"É meu desejo que, ao ver as imagens deste filme, os espectadores compreendam o que vão perder se não impedirem a destruição dos recifes de coral". Foi com esta frase que Leni Riefenstahl assinou no ano 2000 o seu último grande filme.
A impressão profunda que o mar e em particular a vida marinha dos corais lhe causavam ficou ali ilustrada nas imagens captadas por Horst Kettner, operador de câmara e seu assistente permanente durante mais de trinta anos.
O mar foi de resto a última grande paixão da vida da controversa realizadora alemã, e justificou a sua quinta carreira profissional, talvez a menos conhecida do grande público.
"Tirar da alma os bocados precisos – nem mais nem menos" (Álvaro de Campos, Apostila)
(colagem/técnica mista 53 x 48 cm)
"Hup-la, hup-la – Pessoa visual" é a primeira exposição individual de Sara Huete (n. Santander, 1962) em Portugal. Para esta mostra a artista espanhola realizou um conjunto de trabalhos baseados na obra poética de Fernando Pessoa.
Durante a exposição é possivel comprar as edições da Assírio & Alvim das obras de Fernando Pessoa a preços especiais.
Galeria ARTFIT | Arte Contemporânea
Lisboa, Rua Teixeira Pascoaes,11B. De 3ª a sáb. das 15h às 19h30. Até 25 de Outubro.
O Pintainho, li no blog do Rui MCB, acabou. Fui lá. Acabou mesmo. Não sei porquê.
Eu gostava do Pintainho. Deveras. Havia pios linkados para outros blogs, mas não era à toa. Por exemplo, o Pintainho linkava o Abrupto em posts com muitos muitos muitos pios. Fazia sentido. E nos dias em que não linkava nada, o Pintainho escrevia um post simples com um ou dois ou três pios e assim retratava toda a blogosfera onde se pia todos os dias qualquer coisa, no matter what.
Havia pios em minúsculas, pios em maiúsculas, pios em minúsculas e maiúsculas, pios com as letras unidas, pios com as letras separadas por traços, pios com letras separadas por linhas, pios com pontos finais, pios com pontos de exclamação, pios sem pontuação.
Eu pensava no Pintainho como o último sentido do riso, o mais inteligente e o mais triste sentido do riso. Também fora da blogosfera se pia. Toda a humanidade pia. Com mais ou menos ênfase, mais ou menos conteúdo, tudo o que fazemos e dizemos é, literalmente, um pio.
Esta ideia resultava hilariante. E comovente porque, por outro lado, não menos importante, o melhor da humanidade é que pia sempre - apesar de, contra e com a pequenez, a fugacidade, o abandono, o absurdo, as contradições todas do mundo. Piamos e ainda bem. De qualquer forma falta ainda muito tempo para o Sol começar a crescer como uma barata tonta desesperada em busca de energia, engolir Vénus e nós entrarmos em pânico com a consciência de não sermos mais que um pio e de todos os nossos livros irem arder.
Dizia-se muito no Pintainho. Lamento que tenha acabado tão depressa.
da esquerda para a direita: Santa Clara Mexico, 1934; Pierre Bonnard, 1944
De Barcelona chega-nos uma boa notícia. Foi o Alejandro Díaz, nosso estimado leitor, que nos alertou para uma belíssima exposição de fotografias de Henri Cartier-Bresson, inaugurada no dia 19 de Setembro e que se prolongará até 4 de Janeiro de 2004. Uma boa razão para preparar uma viagem à Catalunha.
Ésta es la primera gran retrospectiva de Henri Cartier-Bresson (Chanteloup, Francia, 1908), maestro de maestros de la fotografía y referente indiscutible de la mirada documental de todos los tiempos. Su amigo personal y gran conocedor de la historia de la fotografía, Robert Delpire, es el comisario de esta muestra producida por la Fundación Henri Cartier-Bresson y organizada por Magnum Photos y la Fundación "la Caixa".
Vinha pela avenida acima espreitando as mercearias. As romãs ainda não estão a ponto de serem comidas. É preciso esperar mais uns dias. Das romãs passei para as mil e uma noites (tenho de falar desta ligação à Ana, pensei)
E, levantando-se, foi buscar a travessa de porcelana cheia da famosa salada de romã, daquela deliciosa iguaria que tão bem sabia preparar e que havia ensinado em Baçora a Badredine, seu filho, sendo ele ainda criança. (na história do belo Hassan Bradredine)
São pequenas jóias literárias dos maiores autores, diz a editora. Uma das mais bonitas colecções de livros, digo eu. As capas são de Bernardo Marques e o formato é o apropriado para meter no bolso. Gostaria de ter mais mas os títulos que me interessam são difíceis de encontrar. Consegui estes seis. Aqui ficam, como objectos em extinção.
Gosto desta expressão. Ouço-a e imagino um frente a frente, uma contabilidade de prazeres, dores, angústias, tristezas, alegrias, … avaliada em línguas de gato e bolachas Maria, como o Vasco Santana fazia no filme. A preto & branco, também.
(eu não sei o que é que há em ti que fecha
e abre;apenas alguma coisa em mim entende
a voz dos teus olhos mais profunda que todas as rosas)
ninguém,nem mesmo a chuva,tem tão finas mãos
«O primeiro engarrafamento em São Paulo. Tempo para começar a ler minhas comprinhas numa pequena feira de livros no campus USP, dois sobre cinema -- um sobre Sokurov, uma nova moda por aqui -- e uma novela do Dostoievski em edição bastante atraente. Fico imaginando quanta literatura não se pode apreciar numa vida inteira de engarrafamentos como esse...» - Joseph Kern's Diary
posted by camponesa pragmática on 10:59
sábado, setembro 27, 2003
dentro de momentos
Good evening one and all - We're all so glad to see you here.
We'll play your fav'rite songs,
while you all soak up the atmosphere.
We'll start with Old Man River,
Then Maybe Stormy Weather, too.
I'm sure you know just what to do.
On with the show, good health to you.
Please pour another glass
It's time ot watch the cabaret
Your wife will never know
That you're not really working late
Your hostess is Wendy
You'll find her very friendly, too
And we don't care just what you do
On with the show, good health to you
We climbed and we climbed,
Oh, how we climbed
My, how we climbed
Over the stars to the top
Of Tiger Mountain
Forcing the lines through the snow.
I nearly always work from ideas rather than sounds. Titles. It's that title that just fascinates me. It's fabulous. I mean, I am interested in strategy, and the idea of it. I'm not Maoist or any of that; if anything, I'm anti-Maoist. Strategy interests me because it deals with the interaction of systems, which is what my interest in music is really, and not so much the interaction of sounds.
Brian Eno (More Dark Than Shark)
2. Depois de jantar leio uma boa notícia .
Daqui a algumas horas começa a última emissão da Íntima Fracção na TSF.
Mas a IF continua na próxima frequência.
Na quinta-feira voltei a ver o “Hable con ella”. No quarto (do hospital) de Alicia, em cima da mesa de cabeceira, estava um livro com o Robert Mitchum, the preacher.
Por coincidência, o filme vai estar em Lisboa, nos últimos dias de Outubro. Mais uma excelente surpresa da Zero em comportamento.
É um filme sobre o bem e o mal, um filme extraordinário. O único de Charles Laughton, filmado em estado de graça, em êxtase, o que quiserem…
Vamos acompanhar esta sessão, vamos procurar os textos da Ana Teresa Pereira (não é Lídia?) e do Manuel António Pina (e não há ninguém melhor do que ele para falar sobre "A sombra do caçador").
Tenho os olhos cansados de não ver. Este ano não houve encontros em Braga nem em Coimbra mas amanhã... amanhã vou ver o mar…
Jean Gaumy, THE MANCHE. The tugboat ABEILLE LANGUEDOC, 2000.
Centro Português de Fotografia/Cadeia da Relação De 3ª a 6ª, das 15h às 18h; e fins-de-semana e feriados, das 15h às 19h. Até 30 Novembro. Entrada Livre.
Cabem no bolso de trás dos jeans. São mesmo “livrinhos”: pequenos, baratos (seis euros, apenas), apetecíveis, com uma bonita capa de papel pardo. Este é o primeiro da colecção. Só há oitocentos exemplares.
Cozinha de casa pobre. Ao fundo, uma porta. Numa parede, um calendário e uma janela. A Mãe olha para o Pai que lê o jornal.
Silêncio
A Mãe: Já sei porque é que ressonas.
O Pai: Então?
A Mãe: Dormes com a boca aberta.
O Pai: Como é que que sabes?
A Mãe: Vejo.
O Pai: Quando eu estou a dormir?
A Mãe: Sim.
O Pai: Em vez de te pores a olhar para mim, apaga mas é a luz.
A Mãe: Não posso apagar a luz. Tenho de ler as orações.
O Pai: Não as sabes de cor?
A Mãe: Sei.
O Pai. Então apaga a luz.
A Mãe: Olho para os santinhos.
O Pai: Olha de dia.
A Mãe: E à noite, olho para quê?
O Pai: Nada. dorme.
A Mãe: Como é que eu posso dormir, se tu ressonas?
A Festa > Teatro Taborda: 11 de Setembro a 12 de Outubro
Digressão: Outubro/Novembro/ Dezembro
”Os últimos dias da humanidade” começou a ser escrito em 1915. A primeira versão da obra veio a lume na revista “Die Facke”l, em 1918-1919, tendo sido publicada em livro em 1922, numa versão revista e alargada. Esta primeira edição portuguesa apresenta uma selecção de 115 cenas das 209 que constituem o texto original.
Ninguém levou tão longe a representação do mal absoluto da guerra. Kraus procurou captar o teatro de guerra como fantasmagoria tecnológica e discursiva. Montagem verbal e montagem cénica desenvolvem-se segundo uma lógica recursiva e centrífuga, capaz de dar ao horror dos actos e das palavras um alcance social panorâmico. A intensidade do pathos satírico e a multiplicação dos quadros dramáticos permitiu-lhe construir uma estética da mais alta indignação. Para o estado de apocalipse a que a humanidade se condenara nem o testemunho do poeta era já possível. Notícias impressas, oratória militar, pregões, cenas de rua, dos corredores do poder e das frentes de batalha alternam num processo de montagem, cuja natureza documental só acentua a miséria da linguagem. Os últimos dias da humanidade mostra de que forma as condições de inteligibilidade do presente produzidas pela imprensa fazem, de facto, parte da ordem da morte que alegadamente descrevem. Ao tornar visível essa ignóbil função de tornar invisível o sofrimento dos seres humanos, Kraus encena o moderno mercado da violência que tornou a humanidade cúmplice do seu próprio extermínio.
Quem são estes editores, esta gente que ainda insiste em descobrir, em contrariar o gosto, que lança livros difíceis (metem tanto medo, estes substantivo+adjectivo), quem são os leitores, que mundo é este dos livros que me parecia tão mortiço, agónico, fantasmático e onde agora vejo coisas insuspeitas que se movem?
Fiquei tão surpreendida que nem sequer tive maneiras. As boas vindas fazem-se com ofertas. Deviam ser frésias mas, apesar de ser Setembro, não as encontrei. Ficam alguns figos e cerejas…
Josefa de Óbidos, Natureza morta: pote e cestos com queijos, figos e cerejas
"O município devia ter garantido um espaço de dignidade. Num edifício de referência tem que se acautelar a zona circundante. A arquitectura é também o que está à volta"
Subscrevo este artigo e subscrevo também o editorial de ontem, de José Manuel Fernandes.
Se nada for feito cubro-me de vergonha.
A copa da faia é perfeitamente redonda. Nesta altura do ano ainda está cheia de folhas muito verdes, brilhantes e viçosas. Na ponta dos ramos há folhas pequenas, mais claras, nascidas há menos tempo. É bonita. Soa quando o vento passa. É normal. Estranho é vê-la muito quieta e muito silenciosa. Isso às vezes acontece. Nessas alturas fico felicíssima e tenho vontade de a abraçar. Já desisti de me perguntar porquê. Nunca a abracei, não quero que me internem.
Em jardins particulares, quando ninguém olha, sim, às vezes deixo-me ir. É muito bom abraçar as árvores. Em geral cheiram bem, são seres tranquilos e tocar-lhes é uma injecção de alegria (e de formigas, também, nada que um banho não resolva).
A partir de Novembro a faia estará nua. Será do sol nos dias de sol e da chuva nos dias de chuva. Uma mancha transparente de ramos escuros. Em Janeiro, com os dias a crescer, passarei a olhá-la com maior ansiedade. É por ela que sei que a Primavera vai chegar, quando, de um dia para o outro, as pontas dos ramos ficam cheias de botões.
posted by camponesa pragmática on 16:54
a história de um homem que procura a morte e que só encontra a vida
– Disse-nos que tinha tido dificuldade em gostar do seu último filme, “O vento levar-nos-à”. Ouvir os outros falar do filme reconciliou-me com ele, quando soube que os espectadores tinham compreendido do filme exactamente aquilo que eu queria que eles compreendessem. Para se gostar do seu próprio filme é preciso desde logo uma distanciação em relação a ele, antes de o rever. Há recordações ligadas à rodagem que ainda me incomodam, detalhes de que não gosto. Fazer este filme demorou quase sete meses e isso deixou-me exausto… O filme começou a morrer na mesa de montagem. E foram precisos os vossos olhares para o ressuscitar.
– O filme passa-se em paisagens magníficas. Será que, como disse John Ford, a sua vontade de fazer este filme resulta também da vontade de passar algum tempo neste enquadramento também esplêndido? É precisamente isso: procurei um pretexto para ir para aquela paisagem. O tema pouco importava; o que contou foi o meu desejo por aqueles lugares que vemos no filme. Há quatro anos, alguém me trouxe o tema e eu vi aí a oportunidade de filmar aquelas paisagens. Fui lá e durante dois anos tirei fotografias de repérage, até encontrar aquela aldeia, suficientemente estranha aos meus olhos – a mais estranha que já vi. Depois de transpor o tema para a aldeia, juntei os elementos do filme como uma vestimenta.
– O que é que essa aldeia tinha de tão estranho? Os habitantes e a sua atitude a nosso respeito. Eles não conheciam o nosso trabalho e fomos considerados intrusos, um pouco como a equipa de rodagem do filme, e comunicar com eles manteve-se difícil até ao último dia de rodagem. Mas estavam tão ocupados com o seu trabalho que não tinham tempo para se preocuparem connosco – trabalhavam de manhã à noite e não faziam mais nada. E como a cerimónia fúnubre evocada no filme está ligada a uma forma de economia primitiva, era preciso que a aldeia fosse distante e recolhida para que fosse credível.
– Asssitiu a essa cerimónia? Não, mas acho que ela existe porque vi quatro instrumentos relacionados com ela: é como se a tivesse visto. Às vezes, os indícios são suficientes, e o cinema contenta-se em dar indícios ao espectador mais do que deseja mostrar tudo. O cinema que me interessa consiste em persuadir o espectador.
– É por isso que nunca mostra os colaboradores da personagem principal? Ouvimo-los falar, é suficiente, é inútil mostrá-los: sabemos que eles estão lá.
– Há uma parte autobiográfica de Abbas Kiarostami, cineasta próximo do documentário, que se pode encontrar na situação da personagem do filme? É possível… Todo o ser humano fala sempre de si mesmo, o que quer que se faça, é uma regra geral. Cada vez que conto alguma coisa, conto uma parte de mim.
– Os habitantes da aldeia aceitaram interpretar o papel de si mesmos? Não. Para todos os papéis com alguma importância, à excepção da jovem, fui buscar habitantes das aldeias à volta. Era impossível pôr os daquela aldeia à frente da câmara, e só os vemos como silhuetas. Tinha de usar todo o tipo de manhas, de lhes contar não importa o que fosse, para os poder filmar um bocadinho. Para filmar a cena do desabamento, pus uma pessoa da nossa equipa no fundo do poço e fiz-los crer que era um verdadeiro acidente. Aí, vieram ajudar, mas nunca se teriam movido se soubesssem que era apenas a rodagem de um acidente simulado. Recusavam-se mesmo a filmar por dinheiro. Para eles, éramos incapazes de fazer um trabalho sério. O fascínio do cinema não funcionou aqui, trata-se de um outro planeta. Sei que não vou mostrar lá o filme porque ver a sua própria aldeia no ecrã não lhes interessa absolutamente nada.
– Num dos planos vemos o acasalamento de duas vacas. Foi um acaso ou uma encenação com um significado? Era Verão e cada vez mais queríamos filmar os animais, eles estavam a acasalar! A vida continua… Era a estação dos amores. Toda a aldeia acasalava, os animais e as pessoas… Todos menos nós!
– O sexo está efectivamente muito presente. Sim. Se quisermos resumir o filme numa linha, é a história de um homem que procura a morte e que só encontra a vida. E naquela aldeia a vida está presente em todo o lado, de maneira ainda mais forte do que a filmamos.
Abbas Kiarostami entrevistado por Fréderic Bonnaud e Serge Kaganski para a revista “Les Inrockuptibles” (24.11.1999)
Retirado da folha do Cineclube do Porto que acompanhou a sessão
Próximas sessões do Cineclube do Porto (16h00 e 21h30, Casa das Artes):
05.10 O Passo suspenso da cegonha, de Theo Angelopoulos
19.10 Mãe e filho, de Alexandr Sokuvov
A bem dizer cuido que o Custódio foi um grande poeta
É um livrinho precioso, este. O texto é de Raul Brandão e os desenhos são de Mário Botas. Chama-se "O senhor Custódio" e foi editado em 1987 pela Quetzal.
Fica aqui a primeira página, em jeito de dedicatória aos nossos queridos vizinhos.
Talvez continue...
A palavra é o único fundamento do mundo.
Eu sou seu servo e dono.
E se o espírito manda átomos para que
olfatem, toquem, sintam, estamos em verdade
no campo, iguais aos deuses.
A linguagem não toca nada novo.
Não há juízo final,
não há nada superior. A assunção
está no concêntrico, onde tudo
o que vemos e não vemos é mais que um grão de areia.
As coisas parecem mais próximas quando miradas.
Mas isso não é um critério. Repito: as coisas
não são o critério. O critério está
em nós mesmos como a dispersão final.
A morte é só um erro na denominação
daqueles que estão privados da luz.
music drifted in the wind/someone touched colours and rhythms/remembrances and dreams/nostalgia and whispers of the soul/and merged them into a journey/towards tomorrow, towards light
sob escuta
The last resplendent morning star
heralded the coming of the sun on high
No mist or shadow dared to mar
the sheer perfection of the cloudless sky
from where a gentle breeze would blow
caressing the faces down below
as if to murmur into the heart’s recesses
Life is sweet and…
Life is sweet
retirado do poema “Easter Sunday”, de Dionysios Solomos