Philip Larkin já chegou às livrarias. Está escondido. Para o descobrir é preciso saber a palavra chave (Em vez de palavras, vêm-me à ideia janelas altas:/ O vidro que acolhe o sol, e mais além / O ar azul e profundo, que não revela / Nada e está em lado nenhum e não tem fim).
Hoje apeteceu-me roubar algumas páginas do livro da Susan Sontag. Da duzentos e três até à duzentos e vinte e cinco. Mas não tive coragem, a livreira acenou-me com um Walser que pensava que não mais reencontraria. Adeus Bresson…
Na Ficções #9 dei de caras com “O Blusão de Couro”, de Cesare Pavese (com tradução de José Lima) e um conto de Óscar de Sá intitulado “Deleituras” que, creio, é uma resposta muito completa ao repto da natureza do mal. Começa assim: “Quem desce a Rua da Fábrica, na baixa do Porto…”
O Luís continua a lerGertrud, de Carl Dreyer.
Numa entrevista, Baard Owe — o actor mais jovem do filme que interpreta o pianista — conta que um dia perguntou ao realizador: “Porque há tantas palavras? Porque falam tanto? Porquê estas tiradas tão longas?”
“Este filme é sobre a palavra”, respondeu Dreyer. “Eu quero fazer um filme sobre as palavras”.
A revelação mais estranha é o episódio da persiana com Leda e o Cisne desenhados. Dreyer empenhou-se tanto em conseguir esta persiana, que considerava um símbolo muito importante, mas nós não a vemos nunca. Nem um único plano a mostra aos nossos olhos. “Está tudo na minha cabeça. Não é assim tão importante”, justifica Dreyer no fim. É importante e contudo.
São precisos muitos anos para gostar de Gertrud. Para começar por fim a entender o último plano do filme, um dos mais pungentes de toda a história do cinema.