (Assírio & Alvim, colecção Gato Maltês). Neste livro há setenta e dois haikus, alguns desenhos e “A vida de Issa”, contada por Jorge Sousa Braga:
Itaro Kobayashi (Issa é o nome que adoptará mais tarde) nasceu em 1763, em Kashiwabara, na província montanhosa de Shinano ( hoje, Nagano), no Japão. Era uma região montanhosa de grande beleza, em que a neve fundia apenas no verão e a geada fazia a sua aparição logo no início do outono.
[…]
Nos haikus de Issa transparece para além da orfandade e do sentimento de perda, um amor pelos que sofem, pelos animais, aves e insectos, no melhor espírito budista, e uma leveza só comparável à da primeira neve.
Praça das Flores, Porto, 13.4.2004, cerca das 14h00
Não sei o que é que se passa na cidade. Primeiro foi aquela cerejeira, junto à Casa das Artes na rua Ruben A., depois mais algumas (dois ou três quarteirões adiante) na Guilherme Braga. No fim-de-semana, pareceu-me ver uma fiada de cerejeiras jovens, na Praça da República, no seguimento do viaduto Gonçalo Cristovão. Disseram-me que estava com visões, "não te iludas, o Porto não se presta a estes deslumbramentos".
Afinal eram apenas um sinal porque hoje descobri muitas cerejeiras em flor aqui mesmo à minha beira. Não tenho a certeza mas creio que são cerejeiras kazan.
Ainda não é um jardim. Os troncos são delgados contudo já têm folhas e flores a desabrochar agora mesmo, em Abril, sob os meus olhos, no meu percurso diário. Não sei a quem devo agradecer.
[Eu fui à Magnum ver fotografias de Elliott Erwitt. Esta manhã preocupei-me com as janelas dos comboios e com o cheiro a mofo das carruagens. A seguir almocei com amigos. Nascer aqui é um acaso, a minha cabeça neste corpo, nesta superfície, neste dicionário. Eu não me culpo à toa e não me culpo de certeza pelo acaso. A minha tranquilidade é que tropeçou, não eu: coexistir é promíscuo. Mas eis que uma frase do Quino na voz de papel da Susaninha, mesmo rasgada, restaura as coisas: Ainda bem que o mundo fica lá tão longe. O sarcasmo instintivo, o riso dos tristes. Life goes on.]
posted by camponesa pragmática on 15:23
Ideia.
Um tecto (pvc transparente!) no Rossio, totalmente hermético, algo que não se note e que proteja o cidadão incauto e inocente das agruras do ar.
posted by camponesa pragmática on 12:19
É permitido não abrir as janelas.
Porque é que as janelas dos comboios já não se abrem? Será para não nos debruçarmos? Para não cairmos do comboio? Porque é que o ar dos comboios é sempre condicionado? E porque é que em fumadores cheira a mofo e a tabaco velho e em não fumadores cheira a mofo e a mofo velho? No início das viagens. Mesmo de manhãzinha. Na linha do Sul e na linha do Norte. No Alfa. No intercidades. Em qualquer carruagem, a qualquer preço, cheira a mofo. E, mesmo que não cheirasse a mofo, para que serve o ar condicionado quando a temperatura normal é perfeitamente aceitável?
posted by camponesa pragmática on 12:04
Long, too long America,
Traveling roads all even and peaceful you learn'd from joys and prosperity only,
But now, ah now, to learn from crises of anguish, advancing, grappling with direst fate and recoiling not,
And now to conceive and show to the world what your children en-masse really are,
(For who except myself has yet conceiv'd what your children en-masse really are?)
On my fifth birthday in 1967, along with two pairs of brown socks, I received a one dollar bill from my wonderful parents. Boy, what gift givers they were. With dollar bill in hand, I thought and thought and thought. I thought hard about what to buy. And after weeks of thinking and looking at millions of things priced under a buck, I finally let go of the dollar bill to purchase the Beatles album, Sergeant Pepper's Lonely Heart's Club Band. My first record album it was. Though I had no phonograph to play it on, I did stare at it a lot. However, a few months later my best uncle, my Uncle Hoxie, who could fix anything, fixed one up that he had garbage picked for me. The Beatles are the best band in the world to get a five year old kid hooked on music. I began to sing along and fake play along all the time. And all the time I wished really hard that I was in a band.
Vincent Gallo: I like Cat Power, especially the song Mr. Gallo . I would like any band that did a song about me. Even though that good looking Cat Power chick, Chan Marshall, wrote some nasty words. What could she do? She loved me. I would've done the same thing if I loved me. Anyway, that chick's a superstar. I should've stayed with her.
Vincente Gallo em entrevista a si próprio, Grand Royal Magazine, Feb. 1997
The Brown Bunny do Vincent Gallo estreou. Ao que consta mutilado e truncado, não é a versão que foi vista em Cannes. Mas um filme dele não aparece todos os dias!
posted by zazie on 02:34