Enquanto os indiscretos não regressam da tournée aproveito para desejar uma alegre semana de trabalho e umas prósperas eleições americanas para todos.... e o que tiver de ser será ...
If hands could free you, heart,
Where would you fly?
Far, beyond every part
Of earth this running sky
Makes desolate? Would you cross
City and hill and sea,
If hands could set you free?
I would not lift the latch;
For I could run
Through fields, pit-valleys, catch
All beauty under the sun--
Still end in loss:
I should find no bent arm, no bed
To rest my head.
Muitas lendas se enredam à volta desta singela florzinha representada num herbário quinhentista. A chamada erva de S. Cristóvão, que tanto intrigou o nosso amigo Luís, não se destinava apenas a curar doenças venéreas femininas ou outras enfermidades oriundas das profundezas maternas. Era também ela a flor das festas do mata-cão, quando terminava a canícula e os campos se livravam das ervas impuras e dos cães vadios e sarnentos.
Associada ao velho mito de S. Cristóvão Cinocéfalo , a planta da morte da canícula é também a for mítica das lendas populares da renovação do tempo e das metamorfoses do corpo. O cão ou o lobo, é o ser gerado pelo parto dos homens mascarados das festividades carnavalescas dos ritos campestres ou o lobo da Obra maçónica que assimila estes rituais escatológicos.
Os velhos filmes de terror não vão esquecer a lenda. No Werewolf of London(que inicialmente deveria ser protagonizado pelo dueto Karloff e Lugosi) a fantástica maldição da lupina vai atrair um jovem botânico que parte para o Tibete em busca da rara planta que só floresce à luz da lua. Como seria de esperar, os lobisomens tibetanos são largados às urtigas e o cerebral botânico acaba por libertar o seu lobo em Londres, encontrando o antídoto na própria florinha e na ansiosa namorada.
Vestido de cavalo e fina seda
e coberto de escamas luminosas
é como se tivesse uma outra idade
(a verdadeira) e o jovem corpo
capaz de atravessar muros e medo.
Inclinarias sobre a minha boca
um nome arrevesado com sabor
a terras estrangeiras visitadas
secretamente, em noite toda escura,
envolto, nu, em glória impermeável.
Vais-me dobrar em dois como se dobra
um dia que passou sem nada dentro,
o velho ardor de nuvens encardidas;
sem ver na minha voz como cantava
ao telefone a sombra da memória
do desejo que dói como um veneno.
Estava o dia nublado. Ninguém se resolvia
soprava um vento ligeiro: «Não é o grego é o
siroco» disse alguém.
Alguns ciprestes esguios cravados na encosta e o
mar
cinzento com lagoas luminosas, mais além.
Os soldados apresentavam armas quando começou a chuviscar.
«Não é o grego é o siroco» a única resolução que
se ouviu.
Todavia sabíamos que na alba seguinte não nos restaria
mais nada, nem a mulher bebendo ao nosso lado o sono
nem a memória de que fomos homens alguma vez,
mais nada na alba seguinte.
«Este vento traz à mente a primavera» dizia a amiga
caminhando a meu lado olhando para longe «a primavera
que de repente caiu no inverno perto do mar fechado.
Tão inesperadamente. Passaram tantos anos. Como vamos
morrer?»
Uma marcha fúnebre vagueava por entre a chuva miudinha.
Como morre um homem? Estranho ninguém refletiu
nisso.
E os que pensaram nisso era como memória de crónicas
velhas
da época dos cruzados ou da - em Salamina - batalha
naval.
Todavia a morte é algo que é feito; como morre
um homem?
Todavia alguém ganha a sua morte, a sua própria morte,
que não pertence a nenhum outro
e este jogo é a vida.
Baixava a luz sobre o dia nublado, ninguém se
resolvia.
Na alba seguinte não nos restaria nada; tudo entregue;
nem sequer as nossas mãos;
e as nossas mulheres trabalhando para outros nos fontanários e
os nossos filhos
nas pedreiras.
A minha amiga cantava caminhando a meu lado
uma canção amputada:
«Na primavera, no verão, escravos...»
Lembrávamo-nos de mestres anciãos que nos deixaram
órfãos.
Uma casal passou a conversar:
«Fartei-me do crepúsculo, vamos para casa
vamos para casa acender a luz.»
«Pode-se estar fatigado do mundo - fatigado dos fazedores de orações de poemas cujos rituais são recreativos, humanos e agradáveis, mas piores do que irritantes porque não têm realidade - e continuam a querer muito à própria realidade. Desejamos vislumbrar a realidade. Deus é uma imensidão, enquanto esta doença, esta morte que reside em mim, este pequeno e rigidamente definido evento pedestre, é simplesmente real, sem milagres nem instruções. Estou de pé numa jangada desancorada, um bote que se move na face flexível e fluente de um rio. É precário. O desconhecido, o tenso equilíbrio, as sacudidelas e a instabilidade espalham-se em largas ondulações através de todos os meus pensamentos. Paz? Nunca houve nenhuma no mundo. Mas estou agora a viajar na água maleável, sob o céu e à deriva; ouço-me rir, de nervoso ao princípio e, depois, genuinamente fascinado. O riso está todo à minha volta.»
Harold Brodkey no final de "Esta feroz escuridão - a história da minha morte" (tradução de José Luís Luna, edição da Bizâncio, Novembro de 1999)
Watcher, Natália, João ou Isabel. Para ler na Pública.
Sólo buscava un lugar más o menos propicio para vivir, quiero decir: un sitio pequeño donde cantar y poder llorar tranquila a veces. En verdad no quería una casa; Sombra quería un jardín.
- Sólo vine a ver el jardín - dijo.
Pero cada vez que visitaba un jardín comprobaba que no era el que buscava, el que quería. Era como hablar o escribir. Después de hablar o de escribir siempre tenía que explicar:
- No, no es eso lo que yo quería decir.
Y el peor es que también el silencio la traicionaba.
- Es porque el silencio no existe - dijo.
El jardín, las voces, la escritura, el silencio.
- No hago otra cosa que buscar y no encontrar. Así pierdo las noches.
Sintió que era culpable de algo grave.
- Yo no creo en las noches - dijo.
A lo cual no supo responderse: sintió que le clavaban una flor azul en el pensamiento con el fin de que no siguiera el curso de su discurso hasta el fondo.
- Es porque el fondo no existe - dijo.
La flor azul se abrió en su mente. Vio palavras como pequeñas piedras diseminadas en el espacio negro de la noche. Luego, pasó un cisne con rueditas con un gran moño rojo en el interrogativo cuello. Una niñita que se le parecía montaba el cisne.
- Esa niñita fui yo - dijo Sombra.
Sombra está desconcertada. Se dice que, en verdad, trabaja demasiado desde que murió Sombra. Todo es pretexto para ser un pretexto, pensó Sombra asombrada.
Alejandra Pizarnik, 1.5.1972
in "Poesía Completa", Editorial Lumen
Tendo como ponto de partida alguns compositores oriundos da música pop que depois enveredaram pelos caminhos da música contemporânea, o Remix Ensemble estreia-se no TeCA com um programa em que se destacam duas obras fundamentais de Heiner Goebbels (industry & Ildeleness e la jalousie). Mark-Anthony Turnage (eulogy) e Iris ter Schiphorst (broken), temperados pelas irrupções românticas da música de Georg Friedrich Haas (monodie para 18 instrumentos), completam um programa de concerto particularmente comunicativo com o qual o Remix Ensemble celebra o seu 4º Aniversário.
I
E sobretudo olhar com inocência. Como se nada se passasse, o que é certo.
II
Mas a ti quero olhar-te até estares longe do meu medo, como um pássaro no limite afiado da noite.
III
Como uma menina de giz cor-de-rosa num muro muito velho subitamente esbatida pela chuva.
IV
Como quando se abre uma flor e revela o coração que não tem.
V
Todos os gestos do meu corpo e voz para fazer de mim a oferenda, o ramo que o vento abandona no umbral.
VI
Cobre a memória da tua cara com a máscara daquela que serás e afugenta a menina que foste.
VII
A nossa noite dispersou-se com a neblina. É a estação dos alimentos frios.
VIII
E a sede, a minha memória é da sede, eu em baixo, no fundo, no poço, bebia, recordo.
IX
Cair como um animal ferido no lugar de hipotéticas revelações.
X
Como quem não quer a coisa. Nenhuma coisa. Boca cosida. Pálpebras cosidas. Esqueci-me. Dentro o vento. Tudo fechado e o vento dentro.
XI
Sob o negro sol do silêncio douravam-se as palavras.
XII
Mas o silêncio é certo. Por isso escrevo. Estou só e escrevo. Não, não estou só. Há alguém aqui que treme.
XIII
Ainda que diga sol e lua e estrelas refiro-me a coisas que me acontecem.
E o que desejava eu?
Desejava um silêncio perfeito.
Por isso falo.
XIV
A noite parece um grito de lobo.
XV
Delícia de perder-se na imagem pressentida. Levantei-me do meu cadáver, fui à procura de quem sou. Peregrina, avancei em direcção àquela que dorme num país ao vento.
XVI
A minha queda sem fim na minha queda sem fim onde ninguém me esperava pois ao descobrir quem me esperava outra não vi senão a mim mesma.
XVII
Algo caía no silêncio. A minha última palavra foi eu embora me referisse à aurora luminosa.
XVIII
Flores amarelas constelam um círculo de terra azul. A água treme cheia de vento.
XIX
Deslumbramento do dia, pássaros amarelos na manhã. Uma mão desata as trevas, arrasta a cabeleira da afogada que não cessa de passar pelo espelho. Voltar à memória do corpo, hei-de regressar aos meus ossos de luto, hei-de compreender o que a minha voz diz.