Grande gênero de plantas herbáceas, arbustos e arvoretas da família das malváceas, dotadas de folhas denteadas ou lobadas e grandes folhas exuberantes.
Recebemos flores. Belos Hibiscos, enviados pela Teresa.
E não é que eles trouxeram o sol de novo? Muito obrigada.
Hoje o jornal diz que as crianças conseguem distinguir um filme de um noticiário. E que isso é objecto de estudo. Sim, qualquer coisa neste mundo pode ser objecto de estudo. O que não compreendo é que se estudem as crianças como se estudam as alforrecas, das quais não se possui memória. Nunca fui alforreca, mas já fui miúda e conseguia distinguir um filme de um noticiário. Bem como a maioria dos outros miúdos. Aliás, seria de estranhar que assim não fosse - isso sim, mereceria um estudo. Talvez porque a selecção dos conteúdos permitidos ou proibidos em televisão, até certa idade, estava a cargo dos pais e não de escolhas dos editores baseadas em estudos bizarros que parecem partir do princípio de que as crianças são seres indecifráveis e tendencialmente idiotas.
posted by camponesa pragmática on 11:01
s. f.,
faculdade de conservar e reproduzir as ideias, imagens ou conhecimentos anteriormente adquiridos;
a lembrança de qualquer coisa ou alguém;
reminiscência;
aptidão para recordar especialmente certas coisas;
apontamento para lembrança;
Psic.,
conjunto de funções psíquicas pelas quais temos consciência do passado como tal, que inclui a fixação, a conservação, a lembrança e o reconhecimento dos acontecimentos;
- colectiva: conjunto dos elementos culturais, sociais e históricos que constituem as referências colectivas de um povo;
- de elefante: grande capacidade de memorização;
- de grilo: memória fraca;
- visual: faculdade de reter e lembrar posteriormente pessoas, coisas ou factos vistos;
de -: de cor;
refrescar a -: recordar ou fazer recordar algo caído no esquecimento;
varrer da -: esquecer.
quinta-feira, outubro 02, 2003
Chuva, por Francis Ponge
A chuva, no pátio em que a olho cair, desce em andamentos muito diversos. No centro, é uma fina cortina (ou rede) descontínua, uma queda implacável mas relativamente lenta de gotas provavelmente bastante leves, uma precipitação sempiterna sem vigor, uma fração intensa do meteoro puro. A pouca distância das paredes da direita e da esquerda caem com mais ruído gotas mais pesadas, individuadas. Aqui parecem do tamanho de um grão de trigo, lá de uma ervilha, adiante quase de uma bola de gude. Sobre o rebordo, sobre o parapeito da janela a chuva corre horizontalmente ao passo que na face inferior dos mesmos obstáculos ela se suspende em balas convexas. Seguindo toda a superfície de um pequeno teto de zinco abarcado pelo olhar, ela corre em camada muito fina, ondeada por causa de correntes muito variadas devido a imperceptíveis ondulações e bossas da cobertura. Da calha contígua onde escoa com a contenção de um riacho fundo sem grande declive, cai de repente em um filete perfeitamente vertical, grosseiramente entrançado, até o solo, onde se rompe e espirra em agulhetas brilhantes.
Cada uma de suas formas tem um andamento particular; a cada uma corresponde um ruído particular. O todo vive com intensidade, como um mecanismo complicado, tão preciso quanto casual, como uma relojoaria cuja mola é o peso de uma dada massa de vapor em precipitação.
O repique no solo dos filetes verticais, o gluglu das calhas, as minúsculas batidas de gongo se multiplicam e ressoam ao mesmo tempo em um concerto sem monotonia, não sem delicadeza.
Quando a mola se distende, certas engrenagens por algum tempo continuam a funcionar, cada vez mais lentamente, depois toda a maquinaria pára. Então, se o sol reaparece, tudo logo se desfaz, o brilhante aparelho evapora: choveu.
1. A propósito da exposição de Jean Gaumy que a Ana publicou no Boogie, resolvi fazer uma visita guiada ao Centro Português de Fotografia. Um post em construção. A entrada é gratuita.
A não perder sob qualquer pretexto: o belíssimo “L’innocente” de Luchino Visconti. Logo às 21h00 no canal Hollywood.
Há informações preciosas aqui ao lado.
breves notas sobre a batata doce (especial para suavizar melindres gastronómicos nortenhos)
1. A batata doce não é uma batata normal com açúcar em cima.
2. Veja-se a diferença entre os exemplares: à esquerda, batatas desenxabidas; à direita, batatas doces.
3. A batata doce é mais escura, a casca é avermelhada, a forma retorcida e sinuosa e, frequentemente, tem barbas.
4. Aparece nos supermercados e nas mercearias mais ou menos nesta altura.
5. Então compram-se umas vinte, levam-se para casa, lavam-se, limpam-se, não se descascam, dá-se-lhes uns cortes pequeninos (uns furinhos com uma faca), metem-se num tabuleiro e levam-se a um forno bem quente.
6. Se o vento estiver a preceito, daí a 1 hora estão prontas; se não estiverem é chegada a altura de saltitar de 10 em 10 minutos em redor do forno espetando-lhes palitos amiúde até estarem macias.
7. Retiradas do tabuleiro, abrem-se exactamente como se abrem os figos maduros, pressionando a parte de baixo enquanto os polegares afastam a parte de cima da casca.
8. Desse maravilhoso rasgão deverá emergir um puré amarelo intenso e escuro ainda mais maravilhoso e que é quase tão doce como os figos, embora não tenha o sabor dos figos, nem de batatas normais assadas com açúcar, mel ou caramelo por cima.
9. O puré amarelo sabe a batata doce.
posted by camponesa pragmática on 17:25
breves de arquitectura
1. Gosto do artigo/opinião do arquitecto Jorge Figueira sobre a Casa da Música. Está nas páginas de cultura do Público. Apesar de não estar on line digitalizei-o e já pode ser lido aqui.
2. Não perder a exposição que está em Serralves . Os cartazes que andam por aí são muito bonitos.
ENVISIONING ARCHITECTURE: COLECÇÃO MOMA Trata-se de uma grande exposição que reúne cerca de 100 anos de arquitectura, apresentando a extraordinária colecção de desenhos de arquitectura pertencente ao acervo do Museum of Modern Art (Nova Iorque), do projecto de Otto Wagner Ferdinandsbrücke (1896) até ao projecto de Lauretta Vinciarelli Orange Sound (1999). Esta exposição surge num momento importante da História do Desenho em Arquitectura, quando este meio e processo passa por uma enorme transformação, do esboço rápido à intrincada realização de desenhos por computador. Dentre os numerosos nomes de arquitectos relevantes do século XX com projectos incluídos na Colecção, destacam-se os de Tadao Ando, Mario Botta, Peter Eisenman, Norman Foster, Buckminster Fuller, Frank Gehry, Zaha Hadid, Louis Kahn, Rem Koolhaas, Le Corbusier, Daniel Libeskind, Richard Meier, Oscar Niemeyer, Mies van der Rohe, Frank Lloyd Wright.
Comissariado: Matilda McQuaid
Produção: The Museum of Modern Art, New York
19 de Setembro a 31 de Dezembro de 2003
3. A acompanhar a exposição haverá outras actividades. Recebi ontem a programação de cinema. É um primor! Mais logo completo o post.
O Outono já chegou. Chove, o tempo arrefece, veste-se uma camisola, arrumam-se as sandálias, apanham-se as uvas, compram-se cadernos novos, fazem-se mil planos,… escolhem-se as músicas que nos confortam… sim é aí que quero chegar: vamos escolher as canções perfeitas para este Outono!
Era para ser diferente, a ideia surgiu em Agosto: na estação seguinte iriamos fazer uma emissão especial da Íntima Fracção! O Outono é a estação perfeita da IF, nas cores, nos recolhimentos, na nostalgia. A colectânea seria preparada aqui nos blogs (na Janela e na Íntima Fracção ) e depois seria transmitida pela rádio.
Mas as coisas mudaram, neste momento a IF está silenciada na rádio.
Porém aqui não, aqui continua-se a ouvir.
O que é que é o Outono? É o fim ou o princípio? São as saudades do Verão passado ou as promessas de um outro? O que é que é para vocês? E quais são as canções de Outono? Enviem-nos sugestões.
O Francisco Amaralé o nosso convidado especial, será ele a fazer o alinhamento da colectânea, será ele a encontrar a Íntima Fracção do Outono, o traço azul do futuro incandescente.
É uma das palavras mais antigas que conheço. A primeira e a última perspectiva. A perspectiva viciada. A guerra e a paz. No ano os meses dispõem-se num círculo. De Outubro olham-se todos os outros meses e em todos os outros meses Outubro está presente. O ano que passou. O ano novo.
Os anos sucedem-se em espiral. Este sobrepõe-se ao último, consagra o último, fecha e conclui o último, apaga o último, devolve-o ao tempo que o consome, corrompe e arruma. Segue-se em frente, segundo o arbítrio da memória, racional e irracional, segundo o capricho dos dias, da memória tirana do vento que sobrepõe as horas, o sol, o som das tardes, o cheiro da lenha, o frio, a chuva, os recantos sombrios da casa, o calor áspero da lã.
Chegam as romãs, as nozes, as avelãs. E os tabuleiros de batata doce, iguaria que os meus amigos do Norte dizem, com um esgar aterrorizado, ser uma coisa do Sul, uma coisa do paladar bizarro e da tradição incompreensível dos mouros.
Os pinheiros não perdem as folhas mas o cheiro da resina é ausente. Calam-se as cigarras ao meio-dia e os jardins estão desertos. Depois da chuva, a cidade amanhecerá quieta e luminosa e não conseguirei dormir com medo de perder o sol.
Dizem-me que é necessário viver cada estação, gostar dos contrastes, desejar o frio depois do calor. Gosto do mar agreste de Outubro, das praias desertas, do trânsito bloqueado e ruidoso, de invadir o espaço das gaivotas e que me gritem, que me inquietem, que o vento sopre frio e que a lua surja entre os ramos nus das árvores. E mais não sei.
Outubro é o mês das melhores esplanadas; por alguma razão, talvez porque os donos ainda esperam o Verão de São Martinho, permanecem armadas e desertas, as cadeiras vazias sob a ameaça da chuva, a luz cinzenta muito clara à espera de um livro. Um livro em que seja Verão outra vez. Um livro em que um filósofo angustiado vingue o fim do Verão e, só por isso, esmigalhe o mundo.
Até ao solstício de Inverno o tempo parecerá estagnado. Procuro o Spleen de Paris como as chaves de casa, em frente à estante desarrumada, em frente à porta. Não sei se gosto deste mês e do tempo que consagra. Sinto-me bem. É habitual, simples, luxuoso. Enrolo-me num cobertor. Hiberno. Esqueço-me dos dias que faltam até à longa noite após a qual o sol reconquista os dias e tudo principia a renascer; e anoto-os nas margens dos livros, distraída.
posted by camponesa pragmática on 02:54
"É meu desejo que, ao ver as imagens deste filme, os espectadores compreendam o que vão perder se não impedirem a destruição dos recifes de coral". Foi com esta frase que Leni Riefenstahl assinou no ano 2000 o seu último grande filme.
A impressão profunda que o mar e em particular a vida marinha dos corais lhe causavam ficou ali ilustrada nas imagens captadas por Horst Kettner, operador de câmara e seu assistente permanente durante mais de trinta anos.
O mar foi de resto a última grande paixão da vida da controversa realizadora alemã, e justificou a sua quinta carreira profissional, talvez a menos conhecida do grande público.
"Tirar da alma os bocados precisos – nem mais nem menos" (Álvaro de Campos, Apostila)
(colagem/técnica mista 53 x 48 cm)
"Hup-la, hup-la – Pessoa visual" é a primeira exposição individual de Sara Huete (n. Santander, 1962) em Portugal. Para esta mostra a artista espanhola realizou um conjunto de trabalhos baseados na obra poética de Fernando Pessoa.
Durante a exposição é possivel comprar as edições da Assírio & Alvim das obras de Fernando Pessoa a preços especiais.
Galeria ARTFIT | Arte Contemporânea
Lisboa, Rua Teixeira Pascoaes,11B. De 3ª a sáb. das 15h às 19h30. Até 25 de Outubro.
O Pintainho, li no blog do Rui MCB, acabou. Fui lá. Acabou mesmo. Não sei porquê.
Eu gostava do Pintainho. Deveras. Havia pios linkados para outros blogs, mas não era à toa. Por exemplo, o Pintainho linkava o Abrupto em posts com muitos muitos muitos pios. Fazia sentido. E nos dias em que não linkava nada, o Pintainho escrevia um post simples com um ou dois ou três pios e assim retratava toda a blogosfera onde se pia todos os dias qualquer coisa, no matter what.
Havia pios em minúsculas, pios em maiúsculas, pios em minúsculas e maiúsculas, pios com as letras unidas, pios com as letras separadas por traços, pios com letras separadas por linhas, pios com pontos finais, pios com pontos de exclamação, pios sem pontuação.
Eu pensava no Pintainho como o último sentido do riso, o mais inteligente e o mais triste sentido do riso. Também fora da blogosfera se pia. Toda a humanidade pia. Com mais ou menos ênfase, mais ou menos conteúdo, tudo o que fazemos e dizemos é, literalmente, um pio.
Esta ideia resultava hilariante. E comovente porque, por outro lado, não menos importante, o melhor da humanidade é que pia sempre - apesar de, contra e com a pequenez, a fugacidade, o abandono, o absurdo, as contradições todas do mundo. Piamos e ainda bem. De qualquer forma falta ainda muito tempo para o Sol começar a crescer como uma barata tonta desesperada em busca de energia, engolir Vénus e nós entrarmos em pânico com a consciência de não sermos mais que um pio e de todos os nossos livros irem arder.
Dizia-se muito no Pintainho. Lamento que tenha acabado tão depressa.
da esquerda para a direita: Santa Clara Mexico, 1934; Pierre Bonnard, 1944
De Barcelona chega-nos uma boa notícia. Foi o Alejandro Díaz, nosso estimado leitor, que nos alertou para uma belíssima exposição de fotografias de Henri Cartier-Bresson, inaugurada no dia 19 de Setembro e que se prolongará até 4 de Janeiro de 2004. Uma boa razão para preparar uma viagem à Catalunha.
Ésta es la primera gran retrospectiva de Henri Cartier-Bresson (Chanteloup, Francia, 1908), maestro de maestros de la fotografía y referente indiscutible de la mirada documental de todos los tiempos. Su amigo personal y gran conocedor de la historia de la fotografía, Robert Delpire, es el comisario de esta muestra producida por la Fundación Henri Cartier-Bresson y organizada por Magnum Photos y la Fundación "la Caixa".
Vinha pela avenida acima espreitando as mercearias. As romãs ainda não estão a ponto de serem comidas. É preciso esperar mais uns dias. Das romãs passei para as mil e uma noites (tenho de falar desta ligação à Ana, pensei)
E, levantando-se, foi buscar a travessa de porcelana cheia da famosa salada de romã, daquela deliciosa iguaria que tão bem sabia preparar e que havia ensinado em Baçora a Badredine, seu filho, sendo ele ainda criança. (na história do belo Hassan Bradredine)
São pequenas jóias literárias dos maiores autores, diz a editora. Uma das mais bonitas colecções de livros, digo eu. As capas são de Bernardo Marques e o formato é o apropriado para meter no bolso. Gostaria de ter mais mas os títulos que me interessam são difíceis de encontrar. Consegui estes seis. Aqui ficam, como objectos em extinção.
Gosto desta expressão. Ouço-a e imagino um frente a frente, uma contabilidade de prazeres, dores, angústias, tristezas, alegrias, … avaliada em línguas de gato e bolachas Maria, como o Vasco Santana fazia no filme. A preto & branco, também.
(eu não sei o que é que há em ti que fecha
e abre;apenas alguma coisa em mim entende
a voz dos teus olhos mais profunda que todas as rosas)
ninguém,nem mesmo a chuva,tem tão finas mãos